PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
TRÊS ACIDENTES NO MAR NO INÍCIO DO SÉCULO XX
De acordo com os livros de registo de óbitos da freguesia de São José da Fajã Grande, vários acidentes tiveram lugar nos mares da mais ocidental freguesia açoriana, nos finais do século XIX e início do século XX, nos quais faleceram várias pessoas.
Assim, a nove de Abril de 1900, por volta das seis horas da manhã foi encontrada no mar da Ponta, para os lados do ilhéu do Cão, Maria Rosa de Jesus, moradora na Rua da Fonte, do Lugar da Ponta, filha de José Francisco Furtado e Maria Rosa. Era solteira, doméstica e tinha cinquenta e quatro anos. Não tinha filhos. Possivelmente terá sido vítima de um ato tresloucado ou então ter-se-á deslocado para o rolo e baixio da Ponta a fim de apanhar lapas, sendo vítima de uma escorregadela fatídica. No entanto esta segunda hipótese parece ser pouco provável, uma vez que em Abril, na ilha das Flores, às seis horas da manhã ainda é noite escura e, por conseguinte, uma altura pouco apropriada para alguém ir às lapas.
Outro estranho acidente, ocorreu alguns anos depois, no lugar do Canto do Areal, próximo do local onde anos mais tarde naufragaria a barca Bidart. No dia dezanove de Dezembro, pelas três horas da tarde, foi arrebatada pelo mar, uma criança de nome Manuel, de 10 anos, filho de Manuel Rodrigues Felizardo, conhecido na década de cinquenta por Ti Mateus Felizardo, e de Maria Fagundes Felizardo. O pároco da freguesia, padre Francisco Vieira Bizarra, no registo de óbito, descreve assim o trágico acidente: “…verificando os companheiros com quem ali brincava que o seu corpo boiava ao largo já cadáver não tendo sido arrojado à costa, até hoje, dia 27 do corrente mês e ano.” Daqui se conclui que para grande mágoa dos pais e familiares o corpo da criança nunca deu à costa, sendo sepultado no mar, pelo que foi feito apenas o registo do seu óbito.
Mas o grande acidente, cujos ecos ainda se ouviam nas ruas e casas da Fajã Grande, na década de cinquenta deu-se no mar dos Fanais, lugar idílico e de rara beleza e dotado de excelentes pesqueiros. A jovem Maria Amélia Pacheco, filha de Mariano Pacheco, natural de Ponta Garça S. Miguel, na década cinquenta conhecido por de mestre Mariano e de Ermelinda Amélia Alves namorava o jovem José Joaquim Pimentel de 21 anos, morador na Tronqueira, filho de António Joaquim e de Maria Florinda. Este casal de jovens na tarde do dia 14 de Março de 1906 decidiu dar um passeio de barco para o maravilhoso lugar dos Fanais, junto ao ilhéu de Maria Vaz, levando consigo João, uma criança de dez anos, irmão da Maria Amélia. Sem que nada o fizesse prever a alegria destes jovens foi desfeita por um terrível acidente, conhecido como O acidente dos Fanais. O acidente deu-se por volta das duas horas da tarde do dia 14 de Março de 1906, tendo a embarcação sido vítima de uma “submersão marítima acidental”. O cadáver da jovem, encontrado na tarde do mesmo dia, foi transportado em maca para a Fajã Grande, sendo feito o funeral no dia seguinte. Juntamente com ela faleceu o irmão João de seis anos, cujo corpo foi encontrado alguns dias depois Residiam na Via d´Água, No mesmo acidente faleceu o namorado de Maria Amélia, José Joaquim Pimentel de 21 anos, morador na Tronqueira, filho de António Joaquim e de Maria Florinda No entanto o seu corpo apenas foi encontrado quinze dias depois já em adiantado estado de putrefação, pelo que nem foi retirado do mar, onde ficou sepultado.