PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
OS CRUZEIROS DA FAJÃ GRANDE
Nos antigos caminhos da Fajã Grande havia, outrora, vários cruzeiros quase todos assinalados com uma cruz tosca e de madeira, encastoada sobre uma das paredes circundantes do caminho, geralmente, a mais alta e mais abrupta. Os cruzeiros existentes na Fajã Grande eram, no entanto, muito diferentes dos cruzeiros das cidades, vilas e aldeias mais antigas do Portugal Continental. Estes eram formados por grandes cruzes, geralmente em pedra embora raramente apareça um ou outro também em madeira, e que normalmente eram colocadas sobre uma plataforma com alguns degraus ou sobre a extremidade de espigueiros. Os cruzeiros continentais, normalmente, eram colocados nos adros das igrejas, cemitérios, lugares elevados ou, como os da Fajã Grande, em encruzilhadas de caminhos.
Na verdade todos os cruzeiros da Fajã Grande eram colocadas nas encruzilhadas de dois caminhos, ou seja onde um determinado caminho se cruzava com outro que, regra geral, aí se iniciava. Além disso as cruzes dos cruzeiros da Fajã Grande eram todas feitas de madeira, eram de pequena dimensão e colocadas sobre uma parede ou encastoadas nela. Havia também cruzeiros, excecionalmente, em lugares perigosos, como era o caso da Rocha.
O maior e mais importante cruzeiro da Fajã Grande situava-se no Calhau Miúdo, no local onde o caminho entre a Tronqueira e o Cais se bifurcava com o que dava para a Ponta e onde este tinha início. Este cruzeiro, a sudoeste, ou seja do lado do Estaleiro, era ladeado por uma parede muito alta e era sobre esta que estava colocada a cruz. Junto a esta parede, no chão, haviam sido colocadas algumas pedras soltas que formavam uma espécie de bancada, uma vez que este cruzeiro, também servia de descansadouro, sobretudo aos homens que vinha das Covas, da Ribeira das Casas e de outra paragens de além ribeira carregados com enormes, pesados e alagados molhos de erva. Sentando-se junto à parede, os homens para além de se abrigarem, de fumarem e descansarem como que também beneficiavam duma espécie de proteção da cruz. Os homens ao passar por este cruzeiro, assim como por todos os outros cruzeiros descobriam-se tirando o boné ou o chapéu, em sinal de respeito pela cruz.
Outro cruzeiro importante era o de Santo António, no Delgado. Situava-se no caminho que ligava a Assomada à Cabaceira, no local onde também havia uma encruzilhada, na qual se iniciava o caminho da Cuada. Para além da cruz escarrapichada sobre a parede de uma horta que pertencia ao José Nascimento, o cruzeiro desfrutava de um nicho com a imagem de Santo António colocado na mesma parede, sobre o portão de entrada e que assim dava nome ao lugar. Aqui o cruzeiro também se assumia como descansadouro, um dos mais importantes da Fajã e dos poucos que dispunha de água, a qual ficava relativamente próxima.
Entre a Fontinha e o Alagoeiro, junto à fábrica da Manteiga, onde o caminho também se bifurcava com o da Bandeja e Queimadas, havia um outro cruzeiro, o qual, no entanto nunca funcionou como descansadouro, uma vez que havia, bem perto dali um dos mais emblemáticos descansadouros da Fajã, o do Alagoeiro.
No cimo da Assomada, antes das últimas casas também havia um cruzeiro, uma vez que a rua que tinha precisamente o formato de uma cruz, aí também se bifurcava.
Havia ainda outros cruzeiros, nomeadamente o da Cancelinha, no início da ladeira do Espigão e do Caminho do Vale Fundo e Cuada, ainda muitos outros que na década de cinquenta ou não tinham cruz ou a mesma se havia deteriorado, como eram os cruzeiros das Furnas, do Areal, dos Lavadouros, etc.