PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
ABRIL FRIO E MOLHADO
“Abril frio e molhado, enche o celeiro e farta o gado.”
O mês de Abril, antigamente, na Fajã Grande, era um mês de grande e de intensa atividade agrícola, sendo esta absolutamente necessária e fundamental para a sustentabilidade económica da população daquele pequeno povoado, encastoado entre a rocha e o mar. Na verdade, era em Abril que se plantava e semeava a maioria dos produtos agrícolas. Era em abril que se fazia a sementeira do milho, a maior e mais importante cultura da freguesia, nas terras mais afastadas do mar e que haviam sido trilhadas pelo gado amarrado à estaca, a alimentar-se das forrageiras, trevo ou erva da casta. Era em abril, também, se semeava as batatas o feijão as ervilhas, as abóboras, os bogangos e se faziam os canteiros da coivinha. Era em abril que se plantava a bata doce nas terras junto do mar, assim como as couves, a cebola e os tomateiros. Nas terras junto do mar, nomeadamente, do Areal, Furnas, Porto e Estaleiro iniciavam-se o arrancar das mondas, sachavam-se os campos semeados no mês anterior, calçava-se o milho para o proteger das ventanias e limpavam-se as terras das ervas daninhas. Uma intensa e cansativa atividade se impunha aos agricultores durante este mês. Ora para que tudo isto tivesse sucesso era necessário e fundamental que chovesse e não fizesse muito calor Se se equacionassem estes dois fatores e não houvesse salmoura ou fortes ventanias seria um ano de fartura. Mas era também o sucesso destas culturas e, sobretudo, o florescimento das pastagens, do mesmo modo com o epicentro em abril e que também muito beneficiava com a chuva e com a ausência de calor, fundamentais na alimentação do gado. Dai o adágio. “Abril frio e molhado, enche o celeiro e farta o gado.”
A chuva, na verdade, tinha um efeito fundamental no sucesso da agricultura. Todas as plantas precisavam de água para sobreviver. Uma seca em abril podia ser fatal para culturas, provocar erosões, destruir o plantado e não deixar nascer o semeado, embora o tempo excessivamente húmido também pudesse causar outros problemas. As plantas necessitavam de quantidades adequadas de chuva e de ausência de calor excessivo para sobreviver. Ainda hoje, mesmo com sulfatos, adubos e quejandos, é assim.
Acrescente-se no entanto que, sob o ponto de vista etimológico, é fácil, concluir-se que este provérbio foi importado, talvez levado pelos primeiros povoadores, o que se pode concluir pelo uso da palavra celeiro, que não consta do léxico fajãgrandense, nem da ilha das Flores, onde o milho, o principal cereal cultivado nesta ilha, era guardado nos estaleiros.