PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
A PEREIRA
O Rodrigo, chegado à Califórnia há poucos dias e hospedado em casa dos tios Barbosa, indignava-se, veementemente, com os telefonemas diários e contínuos que fazia a tia Bárbara, a dona da casa. A cada hora, a cada momento, pegava no telefone e chamava a Pereira. Depois lá continuava num inglês muito revezado:
- Give me naine, sikse, tree, naine, for, ou, for…
E logo a seguir lá vinha a enxurrada:
- À melhé , comé que are you? Yesterdei cóllade mi a Maria do Gervásio to say caquele sana babicha do Jose do Oiteiro, bote a niu automóvele. Bat hi gaba-se que it is tope of gama. Shua que hi is um vain da merda. Tere are pouco mais the tu days reached here and already tote que tem mundos e fundos. To me it small a esturro. May be the brother in law who gave him the moni… E o tei home, comé que vai? You já foste a Sana Cruz? Its a tauzinho bem pequenino….
O Rodrigo pasmava! Pouco falava inglês mas dava para perceber que aquilo nem chinês era. Mas o que mais o intrigava era a Pereira. Quem seria aquela Pereira com quem a tia Bárbara tanto conversava. Talvez a Irene Pereira, casada com o Inácio Tadeu que tinha vindo há uns anos para a América e morava em Vallejo, ou a filha do António Pereira, radicada em San José… Talvez uma amiga de outra freguesia das Flores ou de outra ilha açoriana…
Certo dia em que o visitaram os primos Silveira, não se contendo, perguntou ao Gonçalo:
- Sabes quem é aquela senhora Pereira, com quem a tia Bárbara tanto conversa todos os dias.
O Gonçalo, dando uma enorme gargalhada, explicou:
- Não é nenhuma mulher com esse nome. A Pereira que ela chama é a operare ou seja a telefonista a quem ela pede o número do telefone da pessoa com quem quer falar…