PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
ALVORADA SANTA
A semana que antecedia o Domingo de Pentecostes era a semana das Alvoradas na Casa de Cima, o mais antigo império do Espírito Santo da Fajã Grande pese embora a Casa da Cuada tenha sido a primeira a ser construída. As Alvoradas começavam na terça e tinham lugar em dias alternados, ou seja, terça, quinta e sábado, pese embora nos restantes dias a Casa se abrisse e muitas pessoas, sobretudo jovens, para ali se deslocasse para jogos e brincadeiras.
As Alvoradas começavam fora da porta. Apenas a meio da cantoria os foliões entravam na casa e iniciavam a folia junto do altar onde estava a corroa. No fim eram cantadas as Ave Marias e os Oferecimentos. Até ao domingo, seguinte os foliões acompanhavam sempre a coroa, incluindo o levar as sortes, os cortejos para matar o gado e para a igreja e a distribuição da carne, durante a qual percorriam todas as ruas da freguesia, visitando as várias casas. Hoje sabe-se que esta devoção ao Espírito Santos, a distribuição de carne e pão e as próprias cantorias dos foliões assim como muitos outros costumes remontam às celebrações religiosas realizadas em Portugal a partir do século XIV, nas quais a terceira pessoa da Santíssima Trindade era festejada com banquetes coletivos designados de Bodo aos Pobres com distribuição de comida e esmolas.
Na verdade, a devoção à Terceira Pessoa da Trindade teve origem na promessa da rainha, D. Isabel de Aragão, por volta de 1320. A Rainha teria prometido ao Divino Espírito Santo peregrinar o mundo com uma cópia da coroa e uma pomba no alto da coroa, que é o símbolo do Divino Espírito Santo, arrecadando donativos em benefício da população pobre, caso o marido, el-rei D. Dinis, fizesse as pazes com seu filho legítimo, D. Afonso, herdeiro do trono. D. Isabel não se conformava com o confronto entre pai e filho legítimo em vista da herança pelo trono, pois era desejo do rei que a coroa portuguesa passasse, após sua morte, para seu filho bastardo, Afonso Sanches. A rainha Santa Isabel passou a suplicar ao Divino Espírito Santo pela paz entre o marido e o filho, evitando, assim, um conflito iminente.
A devoção ao Espírito Santo chegou às Flores, assim como a todas as ilhas, mas com matizes diferentes de umas para outras. Uma delas são as Alvoradas, ou seja os cantares de louvor, as folias e os agradecimentos dedicados ao Espírito Santo, exclusivas das Flores e Corvo. Na Fajã Grande existiam vários grupos de foliões que por altura das festas em louvor ao Espírito Santo levavam a cabo interpretações de canções/cantorias, algumas com séculos de existência e que tinham diferentes ritmos e letras consoante o momento da festa, como era o caso das Alvoradas. Na verdade o Espirito Santo, e suas festas são para todos açorianos um ponto de referência na sua crença e devoção.
Com séculos de história e muitas adaptações, por vezes novas criações, todas as freguesias da Região Açoriana, tem um ou mesmo mais "Impérios" ou "Casa do Espirito Santo" onde são celebradas/festejadas as festas ao Divino. A Fajã Grande tinha quatro casas e seis impérios, contando com os dois de São Pedro.
De ilha para ilha, no entanto, os usos e costumes variam, mas têm sempre em comum, pelo menos a coroa o símbolo máximo do Espirito Santo e as bandeiras. Também comum era o facto de na base desta devoção estava a partilha, o dar o que se tinha em abundância, aqueles que mais precisavam. Mas também eram comuns a todas as ilhas o convívio, a alegria, a folia. Na Fajã Grande imperava a Alvorada Santa.