PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
SAUDADE
(PEDRO DA SILVEIRA
Onde estará agora a que ficou no cais
Quando eu parti?
Tinha o olhar cheio de lágrimas
E com o lenço abanava,
Os garajaus tinham chegado há pouco
Com o seu coro de alegres pios.
Na terra um ar todo de festa:
Era o Verão anunciado.
Um fio de fumo fluía da chaminé do vapor,
A sereia apitou o último adeus
- e vim-me embora.
Cada vez mais longe a terra fugia-me,
Fugia-me… e a noite
Era aquele lenço branco
Escurecendo nos meus olhos.
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Onde estará agora
a que deixei no cais e o lenço dela
a despedir-se?
Lisboa, 19-III-44
Pedro Silveira Fui ao Mar Buscar Laranjas
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A LENDA DA IMAGEM DE SANTO CRISTO (DA IGREJA DOS FRADES – RIBEIRA GRANDE)
Segundo uma antiga lenda, contada em S. Miguel, certo dia andavam uns homens a pescar no porto de Santa Iria, na freguesia da Ribeirinha, da Ribeira Grande. Com grande esforço aguentavam o barco com os remos lançando a linha, para pescar. Enquanto estavam nesta faina, um dos homens apercebeu-se de que ali perto flutuava uma grande caixa de madeira, já quase podre e era levada pelas ondas na direção de terra, onde decerto ia dar à costa. Levados pela curiosidade, amarraram a caixa e rebocaram-na para o porto, onde, depois de varar, a abriram. Qual não foi o seu espanto, quando viram lá de dentro uma linda imagem de Cristo. Passados os momentos de assombro, depois de muito discutirem sobre a proveniência e o fim a dar à imagem, resolveram dar conta às autoridades marítimas do seu achado. Estas, sem perda de tempo, ordenaram o transporte da caixa com a imagem, para Ponta Delgada.
Arranjaram um carro de bois, carregaram a imagem e lá se puseram a caminho. O carro guinchava, os bois gemiam, porque o porto de Santa Iria fica fundo entre altas arribas. Mas tudo correu normalmente até à Ribeira Grande. Aí, ao passarem pela igreja dos Frades, os dois bois começaram a mugir e estacaram. Não havia maneira de os fazer andar.
Os homens bem os chamava e incitavam a andar. Mas quanto mais insistiam com eles e lhes batiam, mais estáticos permaneciam, apesar das pancadas no lombo e das picadas do ferrão da aguilhada. Os bois não se mexiam, continuavam agarrados ao chão como se estivessem pregados ou uma barreira lhes tapasse a passagem. Perante tão estranho comportamento dos animais, as pessoas que se tinham juntado acharam que havia ali a mão de Deus e que era melhor deixar a imagem do Senhor Santo Cristo na igreja dos Frades, ou igreja dos Terceiros, em frente à qual os bois se tinham negado a continuar a viagem. Retiraram a imagem do carro, cuidadosamente, e levaram-na para a igreja. Depois tocaram os bois que desataram a andar e não mais se negaram a continuar viagem. Essa a razão pela qual a imagem ficou para sempre na igreja dos Frades.
NB – Baseada em elementos retirados da Internet