PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
SALMO DORIDO
Rasgavas, com a enxada, o escuro das madrugadas
E adormecias com a foice ao lado do travesseiro.
Fazias do machado a tua bandeira de vitória
E gravavas no teu brasão os sulcos do arado em terra ressequida.
Lutavas, destemido, contra os rugidos do vento norte
E caminhavas, seguro, por entre nevoeiros e tempestades.
Levantavas-te, sonolento e destroçado, a meio da noite
E à tardinha, aguardavas, com um sorriso, o pôr-do-sol.
As tuas mãos, calejadas, encerravam uma sabedoria infinita
E as tuas pegadas eram marcos de honestidade e de justiça.
Trazias estampado no rosto o travo amargo da angústia
E carregavas sobre os ombros doridos as vicissitudes da penúria.
Transformavas a pobreza em dignidade e virtude
E os esteios da verdade atraiam-te, numa procura permanente.
Foste pai e companheiro, retalhado de dor e de amargura
Mas ocultavas os lamentos sob o manto áureo da resignação.
Partiste, no silêncio escuro, depois de um longo sofrimento
Mas a tua memória brilha como estrela que nunca se apagará.