PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
O CIMO DA ASSOMADA
A rua da Assomada, na década de cinquenta, era incontestavelmente a rua mais populosa da Fajã Grande. A rua, com pequenas vielas u canadas no seu percurso, tinha a forma de um ípsilon, isto é, no seu cimo, ramificava-se em duas vielas que se prolongavam em caminhos. Encafuada e num vale formado pelo Pico e pelo Outeiro, à esquerda de quem a subia, ou seja do lado do Outeiro, a Assomada delongava-se pelo início do caminho que dava para as terras de cultivo, de mato, para as relvas, para o Covão e Outeiro Grande, para a Quada, para os Lavadouros e terminava no Curralinho. Por sua vez e do lado direito. Ou seja do lado do Pico a maior rua da Fajã continuava através do chamado Caminho da Missa, que dava para a Eira da Quada, para Fajãzinha e às outras freguesias e vilas da ilha. No meio ficavam-lhe os férteis cerrados de milho e batatas do Vale da Vaca.
O Cimo da Assomada era pois uma espécie de porta de saída da Fajã Grande, para o mundo. Era por ali e pelo Caminho da Missa todos os que abandonavam a freguesia em pequenas e rápidas deslocações às Lajes ou a santa Cruz ou em viagens maiores ao Faial ou à Terceira, geralmente por doença ou para cumprir o serviço militar. Mas era também por ali que transitavam todos os que abandonaram não apenas a freguesia mas a ilha em procura de melhor vida na América e no Canadá.
Era por ali também que todos regressavam e era por ali que entrava a maleira, com a mala às costas, carregadas de cartas e de avisos amarelos, vinda das Lajes. E era por ali que nos dias seguintes partíamos, alta madrugada, de aviso amarelo em riste e chegávamos à tardinha, contentes e felizes, com uma encomenda vinda da América, às costas.
Por tudo isto e por muito mais o Cimo da Assomada deveria ser considerado um marco histórico, um verdadeiro ex-libris da Fajã Grande.