PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
SENHOR BOM JESUS DO PICO
Em meados do ´seculo XIX terá chegado à ilha do Pico a imagem do Senhor Bom Jesus Milagroso, sendo colocada na igreja paroquial de São Mateus do concelho da Madalena, desencadeando uma invulgar atração e uma forte piedade dos fiéis, não apenas da ilha do Pico mas de todas as outras nomeadamente das que se situam mais perto: S. Jorge e Faial.
Foi o emigrante picoense, Francisco Ferreira Goulart, que se fixara na vila costeira de Iguape, no estado de São Paulo, no Brasil que, tornando-se devoto o Bom Jesus, decidiu, no regresso à ilha, em 1862, adquirir e trazer consigo a imagem para a oferecer à igreja da freguesia onde nascera.
Depressa a devoção ao Senhor Bom Jesus se espalhou e o majestoso templo onde se conservava a imagem converteu-se num polo para onde convergia e donde irradiava uma religiosidade popular sem paralelo e que viria a determinar a sua elevação à categoria de Santuário Diocesano, em 1962, pelo então bispo de Angra Dom Manuel Afonso Carvalho.
A imagem do Bom Jesus é a figuração iconográfica do Senhor no quadro da sua paixão em que foi exposto à população na varanda de pilatos, pelo próprio procurador romano. à imagem de Cristo crucificado, representação de Cristo doloroso e sofredor. Esta imagem do Cristo sofredor provocou uma enorme devoção que se radicou na ilha do Pico, atingindo uma enorme vigor, cujo epicentro se concretiza no dia da sua festa, que tem lugar naquela freguesia, todos os anos no dia seis de Agosto.
De referir que esta devoção ao Senhor Bom Jesus, sempre com réplicas da sua imagem, se difundiu em duas outras paróquias do Pico: Calheta de Nesquim e Criação Velha e outras duas na ilha do Faial: Angústias e Cedros, três de São Jorge: Urzelina, Calheta e Santo Antão, uma na Terceiram curiosamente na freguesia com o mesmo nome São Mateus; e uma outra na Pedreira do Nordeste, na ilha de São Miguel. A devoção e o culto ao Bom Jesus está também largamente espalhada na diáspora açoriana, nomeadamente nos Estados Unidos da América, tanto na costa leste, em New Bedford e Newport, como na longínqua Califórnia, onde é mais sentida a presença de imigrantes açorianos idos dos grupos central e ocidental e também no Canadá, na zona de Ontário.
Como alguém escreveu “Por toda a ilha e ao redor da terra picoense (ou picaroto) tem o céu, a religião e a oração sintetizados na imagem, na figura soleníssima, sofredora e máscula do Senhor Bom Jesus do Pico... Todos um dia passaram por São Mateus em caminhadas de penitência e de gratidão. O Bom Jesus os levou por terra dentro e pelo mar fora e por sua vez eles O trazem para as terra de emigração e assim a sua imagem reflete (apenas por coincidência?) a estatura do homem do Pico, da sua verticalidade no gesto e na palavra, no sucesso e na adversidade, na dor, no passo, no ato de viver e na própria morte. O homem do Pico que se preza de o ser onde quer que esteja tem, na súmula de todos estes aspetos, o ar imponente e esbelto que o Rei da sua ilha – o Bom Jesus – apresenta... Assim mesmo: com espinhos e a corda e cetro e as vestes do escárnio. Mas de cara alevantada para a terra e para o mar – para a vida.”