PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
AZAR DOS AZARES
A garagem do meu prédio, onde todos os dias religiosamente guardo o meu carro, é enorme! Tem vários espaços, devidamente delineados e definidos, onde cada condómino ou inquilino pode guardar os seus automóveis. Durante a noite, claro. Porque mal amanhece, uma após outra, todas as viaturas vão escapulindo porta fora. Às oito, a garagem está menos de meia e às nove encontram-se ali apenas um ou dois carros. Um deles é o meu. Nem todos os dias, dado que, uma ou outra vez, apesar do meu estatuto de reformado, também saio, porta fora, quase sempre para uma viagem curta e pouco demorada. Regresso e arrumo o automóvel no espaço que é meu e que me foi destinado quando adquiri o apartamento.
Num destes dias saí, por volta das nove saí. Regressei uma meia hora depois e entrei com o denodo de arrumar o carro no meu espaço. Nesse dia não se encontrava na garagem nenhuma outra viatura pertencente a qualquer morador. Mas encontrava-se estacionada uma carrinha. Pela publicidade escrita nas portas percebi que era duma empresa de manutenção e reparação de extintores. Na verdade, um funcionário da empresa estava ali, a proceder à manutenção dos vários extintores existentes no prédio.
Mas azar dos azares. O homem, com uma pontaria desmedida, cuidando que os proprietários dos automóveis estariam ausentes todo o dia, estacionou a carrinha num dos espaços destinados a um morador. Mais precisamente, estacionou no meu espaço!
Apitei, indicando-lhe que aquele era o meu lugar e que pretendia arrumar ali o meu automóvel. O homem ficou desolado. Pediu desculpa, retirou a carrinha e estacionou-a noutro espaço,
Mas não se coibiu de explicar:
- Ó senhor, eu tenho tanto azar! Sempre que vou a um prédio verificar os extintores estaciono no lugar em que o dono regressa logo!