PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
FAVAS CONTADAS
As favas, que terão tido a sua origem na região do Mar Cáspio ou no Norte de África, são um alimento de grande importância e muito saudável. Cuida-se que as favas terão sido utilizadas como alimento desde a Idade da Pedra. Muitos povos da antiguidade tais como os gregos, os egípcios e os romanos, já as utilizavam e as apreciavam nos seus cardápios.
Na Fajã Grande, na década de cinquenta cultivam-se muitas favas. No Alagoeiro, no Cimo da Fontinha, no Mimoio e em muitos outros lugares proliferavam pequenas belgas e grandes cerrados pejados de favas que, na maioria dos casos, substituía as culturas forrageiras, nomeadamente, as do trevo e da erva-da-casta e que se destinavam a amarrar o gado à estaca a fim de trilharem o terreno para o cultivo do milho.
As favas tinham pois, nesse tempo, um importante papel na alimentação quer das pessoas quer dos animais. No caso das pessoas, geralmente, comiam-se ainda verdes, em sopa, guisadas ou estufadas e depois de secas eram demolhadas e guisadas acompanhadas duma boa cebolada. Porém, quando secas, as favas, na Fajã Grande, também eram torradas e comidas como se fossem pinotes ou moídas e misturadas no café a fim de que este rendesse mais.
Curioso, porém, é que as favas até entravam em expressões ou ditos quotidianos como vai à fava, ou são favas contadas e as crianças utilizavam-nas para fazer brinquedos, como as célebres vacas de fava.
Com a expressão São favas contadas queria significar-se que algo já estava ganho ou que era fácil de adquirir ou de se fazer. Por sua vez Vai à fava significava mandar alguém afastar-se por já se estar aborrecido da sua presença ou por a pessoa em causa não interessar. Uma espécie de vai à merda mais delicado e educado.
Mais curioso ainda é o tentar descobrir a origem destas expressões. No que diz respeito às favas contadas esta frase parece ter a sua origem nas eleições dos abades nos mosteiros medievais e antes do advento do papel. Os monges, quando reunidos em capítulo, procediam, nesses tempos ancestrais, à escolha do abade mediante um sistema de votação que utilizava a fava como boletim de voto. Assim quem estivesse a favor do nomeado introduzia, secretamente, uma fava branca na urna e quem estivesse contra introduzia uma fava escura. No final, contavam-se as favas. Eram pois favas contadas Cuida-se mesmo que este costume de eleger com favas de diferentes cores já teria sido utlizado por alguns povos da antiguidade, nomeadamente por gregos e romanos. Mais tarde no Brasil, onde a expressão ainda é muito utilizada, na época do império, nas votações também se usavam favas brancas para significar sim, favas pretas para significar não. Cada votante colocava o voto, ou seja, a fava, na urna. Depois vinha o apuramento dos resultados pela contagem das favas, sendo que quem tivesse o maior número de favas brancas estaria eleito.
No que concerne Vai à fava parece que a expressão terá nascido do incentivar de alguém a ir à horta apanhar favas num sentido depreciativo, sobretudo quando elas na parte final da sua produção ficam mais duras e menos próprias para serem cozinhadas. São por isso deixadas nos pés para secar. Posteriormente apanhadas as vagens secas, são descascadas e os respetivos miolos postos ao sol para secar melhor e poderem ser guardados sem perigo de se estragar.
Enquanto se cozia o pão nos antigos fornos de lenha, era comum colocar, num pequeno tabuleiro, as favas para torrarem. Dava por assim dizer um aperitivo muito apreciado! Talvez a expressão se relacione com o significado anterior ou seja o de ir votar com favas.