PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
PARTE II - I ATO CENA 3
Batem à porta. Amélia dirige-se para a porta e abre-a. È a Rosa Maiata muito exaltada).
AMÉLIA - Ah! É a senhora Rosa. Entre, entre.
ROSA M. (À porta) - Nem é preciso entrar que não tenho tempo. Teu pai está? Não me vou demorar. É só uma palavrinha com ele.
PAI - Estou sim Rosa, entra. Que me queres?
ROSA M. (Continuando à porta) – Antonho, passaste há pouco tempo na minha do Pico? Junto à ramada das Faias do Norte tinha um eito com uma grandeza de morangos. Não sei se chegaste a vê-los? Era uma lindeza! Sabes o que aconteceu?
PAI - Não sei. Nem percebo o que tenho a ver com isso.
ROSA M. (Mais exaltada) – Ai não tens, não! Vamos ver, vamos ver! Pois olha, foi a Maria Fangueiro que me veio contar tim-tim-por-tim, que o teu Álvaro vinha com a ovelha do Canto do Areal. A maldita fugiu-lhe, foi para cima dos morangos e deu-me cabo deles todos. E agora? Quem mos paga? E tu dizes que não tens nada a ver com isto!
AMÉLIA - A sra Rosa sabe bem que a Maria Fangueiro é uma grande mexeriqueira e inventa muitas coisas…
PAI - Rosa. Viste alguma coisa? Viste alguém meu lá? Não viste, pois não? Então não podes acreditar no que se diz. Diz-se tanta mentira nesta freguesia…
ROSA M. - Ah! É assim. Pois vou fazer queixa ao regedor.
PAI - Vai-te queixar ao diabo-que-te-carregue. (Levanta-se e fecha a porta)
Sentam-se à mesa, comendo pão e queijo.
AMÉLIA - Está vendo pai? É preciso por cobro nisto. A Maria Fangueiro inventa muita coisa, mas esta da ovelha fugir para cima dos morangueiros…
PAI - Tenho que falar com ele. É melhor a ovelha passar a andar amarrada.
ALÍPIO - Ó pai, não adianta nada! Ele é um caganita! Não a aguenta!
AMÉLIA - Pai! Olhe que não há mais queijo. - (Para o Justino) – Justino não sabes que esse bocado maior é para pai. – (Para o Pai) – Logo à noite posso tirar dois ou três litros do que vai para a Máquina para fazer um queijo?
PAI - Este mês já se tem tirado muito… Mas olha, como já estão há três meses sem pagar, o melhor é ficar com ele em casa para bebermos e fazer queijo.
JUSTINO - O melhor era deixar a Cooperativa e mudarmos para a Máquina de Cima. O Martins & Rebelo paga todos os meses e paga mais cinco centavos por litro do que a Máquina de Baixo. Muitos já se passaram para a de Cima
PAI - Isso é que nunca!... Sempre estive na Cooperativa e dela nunca hei-de sair. O Martins & Rebelo o que quer é destruir a Cooperativa. Paga mais agora e depois quando a Cooperativa acabar vai pagar o leite ao preço que quiser. Os que mudam estão a vender-se, estão a destruir a Cooperativa por cinco ou dez centavos. E o trabalho e sacrifício que foi para a criar!... Eu fui um dos fundadores e de lá nunca hei-de sair. Para esse ladrão do Martins & Rebelo é que nunca vou. Prefiro dar o leite inteiro aos bezerros e ao porco.
AMÉLIA - Pai! Não diga isso! Sei que não gosta do Martins e Rebelo. Mas…É melhor então fazer queijos e até podemos vender alguns.