PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
A LENDA DE SÃO CRISTÓVÃO
Pouco se sabe sobre a vida de Cristóvão, morto durante no reinado de Décio, imperador romano do século III, simplesmente por ser cristão e pregar o cristianismo. A igreja canonizou-o, considerando-o mártir e hoje é um dos santos mais populares do mundo, sendo reverenciado especialmente por atletas, marinheiros, barqueiros e viajantes e foi proclamado padroeiro dos automobilistas e de quantos andam em viagem.
O facto de se saber pouco sobre a sua vida originou a que sobre ele se criassem algumas lendas, sendo uma das mais interessantes a seguinte que, como muitas outras, era contada antigamente, aos serões, na Fajã Grande.
Conta essa lenda que havia, antigamente, um rei pagão que não tinha filhos. Mas a rainha era cristã e, às escondidas do monarca, rezava e pedia a Deus que lhe desse um filho. Só assim daria uma grande alegria ao seu rei e esposo. Deus ouviu as preces da bondosa rainha e esta concebeu e deu à luz um filho, para gáudio do rei e de toda a corte. A criança, de nome Cristóvão, cresceu e tornou-se num belo jovem, muito alto e corpulento, possuindo uma força extraordinárias. Foi essa força que fez com que Cristóvão resolvesse colocar-se exclusivamente ao serviço dos ricos, poderosos e mais fortes, acabando por servir um rei poderoso e mau que se cuidava que fosse o próprio Satanás, dado que se assustava quando via uma cruz por perto. Certo dia, Cristóvão encontrou um eremita que vivia pobremente numa gruta. A bondade e simplicidade do eremita emocionou de tal modo Cristóvão que este passou a viver junto dele durante algum tempo, ajudando-o, enquanto o eremita o educava na fé cristã, ensinando-lhe a doutrina e batizando-o. A partir de então Cristóvão começou a ajudar os mais fracos, os mais pobres e os mais desafortunados, sobretudo aceitando a tarefa de os ajudar a atravessarem um rio perigoso, onde não havia ponte e no qual muitas pessoas haviam morrido ao tentar fazer a travessia.
Certo dia, Cristóvão ajudo uma criança a atravessar o rio. Como sempre, fê-lo de boa vontade, mas ao iniciar a travessia pelo meio das águas notou que estranhamente, a criança ficava cada vez mais pesada, de tal maneira carregada que lhe parecia que transportava o mundo inteiro sobre os seus ombros. Quando chegou à outra margem do rio estava tão cansado que desabafou:
- Menino, afinal eras tão pesado que tive a sensação que trazia o mundo às costas.
- Pois bom homem, - disse a criança, - foi exatamente o que trouxeste ao ombro.
Ao dizer isto o menino desapareceu. Cristóvão já estava tão admirado com aquele menino e com o seu estranho peso, mas mais espantado ficou quando viu que tinha um barco ali ao seu lado para de futuro atravessar os pobres, em vez de os carregar às costas. Mais tarde compreendeu que aquela criança era o menino Jesus, o Criador e Redentor do mundo. Daí, concluí-a a lenda, lhe advém o nome Cristóvão, que significa aquele que carrega Cristo.
Mas a lenda ainda conta que na manhã seguinte, apareceu no mesmo local uma exuberante palmeira. Estes dois estranhos milagres converteram ao cristianismo muitos pagãos o que despertou a fúria do imperador que odiava o cristianismo e que o mandou prender, sujeitando-o, algum tempo depois, a um martírio cruel, pois mandou que lhe cortassem a cabeça, estando ainda vivo.