PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
UMA BATATA MUITO GRANDE
Era uma vez um velhinho e uma velhinha que viviam numa casinha humilde e pobre, que tinha, ao lado, uma pequenina horta.
Numa bela manhã de março, o velhinho acordou muito bem disposto. Sentou-se na cama, esfregou os olhos, levantou-se, abriu a janela, apreciou um sol muito soalheiro e disse à velhinha:
- Está na altura de semearmos as nossas batatas e o tempo hoje está muito bom.
Então, o velhinho e a velhinha foram para a horta, cavaram a terra, arrancaram as mondas, abriram regos e semearam as batatas colocando-as, depois de as cortar ao meio, muito direitinhas no fundo dos regos. Depois cobriram-nas muito bem com terra, alisaram o chão e, muito cansadinhos, voltaram para casa para descansar.
Naquela noite choveu muito e o velhinho e a velhinha ficaram muito contentes pois sabiam que aquela chuva havia de ajudar as suas batatas a nascerem. Por isso adormeceram muito felizes, ouvindo a chuva a cair lá fora.
No dia seguinte veio um sol muito quentinho e acariciador. O velhinho e a velhinha ainda ficaram mais contentes pois sabiam que, depois da chuva da noite, aquele sol benfazejo havia de ajudar ainda mais as suas as batatas, não apenas a nascerem mas também a crescerem, a tornarem-se muito, muito grandes. Seguiram-se muitas outras noites de chuva e muitos outros dias de sol e as batatas nasceram, cresceram com uma rama muito verdinha e com muitas flores brancas, amarelas e roxas.
Numa bela manhã de julho, o velhinho sentou-se na cama, abriu a janela, viu um sol muito acolhedor e disse à velhinha
- Ó mulher, está na altura apanhar as nossas batatas.
A velhinha concordou mas disse-lhe que naquele dia não podia ir com ele para a horta pois tinha que tratar dos animais, por isso, o velhinho dirigiu-se sozinho para a horta.
Ao chegar lá ficou muito contente pois as batatas estavam prontas para serem apanhadas. Reparando melhor viu num canto da horta uma batata enorme, uma batata muito, muito grande. Era uma batata gigante. O velhinho decidiu então que havia de apanhar primeiro aquela batata e levá-la para casa para a velhinha fazer com ela uma bela sopa para a ceia.
O velhinho aproximou-se, agarrou-se à batata e puxou, puxou, puxou mas a batata era muito grande e, por isso nem se mexeu. Preocupado o velhinho coçou a cabeça e disse baixinho:
- Como é que eu vou arrancar esta batata? Sozinho não consigo. Tenho que ir chamar a velhinha para ela me ajudar.
O velhinho foi à procura da velhinha. A velhinha veio, agarrou-se ao velhinho, o velhinho agarrou-se à batata e puxaram, puxaram, puxaram. Mas a batata, nada. Nem se mexeu.
- Não conseguimos arrancar esta batata. – Disse a velhinha. – Olha vou chamar o porco para nos ajudar. Ele é muito forte. Com a sua ajuda vamos conseguir arrancar a batata
A velhinha foi à procura do porco. O porco veio, agarrou-se à velhinha, a velhinha agarrou-se ao velhinho, o velhinho agarrou-se à batata e puxaram, puxaram, puxaram. Mas a batata, nada. Nem se mexeu.
- Não conseguimos arrancar esta batata. – Disse o porco. – Vou chamar a vaca para nos ajudar. Ela é muito forte puxa carros e corsões. Com a sua ajuda, de certeza que vamos conseguir arrancar a batata
O porco foi à procura da vaca. A vaca veio, agarrou-se ao porco, o porco agarrou-se à velhinha, a velhinha agarrou-se ao velhinho, o velhinho agarrou-se à batata e puxaram, puxaram, puxaram. Mas a batata, nada. Nem se mexeu.
- Não conseguimos arrancar esta batata. – Disse a vaca. – Vou chamar o cavalo para nos ajudar. Ele é muito forte, transporta grandes cargas. Com a sua ajuda vamos conseguir arrancar a batata
A vaca foi à procura do cavalo. O cavalo veio, agarrou-se à vaca, a vaca agarrou-se ao porco, o porco agarrou-se à velhinha, a velhinha agarrou-se ao velhinho, o velhinho agarrou-se à batata e puxaram, puxaram, puxaram. Mas a batata, nada. Nem se mexeu.
- Não conseguimos arrancar esta batata. – Disse o cavalo. – Vou chamar o cão para nos ajudar. Ele também é muito forte, faz grandes corridas e ajuda os mais fracos. Com a sua ajuda vamos conseguir arrancar a batata.
O cavalo foi à procura do cão. O cão veio, agarrou-se ao cavalo, o cavalo agarrou-se à vaca, a vaca agarrou-se ao porco, o porco agarrou-se à velhinha, a velhinha agarrou-se ao velhinho, o velhinho agarrou-se à batata e puxaram, puxaram, puxaram. Mas a batata, nada. Nem se mexeu.
- Não conseguimos arrancar esta batata. – Disse o cão. – Vou chamar o gato para nos ajudar. Ele também é forte. Com a sua ajuda vamos conseguir arrancar a batata.
O cão foi à procura do gato. O gato veio, agarrou-se ao cão, o cão agarrou-se ao cavalo, o cavalo agarrou-se à vaca, a vaca agarrou-se ao porco, o porco agarrou-se à velhinha, a velhinha agarrou-se ao velhinho, o velhinho agarrou-se à batata e puxaram, puxaram, puxaram. Mas a batata, nada. Nem se mexeu.
- Não conseguimos arrancar esta batata. – Disse o gato. – Vou chamar o rato para nos ajudar. Ele também é forte. Com a sua ajuda vamos conseguir arrancar a batata.
O gato foi à procura do rato. O rato veio, agarrou-se ao gato, o gato agarrou-se ao cão, o cão agarrou-se ao cavalo, o cavalo agarrou-se à vaca, a vaca agarrou-se ao porco, o porco agarrou-se à velhinha, a velhinha agarrou-se ao velhinho, o velhinho agarrou-se à batata e puxaram, puxaram, puxaram. Mas a batata, nada. Nem se mexeu.
- Não conseguimos arrancar esta batata. – Disse o rato. – Eu conheço uma cadelinha chamada Kika, Vou chamar a Kika para nos ajudar. Ela também é forte. Com a sua ajuda vamos conseguir arrancar a batata.
O rato foi à procura da Kika. A Kika veio, agarrou-se ao rato, o rato agarrou-se ao gato, o gato agarrou-se ao cão, o cão agarrou-se ao cavalo, o cavalo agarrou-se à vaca, a vaca agarrou-se ao porco, o porco agarrou-se à velhinha, a velhinha agarrou-se ao velhinho, o velhinho agarrou-se à batata e puxaram, puxaram, puxaram. Mas a batata, nada. Nem se mexeu.
- Estamos perdidos! Nem com a ajuda de todos estes amigos conseguimos arrancar esta batata. – Disse o velhinho muito desanimado – Esta batata é tão grande, tão grande que nem com a ajuda destes animais todos a conseguimos arrancar.
- Ela é tão grande, tão grande… - Disseram os animais em coro.
Vamos conseguir, - disse a velhinha. - Eu conheço um menino chamado Gonçalo que mora ali, perto da nossa casinha. Ele é muito valente, muito bom e muito amigo de ajudar os outros. Vou chamar o Gonçalo para nos ajudar. Com a sua ajuda vamos com certeza conseguir arrancar a batata.
A velhinha foi chamar o Gonçalo. O Gonçalo, muito contente, veio a correr e agarrou-se à Kika, a Kika agarrou-se ao rato, o rato agarrou-se ao gato, o gato agarrou-se ao cão, o cão agarrou-se ao cavalo, o cavalo agarrou-se à vaca, a vaca agarrou-se ao porco, o porco agarrou-se à velhinha, a velhinha agarrou-se ao velhinho, o velhinho agarrou-se à batata e puxaram, puxaram, puxaram, puxaram tanto e com tanta força que arrancaram a batata que saiu da terra e todos caíram para trás. A Kika caiu por cima do Gonçalo, o rato caiu por cima da Kika, o gato caiu por cima do rato, o cão caiu por cima do gato, o cavalo caiu por cima do cão, a vaca caiu por cima do cavalo, o porco caiu por cima da vaca, a velhinha caiu por cima do porco, o velhinho caiu por cima da velhinha Todos caíram no chão e mas a batata muito grande veio para fora.
Naquela noite, a velhinha que era um boa cozinheira fez uma enorme panela de sopa com a bata e juntou muitas couves e muitas cebolas que apanhou na horta
Todos comeram até se fartarem e quem mais comeu foi o Gonçalo.
Inspirado no Conto O Nabo Gigante de Alexis Tolstoi