PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
NOVO ANO
(POEMA DE MIGUEL TORGA)
Recomeça…
Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças...
Miguel Torga
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JANEIRO TERREADO
“Em janeiro sobe ao outeiro, Se vires verdejar põe-te a chorar, se vires terrear põe-te a cantar”.
Este interessantíssimo adágio era muito usado na Fajã Grande, na década de cinquenta, por altura do mês de janeiro, geralmente, um mês de muito mau tempo na mais ocidental freguesia da Europa. Ouvi muitas vezes, a minha avó, muito douta nestas questões, anunciá-lo. Se o mau tempo não grassava em Janeiro era uma grande preocupação para ela. Era muito interessante, neste adágio, o recurso à palavra terrear, uma palavra com a qual se pretendia expressar o estado dos terrenos sem vegetação e, portanto, com um colorido semelhante a terra, mas que não era de uso corrente. Ora segundo a sabedoria popular, um janeiro terreado era um bom sinal para as culturas que viriam nos meses seguintes. Janeiro, na verdade, era um mês de grandes tempestades, de fortes geadas e salmouras que, além de destruir tudo que era verde, cuidava-se que como que purificava a terra e preparava-a para que, na primavera seguinte, desabrochassem em plenitude as sementes e as plantas. Pelo contrário, o verdejar, isto é as plantas crescerem e cobriram os campos de verde, em janeiro, significava que os rigores do inverno estavam para vir mais tarde, dando cabo das colheitas, originando um ano de fraca produção agrícola. Era pois motivo para chorar.
Na Fajã Grande este adágio, no que ao outeiro diz respeito, tinha um significado muito próprio, uma vez que o centro da freguesia era ladeado a sul por um outeiro, chamado precisamente “Outeiro” e encimado por uma enorme cruz, donde se disfrutava de uma interessante vista sobre quase toda a freguesia, pelo que este adágio se enquadrava na perfeição. O adágio refletia-se perfeitamente no cenário paisagístico da freguesia.
Ia muitas vezes, em criança, ao Outeiro para brincar, cortar verduras ou até na festa da Cruz. Sempre que lá ia, no Inverno, ao olhar, lá do alto os serrados, belgas e currais, parecia-me ouvir a minha avó, mais uma vez, a cantarolar: “Em janeiro sobe ao outeiro, Se vires verdejar põe-te a chorar, se vires terrear põe-te a cantar”.
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A LENDA DOS REIS MAGOS
Conta uma lenda muita antiga que os três Reis Magos - Baltazar, Gaspar e Belchior - quando seguiam a estrela que indicava a Gruta, encontraram um pastor que acendia uma fogueira. Ao vê-lo os reis pararam, cuidando que o pastor estava ali, apenas para se aquecer.
Baltazar foi o primeiro a falar, perguntando-lhe:
- Que fazes aqui, pastor?
- Acendo e tomo conta das fogueiras que servem para iluminar o caminho para os que vão visitar o Deus Menino.
- É pena que não nos possas acompanhar-nos - disse Gaspar.
- Temos que seguir viagem, o caminho é longo – disse, por fim, Belchior, enquanto montava de novo o seu camelo.
- Adeus, pastorzinho! Até breve! - Disseram os três Reis Magos, pondo-se, de novo, em marcha, a caminho de Belém.
- Adeus! Adeus! - Respondeu o pastor, acenando com a mão tristonho.
De repente, o pastorzinho teve uma ideia: colocava muita lenha nas fogueiras a fim de estas se manterem toda a noite acesas. Depois, se corresse muito, ainda havia de apanhar os Reis Magos e acompanhá-los até à gruta de Belém.
Se bem o pensou, melhor o fez e, quando chegou ao estábulo, ficou feliz por ver o Menino Jesus, mas ao mesmo tempo, triste, por ver os Reis Magos oferecerem ouro, incenso e mirra e ele sem ter nada para oferecer.
- Que posso oferecer ao Menino se não tenho presentes assim tão preciosos? –
Porém, ao voltar o rosto, cheio de lágrimas, viu, ao seu lado, uma flor branca. Correu para ela, mas ao colhê-la ficou de novo triste. Como arranjar coragem para oferecer um presente tão simples?!
De longe, Nossa Senhora viu-o e chamou-o:
- Vem, meu filho, estamos à espera do teu precioso presente.
E, perante os olhos comovidos de Maria, de José e dos Reis Magos, o pequeno pastor entregou, feliz, a flor ao Deus Menino.
É essa a razão por que a margarida, no meio das suas pétalas brancas, tem uma coroa de ouro.