PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
PARTE V - IV ATO CENA 10
C.SOPAS (Entrando e falando ciosa e com os lábios muito salientes) – Poxo entá? Poxo entá? Xô Anxoninho, ua exoxuxinha pux xeux… Ui voxês nom xom da Faxã? Tanban andom a pedi. Xouxade xexa Deux. Uma exoxuxinha pux xeus. Uma exoxuxinha pu alma dox xeus.
ALGARVIO- Muda, traz-lhe uma boa fatia de pão com doce e um pedaço de queijo. Queres uma tigela de leite, Chora-Sopas?
C.SOPAS - Xo xe fô café. Café. Nom goxo leixe, brr, brr. Leixe nom pexa.
D: JOSEFA - Olha a finória! Não gosta de leite! E ainda há-de ser o que ela quer e pão com doce! Havia ser massa sovada… Muda, leva-a para a cozinha… E ela que saia pela porta de trás. Sim senhor, ainda vem bater à porta da sala, como se fosse uma visita importante. É uma desavergonhada é o que ela é! E sabem onde fica de noite, quando vem para Ponta Delgada? Sabem? É em casa do Cacho Maduro e dizem que pelos vistos fica na mesma cama com ele e com a mulher. Isto é o fim do mundo! – (Benzendo-se.) - Louvado seja o Sagrado Coração de Jesus. Para sempre seja louvado.
ALGARVIO-Josefa! Tem tento na língua, olha o que dizes…
D JOSEFA - Eu não ponho famas nem aleives a ninguém. Só digo o que oiço dizer. Olha vou é tratar da ceia que se faz tarde. O Antoninho e o pequeno vão cear e dormir cá.
ALGARVIO – Claro mulher! Isso nem se pergunta.
PAI - Ó António, eu agradeço-te muito, mas não posso ficar de forma nenhuma! É que tenho os outros sozinhos em casa! Não os quero deixar sós. Já está a ficar muito tarde. Está quase a dar Trindades. E eu tenho muito que andar. São quatro horas daqui à Fajã, mas é de dia e um homem sozinho! De noite e com o pequeno… nem em cinco horas… Tenho mesmo que ir. A Amélia não adormece sem eu chegar e fica muito preocupada! Tenho mesmo que ir e já!
ALGARVIO – Nem pensar António! Então vais-te meter nos matos, de noite, com esta criança? Estás doido, homem. Eu não vou deixar. Vão comer e dormir aqui. Obrigar uma criança destas a atravessar os matos de noite!?
PAI - Faz lua toda a noite. Eu tenho que ir. Não me peças mais para ficar. Para te fazer a vontade vou aceitar alguma coisa para comer, mas apenas para o pequeno… Eu cá por mim amanho-me sem nada…
(Levantam e saem).
ALGARVIO – Continuas o mesmo teimoso de sempre! Vamos lá comer alguma coisa porque vão ter que andar muito! Ai vão, vão.