PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
A SEREIA E O PESCADOR
Era uma vez um pescador que, certo dia, na sua ida para o mar, a fim de se dedicar à faina diária, ao chegar junto aos rochedos do baixio, ouviu um choro muito triste. De imediato parou e, pondo-se à escuta, percebeu que o choro vinha duma pequena furna que se encontrava ali perto entre as rochas negras. Seguindo na direção da furna, aproximou-se da entrada, espreitou e viu, lá dentro, uma linda sereia a chorar. O pescador, condoído com tamanha dor mas encantado com tão grande beleza, embora um pouco hesitante e tímido, entrou na furna e aproximando-se daquele estranho mas sublime ser, perguntou:
— Porque estás assim tão triste?
A sereia, erguendo-se, explicou que tinha vindo até à praia e que sem que se apercebesse, a maré tinha descido. Estava ali, isolada, triste porque com a maré baixa não conseguia regressar para o mar. Um pouco a medo, pediu ao pescador que a levasse para o mar.
O pescador, cada vez mais nervoso por se aproximar de um ser tão belo mas estranho, aceitou o pedido, dizendo:
— Levo-te, sim, se tu em troca voltares aqui amanhã para que eu te possa contemplar mais uma vez.
O choro da sereia acalmou-se. Com um suave gesto de cabeça concordou e, deslocando-se a muito custo, aproximou-se do pescador, a fim de que lhe pegasse ao colo e a levasse para o mar. O pescador, cada vez mais admirado com o que encontrara, pegou na sereia com cuidado e levou-a até ao mar, onde ela logo mergulhou com agilidade e graça.
No dia seguinte o pescador voltou ao mar. Passado pouco tempo a sereia emergiu das águas, conforme o combinado. Muitas outras vezes o pescador voltou a passar pelo lugar onde encontrara a sereia. Algumas vezes ficava parado à espera da sereia e pouca depois ela voltava, outras, porém, ficava horas a fio à espera e ela nunca aparecia. E um dia, finalmente, a sereia partiu e nunca mais voltou.