PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
A MORTE DA VAQUINHA
Era uma vez um pai que vivia, pobremente, com a mulher e um filho. O rapaz era muito apático e passava os dias a descansar, não se interessando por coisa nenhuma. Cuidava, o mandrião, que os pais tinham obrigação de o sustentar.
Certo dia o pai convidou o rapaz para dar um passeio. Caminharam durante um dia inteiro e à noitinha chegaram a uma pequena aldeia. Como já era noite o pai decidiu que haviam de passar ali a noite porque era muito tarde para regressar a casa. Dirigiram-se a uma pequena e pobre estalagem, onde pretendiam pernoitar.
O estalajadeiro, percebendo que eram pobres, disse-lhes que podiam ali ficar, mas deitar-se-iam no chão de um corredor pois não tinha cama para eles. O homem pediu-lhe, então, que antes os deixasse dormir no estábulo, pois era melhor dormir sobre a palha, do que no chão duro e frio.
O estalajadeiro aceitou, mas antes de os dois hóspedes se recolherem ao estábulo para dormir, encetou conversa com eles. O homem perguntou-lhe se ele e a família viviam apenas dos lucros da estalagem. O estalajadeiro explicou que viviam muito pobremente, pois a estalagem era muito pobre e pequena. O que os sustentava era o pouco leite que ordenhavam de uma vaquinha que tinham. Vendendo o leite, embora com alguma dificuldade, conseguia sustentar-se a ela à mulher e aos seus filhos.
Despediram-se.
De madrugada o homem acordou o filho e disse-lhe para se levantarem e saírem, sem fazer barulho, a fim de não acordarem os donos da estalagem ou algum hóspede que ali tivesse pernoitado.
Ao saírem da estalagem, viram um enorme cerrado de terra muito fértil mas não cultivado, cheio de ervas daninhas, onde estava amarrada uma vaca. Então o homem tirou do bolso um punhal e matou a vaca. O filho ficou indignado, mas o pai ainda o repreendeu, mandando que se calasse. E voltaram para casa
Passados alguns anos, o pai perguntou ao filho se ele ainda se lembrava da estalagem onde tinham pernoitado, pois gostava de visitar os moradores. Assim fizeram. Ao chegar à aldeia e depois de procurarem o pai apontou para um grande e moderno hotel, dizendo que era ali a estalagem onde tinham pernoitado. O filho discordou, pois o edifício indicada pelo pai, não era uma humilde estalagem, mas um enormíssimo e sumptuoso hotel. Mas como o pai insistisse, bateram à porta e com surpresa mútua, apareceu o dono da tal estalagem acompanhado da sua mulher. Muito satisfeito por os ver, perante o espanto e admiração deles, disse que tinha uma coisa muito importante para lhes contar.
- Sabe, - disse, - no dia em que foram embora, alguém nos matou a vaquinha cujo leite nos sustentava e ficámos sem saber o que fazer à vida. No meio daquela aflição, reparamos que o terreno que tínhamos era muito fértil e produtivo. Limpámo-lo das ervas daninhas, lavramos, semeamos e agora temos uma tal produção que até exportamos para o estrangeiro os frutos e os vegetais que ali colhemos. Estamos imensamente gratos a quem nos matou a vaca, pois com isso a nossa vida mudou para muito melhor. Com o dinheiro que ganhámos, construímos este grande hotel. Estamos ricos!
Despediram-se. Pelo caminho, no regresso a casa, o pai disse para o filho:
- Compreendes, agora, por que matei a vaca? Estavam acomodados, incapazes de dar um passo em frente para melhorar a sua situação. A morte da vaca despertou-os, abriu-lhes o caminho para o sucesso. Temos obrigação de pensar que dentro de cada um de nós existe sempre algo que pode crescer e chegar bem longe.
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