PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
A VIÚVA E O ENFORCADO
Era uma vez uma mulher considerada muito honesta. Quando o marido faleceu, fez por ele os maiores prantos que alguma vez se ouviram, chorou tanto de dor como nunca nenhuma viúva chorara e, não se contentando com as cerimónias fúnebres comuns que as outras viúvas mandavam celebrar nos funerais dos maridos, mandou fazer cerimónias solenes presididas pelo bispo, mandado vir da sede da diocese. Como era costume nesse tempo, o marido foi enterrado no adro da igreja da freguesia onde viviam e a mulher, cheia de dor, ali ficou a chorar, dia e noite, junto à sepultura do marido sem querer comer, nem afastar-se daquele lugar.
Aconteceu, por aqueles dias, terem ali perto enforcado um facínora, criminoso, para guarda do cadáver do qual, o juiz mandou colocar ali de sentinela, um soldado. Este ao ver a mulher muito chorosa e sem comer, junto da sepultura do marido, compadecido da sua grande mágoa, ofereceu-lhe a sua ceia e obrigou-a a que comesse, para não morrer à míngua. De seguida, persuadiu-a também a que se envolvesse num ato amoroso com ele. Esconderam-se entre umas árvores e o soldado descuidou-se da sua obrigação de vigiar o corpo do condenado. Vieram então os parentes deste e furtaram-no. Vindo depois o soldado, e não o encontrando, temendo um pesado castigo, veio lamentar-se junto da viúva, a qual o consolou e lhe resolveu o problema, tirando o corpo de seu marido defunto da sepultura, pelo qual havia feito tantos prantos e chorara com tanta dor, e deu-o ao soldado que assim o pôs na forca no lugar do facínora que havia sido condenado por vários e graves crimes praticados.