PICO DA VIGIA 2
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INOCENTE E CULPADO
Conta-se que há muitos, muitos anos, um homem bom, honesto e muito crente em Deus foi injustamente acusado de ter assassinado uma mulher. O homem foi levado à presença do juiz, a fim de ser julgado, temendo os familiares e amigos que fosse condenado à forca. O homem, no entanto, apesar de saber que tudo iria ser feito para que fosse condenado em vez do verdadeiro homicida, homem muito rico e poderoso e amigo do juiz, mantinha uma calma e uma tranquilidade muito grandes.
O juiz sabia muito bem que o homem estava inocente, mas querendo encobrir o verdadeiro culpado, preparou-se para a sentença que havia de levar o pobre homem à morte na forca, simulando um julgamento justo.
Assim e durante o julgamento, o malévolo juiz fez uma proposta ao acusado, pedindo-lhe que provasse sua inocência.
O homem tomando a palavra, com uma serenidade que impressionou todos os presentes disse:
- Meritíssimo juiz: eu sou um homem pobre e simples mas crente e temente a Deus e, por isso vou entregar a minha sorte nas mãos do meu Criador. Se o meritíssimo juiz assim me autorizar vou escrever num pedaço de papel a palavra inocente e noutro pedaço a palavra culpado. Vossa excelência sorteará um dos papéis e aquele que sair será o veredicto.
- Deus decidirá o teu destino. - Determinou o juiz. – Mas serei eu a escrever os papéis.
O juiz preparou os dois papéis, mas em ambos escreveu a mesma palavra, culpado e dobrou-os muito bem, a fim de esconder o que neles estava escrito. Assim não existia nenhuma possibilidade do acusado não ser condenado, livrando-se da forca. Estava decididamente declarado culpado e condenado.
O juiz levantou-se, aproximou-se do réu, colocou os dois papéis sobre uma mesa e ordenou-lhe que escolhesse um. O pobre homem ficou pensativo durante alguns segundos e, de seguida, aproximou-se confiante da mesa. Com grande tranquilidade pegou um dos papéis e rapidamente o colocou na boca, engolindo-o. Os presentes reagiram surpresos e indignados.
- O que fizeste?! – Exclamou o juiz - E agora? Como vamos saber qual o teu veredicto?
- É muito simples, senhor doutor juiz, - respondeu o homem. - Basta abrir o outro pedaço. Saberemos assim que eu engoli o contrário.
Consta que o juiz declarou, imediatamente o homem inocente.