PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
A LENDA DO SENHOR DE MATOSINHOS
Na Fajã Grande, outrora contavam-se muitas estórias sobre Jesus e as pessoas que o acompanharam durante a sua vida terrena. Muitas destas estórias ou lendas nada tinham a ver com as narrações dos quatro evangelistas, pregadas no púlpito da igreja ou lidas na Bíblia. Eram estórias ou lendas, muitas delas possivelmente baseadas nos evangelhos apócrifos e que não se sabe muito bem como terão chegado aos habitantes da mais ocidental povoação portuguesa. Uma delas era a lenda do Senhor de Matosinhos, segundo a qual Nicodemos, amigo de Jesus, que o defendeu no Sinédrio de que era membro e que lhe deu sepultura juntamente com José de Arimateia. Ora, segundo essa lenda, Nicodemos também era um hábil escultor, reproduzindo em madeira algumas imagens do seu amigo Jesus, as quais, não pode guardar por muito tempo, já que os pagãos apostados em desmentir o cristianismo destruíam tudo o que fosse cristão ou lembrasse Jesus e os seus discípulos. Mas como Nicodemos não queria ver destruídas as belas imagens que elaborara de Jesus que com tanta arte produzira, ao ser perseguido pelos cristãos, preferiu deitá-las ao mar. Uma das imagens lançadas ao mar era um belo cruxifixo representando Jesus pregado na cruz, no alto do Calvário. Esta imagem andou anos e anos no mar até que um dia chegou à praia de Matosinhos, perto do Porto. Em memória deste facto foi construído um padrão naquela praia e o cruxifixo, a cuja imagem faltava um braço por tanto tempo ter andado à deriva na água salgada, foi guardada e venerada pela população daquela localidade nortenha.
Ainda segundo a lenda, vários braços foram mandados esculpir, mas nenhum deles se conseguia ajustar à imagem. Muitos anos mais tarde, andando uma pobre mulher na praia apanhando lenha para abastecer a sua lareira, deparou com um pedaço de madeira maior e diferente dos outros. Chegando a casa, atirou-o para o lume, mas logo este saltou para fora da lareira. Isso repetiu-se por diversas vezes. Sempre que a mulher aquele pau saltava para fora da lareira, sem arder. Esta mulher tinha uma filha muda que, ao ver aquele facto estranho, miraculosamente falou pela primeira vez, dizendo que aquele pedaço de madeira era o braço que faltava ao Senhor Bom Jesus de Matosinhos.
Correu logo a notícia e colocado o braço na imagem, constatou-se que o mesmo encaixava na perfeição… E até hoje lá ficou!
A partir daí, todos os anos, sete semanas depois da Páscoa, se realizam as festas em honra ao Senhor de Matosinhos.
Ao senhor Arnaldo, faroleiro da freguesia na década de cinquenta, foi atribuído o apelido de O Senhor de Matosinhos. Pelos vistos ele teria realizado uma viagem ao continente, durante a qual visitou a igreja do Senhor de Matosinhos. Ao regressar à Fajã não cessava de narrar esta visita e de falar sobre o Senhor de Matosinhos. Mas a lenda terá chegado à Fajã Grande muitos anos antes da visita dele a Matosinhos.