PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
VILA DAS VELAS, SÃO JORGE
(POEMA DE PEDRO DA SILVEIRA)
Nesta ilha, sobre a ponta extrema
Onde o sol acorda
habitou Willen van der Haaghe.
(Tempos revelhos, flamengos
Da Aventura.
Em paz descansem. Deixemos disso:
Genealogias sepultadas.)
Gosto duma paisagem assim:
Áspera,
Dura,
Varonil,
- bela!
Nos olhos das mulheres há ainda
A nostalgia das campinas rasas
De além do Passo de Calais.
Pedro da Silveira Diário de Bordo.
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O PAU DAS LINGUIÇAS
Na Fajã Grande, antigamente, em todas as casas em que se matava porco (e eram quase todas as da freguesia) na cozinha, sobre o lar e preso aos tirantes havia um enorme, desalumiado e pênsil pau, o pau das linguiças.
Este pau, no que ao formato dizia respeito, muito semelhante a um bordão gigante, era feito, geralmente, de oraçaleiro ou de faeira. Destinava-se a pendurar as linguiças durante o tempo em que elas necessitavam de ser expostas ao calor, a fim de secarem e alourarem. Só depois eram partidas aos pedaços e comidas ou guardadas em vasilhas de barro, debaixo de banha, a fim de fornecerem refeições ao longo do ano. Embora fosse, fundamentalmente, destinado a dependurar as linguiças, como estava ali arrumado, ali ficava durante todo o ano, sendo, por vezes, utilizado para outros fins, nomeadamente para secar maçarocas de milho descascadas e presas em cambulhadas por uma casca ou até para secar roupa que ali se estendia, obviamente, quando o lume do lar estava apagado. Aproveitava-se, apenas o calor resultante do brasido. Servia ainda o pau da linguiça para pendurar outras coisas que ali se conseguissem segurar, sem se queimaram, por vezes, tornando a cozinha pouco estética. Mas as cozinhas na Fajã Grande, na década de cinquenta nada tinham de estético. Eram pobres, primitivas, rudes, escuras, abruptas e, normalmente, muito desarrumadas Mas a razão principal da existência do Pau das Linguiças era o que o nome indica, ou seja o de nele, simplesmente, colocar as linguiças. Todas as casas o tinham. Algumas tinham mais do que um. Estes paus eram guardados de ano para ano, no mesmo lugar, pois ali estavam arrumadinhos. No entanto, não tinham muito longa duração. Quando se gastavam por queimados, eram substituídos por outros, mantendo-se os mesmos arames que os prendiam aos andaimes.
Curiosamente, no Brasil, celebra-se uma festa chamada Festa do Pau da Linguiça. Parece no entanto, pelo menos diretamente, que a mesma não terá muito a ver com os paus da linguiça açorianos. A história do Pau da Linguiça brasileiro parece estar ligada a um senhor de nome Monteiro, que em 1947 inaugurou, em Santa Catarina, um empório ou bazar de venda de linguiça, sendo esta exposta num pau, fora da porta do bar onde a vendia. Pelos vistos os herdeiros seguiram-lhe o exemplo, mantendo a tradição de colocar a linguiça exposta num pau fora da porta, tornando-se este hábito numa atração e mostruário de linguiça no mesmo estabelecimento. Para comemorar esta efeméride a cidade começou a fazer uma festa, começando por uma simples brincadeira entre amigos, que, mais tarde, se tornou numa grande festa a Festa do Pau da Linguiça – hoje fazendo parte do calendário das festas da região.