PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
GRAFITAR
Ontem, aconteceu um lamentável acidente na estação de comboios de Ermesinde. Três jovens que grafitavam um comboio foram colhidos por um outro que seguia em sentido contrário. A dramática notícia foi divulgada nas televisões, nos jornais e nas redes sociais. O verbo grafitar surgiu, assim, em pleno, conjugado nos seus diversos tempos e modos.
Razão tinha Ferdinand Saussure quando afirmou que as línguas são organismos vivos: nascem, crescem, desenvolvem-se, vivem e morrem.
E ainda há quem se oponha radicalmente ao acordo ortográfico.
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ESTIGMAS
As ribeiras estão desertas de água,
Encheram-se de ervaçais,
Atulharam-se de pedregulhos toscos,
Transformaram-se em caminhos sinuosos.
Nas margens, álamos e salgueiros
Perderam as folhas
E amortalharam-se de fantasmas.
As pontes atafulharam-se de segredos,
Emergiram num silêncio profundo,
Transformando a paisagem circundante
Num deserto.
Os peixes definharam
Estrangulados pelo rumor dos ervaçais,
Os pássaros fugiram
Com medo das tempestades ressequidas
E uma enorme esponja de bruma
Cobriu o céu de lés-a-lés
Apagaram-se todos os murmúrios do vento.
Ali ao lado,
No charco deixado pela chuva de ontem,
Uma criança, só uma,
Brinca com barcos de papel!
Estigmas anexados ao destino…