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FREI COMILÃO

Segunda-feira, 26.09.16

Conta-se que antigamente vivia na ilha das Flores um frade que percorria toda ilha, saltando de freguesia para freguesia, de lugar para lugar, com a denodada intenção de pregar a palavra de Deus e rezar pelos fiéis da localidade em que se encontrava, fosse ela uma das vilas ou um pequeno e esconso lugarejo. Mas o frade pelos vistos era um grande comilão e andava sempre esfomeado, pelo que estava sempre muito mais disposto a comer do que para rezar ou pregar. Ao dirigir-se a uma localidade qualquer que ela fosse prometia que havia de rezar por todos em troca de comida, mas esta havia de lhe ser dada antes da reza e da prédica. Mas tanto comia em casa de uns e outros que chegando ao fim do dia já pouco tempo e força de vontade tinha para a reza e, muito menos dispunha de disposição pata fazer as pregações. O povo, sentindo-se ludibriado, chamava-lhe Frei Comilão.

Quando o bispo ou alguém a seu mandato visitava a ilha ou quando os ouvidores das vilas o encontravam era repreendido por aquele e por estes mas não se emendava, o trapaceiro, apenas retorquia:

 — Muito comer, pouco rezar e nunca pecar leva a alma a bom lugar.

Um dia chegou à Fajã Grande, que nesses tempos era ainda uma pequena localidade, e os habitantes, conhecendo os hábitos do frade, propositadamente, resolveram matar uma vaca e preparar um grande jantar, mas, para castigar o frade, não o convidaram nem lhe disseram nada. Haviam mesmo de o impedir de lá ir.

 Este porém, que para coisas de tal espécie devia ter um sexto sentido, percebeu a astúcia dos seus irmãos na fé e, antecipando-se, apresentou-se no local onde estavam a assar o boi, sem que ninguém o visse. Quando o povo chegou para a comezaina, ficaram todos muito desapontados! É que o frade a saborear um belo e apetitoso bofe assado, com um apetito devorador, elogiava o povo e agradecia-lhe aquela generosa atitude, pois fazia de conta que cuidava que faziam aquilo para lhe agradecer as suas rezas e pregações. Então subindo a um púlpito, por ele improvisado, já de barriga bem cheia, repetia com a calma habitual:

 — Muito comer, pouco rezar e nunca pecar, leva a alma a bom lugar.

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publicado por picodavigia2 às 00:05





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