PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
MÃO DE MESTRE
“Mão de mestre é unguento.”
Este adágio muito utilizado na Fajã Grande, na década de cinquenta, era um verdadeiro elogio à sabedoria, pese embora não fosse exclusivo daquela freguesia uma vez que era e é utilizado em muitas outras localidades não só das ilhas mas também do continente. Consta que até Fernando Pessoa se recorria dele para fundamentar alguns dos seus pensamentos. Recorde-se qua a palavra unguento significa, simplesmente, qualquer medicamento para uso externo, pouco consistente, e que tem por base uma substância gorda, portanto algo que cura E será este aqui o seu significado. Tudo se cura, se concerta ou se resolve da melhor forma se a pessoa em causa for mestre, se tiver conhecimento prático daquilo que está a fazer. Isto aplic a-se a todo o tipo de atividades, mas usava-se muito concretamente, quando se referia a problemas de saúde e que eram ultrapassados com a ajuda de alguém que sabia o que estava a fazer. Na Fajã estes mestres do unguento eram sobretudo dois: a Senhora Mariquinhas do Carmo e o pároco da Fajãzinha o padre António Joaquim Inácio de Freitas. Na verdade, assim como em todas as localidades, na Fajã Grande havia um conjunto de saberes, baseado na experiência quotidiana, na observação meticulosa e contínua do meio natural, numa tentativa de conhecer o meio natural, de perceber, conhecer e dominar os princípios pelos quais se regem as leis da natureza e, sobretudo, de alterar ou modificar o seu curso. Este conhecimento, esta experiência e este domínio vão-se transmitindo de geração em geração arquivando-se numa cultura tradicional. Quem a domina é mestre e, nas mãos deste, tudo tem remédio ou solução, Por isso é que estas (mãos de mestre) são bálsamo ou unguento.