PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
PARAMENTOS
A igreja da Fajã Grande, na década de cinquenta não era muito pobre. Seria talvez uma das mais ricas da ilha das Flores. Sabia-se que chegavam muitas ofertas oriundas da América, que a maioria das casas pagava o culto e que as festas, nomeadamente da Senhora da Saúde, São José e Santo Amaro, rendiam bem. No entanto, no que à paramentaria dizia respeito, as alfaias litúrgicas, nomeadamente as casulas ou seja as roupas que o pároco vestia para celebrar missa, eram poucas, velhas, gastas e algumas rotas outras remendadas.
As casulas eram as vestes que o pároco vestia por cima da alva, uma veste branca apertada à cintura com um cordão chamado cíngulo, e tinham como anexos, a estola, o manípulo e a cobertura do cálice, nomeadamente, a bolsa, o véu e a frechola. As casulas eram de cinco cores diferentes: branca, vermelha, verde, roxa e preta. De cada uma destas cores existiam duas casulas, com exceção da branca que, para além das duas usuais, tinha um jogo, composto por uma casula e duas dalmáticas, destinado aos dias de festa, nas chamadas missas de três padres. Pelo aspeto, formato e desgaste percebia-se que quase todas as casulas que a igreja possuía eram antiquíssimas. O pároco responsável pela paróquia desde de 1925, durante esses longos anos, possivelmente, teria comprado duas, talvez quatro. O pároco arrumava-as em dois compartimentos separados. As mais velhas usava-as durante a semana. As aparentemente mais novas ao domingo. No que às de cor branca dizia respeito, a melhor seria uma das adquiridas pelo pároco, pois tinha um formato mais moderno para a época. Era toda branca e debruada a amarelo, como aliás todas as outras. A de semana era muito antiga, sendo o tecido de damasco branco bordado com desenhos simétricos amarelas. No entanto estava bastante rota e remendada na parte da frente. A vermelha que estava destinada aos domingos era de formato igual à branca de domingo e devia ter sido comprada juntamente com ela. Como eram raros os domingos ou dias de festa em que era usada, liturgicamente, a cor vermelha, era a casula que estava em melhor estado. Pelo contrário e assim como a vermelha de usar à semana, as duas verdes eram velhíssimas, muito rotas e usadas. Pescoço redondo, com o debruado muito simples e linear deviam ser do tempo da capela primitiva e que antecedeu a igreja paroquial, o que aliás se verificava com algumas imagens, incluindo a do padroeiro, esta no entanto, substituída por uma imagem nova e maior, em meados da década de cinquenta. Estas casulas estavam em mau estado sobretudo a verde de semana, já nem usada pelo pároco, uma vez que nos dias de féria do tempo comum, em que se usava o verde, celebrava a missa quotidiana dos defuntos com casula preta. A roxa de semana também era muito velha e em mau estado. A roxa de domingo e a preta eram as melhores, mais novas e mais recentemente adquiridas. A preta de semana estava também em estado de tão grande degradação que o pároco já nem a usava.
Para os dias de festa, nomeadamente de São José e da Senhora da Saúde havia uma casula branca de festa, com as duas dalmáticas. Também eram muito antigas, muito gastas, rotas, mas lindíssimas. De damasco branco, ornadas com excelentes bordados amarelos. Deste conjunto fazia parte uma capa de asperges e um véu de ombros, embora houvesse também uma outra capa branca e um véu de ombros a condizer e que era usado todos os domingos, uma vez que naqueles a missa de domingo terminava sempre com a bênção do Santíssimo, durante a qual e, após se cantar o Tantum Ergo, o pároco o colocava sobre a casula, independentemente da cor desta.