PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
A VELHA DO ALAGOEIRO
Conta-se que em tempos que já lá vão havia uma pobre mulher que vivia sozinha na Fajã Grande, para os lados do Alagoeiro e, por isso, era conhecida de todos como A Velha do Alagoeiro. A mulher para além de velha e muito pobre era um pouco tresloucada, não atinando muito bem com o que dizia e, por isso, o povo gozava-a e ria-se dela. Mas tinha bom coração e repartia sempre o puco que tinha com os que eram mais pobres.
Um dia a pobre velhinha enquanto cozia o seu bolo ouviu bater à porta. Veio abrir e qual não foi o seu espanto quando viu uma formosa senhora, linda como um anjo e toda vestida de branco
- Entre! - Disse a pobre velhinha. - Estou a cozer um bolo para a minha ceia. Venha para junto do meu tijolo, pois do pouco que Deus me deu a todos gosto de dar.
A Senhora agradeceu-lhe, entrou e pediu-lhe com uma voz doce que parecia encantá-la:
- Vai dizer a toda a gente deste lugar que fuja de lá debaixo, das suas casas, de junto do mar. Um enorme temporal vai acontecer esta noite. O vento e o mar entrarão por terra dentro e destruirão todos os que não se refugiarem aqui, junto de ti.
E logo a velhinha foi de casa em casa avisar os moradores, dizendo a todos que deixassem a sua casa, o seu lar e viessem cá para cima, para o Alagoeiro, para junto dela. Se o não fizessem seriam todos levados por um grande temporal que ia fazer durante a noite.
Muita gente zombou do que a velhinha dizia, ninguém quis acreditar em tão triste profecia, permanecendo todos nas suas casas, cuidando que a velha do Alagoeiro, desta feita, estava mais tresloucada do que nunca. Por certo que tinha perdido o juízo por completo.
A velha voltou para sua casa muito triste, fechando e trancando todas as portas e janelas.
Pela noite dentro levantou-se um enorme temporal, uma tempestade como não havia memória na freguesia. O vento fortíssimo derrubava árvores, destruía casas, arrastava os animais e as pessoas. O mar entrava por terra dentro com vagas gigantes, cobrindo e arrasando todo o povoado, destruindo tudo.
Apenas quando a manhã despontou, o temporal amainou. O sol raiava num céu azul. O vento era bonançoso e o mar acalmara por completo. Mas muita gente que, no dia anterior, zombara da velhinha do Alagoeiro morrera e muitos outros ficaram sem casa, sem animais e sem nada. Tudo o temporal havia destruído.
O povo, então, emocionado e arrependido por ter zombado dela, acreditou que a velha do Alagoeiro era uma santa e que a mulher de Branco que lhe aparecera e a avisara do que iria acontecer naquela noite, por certo seria Nossa Senhora.