Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]



A PANELA DO DINHEIRO

Terça-feira, 18.08.15

Antigamente, na Fajã Grande, entre muitas outras, contava-se a seguinte estória. Há muitos, muitos anos, numa determinada freguesia havia um padre muito rico mas muito avarento. Tinha muito dinheiro, não dava um centavo a ninguém e tinha muito medo que o roubassem. Na verdade não era fácil manter o dinheirinho seguro naqueles tempos, numa casa sem nenhuma segurança. A qualquer momento do dia poderia chegar um bando de ladrões ou até um barco carregado de piratas, arruaceiros e salteadores, roubando, assaltando e matando. Assim cuidava o prebendado que de nada adiantava guardar o seu rico dinheirinho em nenhum lugar de sua casa, nem sequer de baixo do colchão, pois era o primeiro lugar onde os ladrões iriam procurar.

 Depois de muito matutar, a solução encontrada para guardar o dinheiro e que cuidou muito segura foi simples: depositar as economias numa panela de barro e, de noite, sem que ninguém o visse, ir enterrá-la no quintal da sua casa, próximo de algum ponto de referência, mas que só ele fosse capaz de identificar e reconhecer. Assim todas as noites podia ir lá, cavar no local certo, abrir a panela e colocar-lhe dentro o dinheiro que ia ganhando, em missas, sermões, batizados, casamentos e côngruas. Se bem o pensou, melhor o fez e, todas as noites, ia ao quintal, cavava, tirava a tampa da panela com muito cuidado para que se não partisse e atirava as notas e as moedas lá para dentro, cuidando que ali estavam bem seguras.

Ora por ali perto morava um vizinho do reverendo muito esperto e atinado e que estranhou as idas e vindas do padre ao quintal, todas as noites. Pôs-se de vigia e assim identificou o lugar onde o reverendo cavava, sem perceber o que depositava lá dentro. Movido pela curiosidade e também desconfiado, pois sabia da fortuna e da avareza do clérigo, decidiu numa noite, esperar que o pároco se retirasse, regressasse a casa e adormecesse, para ir cavar no mesmo local, a fim de confirmar a sua desconfiança. Não foi pois com admiração que ao encontrar a panela e, ao abri-la, verificou que estava quase cheia de dinheiro. Com muito cuidado retirou-o, foi à sua retrete, trouxe a caneca da merda e despejou-a dentro da panela, colocando, por cima algumas moedas, a fim de que o reverendo, quando lá voltasse, na noite seguinte, ouvisse o tilintar das moedas que ali colocava de novo. Assim procedeu nas noites seguintes. O reverendo a colocar o dinheiro na panela e ele a trocá-lo pelos seus dejetos.

Passado algum tempo o padre sentiu que a panela já estava cheia e decidiu celebrar o evento. Avisou o presidente da junta, o regedor, os seus compadres e amigos mais ricos de que encontrara uma panela cheia de dinheiro no seu quintal. Gostava de dividir o tesouro com eles, mas de uma forma que fosse mais interessante e apelativa. Havia de colocar a panela no alto, presa a um pau, havia de lhe mandar dar uma paulada. Ele, as suas irmãs e os seus amigos juntamente com as suas esposas haviam de colocar-se por baixo da panela e todo o dinheiro que cada um apanhasse seria seu. O senhor padre muniu-se da sua batina com uma aba muito grande e larga, as suas irmãs e as outras mulheres de grandes e floridos aventais a fim de que conseguissem apanhar a maior quantidade de dinheiro possível.

Veio o homem do pau e zás. Manda forte paulada na panela que esta se partiu em mil pedaços, caindo a merda ali armazenada por cima de quantos se encontravam à espera de apanhar as notas e as moedas, enquanto o vizinho à sua janela ria a bom rir. O padre vendo-o, adivinhou a marosca e ameaçando matá-lo, começou a correr atrás dele com quantas forças tinha.

Ao passar à Praça, viu uns homens ali sentados a descansar e perguntou-lhes se não tinham visto passar o seu vizinho. Todos se calaram, admirados do estado lastimoso em que o padre se encontrava, Um deles, mais corajoso e afoito, respondeu:

- Não, não vi passar o seu vizinho, mas também nunca vi o senhor padre tão cagado.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por picodavigia2 às 00:05





mais sobre mim

foto do autor


pesquisar

Pesquisar no Blog  

calendário

Agosto 2015

D S T Q Q S S
1
2345678
9101112131415
16171819202122
23242526272829
3031