PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
TELEMOVELAR
Segundo Ferdinand Saussure as línguas são organismos vivos pois nascem, crescem, vivem e morrem. Essa a razão pela qual na verdade hoje existem línguas mortas e essa, também, a razão pela qual a nossa língua se tem enriquecido ultimamente com o aparecimento de novas palavras sobretudo relacionadas com as novas tecnologias e a sua galopante ascensão.
Quando surgiu o telefone depressa nasceu a palavra telefonar. Com a chegada do telemóvel, no entanto, não surgiu um novo verbo relacionado com o seu uso porquanto o pequeno retângulo se destinava apenas a falar à distância de uma forma mais prática e sobretudo mais à mão do que o já velhinho telefone fixo.
Depressa, porém, o telemóvel adquiriu muitas outras funções tornando-se um companheiro muito útil e quase inseparável de cada um de nós. Apegamo-nos a ele muito mais do que os nossos avoengos se agarravam ao telefone. Pode mesmo dizer-se que o recurso ao telemóvel se tornou um verdadeiro vício, exagerando-se o seu uso, pelo que já foi proibida a sua utilização durante a condução e na descolagem e aterragem dos aviões. Mas como se pode verificar, quer num caso, quer noutro, as transgressões são muito frequentes e se não consta que algum avião tenha tido problemas ao aterrar ou a levantar, até porque neste caso a fiscalização por parte do pessoal de bordo dos aviões geralmente é eficiente, o mesmo se não pode dizer no que ao uso do telemóvel ao volante, onde as consequências são bastante trágicas.
É deste premente uso do telemóvel devido às suas variadíssimas funções parece estar a nascer uma nova palavra telemóvelar.
Há dias ao entrar numa casa de banho do aeroporto Francisco Sá Carneiro, enquanto aguardava o avião com destino aos Açores, dei de caras com um jovem a utilizar um urinol. Mas o jovem não se limitava apenas a urinar. Com uma mão na pila e outra no telemóvel, enquanto urinava dedilhava com destreza as teclas do telemóvel, isto é telemovelava.