PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
CHUVA EM AGOSTO
“Chuva em agosto até dá gosto.”
Mais um interessante adágio muito utilizado na Fajã Grande, na década de cinquenta. Para uma população cuja economia e subsistência dependiam da agricultura a chuva era fundamental e, consequentemente, muito desejada, sobretudo nos meses de verão, nomeadamente em agosto. Meses de seca significavam o atrofiamento dos produtos agrícolas. Tão desejada era a chuva nessas situações e nesses meses que, quando a seca era muita até se organizavam as Rogações. As Rogações eram procissões de penitência e oração, sem santos e sem andores, realizadas de manhazinha, onde apenas seguia a cruz paroquial, revestida de manga roxa. Nela se incorporavam os homens, a maior parte de opas vermelhas, as mulheres de cabeça coberta e no fim o pároco, revestido de pluvial roxo e de hissope em riste, que ia, sucessivamente, molhando na caldeirinha que o sacristão segurava e com o qual aspergia e benzia os campos por onde a procissão passava, ao mesmo tempo que entoava, em latim e enquanto os sinos dobravam, a ladainha de todos os santos. Entre muitas outras invocações o pároco cantava:
- “Ut fructus terrae dare et conservare digneris.”. (Que Vos digneis dar-nos e conservar os frutos da terra).
- “Te rogamus audi nós.” (Nós Vos rogamos, ouvi-nos) – implorava o povo.
Estas procissões eram realizadas sempre que faltava chuva, originando períodos de seca prolongada que prejudicavam seriamente a produção agrícola e, indiretamente, a pecuária. Normalmente eram pedidas pelo povo, ao pároco que, durante o cortejo, levava uma pequenina e velha imagem de Sant’Ana, à qual se dirigiam vários cânticos e preces, seguidas das ladainhas.
As procissões das Rogações normalmente percorriam as Courelas, Rua Nova, a Via d´Agua e a Tronqueira, ou seja as zonas onde as terras eram mais próximas do mar, atingidas pela salmoira, mais secas e onde a recolha dos produtos agrícolas se verificava mais cedo.
Para gáudio de todos e para fortalecimento e solidificação da fé, geralmente chovia, alguns dias após as Rogações. Por isso a razão de ser deste adágio – Chuva em agosto até dá gosto.