PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
PASSARÁS, PASSARÁS
Um dos vários jogos que as crianças da Fajã Grande, na década de cinquenta, faziam era Passarás, Passarás. Era durante os recreios da escola, enquanto se esperava pela Senhora Professor, aos domingos, antes da missa e depois da Catequese. Era também e, sobretudo, nas Casas do Espírito Santo, nas noites de Alvoradas, nos dias das Festas e nos Domingos entre a Páscoa e o Pentecostes que as crianças aproveitavam para fazer este jogo em espaço coberto.
O jogo era simples mas implicava um bom número de crianças, sempre a rondar a dezena. Reunia-se o grupo dos interessados em participar e escolhiam-se duas crianças. Estas, sem que o grupo de crianças participantes da brincadeira soubesse, escolhiam aleatoriamente dois nomes de objetos, plantas de frutas, flores, animais, etc. – e cada uma guardava o nome escolhido. Depois posicionam-se em pé, uma de frente para a outra e, de mãos sobre os ombros uma da outra, formando uma espécie de ponte ou arco que serviria para aprisionar, à vez, cada um dos outros participantes. Estes formavam uma fila, com as mãos colocadas nos ombros do parceiro de jogo imediatamente postado à sua frente. A criança que ocupava o primeiro lugar da fila puxava as outras e passava por baixo do arco, formado pelos braços dos outros dois, enquanto iam cantarolando:
- Passarás, passarás, mas algum há de ficar. Se não for o da frente, há de ser o de detrás.
A última criança da fila ficava presa entre o arco formado pelos braços dos dois primeiros participantes e devia responder a pergunta feita em muito segredo, a fim de que os outros não ouvissem:
- Queres pau ou pedra? (por exemplo, ou outro par de dualidades, havendo o cuidado de, na escolha se evitarem nomes mais cobiçados pelos participantes).
A opção escolhida implicava que a criança presa ficasse atrás daquela que escolhera aquele nome, naquele jogo. A fila continuava a passar debaixo do arco formado pelos braços, ficando sempre presa a criança e que era colocada mediante a escola que fizera. Mas isto tinha que ser feito em muito segredo para que os outros ainda não presos, desconfiassem. No fim e após serem presos todos os participantes, ganhava a criança que tivesse maior número de participantes na sua fila.