PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
RUSSOS E PIRATAS
Na primeira metade do século XX, com maior incidência no período pós segunda guerra mundial, eram os russos, ou mais concretamente os navios de guerra que se dizia serem russos, que assustavam e amedrontavam a população da Fajã Grande, encafuada debaixo de rochas, entrincheirada entre baixios e maroiços, incapaz de se refugiar onde quer que fosse. Calcula-se que os russos tinham como objetivo construir uma Base na ilha das Flores, semelhante à dos Americanos na Terceira. A Fajã Grande, voltada a oeste e escondida debaixo de rochas, parecia ser o local ideal. Salazar, no entanto, nunca o havia de permitir. No século XIX, segundo rezam as crónicas, eram os piratas, ou os navios por eles comandados, que mais atemorizavam a mesma população. No entanto e se relativamente aos russos ou pelas suas das frequentes visitas nunca houve grandes motivos para preocupação, o mesmo não se pode dizer no que à pirataria diz respeito. No entanto e apesar dos medos, situações houve, tanto no caso dos russos como no dos piratas em que, tanto a população da Fajã Grande como os supostos malfeitores, russos ou piratas, souberam, por interesse comum, cultivar uma convivência amistosa. No primeiro caso chegaram a haver interessantes trocas comerciais, mais concretamente troca direta de alimentos frescos por cigarros e bebidas, enquanto no que à pirataria diz respeito, as trocas não terão sido tão lineares. Mas terão existido algumas. Conta-se, por exemplo, a história do maior pirata de quantos assolaram a ilha das Flores, um tal Peter Easton ou coisa que o valha, que terá chegado a comandar uma frota de 40 navios com milhares de homens, pelo que foi considerado o corsário mais temido no Atlântico Norte, e que terá saqueado e roubado as populações das Flores, em Março de 1609, onde se veio abastecer, roubando animais, água e lenha. Nos anos seguintes, sempre em Março, o tal pirata voltou à ilha, para adquirir frescos e fazer aguada, e, no verão de 1611, estava já de casamento marcado com uma filha do capitão-mor das Flores. Duplamente incomodado com os prejuízos causados pelos navios deste pirata e ainda com a cumplicidade entre florentinos e corsários, o rei Filipe II ordenou, então, por decreto de 30 de Julho de 1611, que fossem tomadas as diligências necessárias à prisão do capitão Peter Easton que afinal nunca chegou a ser detido. Mas sob a acusação de acolher na ilha corsários estrangeiros e de lhes permitir o abastecimento de géneros e víveres, o ouvidor da ilha e também o capitão-mor Tomé de Fraga foram presos.