PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
AMÉRICA NEGRA
Como muitos outros jovens Débora tinha um sonho. Emigrar. Emigrar para a América, para a América de onde chegavam sacas de roupa e cartas com dolas. Além disso, sobretudo no verão, chegavam à freguesia, americanos riquíssimos. O sonho concretizou-se e aos dezoito anos Débora emigrou na companhia dos pais para a Califórnia. Pretendiam os seus progenitores, sobretudo e em primeiro lugar, dar um futuro melhor à filha. A vida, ali na ilha, estava cerceada pela pobreza, pelo trabalho árduo, pelo futuro incerto.
Rumaram à Califórnia e fixaram-se em São José.
Os primeiros anos na Califórnia da família Menezes foram muito bem-sucedidos. O pai cedo se dedicou a grandes negócios que cresciam de dia para dia, enquanto a família prosperava avassaladoramente, impondo-se com prestígio na sociedade americana. Cada vez mais se concretizavam os sonhos de Débora.
Mas com o tempo, algumas nuvens escuras começaram a toldar-lhe o universo dos seus sonhos! E um dia, Débora, inesperadamente, decidiu mudar-se de São José para Morgan Hill. A mãe acompanhou-a. A vida e os costumes da cidade mais açoriana da Califórnia haviam-lhe toldado o espírito e enegrecido a alma. Além disso, desde há muito que a mãe se havia separado do marido, embora não se tendo divorciado e Débora que sempre a havia, condenando o pai por uma conduta de vida aparentemente nada abonável a uma almejada harmonia familiar, não queria permanecer lado a lado com quem havia trazido, a ela e à mãe, tantos dissabores, tristezas e sofrimento. A escolha de Morgan Hill foi fácil, uma vez que era lá que morava a avó, embora sozinha e de avançada idade. A companhia da filha e da neta foram pois consideradas por Dona Ilda como um milagre divino, uma bênção de Deus.
Disposta a angariar qualquer tipo de trabalho, Débora, agora já senhora de uma beleza invulgar e de um corpo elegantíssimo, foi convidada a trabalhar numa agência de viagens pertencente a Mr Faucetty.
Na próspera empresa, Débora depressa se impôs pela sua dedicação, pela qualidade do seu trabalho e pela excelência do seu profissionalismo. Assédio após assédio obrigaram-na a, alguns anos depois, abandonar a Faucetty. Com a experiência adquirida no ramo e com uma enorme força de vontade, Débora criou a sua própria agência. Um sucesso!
Passado algum tempo e após a morte da avó, porém, Débora recebe uma intimação judicial por várias e altíssimas dívidas contraídas pelo pai, também falecido por essa altura e quer ela quer a mãe desconheciam. Todos os seus bens, incluindo a agência de viagens que com tanto sucesso havia criado, foram arrestados. O desgosto, a angústia e o sofrimento foram tão grandes que a mãe, algum tempo depois se suicidou. Débora entrou num desespero tremendo.
Valeu-lhe a amiga Grazy, que a acolheu em sua casa como se duma irmã se tratasse. Mais tarde, através da amiga conheceu um descendente de um casal açoriano, da ilha do Pico, de nome Alex Rodrigues, um dos maiores produtores de tomate da Califórnia. Alex encantou-se com a beleza, a bondade e inocência de Débora que, inesperadamente se apaixonou-se por ele.
Mas a paixão Débora por Alex foi efémera e depressa chegou ao fim. O ricaço produtor de tomate cedo deixou resvalar as suas malévolas intenções. Possuía negócios escuros e aberrantes que passavam por angariação de jovens para prostituição de luxo em hotéis de São Francisco, Okland e Sacramento. Mais se indignou Débora ao tomar conhecimento de que assim como a enganara a ela, Alex já ludibriara muitas outras jovens.
A intenção de se reaproximar de Débora permaneceu no espírito de Alex. Persistindo em conquistá-la, voltou a seduzi-la, através de uma empresa fictícia que contratava jovens para vendedoras de cosméticos. Obcecada pela necessidade de encontrar trabalho que permitisse uma subsistência digna e desconhecendo que a empresa pertencia ao meliante que a ludibriara, Débora decidiu concorrer, sendo de imediato contratada.
Nunca soube que a agência era de Alex, mas voltando a dar conta do logro em que havia caído mais uma vez, volta a desesperar. O espectro do suicido da mãe começava a pairar sobre ela. Viveu tempos de dor de angústia e sofrimento, acabando por mudar-se para o norte.
Hoje Débora vive numa pequena e humilde casa em Cleorant, nos arredores da pequena cidade de Etna, no condado de Siskiyou, no norte da Califórnia, prestando serviços de limpeza numa pequena escola e trabalhando um quintal que possui junto da própria casa.
BOAS FESTAS