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NATAL EM ENTREVISTA

Terça-feira, 30.12.14

Jovem professora, recentemente colocada em Oleiros de Cima, com um horário semanal de 12 horas, mãe de uma filha de dois anos, Natália Semedo está obrigada a uma deslocação diária de mais de cem quilómetros entre a sua residência e o local de trabalho. Além disso, está forçada a entregar a filha aos cuidados de uma senhora que, apesar de merecer a sua confiança, é uma desconhecida, por não haver jardins-de-infância na localidade. O marido trabalha numa pequena empresa de construção civil e recebe pouco mais do que o ordenado mínimo, pese embora consiga algumas horas extraordinárias e fins-de-semana, o que lhe permite duplicar o frágil e débil ordenado. Apesar de tudo, Natália, o marido e a filha viveram um Natal feliz e repleto de tradições, conforme o revelou na seguinte entrevista.

Pico da Vigia 2 – O seu Natal? Foi feliz.

Natália Semedo – O meu Natal, aliás o “nosso” Natal foi muito feliz. É verdade que pela primeira vez o vivi separada de meus pais e dos pais do Cristiano, dado que, este ano, fomos obrigados a nos mudamos para muito longe das residências deles. Mas em contrapartida vivemos o Natal, pela primeira vez, sozinhos, com a nossa filhinha. A longa distância, as dificuldades com que vivemos e a neve impediram-nos de nos deslocarmos à terra onde nascemos. Ficamos tristes por isso. Mas o viver o Natal pela primeira vez sozinhos, como família, trouxe-nos uma enorme alegria

P V 2 - Natal com frio ou com sol?

N S – Sempre adorei o frio e a neve do Natal. Quando decidimos mudarmo-nos aqui para o sul, cuidava que havia de ter um Natal mais quentinho. Afinal este ano o frio, pelos vistos atingi-nos a todos.

P V 2 – Pai Natal ou Menino Jesus?

N S – Ainda sou do tempo em que, na aldeia onde nasci, todas as crianças acreditavam que era o Menino Jesus que trazia os presentes. Depois tudo se modificou. Rapidamente, a atraente e bondosa imagem do Pai Natal cresceu, ultrapassou as grandes cidades chegou às mais pequenas e isoladas aldeias. Tudo se transformou e hoje nenhuma criança resiste à simpática figura daquele velhinho vestido de vermelho, de longas barcas brancas e carregado com sacos cheios de presentes com que nestes meses antes do Natal persiste em todos os meios de comunicação social. Nós, adultos acompanhamos, com muito amor e carinho, este fantástico sonho das crianças.

P V 2 - Esperar pela manhã ou abrir os presentes à meia-noite?

N S – A resposta é muito semelhante à anterior. Antigamente este salutar reboliço do Natal era menor e nós adormecíamos, com facilidade, embalados pelo sonho de acordar na manhã seguinte e ver, junto ao presépio, uma boneca, um carrinho, um conjunto de cozinha ou um embrulho de figos passados. Hoje os ruídos e as imagens são tantas que não é fácil resistir. Muito antes da meia-noite está tudo aberto. Em pequena, eu e os meus primos, não resistíamos ao sono e só abríamos as prendas de manhã.

P V 2 - Cânticos de natal? Sim ou Não?

N S – Adoro-os! O Natal sem eles não era Natal. Alguns são deliciosamente belos e duma musicalidade adorável. E o interessante é que só por altura do Natal têm este sabor mágico. Sempre enchi a minha casa com luzes e cânticos no dia de Natal. Vou continuar a fazê-lo, tentando deixar este legado à minha filha. A Música de Natal é eterna e transmite-se de geração em geração..

P V 2 - Qual o menu da consoada? Deu continuidade às tradições que trouxe da sua aldeia?

N S - Na minha casa sempre se comeu bacalhau com batatas, ovo e couves, na noite de Natal, como era tradição na terra. No dia de Natal imperava a roupa velha e mais tarde, também, o cabrito assado no forno. Nos doces tinham lugar na mesa as rabanadas, os formigos, as filoses de abóbora e o bolo-rei, claro. Neste nosso primeiro Natal abdicámos do cabrito, até porque nem temos forno de lenha. Em contrapartida introduzimos a carne de peru, sob a forma de bife, sobretudo pela Joana, um pouco alérgica ao “fiel amigo”. Mantivemos todos os doces.

P V 2 – E no que a prendas diz respeito? O que recebeu ou gostava de ter recebido neste Natal?

N S – A melhor prenda que tive foi a de estar com a minha família, ou seja com o meu marido e a minha filha. Quando criança, em casa dos meus pais, passávamos este dia todos juntos. Quero manter essa tradição de estarmos juntos. Em relação a prendas propriamente ditas, a situação que vivemos não nos permitiu concretizar vontades. Apenas tentámos perceber os desejos da Joana. Felizmente e sem grandes gastos, conseguimos concretizá-los quase por completo. Aproveitamos a época para comprarmos algumas roupas e im ou outro utensílio necessário para a nossa casa.

P V 2 – Se pudesse escolher onde gostava de passar o ano?

N S – Precisamente onde e com quem passei o Natal.

P V 2 – Desejos para 2015?

N S – Só dois: saúde para a minha família e paz para o mundo.

 

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publicado por picodavigia2 às 21:12





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