PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
O COMPADRE DIABO
Era uma vez um lavrador pobre e já velho, mas muito honrado e trabalhador. O lavrador tinha um compadre que era o diabo, mas não o sabia.
Certo dia o compadre encontrou-o e disse-lhe:
- Ó compadre, tu és tão pobre, tão pobre… Além disso já és muito velho. Sabes que mais? Como já mal podes trabalhar davas-me o teu campo para o trabalharmos a meias, com a condição de que o que crescer para debaixo da terra seja para mim. Claro que o crescer para cima da terra será para ti.
O lavrador, que não tinha nada de parvo, aceitou a proposta, e foi trabalhar o campo, semeando-o de trigo. Mas o compadre, contrariamente ao prometido, não o ajudou nada. Mas no campo nasceu muito trigo que o lavrador colheu. De seguida disse ao compadre que fosse apanhar o que tinha crescido debaixo da terra. O diabo apenas encontrou raízes, e só então percebeu que tinha sido enganado pelo compadre. Foi ter com ele e disse-lhe, novamente:
- Já me não serve o nosso contrato como o estabelecemos. Se o quiseres continuar deverá ser às avessas. Assim o que crescer para cima da terra será para mim, e o que crescer para baixo será para ti.
O lavrador aceitou a condição proposta pelo compadre e semeou o campo, enchendo-o todo de batatas, Produziu batatas que era um regalo. Foi ter com o compadre e disse-lhe que fosse apanhar a sua parte, o que tinha crescido para cima da terra, que era a rama da batata, enquanto ele tirou muitos e muitos alqueires de batatas, com que fez muito dinheiro. O diabo viu que perdia sempre nos contratos, e quis vingar-se do compadre:
- Ah velhaco, que me enganaste, mas eu é que te não deixo ficar assim. Havemos de bater-nos. Será à unhada! Ao menos desta vez hei-de ficar de melhor partido.
Só então o lavrador percebeu que o seu compadre era o diabo. Ficou pois muito assustado, pois sabia que o diabo tinha umas garras terríveis, mas como não podia escolher as armas, já dava ao diabo como vencedor. Foi ter com a mulher, sem saber como se veria livre daquela alhada. A mulher acalmou-o, dizendo-lhe:
- Tem calma, homem. Deixa-o vir para cá, que eu trato-lhe da saúde. No dia em que te vier procurar para lutar contigo, eu escondo-te, porque eu é que me vou entender com ele.
No dia combinado, chegou o diabo muito furioso. Bateu á porta do compadre e disse:
- Aqui estou para irmos lutar.
Foi a mulher do lavrador que, disfarçando simpatia, o recebeu:
- Entre para aqui compadre! Vem para a desforra, não é verdade? Espere pelo meu homem, que foi amolar as unhas. Mas olhe que ele sempre que as amola dá cada unhada! Aqui está a primeira que ele me deu…
Nem foi preciso mostrar nada. O diabo mal a ouviu começou a fugir com medo de ficar cheio arranhaduras, e nunca mais voltou a importunar o honrado lavrador.