PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
FEVEREIRO EM ADÁGIOS
A castanha e o besugo, em fevereiro não têm sumo.
A doçura de fevereiro faz o dono cavalheiro.
A dois dias de fevereiro, sobe ao outeiro: se a candelária chorar, está o inverno a chegar; se a candelária sorrir, está o Inverno para vir.
Ao fevereiro e ao rapaz perdoa tudo quanto faz, se fevereiro não for secalhão e o rapaz não for ladrão.
A neve que em fevereiro cai das serras, poupa um carro de estrume às vossas terras.
Água de fevereiro enche o celeiro.
Aí vem o meu irmão março, que fará o que eu não faço.
Ao fevereiro e ao rapaz, perdoa tudo quanto faz.
Aproveite em fevereiro quem folgou em janei
Aveia de fevereiro enche o celeiro
Bons dias em janeiro enganam o homem em fevereiro.
Bons dias em janeiro vêm a pagar em fevereiro.
Candelária chovida, à candeia dá vida.
Chuva de fevereiro mata o onzeneiro.
Chuva de fevereiro vale por estrume.
Chuva em Dia das Candeias ano de ribeiras cheias.
Dia de S. Brás a cegonha verás, e se não a vires o inverno vem atrás.
Em dia de S. Matias começam as enxertias.
Em fevereiro chuva, em agosto uva.
Em fevereiro neve e frio, é de esperar ardor no estio.
Em fevereiro, chega-te ao lameiro
Em fevereiro, ergue-se o centeio, a aveia enche o celeiro e a perdiz afaz-se ao poleiro.
Em fevereiro, mete obreiro; pão te comerá, mas obra te fará.
Fevereiro chuvoso faz o ano formoso.
Fevereiro coxo, em seus dias vinte e oito.
Fevereiro é dia, e logo é Santa Luzia.
Fevereiro engana as velhas ao soalheiro.
Fevereiro enganou a mãe ao soalheiro.
Fevereiro enxuto, rói mais pão do que quantos ratos há no mundo.
Fevereiro leva a ovelha e o carneiro.
Fevereiro o mais curto mês e o menos cortês.
Fevereiro quente traz o diabo no ventre.
Fevereiro quente, não o vejas tu nem o teu parente.
Fevereiro recouveiro, afaz a perdiz ao poleiro.
Fevereiro seca as fontes ou leva as pontes.
Fevereiro trocou dois dias por uma tigela de papas.
Janeiro geoso e fevereiro chuvoso fazem o ano formoso.
Neve de fevereiro, presságio de mau celeir
O primeiro de fevereiro jejuarás, o segundo guardarás e o terceiro é dia de S. Brás; semeia o cebolinho e te-lo-ás.
O tempo de fevereiro enganou a mãe ao soalheiro.
Para parte de fevereiro, guarda lenha de Quinteiro.
Pelo S. Matias noites iguais aos dias.
Quando a Candelária chorar, o inverno está a passar. Quando a Candelária rir, o inverno está para vir.
Quando não chove em Fevereiro, nem bom prado nem bom palheiro.
Quando não chove em Fevereiro, nem prados nem centeio.
Tanta chuva pelas candeias tantas abelhas para as colmeias.
Tantos dias de geada terá maio, quantos de nevoeiro teve fevereiro.
Vai-te embora fevereiro que não me deixaste nenhum cordeiro.
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FILHOSES
Um dos doces que nunca faltava em todas as casas da Fajã Grande, nos dias de Carnaval eram as filhoses. Tratava-se de um doce tipicamente açoriano que tinha como base uma versão da massa sovada mas com um tratamento final muito diferente. A massa sovada, tradicional nas festas do Espirito Santo e nas bodas dos casamentos era cozida no forno sobre a forma de pão, no primeiro caso e de rosquilhas no segundo enquanto as filhoses típicas dos dias de Entrudo eram fritas sobre a forma de pequenos pedaços retirados da massa e fritos de depois de esticados e moldados com as mãos.
Não se sabe bem a origem destas filhoses comuns a todas as ilhas e chamadas malassadas em São Miguel, mas as ilhas açorianas, apesar de distantes do continente português não apenas pelo espaço mas também pela cultura e pelas tradições receberam muita influência destes através dos primeiros povoadores. É verdade que no território continental não é costume celebrar-se o Carnaval com filoses, sendo estas tradicionais por altura do Natal.
As filhoses, na Fajã Grande eram feitas com farinha e fermento retirado do que se guardava da última fornada do pão de trigo. Feito o fermento inicial era-lhe juntado a farinha, os ovos, água, leite, manteiga, açúcar e muita raspa de limão. Tudo isto era amassado de seguida. A mulher a quem competia esta tarefa colocava um lenço de calafate, arregaçava as mangas e depois de misturar muito bem todos os elementos amassava-os aos murros como de massa sovada se tratasse. O alguidar onde amassa fora amassada era colocado em lugar quente e coberto com cobertores ou xailes a fim de que a massa levantasse muito bem. Só depois eram arrancados pequenos pedaços, esticados e moldados com as mãos que eram postos a fritar em banha de porco bem quente. Uma vez retiradas do lume as fihloses eram polvilhadas de ambos os lados com uma mistura de açúcar e canela. Eram excelentes e comiam-se devidamente racionadas nos quatro dias de folia carnavalesca, porque na quarta-feira de cinzas já era pecado comê-las não apenas porque era dia de jejum mas também porque tinham sido fritas em graxa de porco.
Na verdade, na Fajã Grande, na década de cinquenta do século passado, não havia Entrudo sem filhoses, sem batalhas de água, sem mascarados e sem danças que eram ensaiadas nas noites anteriores. As danças tinham sempre o velho e a velha, mascarados, a fazerem palhaçadas, a meter medo às crianças e a pedinchar filhoses pelas portas das casas por onde passavam.
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A BATALHA DA ILHA DAS FLORES E A BALLAD OF THE FLEET DE ALFREF TENNYSON
A mais ocidental e isolada ilha açoriana foi palco de uma celebérrima batalha que ficou conhecida na história dos Açores como a Batalha da Ilha das Flores
No prélio que ocorreu no dia 9 de Setembro de 1591, a norte de Ponta Delgada, foram intervenientes entre 16 a 22 navios ingleses comandados por lord Tomas Howard e um bem mais poderosa armada espanhola, comandada por Dom Alonso de Bazán, de vigia nos Açores para defender os navios mercantes da carreira da Índia. Pelos vistos houve um erro do comandante inglês que se lançou, precipitadamente, contra os barcos que surgiam de oeste, julgando pertencerem à armada espanhola provinda da Nova Espanha, carregada de mercadorias. Porém, em vez de encontrarem navios mercantes, mal armados, os ingleses depararam-se com uma poderosíssima frota de defesa das ilhas açorianas, constituída por 40 navios de guerra que lhes vinham dar caça. Consideravelmente mais pequena e sobretudo mais frágil, a armada inglesa, duramente fustigada pelo fogo inimigo, foi então obrigada a fugir como pôde. Os ingleses, ao aperceberem-se do erro rumaram a Ponta Delgada procurando posição estratégica. Os espanhóis, no entanto, terão sido mais astutos e rumando a oeste, contornaram a ilha e entraram em Ponta Delgada como se viessem do ocidente, de onde os ingleses não os esperavam, simulando serem uma armada mercante. Os ingleses caíram no logro e precipitaram-se sobre os espanhóis. Foi o descalabro total da armada inglesa. A exceção foi o Revenge, de sir Richard Greenville, que, tendo-se demorado em zarpar de Santa Cruz, não acompanhou as restantes embarcações, acabando porém por ser capturado pelos espanhóis, algum tempo depois. Verdadeiramente épico, esse combate, que custou a vida a sir Richard Greenville, seria depois glorificado por lord Alfred Tennyson no seu poema The Revenge Ballad of the Fleet que se transcreve na íntegra:
BALLAD OF THE FLEET
AT Flores, in the Azores Sir Richard Grenville lay,
And a pinnace, like a flutter’d bird, came flying from far away;
“Spanish ships of war at sea! we have sighted fifty-three!”
Then sware Lord Thomas Howard: “’Fore God I am no coward;
But I cannot meet them here, for my ships are out of gear,
And the half my men are sick. I must fly, but follow quick.
We are six ships of the line; can we fight with fifty-three?”
II
Then spake Sir Richard Grenville: “I know you are no coward;
You fly them for a moment to fight with them again.
But I’ve ninety men and more that are lying sick ashore.
I should count myself the coward if I left them, my Lord Howard,
To these Inquisition dogs and the devildoms of Spain.”
III
So Lord Howard past away with five ships of war that day,
Till he melted like a cloud in the silent summer heaven;
But Sir Richard bore in hand all his sick men from the land
Very carefully and slow,
Men of Bideford in Devon,
And we laid them on the ballast down below:
For we brought them all aboard,
And they blest him in their pain, that they were not left to Spain,
To the thumb-screw and the stake, for the glory of the Lord.
IV
He had only a hundred seamen to work the ship and to fight,
And he sailed away from Flores till the Spaniard came in sight,
With his huge sea-castles heaving upon the weather bow.
“Shall we fight or shall we fly?
Good Sir Richard, tell us now,
For to fight is but to die!
There’ll be little of us left by the time this sun be set.”
And Sir Richard said again: “We be all good Englishmen.
Let us bang these dogs of Seville, the children of the devil,
For I never turn’d my back upon Don or devil yet.”
V
Sir Richard spoke and he laugh’d, and we roar’d a hurrah and so
The little Revenge ran on sheer into the heart of the foe,
With her hundred fighters on deck, and her ninety sick below;
For half of their fleet to the right and half to the left were seen,
And the little Revenge ran on thro’ the long sea-lane between.
VI
Thousands of their soldiers look’d down from their decks and laugh’d,
Thousands of their seamen made mock at the mad little craft
Running on and on, till delay’d
By their mountain-like San Philip that, of fifteen hundred tons,
And up-shadowing high above us with her yawning tiers of guns,
Took the breath from our sails, and we stay’d.
VII
And while now the great San Philip hung above us like a cloud
Whence the thunderbolt will fall
Long and loud,
Four galleons drew away
From the Spanish fleet that day.
And two upon the larboard and two upon the starboard lay,
And the battle-thunder broke from them all.
VIII
But anon the great San Philip, she bethought herself and went,
Having that within her womb that had left her ill content;
And the rest they came aboard us, and they fought us hand to hand,
For a dozen times they came with their pikes and musqueteers,
And a dozen times we shook ’em off as a dog that shakes his ears
When he leaps from the water to the land.
IX
And the sun went down, and the stars came out far over the summer sea,
But never a moment ceased the fight of the one and the fifty-three.
Ship after ship, the whole night long, their high-built galleons came,
Ship after ship, the whole night long, with her battle-thunder and flame;
Ship after ship, the whole night long, drew back with her dead and her shame.
For some were sunk and many were shatter’d and so could fight us no more—
God of battles, was ever a battle like this in the world before?
X
For he said, “Fight on! fight on!”
Tho’ his vessel was all but a wreck;
And it chanced that, when half of the short summer night was gone,
With a grisly wound to be drest he had left the deck,
But a bullet struck him that was dressing it suddenly dead,
And himself he was wounded again in the side and the head,
And he said, “Fight on! fight on!”
XI
And the night went down, and the sun smiled out far over the summer sea, 70
And the Spanish fleet with broken sides lay round us all in a ring;
But they dared not touch us again, for they fear’d that we still could sting,
So they watch’d what the end would be.
And we had not fought them in vain,
But in perilous plight were we,
Seeing forty of our poor hundred were slain,
And half of the rest of us maim’d for life
In the crash of the cannonades and the desperate strife;
And the sick men down in the hold were most of them stark and cold,
And the pikes were all broken or bent, and the powder was all of it spent;
And the masts and the rigging were lying over the side;
But Sir Richard cried in his English pride:
“We have fought such a fight for a day and a night
As may never be fought again!
We have won great glory, my men!
And a day less or more
At sea or ashore,
We die—does it matter when?
Sink me the ship, Master Gunner—sink her, split her in twain!
Fall into the hands of God, not into the hands of Spain!”
XII
And the gunner said, “Ay, ay,” but the seamen made reply:
“We have children, we have wives,
And the Lord hath spared our lives.
We will make the Spaniard promise, if we yield, to let us go;
We shall live to fight again and to strike another blow.”
And the lion there lay dying, and they yielded to the foe.
XIII
And the stately Spanish men to their flagship bore him then,
Where they laid him by the mast, old Sir Richard caught at last,
And they praised him to his face with their courtly foreign grace;
But he rose upon their decks, and he cried:
“I have fought for Queen and Faith like a valiant man and true;
I have only done my duty as a man is bound to do.
With a joyful spirit I Sir Richard Grenville die!”
And he fell upon their decks, and he died.
XIV
And they stared at the dead that had been so valiant and true,
And had holden the power and glory of Spain so cheap
That he dared her with one little ship and his English few;
Was he devil or man? He was devil for aught they knew,
But they sank his body with honor down into the deep.
And they mann’d the Revenge with a swarthier alien crew,
And away she sail’d with her loss and long’d for her own;
When a wind from the lands they had ruin’d awoke from sleep,
And the water began to heave and the weather to moan,
And or ever that evening ended a great gale blew,
And a wave like the wave that is raised by an earthquake grew,
Till it smote on their hulls and their sails and their masts and their flags,
And the whole sea plunged and fell on the shot-shatter’d navy of Spain,
And the little Revenge herself went down by the island crags
To be lost evermore in the main.
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AS COVAS
Situado lá para os lados da Ponta, o lugar das Covas era um dos mais diversificados da Fajã Grande, porquanto nele existiam os quase todos os tipos de propriedade em que o amplo terreno da Fajã Grande, no século passado, estava coberto ou subdividido. De facto nas Covas existiam terras de mato, terras da rocha, pastagens e uma ou outra terra de cultivo, estas paredes meias com a Ribeira das Casas e com o Vale do Linho. Só faltavam as relvas do mato mas, em contrapartida as Covas possuía as tradicionais lagoas. As lagoas eram relvas que ou tinham uma ou mais nascentes de água ou beneficiavam de regos através dos quais captavam a água das lagoas vizinhas ou de alguma ribeira ou grota que por ali passasse. Num e noutro caso a água espalhava-se por todo o terreno, tornando-o um autêntico pântano que proporcionava condições ideais para que a erva crescesse fresca e tenrinha, geralmente misturada com inhames e com agriões, uns e outros de muito boa qualidade. Devido às condições pantanosas do terreno e à sua especificidade esta erva não podia em nenhum caso ser pastada pelos bovinos, antes teria que ser ceifada com foice de mão e trazida para as manjedouras. Para além das Covas, na Fajã Grande, antigamente, existiam lagoas nas Ribeira das Casas, nas Águas, na Ribeira, na Figueira, na Silveirinha, nos Paus Brancos, no Curralinho e na Alagoinha. Mas de todas, as das Covas eram as mais emblemáticas e nelas, para além da erva fresquinha, floresciam agriões e inhames, uns e outros utilizados na alimentação dos humanos. Outra especificidade das Covas era o facto de grande parte da sua área ocupar uma parte da rocha, até ao cimo, prolongando-se quase até às relvas do mato. Tratava-se, no entanto, de uma área quase inculta pelo que grande parte da mesma era terreno de ninguém, uma vez que aí a rocha era muito íngreme e não possuía nenhuma vereda ou caminho de acesso.
A restante parte da área das Covas assemelhava-se a uma enorme ribanceira ali caída há centenas de anos e situava-se em terreno plano, integrando uma pequena parte da ampla fajã desde a Ribeira Grande até ao Risco. Junto à rocha ficavam as terras de mato, pobres e perigosas, onde floresciam apenas incensos e faias. O chão era pejado de fetos, cana roca e erva-santa. Não existiam árvores de fruto, pelo que dali se extraía apenas lenha e comida para o gado. Os fetos eram ceifados e postos a secar a fim de serem utilizados como cama para o gado nos palheiros. A cana roca, dadas as dificuldades em carreá-la era cortada e ficava por ali a apodrecer, sem utilidade nenhuma. Mais afastadas da rocha ficavam as relvas e as lagoas, umas e outras de muito boa qualidade, com destaque para os inhames que eram excelentes. Já próximo dos lugares com que fazia fronteira havia uma ou outra terra de cultivo onde se produzia, sobretudo, milho e couves.
As Covas configurava a Norte com o lugar do Vime e com a Rocha do mesmo nome, a oeste com o Vale do Linho e o Rego do Burro, a sul com a Ribeira das Casas, enquanto a leste era protegido pela rocha, até lá ao alto onde existiam as relvas da Caldeirinha e do Bracéu. O lugar era atravessado de sul a norte por um dos mais antigos e importantes caminhos da freguesia que ligava a Fajã à Ponta, sendo quase todo ele no espaço do território das Covas constituído por uma lendária ladeira que descia da Ponta para a Fajã conhecida por Ladeira das Covas. Várias lendas existiam sobre a mesma com destaque para a da Mulher com Pés de Cabra. Foi também naqueles descampados que durante muitos meses se ouviram gritos agonizantes que, até serem desvendados, assustaram muitas pessoas da Fajã e da Ponta que por ali passavam.
O topónimo muito comum nos Açores terá a ver naturalmente com o facto de por ali terem existido algumas covas ou de uma parte da morfologia do terreno formar uma espécie de cova gigante.
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JOANITA
O que fazes aí oh António
Encostado à botica
Estou à espera da nossa Ana
E da prima Joanita.
Joanita namorada
Fresca e bela como a flor
Olha a sorte venturosa
Joanita meu amor.
Eu parti uma laranja
E deitei metade fora
Com a outra fiz um barco
Joanita vamos embora.
Joanita namorada
Fresca e bela como a flor
Olha a sorte venturosa
Joanita meu amor.
Joanita e António
Estão namorando os dois
Vão-se unir em matrimónio
Serão felizes depois.
Joanita namorada
Fresca e bela como a flor
Olha a sorte venturosa
Joanita meu amor.
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LEITE
Há quem afirme que os pastos das Flores ainda hoje são dos melhores do mundo. Na primeira metade do século passado essa tese ainda seria mais verdadeira, sobretudo no que às pastagens da Fajã Grande dizia respeito. Situadas em zonas baixas, muitas delas regadas com nascentes de água, por vezes vedadas durante algum tempo ou alternadas com o cultivo do milho, eram de excelente qualidade. A primeira consequência de tudo isto era a excelente qualidade do leite, na altura elemento fundamental na economia da freguesia. Para além duma parte, a maior, que era vendida ou à Cooperativa ou a Martins e Rebelo, a outra parte era fundamental para alimentação diária das famílias. O leite, nas casas dos lavradores, era elemento fundamental, do jantar, na altura denominado ceia. O leite bebia-se juntamente ou com pão, às sextas-feiras acabadinho de sair do forno, ou com o bolo do tijolo ou com as papas. Era ainda com o leite que se fabricava o queijo, também presente como conduto em muitas refeições.
A quantidade de vacas leiteiras que cada lavradora possuía é que era relativamente baixa - duas, raramente três e, nalguns casos, apenas uma. As relvas junto da porta eram poucas e poucos eram os homens que tinham tempo ou forças para ir ao leite ao mato todos os dias, dado a longa distância das pastagens e a dificuldade em subir e descer a rocha. Apesar de ordenhadas duas vezes por dia, a produção de leite obtida era relativamente baixa, pois rara era a vaca que em cada ordenha dava mais de dez litros, isto por alturas de dar a cria. O leite era recolhido diretamente da teta da vaca para as latas utilizadas para esse fim, feitas de folha-de-flandres, e fabricadas pelo latoeiro da freguesia, o Antonino de Ti Francisco Inácio. Consta que em tempos mais recuados, o leite era tirado das vacas em cabaças transportado nas mesmas. As latas de leite quando vinham do mato, ou das terras em que as vacas, nos meses de abril e maio, estavam a amarradas à estaca a trilhar as terras onde ia ser semeado o milho, eram transportadas presas e penduradas num pau, uma atrás das costas e outra à frente. Caso fosse necessário transportar três latas, aplicava-se um gancho na parte de trás do pau, permitindo assim prenderem-se duas latas atrás das costas, colocando à frente a mais pesada para contrabalançar. Arte e engenho não faltavam!
Nos dias em que não havia pão ou bolo fresco nem papas, o leite era fervido e deitado ainda a ferver sobre o pão que, nos últimos dias após a cozedura era fervido, sobre o vapor de água. Esta operação era feita num caldeirão com um suporte da madeira no fundo, sobre o qual o pão era colocado. Ao ferver, a água colocada no fundo do caldeirão provocava um vapor que penetrava no pão, amaciando-o. Assim ficava como se fosse acabadinho de sair do forno. Era o pão estufado, sobre o qual se despejava o leite que neste caso também não necessitava de ser fervido.
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EU E AS VACAS (DIÁRIO DE TI ANTONHO)
Desde criança sempre tratei de vacas. Até quando estive na América trabalhei durante muito tempo num rancho a ordenhar vacas. Nessa altura, até na América, o leite se tirava todo à mão. Dizem que agora já é tudo com mexins. Toda a minha vida trabalhei. Passei todos os meus dias só trabalhar. Trabalhei na lavoura e a tratar e tirar leite às vacas. Quando era pequeno até ia ajudar o meu avô, quando meu pai não precisava de mim. Aos dez anos comecei a tratar das vacas sozinho a tratar delas durante o dia. Depois de sair da escola, aos 12 anos, já tratava das vacas sozinho. No inverno leva-as para as relvas durante o dia e à noite ia busca-las e guardava-as no palheiro para se defenderem do frio. Mas durante o dia tinha que ir buscar comida, geralmente erva e incensos para elas comerem durante as noites que eram muito longas. No verão devido ao calor que se faz, durante o dia, nesta freguesia, fazia ao contrário. Ia levá-las às relvas à noite e busca-las de manhã. Durante o dia tinha que lhes dar comida. O meu irmão mais velho ia ceifar, sachar, mondar e semear com meu pai e eu é que tratava das vacas. Eu tratei sempre das vacas, andei sempre com as vacas, por isso, é que ainda hoje, apesar de velho ainda tenho uma vaca e uma gueixa. Gosto muito de tratar das vacas. A minha paixão, ainda hoje, é as vacas. É uma paixão tal que não posso passar sem ela. Quando vendo uma das minhas vacas ou a embarco para Lisboa fico muito triste, quase choro. Quando me adoece uma vaca também fico muito triste. Agora, estou a criar apenas uma vaca e uma gueixa para fazer dela vaca. A mãe já está velha. Quando a gueixa der cria vou engordar a vaca e embarcá-la para Lisboa. Enquanto Deus me der vida e saúde vou ter sempre uma vaca. Mas mesmo só uma vaca dá muito trabalho e consumição.
As vacas foram sempre o meu sustento. Sempre vendi algum leite e com o dinheiro comprava o que precisava. Mas a maior parte era para beber em casa e fazer queijo. A minha Maria também chegou a fazer manteiga em casa.
Mas tratar das vacas dá muito trabalho. Todos os dias, quer chuva torrencialmente, quer faça grandes temporais temos que tratar delas. No outono guarda-se fetos secos e rama e espiga de milho. Mas não dá para todo o inverno. Mesmo com mau tempo tem que se ir buscar molhos de erva e incensos e ir levá-las e busca-las às relvas. Mas mesmo assim eu adoro tratar das vacas. Gosto muito de tratar delas. Gosto muito de vacas.
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LOUSADA FESTEJOU AS CAMÉLAS
No passado fim-de-semana (17, 18 e 19 de fevereiro) decorreu na vila de Lousada um Festival Internacional das Camélias de Lousada sob o tema As camélias, a história e o património são essenciais para o desenvolvimento do turismo, através da criação de produtos transversais às diversas áreas.
O certame que conta já com oito edições Festival de Camélias decorreu no coração daquela vila duriense, num dos seus espaços mais emblemáticos, o jardim do Senhor dos Aflitos. Num espaço adequado e preparado para tal foram colocadas cerca de dezena e meia de mesas, com produtores nacionais e estrangeiros. Entre o conjunto de expositores destaque muito especial para o Parque Terra Nostra, das Furnas, São Miguel, um jardim centenário criado há mais de 200 anos por Thomas Hickling, um comerciante abastado de Boston que se apaixonou pela Ilha de São Miguel e, mais concretamente, pelas Furnas.
O festival teve com objetivo a exposição e o concurso das várias espécies de camélias, no mercado de camélias, mas contou com outras atividade alusivas a esta flor, nomeadamente desfiles de moda, provas de produtos locais com esta temática e sabor, e visita guiada pelos jardins de camélias do concelho, o que atraiu a uma das mais belas vilas durienses muitos visitantes. No sábado, dia 18 houve Mercado das Camélias e entrega dos prémios do Concurso. Na tarde desse dia decorreu teve lugar ainda um workshop intitulado “A paixão pelo cultivo das Camélias”, sob a orientação de Carina Amaral Costa, representante do Parque Terra Nostra. À noite foi servido um chá de camélias, acompanhado com prova de produtos de Lousada.
No domingo, dia 19, em autocarros disponibilizados pela edilidade local realizou-se Passeio pelos Jardins de Camélias do concelho, no participaram várias dezenas de pessoas. O périplo iniciou-se, precisamente, no Jardim do Senhor dos Aflitos, verdadeiro ex-libris de Lousada, passando depois pela Casa de Rio Moinhos, em Covas. Seguiu-se uma visita ao Solar do Cedro, em Sousela e uma outra aos jardins da Casa de Lagoas, em Nevogilde. Todos estes jardins repletos de uma inúmera variedade de camélias pertencem a casas senhoriais, grande parte delas sucedâneas das primeiras iniciativas de povoamento da região, algumas delas desenvolvendo ainda a atividade agrícola, nomeadamente a vinicultura. Na tarde de domingo, em pleno ar livre e num espaço do jardim do Senhor dos Aflitos teve lugar um Concurso e Desfile de Body Painting e um outro de Moda Infantil, um e outro sob o tema das Camélias.
Durante os três dias e paralelamente, realizou-se um fim-de-semana gastronómico em parceria com a Entidade de Turismo Porto e Norte. A convite da Câmara de Lousada alguns restaurantes locais associaram-se à iniciativa, criando de uma ementa comum a todos: cozido à portuguesa e leite-creme de sobremesa.
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MAIS UM ILUSTRE
Nasceu na ilha de São Miguel e ingressou no Seminário Menor de Ponta Delgada, em 1958 e no de Angra em 1960, onde fez uma boa sua formação revelando-se um aluno muito educado, estudioso, respeitador, excelente cantor e um bom jogador de futebol.
Após a decisão de abandonar os estudos no Seminário, cumpriu o serviço militar obrigatório, escapando ao flagelo da mobilização para a guerra do Ultramar. O seu percurso laboral foi prestigioso e brilhante, revelando-se sempre um profissional digno, trabalhador, sério, honesto e competente, o que fez com que fosse progredindo na carreira, por mérito próprio, e desempenhasse, ao longo da mesma, inúmeras funções de responsabilidade em diversas áreas e serviços, atingindo o mais alto nível do dirigismo e da coordenação da empresa onde trabalhou. Reformou-se em 2003, na altura, com o estatuto de Director Coordenador. Paralelamente e graças a um excelente talento musical, sobretudo a nível da voz, dedicou-se à música e ao canto, em que se já envolvera desde os tempos do Seminário, integrando diversos Grupos e Associações Corais (Matriz de Ponta Delgada, Conservatório de Ponta Delgada, Capelas, S. Vicente Ferreira) assim como a Associação de Solidariedade Social dos Professores, Delegação de Ponta Delgada. Foi também ensaiador e dirigente.
Senhor de um silêncio enternecedor à mistura com uma enorme alegria estampada num sorriso permanente e uma disponibilidade de envolvimento total. Extravasando, mais para o seu interior do que para o exterior, um encantamento e uma admiração deslumbrante porquanto via, sentia e vivia, imiscuiu-se em todas as actividades e participou em todos eventos. Senhor de uma voz maravilhosa e sublime, até nos ensaios encantou, através de uma exuberante execuções, que mais tarde cantou de forma soberba e acompanhado pelo coro formado pelos outros senhores, no sarau em que se recreou o orfeão dos anos sessenta e antes da missa, fora da igreja de Santa Bárbara. Notável pelo seu silêncio eloquente, insigne pelo seu sorriso permanente, deslumbrante pela sua presença amiga, notável pela sublimidade do seu canto e até a manifestar, ainda, os dotes futebolísticos da juventude, tornou-se, na realidade, mais um dos “Senhores” do Encontro.
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ATLÉTICO CLUBE DA FAJÃ GRANDE
Foi nos anos trinta do século passado que se deu início à prática do Futebol, na Fajã Grande. O primeiro campo de jogos que se construiu na mais ocidental freguesia açoriana foi no lugar do Estaleiro. Este lugar era um pequeno enclave encastoado ente o Porto e o Calhau Miúdo, ali para os lados do Pesqueiro de Terra, onde existiam apenas terras de cultivo. O que mais caracterizava este lugar e que está na origem do topónimo era o facto de ter existido ali, nos séculos XVIII e XIX, uma fortaleza, conhecida como o Forte do Estaleiro e de cujas paredes, pelo menos nos anos cinquenta, ainda se poderiam observar alguns vestígios. Situava-se este forte, sobre os terrenos da beira-mar, adjacentes ao ancoradouro do Porto Novo. Seria uma fortaleza ou um minúsculo castelo que, assim como outros existentes para os lados do Vale de Linho e da Ponta e em conjunto com eles, beneficiava duma posição dominante e estratégica não apenas sobre a baía da Ribeira das Casas, como também ao longo de uma boa parte da costa oeste das Flores. Esta posição estratégica permitia a estes e aos outros fortes atingir o seu objetivo primordial: a defesa permanente e contínua não apenas do porto e ancoradouro da Fajã mas também de toda aquela zona marítima, desde a Rocha da Ponta até à dos Bredos, dos ataques dos piratas e corsários, que assolavam, atacavam e devastavam as povoações da ilha, com muita frequência. Foi precisamente neste histórico lugar, num serrado que ali existia e que posteriormente foi dividido por malhões dado que pertencia a três donos: ao Laureano Cardoso, ao António Barbeiro e ao Chileno.
A prática do futebol na Fajã Grande desenvolveu-se, sobretudo, graças ao empenho e esforço do médico, na altura residente na freguesia, o doutor Caetano Luís de Mendonça, que normalmente assumia a função de árbitro, do Luís Fraga que foi o primeiro treinador e do guarda Borges, este também integrando o primitivo elenco de jogadores.
Após alguns treinos, o primeiro jogo de futebol realizado na Fajã Grande foi contra uma equipa das Lajes, o “Nacional Sport Club” e teve lugar no dia 24 de Julho de 1939, data em que o campo do Estaleiro foi oficialmente inaugurado. Alguns anos antes havia sido fundado o primeiro clube de futebol da Fajã Grande, que o se chamava “Fajã Grande Sport Clube”, equipando com camisola azul e calção branco. No entanto e porque as dificuldades de deslocação na ilha, a fim de jogar com clubes de outras localidades, eram muitas, o clube fraturou-se, a fim de poder competir, originando dois clubes: o Sport, onde jogavam os melhores jogadores e o Salgueiros, uma espécie de equipa B, onde jogavam as reservas. Só nos anos cinquenta, depois do interregno que o futebol sofreu em todo o Mundo, devido à Segunda Guerra Mundial, os dois clubes fundiram-se originando o “Atlético Clube da Fajã Grande” que passou a utilizar o mesmo equipamento e cujo nome ainda hoje se mantém, conforme consta na lista de clubes da actual Associação de Desportos da Ilha das Flores.
Naquele jogo inaugural a equipa da Fajã perdeu por 2-1, alinhando com os seguintes jogadores: José Luís (de Abrão) (guarda-redes), Francisco Freitas, António Teodósio, Luís Pereira, José Pereira, Laurindo, João Gonçalves, Cristiano, Cardosinho, José Cardoso, Urbano e Nestor. O treinador era o Luís Fraga e os suplentes: José Gonçalves (conhecido por avançado Grilo), Francisco Inácio, António Cardoso, José Furtado, António Dawling, Arnaldo. João Lourenço, José Rodrigues, este contratado apenas por ser carpinteiro e para consertar as balizas que se desfaziam facilmente com os portentosos remates dos jogadores. As botas eram feitas pelos próprios com a ajuda do sapateiro Mestre Jorge que, com engento e arte invulgares, também fazia a bola.
Dizia, quem ainda o viu jogar, que o Nestor foi talvez o melhor jogador de sempre da Fajã Grande, tendo, no entanto, falecido bastante novo. A sua morte deveu-se ao próprio futebol. Anos mais tarde, durante um jogo já no campo das Furnas, a bola terá ido parar ao mar. Como só havia uma bola, o jogo parou e coube ao Nestor ir buscá-la, para o que teve que se atirar à água. Era inverno e esta estava muito fria e o Nestor muito suado. O contacto com a água gelada ter-lhe-á provocado uma constipação, seguida de uma pneumonia e depois uma tuberculose que lhe foi fatal.
No dia 8 de Setembro de 1940, festa da Senhora da Saúde, foi inaugurado o campo das Furnas. Alguns jogadores já haviam abandonado a modalidade, entrando outros, entre os quais: Teodósio, Albano, José Fagundes, David Fagundes, (Semilhas), Roberto do Cristóvão, José Santos (da Ponta) e o Abrão, um dos melhores guarda-redes de sempre da Fajã. Era voz corrente que em todos os jogos que realizou não sofreu um único golo. Nessa altura o Luís Fraga manteve-se como treinador.
Nos anos 50 o futebol renasceu o Atlético passou a ter como principais jogadores: Abílio (Guarda-redes), João do Gil, Lucindo e Elviro, Edmundo Pereira, Teodósio, Albino, Álvaro de João Carlos, David do Raulino, Roberto do Cristóvão, Ângelo João Augusto, Mário do Raulino, Luís Cardoso, Manuel Cardoso (Matateu), Álvaro do Raulino, José Borges, António Nascimento, José Augusto e António Greves, entre outros.
A mais retumbante vitória do Atlético deu-se numa tarde de maio da década de cinquenta. O club estava em grande forma e no auge da sua curta carreira futebolística. Domingo após domingo, muitas vezes até em dias de semana, à tardinha, um punhado de jogadores que constituíam o plantel não se coibia de treinar. O Atlético já realizara alguns jogos, no novo campo das Furnas e já se deslocara a Santa Cruz e às Lajes, mas com resultados pouco positivos. Mas nessa gloriosa tarde deslocava-se à Fajã a nova equipa lajense da Rádio Naval. Era uma equipa fortíssima constituída não só por jogadores naturais da ilha que, anteriormente, haviam jogado noutros clubes, mas também por marinheiros vindos do continente para trabalhar naquela estação. O Atlético não se atemorizou. O treinador, na altura, era José Fagundes que preparara bem a equipa fez alinhar: na baliza Abílio, na defesa os jovens Edmundo Pereira, Lucindo Fagundes e o experiente Álvaro de João Carlos. Como médios o treinador lançou Albino e o veterano Teodósio, jogando com os interiores Ângelo Câmara e Albano. Nos extremos colocou o David do Raulino à esquerda e o Ângelo de João Augusto, à direita, com o Manuel Cardoso a avançado centro. O campo encheu-se de gente, na generalidade apoiantes do Atlético, vindos da Fajã e da Ponta. O Atlético venceu a Rádio Naval por cinco a zero.
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OITAVO FESTIVAL INTERNACIONAL DAS CAMÉLIAS EM LOUSADA
A Câmara Municipal de Lousada vai organizar a oitava edição do Festival Internacional das Camélias, nos próximos dias 18 e 19 de fevereiro, numa iniciativa que segundo os responsáveis pela organização daquele evento muito dignifica o concelho e o turismo da região e acrescentam As camélias, a história e o património são essenciais para o desenvolvimento do turismo, através da criação de produtos transversais às diversas áreas.
O Festival de Camélias que decorre num salão de eventos de uma das casas nobres ou de Turismo do concelho e em que também estarão representados produtores espanhóis e açorianos, consiste na exposição e concurso das várias espécies de camélias, no mercado de camélias e outras atividades alusivas a esta flor, nomeadamente desfile de moda, provas de produtos locais com esta temática e sabor, e visita guiada aos jardins de camélias do concelho. Na verdade, nos dias 18 e 19 de Fevereiro, as camélias serão rainhas em Lousada. O concelho promove mais uma edição do Festival Internacional das Camélias, na Praça das Pocinhas.
No sábado há Mercado das Camélias e entrega dos prémios do Concurso, a partir das 15h00. Às 17h00 vai decorrer um workshop intitulado “A paixão pelo cultivo das Camélias”, sob a orientação de Carina Amaral Costa, representante do Parque Terra Nostra, nos Açores. O Chá de Camélias, acompanhado com prova de produtos de Lousada, é a última atividade agendada para o primeiro dia de Festival.
No domingo, dia 19, a partir das 9h00, decorre o já tradicional Passeio pelos Jardins de Camélias do concelho. Quem pretender participar tem transporte assegurado pela autarquia devendo inscrever-se através do e-mail turismo@cm-lousada.pt, na Loja Interactiva de Turismo ou através do telefone 255 820 580. Segundo a autarquia, o primeiro local a ser visitado é o Jardim do Senhor dos Aflitos. Pelas 10h00 o grupo vai passar pela Casa de Rio Moinhos, em Covas, seguindo-se a visita ao Solar do Cedro, em Sousela. O passeio termina com a visita aos jardins da Casa de Lagoas, em Nevogilde.
Para as 15h30 está marcado um Concurso e Desfile de Body Painting e de Moda Infantil sob o tema das Camélias.
Durante os dois dias em que decorre o Festival vai estar em funcionamento o Mercado das Camélias e exposição das mesmas. No sábado o Mercado está aberto entre as 15h00 e as 20h00 e, no domingo, entre as 10h00 e as 19h00.
Na mesma data realiza-se o fim-de-semana gastronómico em parceria com a Entidade de Turismo Porto e Norte. A Câmara de Lousada convidou os restaurantes locais a associar-se à iniciativa com a criação de uma ementa comum a todos. A ementa apresenta um prato típico: cozido à portuguesa e leite-creme de sobremesa, tudo acompanhado pelos vinhos verdes e espumantes produzidos no concelho. Este ano são 12 os restaurantes aderentes.
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A LENDA DA QUEBRADA
Conta-se que antigamente, junto à rocha da Fajã, num lugar hoje denominado de A Quebrada” numa pequena e pobre cabana, viviam muito pobremente, uma mãe com a sua filha. A rapariga era muda de nascença mas fazia-se entender e comunicava na perfeição com as outras pessoas que, embora raramente, por ali passavam. Além disso a jovem era possuidora de uma rara beleza que encantava todos quantos a viam.
Certo dia passou por ali um belo e valoroso jovem que andava a caçar. Ao ver a moça, de imediato se encantou com a sua beleza, pelo que no dia seguinte e em muitos outros voltou a passar por ali a fim de apreciar tão excelsa e invulgar beleza. Encantou-se de tal modo o jovem que acabou por se apaixonar loucamente pela rapariga, declarando-lhe, por fim, o seu amor e pedindo-a à mãe em casamento. Mãe e filha mostraram-se, inicialmente, muito receosas e hesitantes, mas como a rapariga também se apaixonou pelo rapaz, acabou por pedir à mãe que acedesse ao pedido daquele jovem a quem já amava também. A mãe aceitou e os encontros entre os dois foram-se repetindo no meio daquele descampado onde não vivia mais ninguém e a relação entre os dois jovens enamorados tornou-se cada vez mais forte. Passado algum tempo a rapariga pressentindo que estava grávida começou a ficar muito triste e receosa. Mais triste e apreensiva ficou quando percebeu que as visitas do seu amado eram cada vez menos frequentes. De certeza que já não a amava. O sofrimento e a dor tornaram-se muito maiores quando a rapariga percebeu que o rapaz desaparecera para sempre, que a abandonara, pois desde há muito que não a visitava.
Entre lágrimas e sofrimento os meses passaram até que chegou o dia em que o bebé nasceu, num dia de grande temporal. Ventos ciclónicos e chuvas torrenciais assolavam toda a ilha. O mar metia medo. Mas a criança acabada de nascer era um belo rapagão, forte e vigoroso, que em tudo fazia lembrar o pai. A rapariga encheu-se ânimo e coragem e dando um enorme grito de alegria, começou a falar. A mãe que também sofrera com a dor da filha também regozijou de contentamento. A alegria das duas era enorme… Haviam de criar, embora na pobreza, com muita alegria o seu filho e neto.
Mas diz a lenda que nesse momento, assolada pelo fortíssimo temporal, a rocha desabou e uma enorme ribanceira caiu soterrando o pobre casebre e quantos se encontravam lá dentro: a mãe, a filha e a criancinha. Essa a razão por que há quem diga que em certos dias de temporal, ao passar por ali, ainda se ouvem gritos de terror vindos bem lá do fundo, de debaixo da quebrada.
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O SENHOR PADRE DA FAJÃZINHA
Uma das mais emblemáticas personagens que nas décadas de quarenta e cinquenta do século passado, visitava a Fajã Grande era o padre António Joaquim de Freitas, na altura pároco na vizinha freguesia da Fajãzinha.
Por ocasião das festas, por mais pequenas que fossem, na época das confissões quaresmais, na ausência do pároco da Fajã Grande e em muitas outras ocasiões, o Senhor Padre da Fajãzinha, como era carinhosamente tratado, visitava a Fajã Grande. Por outro lado muitas pessoas da freguesia, em caso de maleitas, molestas ou até doenças, deslocavam-se à Fajãzinha, a casa do prebendado, a fim de que este lhes valesse, prestando-lhes assistência, recomendando medicamentosa ou aconselhando um ou outro tratamento, sempre adequados e eficientes. Nas suas vindas à Fajã também era muito procurado para assistir, doenças, achaques, pernas ou braços desmanchados e outras maleitas. A todos atendia com cuidado, dedicação e bondade. Acompanhava-o permanentemente um doce e simpático sorriso. De alta estatura, envergando sempre a sua sotaina negra, muitas vezes acompanhada por um solidéu da mesma cor, deslocava-se sempre amparado por um guarda-chuva, a protegê-lo do sol no verão e a abrigá-lo da chuva no inverno. Deslocava-se à Fajã a pé, não utilizando o cavalo ou mulo, como era hábito de muitos padres na altura, uma vez que as estradas que ligavam as freguesias das Flores eram inexistentes. Era um exímio pregador e um observador rigoroso das normas da Igreja Católica, do Direito Canónico e da Liturgia.
António Joaquim Inácio de Freitas na Fajãzinha a 7 de abril de 1911, sendo filho de José Joaquim Inácio e de Maria de Freitas Corvelo. Depois de completar o ensino primário na sua freguesia natal, ingressou no Seminário de Angra, terminando o curso de Teologia em 1936. A 21 de Junho desse ano foi ordenado sacerdote pelo bispo diocesano Dom Guilherme Augusto da Cunha Guimarães e celebrou missa nova na igreja Matriz da Fajãzinha no dia 26 de Julho do mesmo ano. Em 31 de Outubro de 1936 foi nomeado vigário ecónomo dos Cedros das Flores, onde permaneceu até 1940, sendo, nesse ano nomeado cura de Santa Cruz e pároco da Caveira. Em Setembro de 1942 foi colocado na Fajãzinha, onde exerceu o sacerdócio até 9 de Maio de 1991, data em que faleceu. De março de 1956 a Junho de 1974 paroquiou, acumulativamente, na freguesia do Mosteiro, exercendo durante alguns anos o cargo de Ouvidor Eclesiástico da, atualmente extinta, ouvidoria das Lajes das Flores.
O padre António, como também era conhecido por toda a ilha, notabilizou-se ainda por uma notável recolha e guarda de documentos históricos, deixando um notável espólio documental, que muito tem contribuído para o estudo da história da ilha das Flores, nomeadamente, na sua vertente religiosa.
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DEMOGORGON O PRÍNCIPE DOS DEMÓNIOS (MITOLOGIA)
Demogorgon ou simplesmente Gorgo era, na Antiguidade, o nome grego dado ao demônio, segundo a bíblia de demônios. Demogorgon seria a sombra de um guerreiro chamado Yeegil, cujo nome significava provedor do mal, mas histórias antigas dizem que esse homem não poderia fazer o mal pelo que foi o diabo lhe deu uma sombra com a qual podia fazer todo o mal que ele imaginasse ou quisesse.
Demogorgon apresentava-se com uma forma um tanto humanoide. Possuía duas cabeças em forma de mandril. Do seu corpo escamado brotavam dois pescoços gêmeos semelhantes a serpentes, e os seus braços terminavam em longos tentáculos. As duas cabeças eram dotadas de mentes individuais e distintas, pelo que possuíam nomes diferentes. A cabeça esquerda chamava-se Aameul e a direita Hethradiah. Um dos seus segredos mais bem guardados e desconhecidos dos humanos, incluindo dos que lhe prestava culto, era a do esforço que as duas personalidades faziam para dominar e até mesmo matar os humanos, Felizmente Demogorgom nunca conseguia atingir este objetivo. Ele, com a sua dualidade, dualidade apenas conseguia separar ou unir as suas próprias personalidades. Sorte a dos humanos
De acordo com algumas lendas do kopru, Demogorgon tinha duas mães, que seriam as responsáveis pelas suas personagens gêmeas. A sua pele era azul-esverdeada, chapeada como a das serpentes, com escamas e os seus pés seriam semelhantes aos dos lagartos gigantes, tendo a cauda grossa e bifurcada. Tinha uma aparência muito idêntica às dos répteis, nomeadamente, à das Serpentes e o seu sangue era frio.
Demogorgon tinha o poder de encantar os seus inimigos, conduzindo-os insanos com o seu olhar. Se ambas as cabeças olhassem, simultaneamente, para um humano seu inimigo podia hipnotiza-lo. Por sua vez a sua cauda, semelhante a um chicote tinha a capacidade de retirar a energia vital a um inimigo vivo. Lançando os seus tentáculos sobre os seres vivos fazia com que eles ficassem cobertos com uma espécie de lepra e apodrecessem. Terrível!
Segundo outras lendas e relatos antigos, Demogorgon e o demônio Rimmon uniram-se para entrar no Mar Astral e invadir o domínio divino de Kalandurren, uma espécie de paraíso do deus Amoth. Mas Amoth matou Rimmon e tentou cortar Demogorgon ao meio, fazendo-lhe uma enorme ferida, antes que Orcus o matasse. Foi esta ferida que originou as duas cabeças de Demogorgon e a sua dupla personalidade.
Demogorgon vivia no Abismo, um grande mar de água salgada quebrada por altas, afiadas e feias proeminências rochosas que sobiam da interminável água turva até a um céu de névoa amarela. O palácio de Demogorgon era formado por duas torres gêmeas de forma muito grossa, como serpentes bem enroladas, cobertas de feições afiadas e feias e espinhos, e coroadas no topo com minaretes em forma de caveira. As duas torres estavam ligadas por uma ponte perto do topo. Abaixo da fortaleza havia recifes e cavernas onde morvam seres estranhos, constantemente lutando uns com os outros e adorando Demogorgon. Na verdade Demogorgon era adorado não só por humanos maus, mas também pelos raios inteligentes conhecidos como ixitxachitl. Os adoradores de Demogorgon que ainda não eram demônios, eram frequentemente perturbados por ele a fim de que se convertessem e tornassem em demónios.
Muito interessante é a Mitologia!
NB – Dados retirados da Wikipédia.
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O MEU PRIMEIRO FECHO ECLAIR
O fecho eclair foi inventado pelo engenheiro norte-americano Whitccomb L. Judson em 1891 e era constituído por uma série de ganchos que se prendiam a pequenas argolas. Este fecho, porém, ter-se-á revelado pouco eficaz, dado que se abria com muita facilidade e, provavelmente, teria sido votado, por completo, ao abandono se não fosse o engenheiro sueco Gideon Sundback, no primeiro quartel do sec XX, a desenvolver a ideia de Ludson, substituindo ganchos e argolas por dentes metálicos entrelaçados uns nos outros, criando assim o fecho eclair tal como ainda o conhecemos hoje, embora de forma mais perfeita e funcional do que a apresentada por Sundback.
Foi esta alteração que permitiu que o fecho eclair se fosse espalhando, aos poucos, por todo o mundo e, embora demorando algum temo tempo, chegasse aos locais mais recônditos do globo, substituindo, parcialmente, o longo e histórico reinado do botão.
Sobre o fecho eclair, que teve o seu período áureo na segunda metade do século passado, até o poeta António Gedeão fez um dos seus mais belos poemas, onde afirma que o próprio rei Filipe II teve tudo, mas o que um monarca podia desejar, porque “ Um homem tão grande, tem tudo o que quer,” mas “o que ele não tinha, era um fecho eclair.”
Contrariamente a Filipe II, eu não só tive um como muitos fechos éclair. Mas o mais importante para mim e aquele que nunca mais esqueço foi o primeiro que tive.
O meu primeiro fecho eclair chegou-me numa encomenda da América, andava eu ainda na 1ª classe, de calções e pé descalço. Era uma “soera” verde, com o pescoço a prolongar-se pelo peito, mas que se abria e fechava, graças à invenção do sr Judson. Eu adorava aquela “soera”, não tanto pelo verde, nem sequer pelo confortável agasalho que me concedia, mas pelo fecho eclair de que me envaidecia e ufanava, por ser dos primeiros que tinham aparecido na freguesia, e único na escola. Passava horas e horas, mesmo quando não tinha a tal soera vestida, a puxar o fecho para baixo e para cima e a contemplar, absolutamente admirado, aqueles dentinhos metálicos a correrem ritmadamente uns atrás dos outros, para baixo e para cima. Verdadeiramente espectacular!
Um dia minha mãe morreu e como se isso não bastasse decidiram baldear toda a minha roupa, incluindo a tal soera do fecho eclair, para dentro de um enorme caldeirão, cheio de água a ferver e no qual haviam deitado uns tubos de tinta preta "Coureina", para que assim se tingisse e perdesse as cores naturais, tornando-se preta, a fim de deitar o luto devido pela morte da minha progenitora, como era costume na altura.
É verdade que a soera de verde passou a preta e com o tempo tornou-se cinzenta, mas também é verdade que o meu primeiro e inesquecível fecho eclair, por causa daquela estranhíssima e galvanoplástica operação, nunca mais voltou a ser o que era.
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AS DESLOCAÇÕES A PONTA DELGADA
Situada a oeste das Flores, encafuada entre o mar e a Rocha, a Fajã Grande, até à década de cinquenta era, sem sombra de dúvida a freguesia mais isolada da ilha. As vilas e a maioria das outras freguesias ficavam distantes e as comunicações eram muito limitadas, difíceis, sinuosas e quase inexistentes. Cortada por um inúmero caudal de grotas e ribeiras, sulcada por vales, dilacerada por grotões, os matos da ilha que separavam as várias freguesias eram muito difíceis de percorrer e, por vezes, até perigosos. Talvez por isso se recorresse muitas vezes à deslocação de uma freguesia para outra de barco. Mas as embarcações existentes, nesses tempos, na Fajã Grande eram poucas e muito frágeis. Além disso algumas freguesias nem tinham porto ou local onde pudessem acostar embarcações, por mais pequenas que fossem. Era pois muito difícil sair da Fajã Grande, mesmo que fosse numa pequena deslocação às freguesias vizinhas: a sul e mais próxima, a Fajãzinha e a norte Ponta Delgada
A Fajãzinha ficava perto da Fajã. A viagem demorava menos de uma hora. Além disso, o caminho por onde se circulava – o antigo Caminho da Missa – era relativamente bom e nele até podia circular, à vontade, um carro de bois, mas, apesar de tudo, as deslocações aquela localidade muitas vezes, sobretudo no inverno e em dias de muita chuva, eram muito difíceis e até totalmente impedidas, devido ao enorme caudal da Ribeira Grande, cujas frágeis pontes iam sendo sucessivamente destruídas. Aliás estes obstáculos impediam a deslocação quer às Lajes quer a outras freguesias ou localidades mais próximas: a Caldeira, o Mosteiro, o Lajedo, o Campanário e a Costa. Eram por ali que circulavam os carros de bois com as parcas mercadorias para a freguesia, a maleira, os mulos que levavam a nata ou a manteiga, assim como as pessoas que saiam ou chegavam da ilha, vindas sobretudo da América As deslocações a Santa Cruz e aos Cedros eram feitas atravessando os matos, depois de subir a Rocha.
Pior, porém, eram as idas e vindas a Ponta Delgada, a freguesia mais próxima da Fajã, no que ao norte dizia respeito.
Até à Ponta o caminho era bom. Atravessava-se a Tronqueira, descia-se o Calhau Miúdo e percorria-se a Ribeira das Casas e as Covas até à Ribeira do Cão. Chegava-se assim às primeiras casas da Ponta e, atravessando a rua principal, tinha-se acesso fácil até à Rocha, já para lá da igreja da Senhora do Carmo. Aí começavam as dificuldades. Primeiro era necessário subir uma estreita e sinuosa vereda, desenhada em ziguezague nos contrafortes da rocha, sobre o mar. Sítios existia em que a vereda se situava mesmo sobre o mar, em terríveis e temíveis precipícios, constituindo, o percurso, um perigo permanente e iminente. Para além de muito estreita e íngreme o pavimento era bastante irregular, ora encravado em frágeis degraus de pedra solta, ora esculpido em socalcos de terra maleável e, de vez em quando, atravessado por pequenos veios de água e de charcos ou lameiros. O perigo de cair ao mar era eminente. O risco de ser tolhido por quedas de pedras ou de enxurradas era permanente. Talvez por tudo isso o povo atribuiu aquele alcantil o nome de Rocha do Risco ou Lugar do Risco.
Ao chegar ao cimo da Rocha, ou seja ao Risco, entrava-se no mato. Não havia veredas. Existiam simplesmente alguns carreiros que os pés dos transeuntes haviam desenhado na fresca alfombra e que atravessavam as pastagens. Além disso como estas eram vedadas, ou por bardos densos de hortênsias ou por grotões cheios de pedregulhos, sendo difícil transpor uns e atravessar outros. Durante a noite ou em dias de nevoeiro, o perigo dos transeuntes se perderem era muito provável. Além disso ainda havia que atravessar os caudais de algumas ribeiras onde não existiam pontes. Eram os casos das ribeiras da Francela, que corria na direção dos Fanais, a de Monte Gordo, a da Bargada, a do Mouco e, já próximo de Ponta Delgada, a Ribeira dos Moinhos. Não havia pontes e no inverno tinham volumosos caudais.
E acrescente-se que muitos habitantes da Fajã Grande, para além de terem que se deslocar a Ponta Delgada com alguma frequência, se o desejassem fazer para o Corvo teriam que seguir por este abrupto acesso, a fim de tomar um barco na freguesia mais a norte da ilha e, consequentemente, mais próxima da ilha vizinha.
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ONDE?
Como me interesso muito por contos e muito especialmente por contos açorianos, há dias fui à FNAC (Norte Shoping) a fim de comprar Novas Estórias Açorianas de Carlos Alberto Machado. Dirigi-me à funcionária que manuseava o computador e indiquei-lhe o nome do autor e o da obra. A senhora informou-me que o livro em causa existia mas não o tinha. De seguida perguntei-lhe se tinham obras de Álamo Oliveira, Daniel de Sá, Onésimo Almeida, Martins Garcia… Nada!
Antes de me vir embora, no entanto, dirigi-me à secção Literatura Lusófona. Eram uns bons metros de prateleiras recheadas com autores continentais, brasileiros, angolanos, etc. Bastantes! Dos Açores apenas um autor e um único livro: Mau Tempo no Canal de Vitorino Nemésio.
No aeroporto de Ponta Delgada, onde há uma pequena livraria, já procurei livros destes e outros autores. O mesmo numa livraria da Madalena. Nada!
ONDE andam afinal os livros de tantos e tão bons escritores açorianos?
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HORAS DE SONO
Conforme noticiou um telejornal de ontem, alguns profissionais de saúde, após alguns estudos realizados, concluíram que os humanos devem estar deitados, pelo menos, oito horas por dia. Além disso, cientistas do sono descobriram que dormir 7 horas por dia é a quantidade ideal de sono. Por outro lado, uma outra pesquisa recente mostrou que a redução do período de sono necessário, mesmo que seja por 20 minutos antes de completar o ciclo, prejudica o desempenho e a memória no dia seguinte. Os mesmos estudos também concluíram que o excesso dele está associado a problemas de saúde, incluindo diabetes, obesidade e doenças cardiovasculares com altas taxas de mortalidade.
"A menor mortalidade e morbidade é de sete horas dormidas", disse Shawn Youngstedt, professor na Faculdade de Enfermagem e Inovação em Saúde da Universidade Estadual do Arizona, em Phoenix. "Oito horas ou mais tem sido demonstrado, consistentemente, ser perigoso", afirma o mesmo professor, que pesquisa os efeitos de dormir demais.
No entanto parece que muitos especialistas nesta matéria não estão de acordo com estes dados. O mesmo acontecia com os habitantes da Fajã Grande que, fazendo jus à sua sabedoria popular, outrora cantarolavam, na tentativa de justificar as poucas horas de sono de que dispunham devido ao excessivo trabalho agrícola diário:
Cinco horas dormem os santos,
Seis os estudantes,
Sete o que não é tanto,
Oito o porco
E daí para cima
Tudo o que é morto.
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A LENDA DO CALDEIRÃO DA RIBEIRA DAS CASAS
Conta-se que antigamente havia uma rapariga, chamada Maria, cujos pais, para além de doentes e acamados, eram muito pobres. Como só tinham aquela filha era ela que fazia todos trabalhos, não apenas os de casa como também os de cultivar uma pequena courela que possuíam e também era ela que tratava e cuidava do pouco gado que possuíam: uma vaquinha e três cabras. Mas como o pai não possuía relvas junto ao povoado, onde os animais pudessem pastar, Maria foi levá-los ao Mato, a fim de que se alimentassem nas terras do baldio, isto é, naquelas que eram de todos e onde cada habitante do povoado podia soltar o seu gado. Isto porém obrigava a que Maria tivesse que se deslocar, sozinha, todos os dias ao Mato, fazendo uma longa e árdua viagem, a fim de ordenhar a vaca e as cabras, pois o leite era um dos poucos alimentos que ela e os pobres pais dispunham e com que se alimentavam. Todos os dias, antes de partir, o pai avisava-a de que tivesse muito cuidado e, sobretudo nos dias de temporais e de grandes chuvadas, lembrava-lhe que não passasse para além da Ribeira das Casas, nem muito menos se aproximasse do Caldeirão. É que próximo do caminho que dava para o Queiroal havia o temível Caldeirão da Ribeira das Casas, um boqueirão enorme, saído das profundezas da terra, com uma bocarra como a do inferno, que pelos vistos não tinha fundo e que não se sabia onde ia parar. Quem caísse por lá abaixo e ficasse lá dentro, de lá nunca mais poderia sair. O povo acreditava que aquele misterioso e profundo buraco escavado na terra comunicava com o próprio inferno e que lá no fundo vivia o demónio, acompanhado de muitos outros seres terríveis.
Maria ouvia com muita atenção o pai e seguia os seus concelhos. Mas num dia de forte chuvada uma das cabras aproximou-se demasiado do temível Caldeirão e Maria, na tentativa de a agarrar, aproximou-se em demasia da boca do enorme buraco e, ao colocar o pé sobre uma laje cheia de limos verdes, escorregou e caiu por ali abaixo. Como tinha uma saia larga que, com o ar, formou uma espécie de balão, Maria não morreu. Foi caindo devagarinho, como se fosse uma pena levada pelo vento, como se descesse em para-quedas.
Chegou a noite e como a filha não regressasse os pais assustaram-se, temendo o pior. Alertaram os vizinhos e estes, na manhã seguinte, ainda lusco-fusco, partiram para o mato, procurando a rapariga por toda a parte. Mas nada. Apenas encontraram umas galochas à beira da boca do Caldeirão. Chamaram aflitivamente por ela, adivinhando um acontecimento terrível, e numa voz abafada ouviram a resposta da Maria, vinda de uma grande profundidade, como se fosse um eco. Quando foi conhecida a triste notícia o povo da freguesia acorreu em massa ao local, mas de lá nunca conseguiram tirar a rapariga, que assim ficou lá encantada.
Dizem que ainda hoje, quem tiver coragem de se aproximar da boca do Caldeirão da Ribeira das Casas e chamar: Maria! Maria!, ouve-se uma voz a responder, como em eco.
É o eco do Caldeirão da Ribeira das Casas.
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JERÓNIMO SILVA
O advogado Francisco Jerónimo da Silva nasceu na freguesia da Sé, cidade de Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, a 30 de Setembro de 1806 e faleceu em Lisboa, a 2 de Novembro de 1871. Realizou em Angra os estudos indispensáveis para se matricular na Universidade de Coimbra, em 1825 e concluiu a formatura em Cânones e Leis em 1831. As suas convicções políticas condicionaram-lhe a sua atividade profissional ao longo dos anos. Nascido no seio de uma família legitimista, manteve essas convicções. Em 1828 ainda estudante, rebentou em Angra uma revolução que proclamou os direitos de D. Maria II, gerando-se um período de grande agitação política, durante o qual deixou de receber a mesada. Por intervenção de D. Miguel, foi-lhe paga pela Intendência o abono que costumava receber, bem como a todos os que estiveram nessas condições. Este fato tornou-o ainda um maior defensor do miguelismo. Iniciou a vida profissional como professor de história, em Braga, tendo sido nomeado juiz de fora, em Ponte de Lima, mas por poucos dias, uma vez que, por razões políticas, foi obrigado a refugiar-se na Galiza, devido à agitação política. Como não desejava aceitar qualquer tipo de emprego público do governo constitucional, decidiu abrir banca de advogado no Porto. Rapidamente a sua fama correu por toda a cidade, tornando-se famoso pelas suas capacidades de orador, pela sua frontalidade e profundidade dos seus conhecimentos. Sustentou várias causas polémicas com juízes que lhe aumentaram a notoriedade. Paralelamente manteve sempre uma atividade política muito ativa, com destaque para o período de combate ao governo de Costa Cabral. No periódico Coalisão, escreveu vários artigos que lhe valeram a prisão por vinte dias. Em 1851, no regresso de uma viagem à Terceira, resolveu ficar em Lisboa, para descansar e estudar Paleografia. Deste modo, acabou por se estabelecer na capital, alcançando a fama de eminente causídico que já granjeara no Porto. Continuou a recusar lugares ligados ao funcionalismo público, como também o lugar de deputado que várias vezes tentaram impor-lhe. Para além dos primorosos trabalhos forenses que foram impressos em folhetos, Jerónimo da Silva, foi também um estudioso literário. Lia nas línguas originais obras da literatura latina, francesa, inglesa, italiana, grega e alemã. Por todo o seu trabalho foi considerado um dos mais notáveis advogados portugueses da primeira metade do século XIX. Doou à Câmara Municipal de Angra a sua valiosa biblioteca, com cerca de quatro mil volumes e os seus restos mortais foram trasladados para o cemitério do Livramento, em Angra
Dados retirados do CCA – Cultura Açores
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CAPELAS DA ILHA DAS FLORES
Segundo o Sistema de Informação para o Património Arquitetónico existem inventariados, no arquipélago dos Açores, 542 imóveis religiosos, na sua maioria igrejas e capelas. A Diocese de Angra e, consequentemente, o arquipélago dos Açores, possui um total de 172 paróquias distribuídas pelas nove ilhas, tendo cada uma, para além da sua igreja paroquial, muitas outras igrejas, ermidas ou capelas. Na ilha das Flores, no que a igrejas diz respeito, para além das 11 igrejas paroquiais, existem mais três: a de São Boaventura em Santa Cruz, da Senhora de Lurdes na Fazenda de Santa Cruz e a da Senhora do Carmo na Ponta.
Quanto a ermidas e capelas, atualmente, para além das Casas do Espírito Santo que proliferam por toda a ilha, assemelhando-se a autênticas capelas, existem apenas seis pequenas ermidas em toda a ilha. Sabe-se no entanto que antigamente terão existido bastantes mais. Umas foram destruídas para no seu local se contruírem as igrejas, como aconteceu na Fajã Grande, enquanto outras, simplesmente, ruíram com o passar dos anos e por falta de conservação.
São as seguintes as capelas existentes nas Flores:
Capela de Nossa Senhora das Angústias, nas Lajes - Localiza-se no cemitério das Lajes e cuida-se que terá sido a capela-mor de uma antiga igreja desaparecida, o que se pode concluir pelo facto da fachada poente ser completamente lisa, correspondendo assim à parede do antigo arco triunfal, uma vez que vestígios desse arco ainda são visíveis na parede interior. Além disso a porta de entrada está localizada numa das paredes laterais. Mas segunda outra versão será um edifício de raiz mandado construir em agradecimento pelo salvamento de dois fidalgos espanhóis, por terem sobrevivido a um naufrágio. De uma forma ou de outra trata-se de um edifício historicamente valioso, cuja construção data de 1729. O pequeno templo tem apenas três aberturas, a porta da fachada sul e duas frestas, uma à direita da porta e outra na fachada norte.
Capela de Nossa Senhora das Flores – Está situada no interior da ilha, num local despovoado, perto da Casa do Estado e junto à estrada transversal que une os Terreiros a Santa Cruz e onde se celebrava, antigamente a festa do mato. Foi construída e inaugurada em 1968. A imagem da Senhora das Flores, colocada no seu interior foi oferecida Luciano Luiz Avelar e foi levada em procissão desde Santa Cruz, no ano da inauguração do pequeno templo.
Capela de Nossa Senhora do Rosário foi construída em 1877 e localiza-se no cemitério de Santa Cruz, junto a um dos muros laterais. O seu interior é despojado de qualquer adorno, tendo apenas, para além da porta de entrada uma janela alta rematada em arco quebrado em cada uma das paredes laterais.
Capela de Santo António de Lisboa Fajã Grande. Foi construída e inaugurada em 1986 e mandada construir pelo luso-americano José Dias Fraga. Esta capela, localizada no lugar denominado de Santo António, no cruzamento dos caminhos da Cuada e dos Lavadouros desde há muito que estava projetada na vontade do povo. Tinha como objetivo guardar uma enorme imagem de santo António, existente na casa da Senhora Estulana, no cimo da Assomada e que, inexplicavelmente, estava impedida de ser colocada na igreja paroquial.
Capela de Nossa Senhora de Fátima da Ponta – Construída e inaugurada em 1969, no enfiamento do Caminho da Rocha, substitui uma pequenina capela de madeira, também dedicada à Senhora de Fátima e mandada construir por João Lizandro, com o intuito de proteger todos os que diariamente subiam aquele abrupto e perigoso andurrial.
Capela de São João Baptista, também conhecida por Ermida do Pico do Meio Dia está localizada no Pico com o mesmo nome, há freguesia de Ponta Delgada. Esta ermida erigida sob a evocação de São João Batista foi construída neste monte, que tem por nome Pico do Meio Dia, e que lhe foi atribuído pelo povo desde há longos anos pelo facto de se localizar numa posição que é, rigorosamente, atingida pelo sol ao meio dia solar. A ermida foi inaugurada no dia 13 de Agosto do ano de 1978 e junto a um Cruzeiro de betão ali construído e benzido sete anos antes. dão lugar à Festa de São João, celebrada Em Setembro de cada ano é celebrada ali uma festa, em honra de São João Batista, uma das festas mais conhecidas da ilha das Flores.
NB – Obras consultadas: Monterreal Guido de, Flores e Corvo; Gomes Francisco A.P. A Ilha das Flores; IAC, Inventário do Ptrimónio Imóvel dos Açores.
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A FAJÃ GRANDE NO ALMANAQUE AÇORIANO
O Almanaque Açoriano, arauto dos fenómenos da terra, do mar e do céu das ilhas açorianas e guia prático da ruralidade açoriana e orientador das suas gentes refere os seguintes dados relativamente à freguesia da Fajã Grande:
População: 250
Atividades económicas: Agricultura, pecuária e pequeno comércio
Festas e Romarias: S. José (19 de Março), Santo Amaro, Espírito Santo (7 semanas depois da Páscoa), S. Pedro (29 de Junho), Nossa Senhora do Carmo (26 de Julho), Nossa Senhora da Saúde (8 de Setembro), Nossa Senhora do Rosário (Outubro) e Santo António (13 de Junho).
Património: Igrejas matriz e da Ponta e capelas do Espírito Santo, do Espírito Santo da Ponta, do Espírito Santo da Quada e de Santo António.
Outros Locais: Ribeiras dos Paus Brancos, das Casas e do Cão, grota da Lombinha, ribeira de José Fraga, grota de Tio António Luís e grotão da Ponte
Gastronomia: Sopas do Espírito Santo, feijão com cabeça de porco, cozido à portuguesa, molho de Afonso com lapas, torta de erva do mar, inhame com linguiça, polvo guisado, filhós e folar da Páscoa
Artesanato: Cestaria, caravelas, cabaços e arranjos em miolo de hortênsia
Coletividades: Tuna Sol Mar, Filarmónica de Nossa Senhora da Saúde e Atlético Clube da Fajã Grande
Orago: S. José
Descritivo histórico: A Fajã Grande é uma das freguesias menos povoadas deste concelho. Pertenceu sempre às Lajes das Flores, à exceção do período em que aquele foi suprimido. Entre 1895 e 1898, esteve pois no concelho de Santa Cruz.
A igreja paroquial, consagrada a S. José, foi reedificada em 1849 à custa das esmolas do povo. A capela de Santo António de Lisboa, por seu lado, é o mais recente edifício religioso da Fajã Grande. Foi construída em 1986. O património natural da freguesia inclui tudo, mas não deve ser deixada de parte uma visita ao grotão da Ponta, fabuloso conjunto de quedas de água.
E mais não diz. De realçar que nem a igreja da Fajã Grande, nem muito menos a da Ponta, são igreja matriz. Trata-se apenas de uma igreja paroquial e de uma ermida de curato, no caso da Ponta. Falta também acrescentar, no que a capelas diz respeito, a da Senhora de Fátima, da Ponta, cuja prime construída em 1969. Acrescente-se ainda que de acordo com o último censos a população da Fajã Grande ultrapassa em pouco os duzentos habitantes.
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GATO PRETO
Conta-se que antigamente, como muitos outros na freguesia, havia um lavrador que, no inverno, costumava ir todas as noites ao seu palheiro deitar comida às suas vacas. Certa noite ao entrar no palheiro encontrou um gato preto empoleirado em cima do lombo de uma das suas vacas. De imediato tentou enxotá-lo mas, para espanto seu, por mais que o espantasse o gato não tugia nem mugia. Não fugia dali!
O bom do lavrador chegou-se junto dele, mas como se contavam na freguesia de muitas estórias aterradoras sobre gatos pretos, tratou-o com um certo receio. Timidamente, passou-lhe a mão no pelo, com meiguice, ao mesmo tempo que lhe dizia:
- Sai daí que me espantas a vaca.
E o gato, de imediato, respondeu:
- Não saio.
O lavrador ficou de boca aberta com o que se estava a passar e ó pernas para que vos quero. Cheio de medo saiu a correr pela porta fora e foi dali direitinho à Praça contar aos homens que lá estavam sentados o que tinha visto e ouvido. Os homens riram-se dele, mas o lavrador insistiu, afirmando que o diabo estava em carne viva no seu palheiro e que ali havia bruxedo. Pelo sim, pelo não, e como o homem insistisse, os outros homens resolveram ir ao palheiro a fim de verem o que lá se passava. Cada um muniu-se de um grosso bordão de araçá.
Ao chegarem ao palheiro, mal o lavrador levantou a taramela da porta, eis que sai de lá de dentro um estranho vulto com tanta rapidez que nenhum dos homens chegou a ver o que era nem muito menos a acertar-lhe uma bordoada. E a verdade é que os homens regressaram cheios de medo às suas casas e deixaram de rir do que aquele lavrador lhes havia contado e de outras estórias que se contavam na freguesia sobre gatos pretos.
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A VERDADE
(TEXTO DE ALMADA NEGREIROS)
Eu tinha chegado tarde à escola. O mestre quis, por força, saber porquê. E eu tive que dizer: Mestre! quando saí de casa tomei um carro para vir mais depressa, mas, por infelicidade, diante do carro caiu um cavalo com um ataque que durou muito tempo. O mestre zangou-se comigo: Não minta! diga a verdade!
E eu tive de dizer: Mestre! quando saí de casa... minha mãe tinha um irmão no estrangeiro e, por infelicidade, morreu ontem de repente e nós ficámos de luto carregado. O mestre ainda se zangou mais comigo:
Não minta! diga a verdade!!
E eu tive de dizer: Mestre! quando saí de casa... estava a pensar no irmão de minha mãe que está no estrangeiro há tantos anos, sem escrever. Ora isto ainda é pior do que se ele tivesse morrido de repente porque nós não sabemos se estamos de luto carregado ou não.
Então o mestre perdeu a cabeça comigo:
Não minta, ouviu? diga a verdade, já lho disse!
Fiquei muito tempo calado. De repente, não sei o que me passou pela cabeça que acreditei que o mestre queria efectivamente que lhe dissesse a verdade. E, criança como eu era, pus todo o peso do corpo em cima das pontas dos pés, e com o coração à solta confessei a verdade:
Mestre! antes de chegar à Escola há uma casa que vende bonecas. Na montra estava uma boneca vestida de cor-de-rosa! Mestre! a boneca estava vestida de cor-de-rosa! A boneca tinha a pele de cera. Como as meninas! A boneca tinha tranças caídas. Como as meninas! A boneca tinha os dedos finos. Como as meninas!
Mestre! A boneca tinha os dedos finos...
José de Almada Negreiros , Obras Completas
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A CUADA NO CM
Ilustrado com uma belíssima fotografia, encontrei no blogue Perdida por Lisboa este texto sobre a Cuada intitulado Aldeia da Cuada, um oásis a caminho das Américas:
É no extremo mais ocidental da Europa, entre as freguesias da Fajã Grande e da Fajãzinha, na paradisíaca ilha das Flores, nos Açores, que se localiza a Aldeia da Cuada.
Um aldeamento turístico rural com 15 casas de pedra basáltica que mantêm a traça original, mas com mordomias atuais como o acesso gratuito a wi-fi e aquecimento, dando o conforto necessário para umas férias de sonho.
O respeito ao passado está porto todo o lado. Cada casa tem o nome dos seus antigos proprietários, que nos anos 60 abandonaram esta aldeia em busca de uma vida melhor nos EUA. A casa do Fagundes, a casa da Esméria e o palheiro da Fátima são alguns exemplos desta aldeia, que fica situada sobre um planalto junto ao mar, com uma falésia recheada de cascatas por trás.
As casas estão separadas por prados onde algumas vacas parecem descansar. No ar, o cheiro a natureza intocável, sem poluição e veículos motorizados. Por vezes, o sol dá lugar à neblina que impõe ao lugar um ar ainda mais misterioso.
E, à noite, os cagarros (aves migratórias) dão o ar da sua graça e juntam-se ao cantar dos grilos.
Facilmente se percebe porque é que a Aldeia da Cuada foi eleita um dos 50 hotéis mais românticos do mundo pela revista ‘Travel and Leisure’.
Mas não se fica por aqui a autora deste blogue que se diz natural das Flores e que tem como objetivo viajar por outros destinos fora da capital. Envia, através de um simples clik envia os leitores para o Correio da Manhã de 16 de Janeiro, onde a autora publicou o mesmo artigo.
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CIRCULAR NAS ROTUNDAS
É por demais conhecido e sabido, uma vez que tem sido amplamente divulgado pela Comunicação Social e até pelas redes sociais que o novo Código da Estrada, entre as várias alterações introduzidas, nas quais se inclui a norma que indica a quantidade de álcool permitida no sangue para recém-encartados e profissionais, reduzida para 0,2 gramas por litro de álcool contido no sangue, alterou também a forma de circular nas rotundas. Esta nova regra de circulação nas rotundas estabelece que a circulação deve ser feita à esquerda, começando a encostar-se à direita apenas quando está próximo da saída.
Esta alteração assim como as restantes entraram em vigor em um Janeiro de 2014.
No que ao circular nas rotundas diz respeito o Código legislou o seguinte:
O artº 14-A, acrescentado ao código da estrada refere o seguinte:
”1 — Nas rotundas, o condutor deve adotar o seguinte comportamento:
- a) Entrar na rotunda após ceder a passagem aos veículos que nela circulam, qualquer que seja a via por onde o façam;
- b) Se pretender sair da rotunda na primeira via de saída, deve ocupar a via da direita;
- c) Se pretender sair da rotunda por qualquer das outras vias de saída, só deve ocupar a via de trânsito mais à direita após passar a via de saída imediatamente anterior àquela por onde pretende sair, aproximando -se progressivamente desta e mudando de via depois de tomadas as devidas precauções;
- d) Sem prejuízo do disposto nas alíneas anteriores, os condutores devem utilizar a via de trânsito mais conveniente ao seu destino;
2 — Os condutores de veículos de tração animal ou de animais, de velocípedes e de automóveis pesados, podem ocupar a via de trânsito mais à direita, sem prejuízo do dever de facultar a saída aos condutores que circulem nos termos da alínea c) do n.º 1.
3 — Quem infringir o disposto nas alíneas b), c) e d) do n.º 1 e no n.º 2 é sancionado com coima de € 60 a € 300.
Segundo dados revelados pela Comunicação Social, confirmados pela Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária, desde a entrada em vigor destas alterações, mais de três mil condutores foram multados por não saberem fazer as rotundas. Na verdade quem circula na estrada ao volante de um veículo e cumpre a regra, para além de constatar a grande quantidade de condutores que o não fazem, sente-se por vezes extremamente humilhado e embaraçado devido não só aos incómodos, por vezes até às ocasiões de risco de acidente, que os condutores incumpridores, por ignorância ou por se considerarem ases do volante provocam mas até por buzinadelas e insultos. É que estes condutores, por vezes, até apoucam, gozam e menosprezam quem cumpre a lei e quem circula de acordo com as regras de trânsito.
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AS COUVES
Empinou-se o galo Eiró, de crista levantada e esporões arrebitados, contra o Garnizé, não de raça mas de apelido:
- Ou fazes o que eu digo, ou chamo a estouvada da Genoveva e tens a panela à perna. E que boa canja havias dar!
- Se te achas assim tão forte e com tanta razão, salta! Salta para aqui, e tiram-se as teimas. De galo para galo. Se és tão valente como apregoas, salta para cá… Ah! Metes o rabo entre as pernas...
A Perdiz, armada em amante dedicada, veio logo em defesa do Garnizé:
- Nem lhe toques! – Interpôs-se entre os dois. – Ao caldeirão da Genoveva vais parar tu se não crias juizinho…
O grandalhão do Eiró a acobardar-se e as outras ao redor, incrédulas. Apenas a Cor-de-Pomba ironizou:
- Então agora, que isto vai tão bem encaminhado, é que vocês param. Capoeira sem guerra é como deserto sem areia.
De nada serviu. O Eiró acobardou por completo. Reinou, de novo, a paz, durante um dia, durante muitos dias. Nunca mais se empertigaram os dois meliantes, pese embora capoeira ficasse dividida. Meia dúzia do lado do Eiró e outras tantas a fazer cortesia ao Garnizé…
Até que chegou o Entrudo. Na véspera a Genoveva, como de costume todos os anos, assomara à beira do curral. Assustaram-se as galinhas temeram os dois galos. Pela certa, naquela tarde, um estaria estufadinho no caldeirão da Genoveva.
- E para nada, afinal de contas, o nosso esforço.
- De que serviu a paz conquistada…
- Aquele bandalho, pelo Entrudo, nunca esquece o facalhão…
- Sai uma sentença sem julgamento…
- Ai! Uma galinha fica borrada de medo só de ver o facalhão.
Preocupações de ambos os lados. Das do Eiró mais do que das do Garnizé. Mas o Eiró queria lá saber! Não temia o caldeirão. Ela, a bruta, que se aproximasse dele ou de alguma das suas. Havia de a nicar de uma ponta a outra, de lhe por o as pernas como um Cristo e, depois fugiria. E ela, impotente, como já fizera, no Entrudo passado, com a Coroada e com a Galega, havia de apanhar o maricas que não tivesse nem coragem para se defender e força para fugir.
Mas a Dona Genoveva, naquela tarde, porém, resolvera apenas apanhar na sua courela junto ao curral das galinhas, uma boa mancheia de couves a fim de as cozer com batatas e toucinho. Munira-se do facalhão somente para cortar alguns caules mais grossos e rijos.
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JANEIRO FORA
“Janeiro fora Cresce uma hora e se bem contar hora e meia há-de achar.”
Este é um adágio muito divulgado e conhecido. Antigamente, também era muito lembrado na Fajã Grande. Nesse tempo o povo ainda regulava o seu dia-a-dia pelo saber das suas experiências quotidianas, pelo Sol, pela Lua, pelas nuvens, pelas estrelas, pela noite e pelo dia. Este, como muitos outros adágios está relacionado com um dos meses do ano, janeiro, um dos meses em que os dias sendo muito curtos, impediam que o trabalho agrícola se prolongasse e fosse mais amplo. O adágio revelava pois uma certa alegria ou um notório contentamento, uma vez que, a partir de janeiro já havia pelo menos mais uma hora para se poder trabalhar os campos.
Outros adágios de janeiro:
A água de Janeiro vale dinheiro.
Ao minguante de Janeiro, corta o madeiro.
Bom tempo no Janeiro e mau no estio, bom ano de fome, mau ano de frio.
Bons dias em Janeiro vêm a pagar-se em Fevereiro.
Comer laranjas em Janeiro é dar que fazer ao coveiro.
Em Janeiro seca a ovelha e suas madeixas ao fumeiro.
Em Janeiro sobe o outeiro. Se vires verdejar, põe-te a chorar, se vires terrear, põe-te a cantar.
Em Janeiro salto de carneiro.
Janeiro e Fevereiro vazam o celeiro.
Janeiro frio e molhado, enche a tulha e farta o gado.
Janeiro quer-se geadeiro.
Luar de Janeiro não tem parceiro, mas o de Agosto dá-lhe no rosto.
Não há luar como o de Janeiro, nem amor como o primeiro.
O bom tempo de Janeiro faz o ano galhofeiro.
Os bons dias em Janeiro vêm-se a pagar em Fevereiro.
Sol de Janeiro anda sempre atrás do outeiro.