PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
BOM BARQUEIRO
Outro jogo a que se dedicavam as crianças, nas ruas, nos dias de festa, nas Casas do Espírito Santo, especialmente na semana que antecedia a festa, ou nos recreios da escola era o Bom Barqueiro.
Formando uma coluna, os participantes, em número variável, cantarolavam:
– Bom barqueiro,
Bom barqueiro,
Deixai-nos passar.
Somos filhos pequeninos
Para acabar de criar.
– Passarás, passarás,
Mas algum há-de ficar.
Se não for o da frente,
Há-de ser o de trás,
Trás, trás.
Eram escolhidos dois elementos para fazer de ponte. Levantando os braços, davam as mãos, abrindo-as lá no alto. Sem que os outros participantes ouvissem, cada um dos que formavam a ponte escolhia um fruto, ou uma cor, ou um lugar, ou um animal, ou um objeto, ou outra coisa qualquer. As outras crianças formavam uma fila, uma espécie de comboio dando voltas por baixo da ponte cantando:
Passarei, passarei,
Deixai-me passar
Porque tenho filhos pequeninos
Não mos deixam criar.
Ao passar mais uma vez por baixo das duas outras crianças que têm as mãos em arco a formar a ponte, a última criança da fila ficava presa e uma das duas crianças perguntava-lhe se queria ser o que uma ou a outra combinou ser mas que a criança presa desconhecia. Por exemplo:
– Queres ser baleia ou bote?
Conforme a escolha, a criança passava para trás da que escolhera, sem que os outros soubessem o que tinha escolhido, formando uma nova fila. No fim, cada criança ficava do lado da ponte que escolhera, formando duas filas agarradas aos que formavam a ponte. Faziam um risco no chão, ficando um grupo de cada lado com a mão presa na cintura do que ficava à frente e começam a puxar. Quem pisasse o risco ou quem quebrasse o cordão, perdia o jogo, sendo que, por vezes o equilibro de forças era muito desigual, outras mais equilibrado e lá caíam todos em cima uns dos outros. Era uma festa!