PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
TIANA TENENTA OU VERDADEIRA ESTÓRIA SOBRE VELHA QUE SE AFOGOU NA CALDEIRA DA ÁGUA BRANCA
Do Daniel Mendonça de Sousa, meu primo, filho de Ti Antonho Britsa, residente em Edmonton, no Canadá recebi uma versão que me parece mais verossímil sobre a verdadeira e real estória da velha Tenenta. Chamava-se Ana Tenenta da Silveira e residia na rua das Courelas, tendo falecido por volta de mil novecentos e vinte. Consta que já de avançada idade, certo dia, deslocou-se a Santa Cruz, na companhia de Maria Júlia Amorim, a fim de ir registar, no escrivão, o testamento que decidira fazer-lhe. Prometera deixar em herança, à Maria Júlia Amorim, os parcos bens que tinha, ou seja, uma casa existente no local onde mais tarde foi construída a casa de José de Freitas Filipe e uma pequena parcela de terreno que possuía algures. Feito e registado o documento, as duas mulheres pretendiam regressar à Fajã nesse dia, mas, estranhamente, a velha Tenenta disse à Maria Júlia que apenas regressaria no dia seguinte. Esta, porém, regressou e, no dia seguinte, aguardou, em vão, a chegada da velha. Preocupada, Maria Júlia alertou as autoridades da Fajã Grande que, em conjunto com as da Fajãzinha, foram procurar Anta Tenenta nos matos da ilha no trajeto habitualmente percorrido por quem se deslocava entre a Fajã Grande e Santa Cruz. Como nesses tempos aquele trajeto era feito pela Rocha da Fajã, pelo Rochão do Junco e Burrinha, até à Mantosa, o percurso incluía a travessia da caldeira da Água Branca. Foi esse o primeiro local que as autoridades procuraram Tiana Tenenta, E realmente o corpo da velha lá estava, entrelaçado entre as ervas dos pântanos que ladeavam a caldeira e onde era impossível nadar ou caminhar. Os homens amarraram uns paus de cedro e de lá conseguiram retirar o corpo, trazendo-o para terra firme. De lá foi conduzida para a Fajã mas sem caixão uma vez que quando iniciaram as buscas cuidavam que ela ainda estaria com vida. No dia seguinte foi feito o funeral, sendo a pobre Ana Tenenta sepultada no cemitério da Fajã Grande. Daniel Sousa refere que o seu pai acompanhou as buscas e esteve à beira da Caldeira como tantos outros homens da Fajã, nomeadamente, António Luís de Fraga, José Caetano Teodósio, João da Costa Amorim, José Furtado Luís, João de Freitas Lourenço, João Joaquim Fagundes, António Lourenço, Francisco Inácio Cardoso, António Fagundes e muitos outros. Acompanharam as buscas muitos homens da Fajãzinha, entre os quais Manuel Rodrigues Henriques, dono da maioria dos terrenos baldios em quase toda a ilha, o seu irmão João, Manuel Jacinto Frade e o irmão José, José Jacinto Avelar, José Rodrigues Corvelo e muitos outros. Apesar de ser verão e, provavelmente, não haver nevoeiros nunca se soube se a velha Tenenta se quis suicidar, se foi mero acidente ou se devido à escuridão da madrugada se tenha perdido, confundindo o caminho. Consta que Ana Tenenta não tinha parentes na Fajã, os únicos que teria, já afastados, haviam emigrado para a América.