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PRIMEIRO ÓBITO

Sexta-feira, 09.01.15

Reza assim o registo do óbito referente ao primeiro enterro verificado na paróquia de São José da Fajã Grande, ilha das Flores. Trata-se duma criança de nove meses cujos pais residiam na Cuada:

“A dezassete dias do mês de Fevereiro de mil oitocentos e sessenta e dois, às seis horas da tarde, na casa número duzentos e quarenta e três, no ugar da Coada, desta freguesia e concelho da villa das Lajens, Distrito Eclesiástico da cidade da Horta, diocese de Angra, faleceu Francisco de idade de nove meses, parochiano desta freguesia, filho de José Caetano Gabriel e de Mariana Margarida do Coração de Jesus, neto paterno de António Caetano Gabriel e de Maria de Freitas e materno de Domingos José do Conde e de Catharina Margarida. E para constar lavrei este assento em duplicado que assignarei. Era ut supra. O Phresbytero António José de Freitas.

 

Por sua vez, o segundo óbito foi de uma mulher natural e residente na Ponta, de nome Floripes Luciana da Silveira, de quarenta e quatro anos casada com João de Freitas Fraga e que deixou quatro filhos.

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publicado por picodavigia2 às 11:35

MEDOS

Sexta-feira, 09.01.15

(TEXTO DE ABEL NÓIA GONÇALVES VIEIRA)

 

Je ne suis pas Charlie!

Em português chão, sou Abel Noia Gonçalves Vieira, apenas um dos sete biliões de seres humanos que diariamente rolam no planeta à volta do sol, como é científica e universalmente reconhecido desde Galileu, uma das vítimas do fanatismo na forma católica da época.

Nem precisaria deixar por escrito que me associo a todos os seres humanos que condenam o abominável atentado de Paris, como todos os outros que nem chegam a ser notícia.

Também tenho medo, apesar do recente reforço de fechaduras aqui por casa, incluída a porta do pequeno espaço onde trabalho, uma precaução elementar que recomendo a todos mas pouco resolverá nas próximas décadas. As minhas inseguranças têm outras causas e outras armas bem mais sofisticadas.

Tenho medo da perda de consciência da dignidade da pessoa e dos mais elementares direitos humanos, curiosamente com marco histórico no contexto da sangrenta revolução francesa.

Tenho medo do empobrecimento das relações humanas quando, deixando de ser fundamentadas na paternidade amorosa de Deus, perdem em fraternidade, solidariedade, respeito e apoio na debilidade que toca a todos.

Tenho medo tanto do poder do dinheiro como da falta dele para uma vida humana digna, na proliferação das pobrezas que atentam contra a coesão social dos povos e favorecem a violência.

Tenho medo dos 10% de portugueses que ficaram mais «podres de ricos» em 2014, ano em que se aprofundaram as desigualdades sociais com 25% das famílias no limiar da pobreza.

Tenho medo da degradação galopante das famílias, remendadas nos mais diversos modelos, onde faltam o pão e os afetos, onde se aprende a violência no meio de lágrimas incontidas, onde as novas gerações vão crescendo sem referências de valores que os comentadores enfatuados dizem fazer parte da nossa cultura.

Tenho medo das escolas onde generosos e competentes professores ensinam cada vez mais coisas mas sentem, como eu, a mesma incapacidade de educar para uma vida mais humana e culta, solidária e empenhada na transformação da sociedade.

Tenho medo do que se escreve para vender jornais mais do que para fazer pensar, uma aprendizagem com poucos candidatos. Precisamos debater muitas coisas sem espaço televisivo na comunicação social que temos e repensar quase tudo nesta mudança de época e paradigma, como se diz com total propriedade de linguagem.

Tenho medo dos que nos desgovernaram, desgovernam e desgovernarão nos próximos tempos, oriundos das «jotinhas» do arco da governação mas sem perfil de estadistas e permeáveis a todo o tipo de interesses pessoais e de grupo, como vemos.

Tenho medo das discotecas transformadas em catedrais, da programação das festas das nossas cidades que promove a degradação de adolescentes e jovens, ao trocar as noites pelos dias, mergulhados na «curtição» e no consumo de dependências que não humanizam nem preparam para a vida.

Até tenho medo de uma Igreja que se delicia a contar pelos dedos os cardeais que falam português e se enfeita como outras «dignidades eclesiásticas» como arcebispos, monsenhores e cónegos - nomes que não encontro no meu Novo Testamento por mais voltas que lhe dê - mas não sabe como fazer cristãos nem levar a boa notícia de Jesus Cristo a todos. Quase nos limitados a arrastar práticas e estruturas desfasadas da realidade nua e crua.

Penso que ainda tenho outros medos mas falta-me o tempo, antes de voltar a tarefas administrativas que também me causam receito como atentado à sanidade mental dos pastores da Igreja, preparados para uma missão que nada tem a ver com funcionalismo.

Que estes meus medos possam ajudar a repensar muitas coisas quando precisamos, mais do que nunca, cultivar um pensar global para um agir local.

 

Abel Noia Gonçalves Vieira, in FBo

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publicado por picodavigia2 às 10:24





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