PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
SONHEMOS
O sonho parece ser a melhor dádiva com que a natureza dotou o ser humano. E fê-lo de um dupla forma, porquanto é possível sonhar não apenas quando se dorme mas também quando estamos acordados. Trata-se de uma vivência, ao que parece exclusivamente humana, que pode conceder a quem dela usufrui significados distintos mas sempre muito pessoais e muito íntimos. Para a ciência, sonhar é uma experiência do inconsciente durante nosso período de sono. Para os verdadeiros aduladores do sonho, este é uma forma de se atingir o inatingível, de se conquistar o inconquistável, de se ter e possuir o que, na realidade, nunca foi possuído ou nunca será possível possuir, convicções que os colocam mais perto da psicanálise do que da ciência, uma vez que para aquela, o sonho é simplesmente o "espaço para realizar desejos inconscientes reprimidos".
Mas a verdade é que, de uma maneira ou de outra, o sonho, sobretudo o acordado, é um excelente lenitivo para a alma, um saudável alimento para a imaginação, uma reconfortante doçura para os dissabores.
Sonhemos pois, todos à uma e façamos uma festa de espuma, pois é pelo sonho que nos tornamos unidos, mas mudos. Pelo sonho é que agarramos a vida. Bem enganado estava Fernando Pessoa quando escreveu: “O sonho é a pior das cocaínas, porque é a mais natural de todas. Assim se insinua nos hábitos com a facilidade que uma das outras não tem, se prova sem se querer, como um veneno dado. Não dói, não descora, não abate – mas a alma que dele usa fica incurável, porque não há maneira de se separar do seu veneno, que é ela mesma.” Mas Pessoa parece ter-se ressarcido, pois mais tarde escreveu: “O Sonho é o que Temos de Realmente Nosso. Matar o sonho é matarmo-nos.”
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O PREÇO DO SILÊNCIO
o silencio ocupava todos os espaços,
dominava cada dia, cada hora, cada momento
era o senhor supremo,
o preço da liberdade perdida
o ídolo duma estória riscada em tiras de farrapos vermelhos
quando a noite não queria caminhar sozinha
agarrava-se ao silêncio
domava-o
nascia um snipe perfumado a glicinas verdes
e acabava a memória do dia anterior
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ESFINGE
Esfinge de delícias, ambulante
Em áurea e divinal sublimidade,
Em passos de ternura. Soledade
Duma visão sublime, delirante.
Espargindo doçura, radiante,
Benéfica, sublime divindade,
Revelando amor e santidade,
Eu te contemplo estático e hesitante.
Sinto o perfume ténue e consagrado,
Querido a uns, por outros desprezado,
Que emana de teu ser, a suavizar-te.
E num êxtase sublime, de temor,
De angústia, de doação, d’ânsia, d’amor,
Sinto-me feliz, só, a contemplar-te.