PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
LOIRO VERDE
“Lenha de loiro verde serre meu genro fenda meu filho.”
Este é um adágio bastante enigmático e de enleada compreensão quer no seu sentido real, quer no figurado. O louro ou loureiro, ou ainda loiro, como se dizia na ilha das Flores, apresentava-se nas terras de mato da Fajã Grande, ora com um arbusto denso, sempre verde ou então como uma árvore ornamental de folhas verde-escuras, lisas, ovais e pontiagudas. Pequenas flores beges-amareladas apareciam no início do verão, seguidas, por vezes, sobretudo nos anos mais quentes e nas plantas adultas, por bagas pretas. A parte mais utilizada desta planta, na maioria das regiões, são as suas folhas, secas, muito utilizadas na culinária, para temperar os alimentos durante a sua confeção, uma vez que o louro é uma espécie de especiaria aromatizante, conferindo um sabor agradável à comida. Mas nem todo o tipo de louro pode ser utilizado na culinária.
Na Fajã Grande havia muito louro que, na maioria dos casos era utlizado como lenha. As folhas e os ramos do louro ardiam muito bem e, por isso, eram usados também nas fogueiras que se faziam na noite de São João.
Mas a lenha de loiro como toda a outra lenha, de incenso, faia, sanguinho ou até de cedro, tinha que ser serrada e fendida, sendo que nenhuma destas duas operações, aparentemente, seria mais cansativa ou desgastante do que a outra. Assim uma delas, provavelmente a mais suave, devia ser atribuída ao filho, enquanto a outra, mais dura cansativa, destinar-se-ia ao familiar menos amado, ao genro. Mas a interpretação, embora menos lógica mas mais coerente, aparentemente, parece ser outra. A presença do genro e do filho, naturalmente mais novos do que pais ou sogros, parece querer significar que fender e serrar louro, sobretudo quando verde, era tarefas mito difíceis, devendo, por conseguinte, serem atribuídas a gente mais nova. Assim e no sentido figurado com o uso deste adágio queria, muito provavelmente, significar-se como que uma espécie de desabafo que permitisse aos mais velhos se libertarem ou abdicarem das tarefas mais pesadas e duras, que deviam ficar para os mais novos, para os filhos e para os genros.