PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
O VINHO DERRAMADO
Conta-se que havia numa determinada terra um fidalgo tão pobre, que dispunha apenas de duas pequenas moedas para comprar diariamente o seu alimento.
Uma certa manhã, ao verificar que só tinha em casa um pão, decidiu comprar um pouco de vinho com uma das moedas. Foi à taberna mais próxima e pediu vinho.
O taberneiro, que era um homem grosseiro e desagradável, serviu-lhe de má vontade um copo de vinho, colocando-o na mesa tão bruscamente, que derramou quase metade. Em vez de desculpar-se, disse com insolência:
- O senhor está com sorte. O vinho derramado significa alegria e riqueza.
O fidalgo não protestou, mas cuidando que o taberneiro recebera dinheiro a mais do que o valor do vinho que bebera, uma vez que pagara um copo cheio e só bebera meio, pediu que lhe trouxesse um pedaço de queijo, no valor do meio copo derramado pelo taberneiro. O homem recusou, mas apanhou a moeda bruscamente e foi ao andar de cima a fim de a guardar.
Enquanto isso o fidalgo levantou-se, abriu a torneira do tonel de vinho e deixou que ele escoasse, formando um enorme lago vermelho no meio da taberna.
Quando o taberneiro voltou e viu o que acontecera, avançou furiosamente sobre o fidalgo. Este defendendo-se, atirou-o contra o tonel, que caiu ao chão junto com seu dono, entornando o que restava do vinho ali guardado.
Acudiram vizinhos e soldados, separaram os contendores, levando-os à presença do rei, a fim de que os julgasse e castigasse. O taberneiro falou primeiro e pediu uma indenização. Mas antes de dar a sentença, o rei quis ouvir também o fidalgo, que narrou o sucedido com toda a veracidade, e acrescentou:
- Majestade, este homem, quando entornou a metade do vinho que me vendera, disse-me que isso era sorte minha, pois vinho derramado significa alegria e riqueza. Pensei então que, se eu me tornaria rico por ter derramado só meio copo de vinho, o bom taberneiro se tornaria muito mais rico e feliz se derramasse meio tonel. Assim, cheio de reconhecimento e gratidão, resolvi abrir a torneira do tonel, e o resto já Vossa Majestade conhece.
O rei e toda e todos os membros da corte presentes riram com a engenhosa justificativa, e o fidalgo foi absolvido sem pagar a pretendida indenização.
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