PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
A ROUPA QUE VESTIAM OS NOSSOS ANTEPASSADOS
A maneira de vestir, noutros tempos das gentes açorianas, sobretudo das freguesias, não variaria muito de ilha para ilha. Seria muito parecida. Por isso a descrição que o escritor picoense Dias de Melo faz nalguns dos seus livros da maneira de vestir das gentes do Pico é muito próxima, para não dizer igual à da ilha das Flores e, consequentemente da Fajã Grande. Segundo aquele escritor, natural da freguesia da Calheta do Nesquim, ilha do Pico, através do retrato que faz em Mar Rubro da Mariquinhas, mulher de António Pequeno, a maneira de vestir de outrora na ilha do Pico e, consequentemente, nas Flores, era a seguinte: «Era uma velhinha morena, alta, delgada, vestida à moda de outros tempos: uma saia de lã caída até aos tornozelos, uma blusa de chita ajustada ao peito, um lenço escuro que, amarrotado por baixo do queixo, lhe emoldurava o rosto simpático». Por sua vez em Pedras Negras onde refere que a mãe de Francisco Marroco usa xaile cuja lã de que é feito ela própria fia e tece assim como a das roupas que vestem os seus familiares, sendo tudo isto feito ao serão na companhia de outras mulheres que se juntam em casas umas das outras, passando as a fiar, a cardar, a tecer a lã e a fazer meias e sueras. No mesmo livro ainda refere que a viúva de João Peixe-Rei veste «roupa miserável», e que ela e o filho «não têm roupa que vistam p'ra virem à festa» do Espírito Santo.” Segundo Dias de Melo a emigração teve grande influência no que à maneira de vestir dos picoenses diz respeito: «Todas aquelas roupas, e todos aqueles enfeites, todos aqueles luxos dos velhos e de Maria que usam na festa, tinham sido trazidos da América». Dias de Melo de facto, refere-se frequentemente à roupa da América e o jeito que dava, uma vez arranjada, a quem não tinha posses para a comprar nova. Assim, declara que ele próprio, «… vestia um fato vindo da América, de fazenda de lã muito espessa, nunca menos de dois milímetros de espessura, uma suera também de lã e também espessíssima, fizera-ma minha Mãe, por cima de todas estas vestimentas enrodilhava-me um sobretudo, igualmente de fazenda de lã e igualmente vindo da América.» Curioso também é a descrição do conjunto de peças de roupa que um amigo do autor distribuiu pela família quando chegou da América com um baú recheado de prendas: «Aqui tá, oh yes, esta vestimenta inteira para vós, minha mãe, estes alvarozes e este sute para vós, mê pai, e este pra ti, mê irmão, e mais este naitigão pra ti, irmã, pra vós, minha avó, esta mantilha e este xaile de seda, pra vós, mê avô, este alvacoto para vos aquecerdes no Inverno, pra ti, mê primo, esta froca de angrim do bom». Mas «também havia os que vestiam pela Festa fatiotas novas «feitas, os fatos de casimira, preta ou azul, dos homens do alfaiate, os vestidos das mulheres nas costureiras do lugar, naquela quadra não tinham mãos a medir»
O calçado do dia-a-dia, segundo Dias de Melo, resumia-se nesses tempos recuados e de pobreza e miséria, para além das albarcas que tanto podem ser feita de coiro de boi ou de porco como de enjarroba, e que se podiam substituir pelos sapatos de pele de cabra nas Flores, segundo Dias de melo passava pelos tamancos de cepos de cedro e os coturnos de coiro atanado. Quanto a chapéus, encontra-se uma referência em Aquém e Além Canal ao «abeiro de palha» de Alfredo Saca, mestre duma lancha que fazia a ligação entre a vila da Madalena e a cidade da Horta. Acrescente-se que na Fajã Grande era muito frequente o uso de galochas e botas de enjarroba, estas sobretudo para ceifar erva nas lagoas-
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