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DOMINGOS DEPOIS DA PÁSCOA (NAS LAJES DO PICO)

Domingo, 30.04.17

(TEXTO DE ERMELINDO ÁVILA)

Terminadas as Festas Pascais entramos nas chamadas Domingas ou seja os sete domingos que antecedem o Domingo de Pentecostes.

Antigamente eram todos esses domingos preenchidos por Coroações, ou seja festas em honra da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade.

A Freguesia da Santíssima Trindade (actualmente denominada incompreensivelmente por Lajes do Pico), tinha grupos de irmãos que, de cinco em cinco anos, “levavam a Coroa à Igreja”, ou seja promoviam uma festa em honra e louvor do Espírito Santo. Em cada domingo um irmão, previamente sorteado, levava em cortejo a Coroa do Divino Paráclito à Igreja Paroquial, onde era celebrada Missa cantada e coroação e, em casa, oferecia jantar a doze pobres e a familiares e amigos.

Antes da criação da paróquia da Silveira, a freguesia estava dividida em cinco zonas: Silveira, Almagreira, Ribeira do Meio, Vila e Terras. Com o falecimento dos irmãos e/ou ausência para o estrangeiro, foi desaparecendo essa tradição que hoje, felizmente, ainda é mantida nas Terras e na Almagreira.

Tudo afora as promessas, que ainda as há, de “levar a Coroa”.

Lacerda Machado diz, que “Antigamente, em cada uma das sete Domingas, havia coroação, estando a cargo, por anos, das povoações: Terras, Vila e Ribeira do Meio. Também havia coroações na Silveira e Almagreira.

“Os festejos das Domingas consistiam em missa cantada e coroação, em seguida às quais o mordomo oferecia jantar aos colegas das outras Domingas e pessoas que convidava “

Ainda hoje a tradição se mantém na Almagreira e nas Terras. De cinco em cinco anos as mesmas famílias cumprem a tradição, convidando para a “sua festa” algumas centenas de pessoas, a quem oferece lauto jantar de “sopas do Espírito Santo”.

Para isso aquele lugar construiu um amplo salão de dois pisos, que pode receber mais de mil convivas, onde é servido o jantar.

O mesmo acontece na Almagreira, onde foi igualmente construído vasto salão.

E falando em salões, recordem-se os da Ribeira do Meio, da Silveira, das Terras, de São João, e de Santa Cruz recentemente construídos e que, embora destinados a sedes das sociedades locais, são dispensados para as funções do Espírito Santo. O mesmo acontece nesta vila com a sede da Liberdade Lajense em quase todas as freguesias e localidades da Ilha. Uma maneira significativa de perpetuar “enquanto o mundo durar”, como se dizia antigamente, tão expressivas manifestações de fé dos picoenses, como aliás dos açorianos.

Ainda a propósito das coroações, é de lembrar o que diz Silveira de Macedo na “História das Quatro Ilhas”, citado por Lacerda Machado:

“Em 1871 o autor da História das quatro ilhas avaliava em 60 moios de trigo, 60 reses bovinas, além de da carne de carneiro e porco, e 30 pipas de vinho, o consumo das festas do Espírito Santo na ilha do Pico, a cargo dos mordomos e irmãos.

Hoje, em toda a Ilha não será menor o consumo, durante as festas do Espírito Santo que, em razão dos votos emitidos, têm lugar desde o primeiro domingo após a Páscoa até aos meses de Julho e Agosto. É que, normalmente, durante os meses de inverno não se realizam tais festividades.

E, na época em que estamos, já se fazem os convites para as coroações. É que tudo é preparado com a antecedência devida. Até o gado que se abate vem destinado quase após o nascimento. E a farinha que se consumia provinha do trigo semeado, em maiores extensões, no anterior à solenidade. Hoje já não se cultivam cereais. Os campos são utilizados para pastagens de gado bovino, produtor de leite. Julgo que não se levará muito tempo que se volte atrás...

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A CHUVA E OUTROS ENIGMAS

Sábado, 29.04.17

A chuva, aqui no Pico, embora muitas vezes incomodativa, insensata e até indesejada, é um dom sagrado, uma dádiva celeste. Sem água não há vida, sem água as colheitas não crescem, não se desenvolvem, não produzem. Aqui, no Pico, a única água que alimenta os campos e que dá vida às plantas, que faz nascer as sementeiras, que fortifica as árvores de fruto é a da chuva. Por tudo isso a chuva é um donativo abençoado. Quando chove, os agricultores ficam mais descansados e satisfeitos e os criadores de gado regozijam-se, porquanto a chuva, para além de fortificar a erva das pastagens, enche os poços de água, a fim de que os animais possam saciar a sua sede. Mesmo que sejam uns ligeiros chuviscos, são sempre abençoados. Aliás as aguaceiras torrenciais, exageradas, geralmente são prejudiciais. O Pico é, por natureza uma ilha muito seca. No seu subsolo existe pouca água. As nascentes e as fontes não são abundantes. Por isso a chuva é quase sempre desejada. Desejada sobretudo quando numa manhã soalheira se arrancam as mondas, se alisa a terra, se fortalecem as plantas e as árvores de fruto. Depois dormir a sesta e acordar ao som ritmado das gotas a baterem no telhado, ou a espalharem-se no chão é sentir uma enorme dulcificação. Depois vem a noite, mais escura, mais densa, mais brumosa, a preparar-se para que o céu de madrugada se abra e volte a derramar sobre a terra o dom sagrado da chuva. Muita chuva! A necessária para que tudo nasça, cresça e se desenvolva. É verdade que umas vezes castiga, outras amordaça e algumas incomoda. Por isso é que nos atira para outras paragens, com outros destinos. A vizinha vila da Madalena é um deles. Ao regressar um sol abrasador a tornar ainda mais frutífero o dom sagrado das chuvas que o precederam, esta madrugada. De manhã anuncia-se chicharro fresco. De tarde aquieta-se o espírito. O Pico é assim. Um amontoado de emoções espontâneas, imprevisíveis. Um mundo de contrastes e enigmas. Sobretudo de enigmas, por vezes contraditórios. De manhã chuva de inverno, à tarde sol de verão. Ontem vento norte, hoje vento sul. Montanha descoberta e logo a seguir um nevoeiro cerrado até ao casario. Ontem o mar manso, hoje revolto. Sol de rachar em São Caetano, aragem fresca e brumosa na Madalena. No meio desta panóplia de enigmas impõe-se o regresso à vila. Ao porto chega o ferry vindo do Faial. O cais de embarque a abarrotar de pessoas, de carros, de movimentos, de luz e de cores. O cais, ponto de partida e de chegada. Para a partida fervilham pequenas embarcações à espera dos que sonham, talvez amanhã, com a aventura de observar baleias ou golfinhos. Para a partida carregam-se malas, trocam-se abraços, evadem-se emoções. Mas já não há homens de albarcas, chapéus de palha e calças de cotim a soltar as amarras perdidas e desgastadas pelo tempo, nem mulheres de avental de chita e lenço de merino, com cestas de fruta à cabeça. Na chegada arrastam-se sobre o pedregulho dezenas de barcos que durante a madrugada e a manhã se embalaram, ao sabor das ondas, na pesca do chicharro, das cavalas, das abróteas, das garoupas e dos bocas-negras, ou as traineiras que perseguem pesqueiros mais distantes na busca de bonitos e albacoras.

Lá ao fundo o Faial a espreguiçar-se sob uns tímidos raios de Sol a descaírem para os lados das Flores. Atrás a enorme e altíssima montanha do Pico, ravinada de lava, aspergida com salpicos de nuvens e envolvida por um clarão de imponência e singularidade. No meio, a separar as duas ilhas, o mar, azul, coroado com ondas de sonho e respingos de fascinação.

Como é tão igual e tão diferente este Pico de hoje e o Pico de ontem. Este Pico de enigmas e mistérios.

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A CIDADE DO VINHO

Sexta-feira, 28.04.17

(TEXTO DE MANUEL AZEVEDO)

 

Sou picoense. Vibro com os sucessos da minha ilha (poucos), entristeço-me, quando as coisas não correm bem. Alem disso, sou natural do concelho da Madalena. Os mesmos sentimentos. Por isso, fiquei triste quando vi aquela maresia entrar por terra dentro, sem avisar, destruindo, total ou parcialmente, estruturas públicas e privadas, um pouco por toda a parte. Talvez os não residentes, como eu, o sintam mais… Poucos dias depois, a Madalena fez festa e da rija, (o que me fez vibrar) para comemorar a recente eleição como “Cidade do vinho de 2017”, feita pelas suas pares da Associação de Municípios Produtores de Vinho (AMPV) e comemorou-o com a inauguração do novo auditório, que veio trazer à Madalena e ao Pico uma sala, dotada de múltiplas valências tecnológicas que permitirão diversíssimos espectáculos. Dizem-me que é uma sala que vem trazer ao Pico possibilidades que, antes, não tinha. Dizem-me, também, que a festa foi bonita e digna. Por mim, vou-me contentando com o que vejo nas redes sociais. Mas, nada como estar presente, fisicamente. Talvez o que me orgulhou mais foi a Madalena fazer a sua vida normal, uns dias depois do desastre. Ah! Valentes!

Durante todo o ano, se vai comemorar “a cidade do vinho”: Li duma enoteca itinerante e outros acontecimentos. Seria bom e conveniente que os privados se associassem, para não ser só a autarquia. A produção é quase só deles. Em quantidade e qualidade. A internacionalização do vinho do Pico começou há muitos séculos (fala-se muito dos czares) e continua, hoje. A presença da Adega Cooperativa na recente feira de vinhos de Dusseldorf, uma das maiores do mundo, é disso testemunho.

Felizmente, hoje, com a ajuda da União Europeia e do Governo Regional estão a reconverter-se vinhas e a redescobrir-se currais, canadas, geirões, os tais muros que, segundo estudioso, davam duas vezes a volta à terra. Quando os nossos antepassados abandonaram as vinhas, por não terem apoios e porque não estavam para trabalhar para aquecer, não imaginavam que, uns tempos depois, se descobrissem os terrenos que, por causa do abandono, se cobriram de faias, incensos, silvas e outras mondas. Só quem observa de avião ou, mais modernamente, através de drones, é que pode ver o “antes e depois”. Há, ainda, áreas cobertas de mondas, mas também já há muitas campinas com os antigos muros descobertos, construídos com um labor insano pelos nossos antepassados, para proteger as vinhas, que despontavam por entre lava solidificada e biscoitos, do rocio do mar e das ventanias. Quem assim vê, é que pode avaliar.

O meu aplauso para a Comissão Vitivinícola Regional que quer reconverter a vinha em toda a ilha do Pico, apesar de ser na Madalena a maior extensão, e em todos os Açores, onde há núcleos que a cultivam.

Não pretendo fazer a história da introdução da vinha no Pico. Dizem que foram os franciscanos… De facto, há vestígios deles por todos os cantos. Os frades carmelitas, também, andaram por aí. Testemunha-o o Museu do Vinho, instalado num antigo convento carmelita.

Não se fez festa quando, em 2004, a Paisagem Protegida da Vinha foi considerada pela Unesco, Património da Humanidade. Talvez, com medo das responsabilidades que isso traria. Mas o que segue é que ela aí está para gozo dos residentes e dos muitos turistas que a visitam. Alguns, só por causa disso. Orgulho dos picoenses, porque, por todo o mundo, se fala dela. A consciência ambiental que isso criou, no sentido de perseverar o que é nosso, é digna de registo.

Tudo isto dá um caldo comercial invejável. Que o digam os comerciantes.

Um toque pessoal: fui criado no meio de vinhas e de vinho: vinho tinto e da madeira (uma espécie de rosé, bem graduado). Esta era a terminologia da altura. Meu pai, um produtor da freguesia, também, abandonou vinhas, pelas razões acima, mas continuou a cultivar muitas outras.

Um brinde à Cidade do Vinho 2017. Um licoroso fica bem, aqui!

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CORTINADO AZUL

Quarta-feira, 26.04.17

Era um fim de tarde de um amarelado dia de outono. O céu, porém, estava azul, muito azul. Há muito que ela saíra de casa. Os cães ladravam, havia folhas caídas no chão e de algumas chaminés, ao redor saíam fumos trémulos, frágeis. Um silêncio perfumado a madressilva e a alecrim envolvia a casa deserta. Voltada a oeste a janela mágica, fechada e forrada com um cortinado azul.

Consta que os cortinados chegaram à Europa vindos do Oriente e do Egito onde abundavam cortinas e tapetes para decorar janelas e paredes dos palácios de reis, de imperadores e de faraós.

Há quem diga que na Europa, a primeira vez que se usaram cortinados na decoração das janelas foi num casamento da realeza britânica, na Abadia de Westminster, no século XIII. O uso generalizou-se e tornou-se vulgar nos nossos dias.

Nada pois de estranhar que aquela janela voltada a oeste tivesse um cortinado. O que mais intrigante e enigmático se impunha era descobrir a razão de ser da cor daquele cortinado - azul.

A cor azul significa tranquilidade, serenidade e harmonia, mas também está associada à frieza, monotonia e depressão. Simboliza a água, o céu e o infinito. O azul é também a cor da realeza e da aristocracia, uma e outra a possuírem sangue azul. O azul é considerado uma cor fria, a mais fria entre os tons frios de azul, verde e violeta. Liturgicamente é a cor atribuída à Virgem Maria que também em muitas das suas imagens se apresenta de manto azul. Mas a cor azul também é utilizada na decoração dos mais variados espaços e o mais curioso é que se acredita que um ambiente azul favorece o exercício intelectual, tranquiliza o espírito, enobrece a alma, fortalece o carácter e fortifica o amor. E esta será, muito possível e inequivocamente, a razão por que aquela janela plantada entre as brumas matinais, entre o resfolgar da lava, entre o silêncio dos pedregulhos, entre o perfume do alecrim e da madressilva, ornada de folhas amareladas no outono e de flores vermelhas na primavera estava adornada com um cortinado azul.

 

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A EXCELÊNCIA DA PAZ

Terça-feira, 25.04.17

 

“Se colocares numa parte da balança as vantagens e na outra as desvantagens, perceberás que uma paz injusta é muito melhor do que uma guerra justa.”

 

Erasmo de Roterdão

 

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BLOGUES VERSUS LIVROS

Segunda-feira, 24.04.17

Ontem, dia 23 de Abril, celebrou-se o dia nacional do livro. Como é óbvio, por toda a parte fez-se o apanágio do livro e da leitura, encenaram variadíssimas celebrações e propuseram estratégias dinâmicas a apelativas à leitura com suporte no papel. A data celebra uma das invenções mais enriquecedoras do ser humano: o livro! Na verdade o livro pode ser e foi durante muitos anos uma fonte inesgotável de conhecimento, transportando os leitores para os lugares mais espetaculares da imaginação humana, além de informar e ajudar a diversificar o vocabulário das pessoas. Os livros surgiram há centenas de anos, quando Gutemberg inventou a prensa móvel que lhe permitiu imprimir o primeiro livro, a Bíblia. A partir de então, começaram a surgir diversíssimos livros maravilhando as gerações com contos fantásticos e registrando os principais acontecimentos da história da humanidade. Simultaneamente o número de leitores crescia de forma galopante
Com o surgimento da Internet a leitura terá decrescido. Na verdade, hoje, sobretudo para os jovens existem alternativas mais motivadoras para a leitura. Incluindo de obras literárias. Outra alternativa são os blogues que proliferam em enormíssima quantidade.
No último ano, o blogue que criei e no qual publico textos quase diariamente teve uma média diária de visualizações e, consequentemente de leituras, de 40, nos últimos seis meses de 45, nos últimos dois meses de 60 e nos últimos trinta dias de 83. Ontem esse número desceu para a média dos últimos seis meses, 45.
Não creio que nenhum livro que escrevesse, por melhor que fosse, tivesse um número de leitores próximo destes valores. É verdade que algumas das visualizações não serão sinónimos de leitura, pelo que os reduziria, exageradamente, em 50%. Mesmo assim ficaria com um número de leitores diários que fariam inveja a qualquer livro editado em papel.
Como ontem disse alguém, é provável que num futuro não muito distante, o livro seja uma autêntica peça de museu.

PS - Ontem, ou seja no dia em que foi postado este texto, o número de visitantes do Pico da Vigia 2 foi de 77! Uau!

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HORTINHAS DA CUADA

Domingo, 23.04.17

Hortinhas da Cuada era um minúsculo lugarejo da Fajã Grande, obviamente não povoado, situado lá para os lados da Cuada, mais concretamente entre Santo António e o único lugar povoado a sul da Fajã, a Cuada, que assim contribuía para o seu nome. Esta zona, desde o Delgado à Cuada, era aquela onde existiam as melhores e mais férteis hortas da freguesia e onde se produzia muita fruta, sobretudo maçãs. A ele se refere contista e reitor do Mosteiro, Nunes da Rosa, quando num dos seus contos que integram o “Pastoraes do Mosteiro” narra as vindas à Fajã Grande, por altura da Senhora da Saúde, de muitos peregrinos e romeiros que vindos de outras freguesias paravam naquelas famosas hortas para apanhar e comer saborosíssimas maçãs.

Situado para além das Hortas da Cuada este lugar era um sítio ermo, esconso e distante do caminho e a ele tinha-se acesso por uma canada ladeada por frondosas faeiras e altíssimos incensos que lhe davam um ar cavernoso, desfrequentado, sombrio e, aparentemente, tenebroso. As terras ali existentes eram poucas, a maioria de mato à mistura com uma ou outra pequena horta, de onde muito provavelmente derivava o topónimo.

As Hortinhas da Cuada, situadas lá bem escondidas ente Santo António, o Delgado, a Cuada e as Hortas da Cuada, permanecem hoje apenas como um lugar mítico e adormecido, decerto perdido, não apenas no espaço mas também e sobretudo no tempo e talvez mesmo na memória de muitos dos que, nos longínquos anos cinquenta, por ali passavam, na apanha de fruta, de incensos para o gado, de lenha para o lume ou a ceifar os fetos e a cana roca que proliferavam entre aquele denso e luxuriante arvoredo.

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OBRIGADO

Sábado, 22.04.17

 

A todos aqueles que no dia de ontem e também no de hoje tiveram a gentileza de me felicitar e dar os parabéns por mais um aniversário, o meu sincero e sentido obrigado.

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VELHICE

Sexta-feira, 21.04.17

 

Afinal,

bem vistas as coisas,

a velhice é um dádiva,

um dom

que não é concedido a todos.

 

Há que aproveitá-la!

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A ILHA DAS FLORES

Quinta-feira, 20.04.17

A Ilha das Flores, a qual nunca é de mais referir, referenciar e louvar, situa-se no Grupo Ocidental do arquipélago dos Açores, sendo a maior das ilhas que compõem aquele Grupo. Ocupa uma área de 141,7 km², na sua maior parte constituída por terreno montanhoso, caracterizado por grandes ravinas e gigantescas falésias. O ponto mais alto da ilha é o Morro Alto, a 914 m de altitude. Atualmente, a população residente é de, aproximadamente, 3 990 habitantes, repartidos pelos dois concelhos da ilha: Santa Cruz e Lajes das Flores. A ponta da Coalheira no baixio da Fajã Grande é o ponto mais ocidental da Europa. A ilha das Flores é considerada por muitos dos seus visitantes e admiradores como uma das mais belas do arquipélago, cobrindo-se, habitualmente, de milhares de hortênsias de cores azul, branca, rosa e violeta, que, formando bardos, dividem os campos ao longo das estradas, nas margens das ribeiras e lagoas.

As ilhas do Grupo Ocidental do arquipélago dos Açores, ou seja, as Flores e o Corvo terão sido descobertas ou reencontradas por volta de1452, quando do retorno da viagem de exploração de Diogo de Teive e seu filho, João de Teive, à Terra Nova. No início do ano seguinte, el rei de Portugal D. Afonso V fez a doação das ilhas de "Corvo Marini" (Designação das Flores e Corvo) ao seu tio, Afonso I, Duque de Bragança. Nesse documento de doação não é mencionada a ilha das Flores, uma vez que, à época, não tinha um nome ou melhor tinha um nome conjunto com a vizinha ilha do Corvo. Entretanto era esta a ilha doada, uma vez que a do Corvo era, à época, considerada apenas um ilhéu anexo à primeira. As ilhas seriam posteriormente doadas ao Infante D. Henrique, Mestre da Ordem de Cristo, que, em seu testamento, as nomeia como ilha de São Tomás e ilha de Santa Iria. Com a morte do Infante, as ilhas passam para o Infante D. Fernando, Duque de Viseu.

 A atual toponímia "Flores", em uso desde em 1474 ou 1475, deve-se à abundância de flores de cor amarela ("cubres") que recobriam a costa da ilha, cujas sementes possivelmente foram trazidas por aves migratórias desde a península da Flórida, na América do Norte.

 

NB – Alguns destes dados foram retirados da Net.

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DOCILIDADE E NOBREZA DE CARÁCTER

Quarta-feira, 19.04.17

Natural duma freguesia originada de uma pequena localidade povoada desde o longínquo ano de 1470, nos primórdios do povoamento da ilha Terceira, numa encosta sobranceira ao mar e construída sobre a lava basáltica expelida por sucessivas erupções vulcânicas, foi aí também que concluiu o ensino primário, após o qual demandou a ilha do Arcanjo, em 1958, frequentando o Seminário de Santo Cristo. Dois anos depois regressou à Terceira, realizando a sua formação académica no Seminário de Angra, abandonando os estudos já em pleno curso de Teologia. No Seminário revelou-se sempre um jovem duma docilidade extraordinária, de uma nobreza de carácter excepcional, pautando a sua vida estudantil por uma simplicidade de costumes, uma grandiosidade de boas maneiras, estampadas no seu ar jovial, simples, terno, meigo e amigo de todos. Evitava envolver-se em confusões mas ajudava a sanar conflitos, rodeava-se de silêncios mas aconselhava com lealdade, abrandava tempestades e impunha-se na defesa dos mais fracos. Aluno, estudioso, trabalhador, cumpridor dos seus deveres, fiel às suas obrigações, respeitando colegas e professores, impôs-se como verdadeiro arquétipo de “bom seminarista” e exemplo para os outros. Todas estas e muitas outras qualidades fizeram com que fosse indigitado para o cargo de monitor.

Exerceu a sua actividade profissional na área das telecomunicações, fixando-se em São Miguel, deslocando-se, frequentemente em trabalho, a todas as outras ilhas. Trabalhou nos Correios, Telégrafos, Telecomunicações e Televisão, revelando-se sempre um profissional honesto, competente, digno e trabalhador. Agora reformado, vive na freguesia de São José, na cidade de Ponta Delgada, na ilha de São Miguel.

Por tudo isso chegou ao “Encontro” transportando aquele silêncio eloquente e comunicativo com que sempre nos brindou. Espicaçado por abraços e saudações, sacudido por frémitos de alegria e saudade, começou a aspergir sorrisos de uma enorme bondade, desvelos de uma grandeza de alma, manifestações de uma dignidade de vida e duma honestidade de costumes. Aqui e além, numa rua da cidade ou num banco da Praça Velha, logo no primeiro dia, na solidez perdurada das suas cãs, como que se assenhoreou do silêncio para acirrar o diálogo. Envolto num manto de sobriedade, impondo-se numa silhueta alta, imponente e elegante, afirmava-se, permanentemente, na doce confrontação da sua hombridade. Conversava, recordava, sorria e até adivinhou que o Encontro havia de ser o sublime extremar de muitas vivenças, de muitos sentimentos e o solidificar de muita amizade. Por isso participou em tudo, envolveu-se em todas as actividades, imiscuiu-se em todos os eventos, jogou futebol, passeou pelas ruas de Angra, cantou e ajudou-nos a recordar a memória dos mortos. Por tudo isso, foi mais um dos “Senhores” do Encontro.

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OS ORATÓRIOS

Terça-feira, 18.04.17

Em tempos idos, na Fajã Grande, à noite, antes de se deitar, era costume em muitas casas a família juntar-se para rezar o terço ao qual se seguiam outras orações, geralmente Padre Nossos e Avé Marias pedindo a Deus ajuda e proteção para os familiares vivos e o descanso eterno dos que já haviam falecido. Geralmente era o pai e no caso dos homens menos devotos a mãe que presidia às orações. Em muitas casas, era junto a um oratório que se faziam estas orações.

Os oratórios, geralmente, eram herdados de pais, avós e bisavós e eram guardados, com muito respeito, em cima da mesa da sala, pelas pessoas mais antigas chamada casa de fora, para distinguir da cozinha onde a família permanecia sempre que os seus membros estavam em casa, quando ainda não deitadas. Quase todas as casas tinham os seus oratórios com os santos da sua devoção, onde não faltava um cruxifixo. O cruxifixo, guardado no oratório tinha um simbolismo muto grande, porquanto para além de uma herança especial e muita antiga, havia sido colocado nas mãos de pais, de avós, de bisavós e de outros parentes na hora da morte.

Estes oratórios eram pequenas caixas de madeira, com a tampa da frente em vidro. Por vezes com a forma de porta. Muitos deles, apesar de pequenos eram muito bonitos uma vez que reproduziam a estrutura de pequenos altares de igrejas barrocas. Outros eram forrados de tecidos ou de veludo e tinham desenhos e flores. Eram pois peças muito interessantes, uma espécie de relicário onde se guardavam os símbolos da devoção das famílias que os possuíam. Para além do cruxifixo que não faltava em nenhum oratório, geralmente colocado na parede traseira, os oratórios continham várias imagens de santos de devoção familiar. Mas as imagens que predominavam eram as Nossa Senhora, nomeadamente a Senhora do Carmo, a Senhora do Rosário, a senhora da Conceição e a Senhora da Saúde. Os santos mais comuns para além do Coração de Jesus e de S. José eram São Francisco, Santo Amaro, São Pedro e Santa Rita. Alguns oratórios também guardavam pequenas coroas do Espírito Santo, terços, medalhinhas de santos, escapulários da Senhora do Carmo, cordão de São Francisco e folhetos com orações. Ao lado do oratório geralmente eram colocadas fotografias sobretudo de familiares que haviam partido para a América.

Lamentavelmente a maioria destas simples e pequenas mas simbólicas peças representativas da religiosidade popular ter-se-ão, como tantos outros utensílios domésticos antigos, perdido por completo no tempo, no espaço e na memória de muitos.

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ROMANCE

Segunda-feira, 17.04.17

(POEMA DE PEDRO DA SILVEIRA)

 

 

- Ti Antonho Cristove conte

aquele causo da viagem,,,

 

Os olhos do velho brilham.

 

Isso foi há tanto ano,

dantes do “navio do açucre”…

A barca do capitão Fidalgo chego

e os verdes imbarcaro.

 

A noite era escura e fria

e a ronda andava por perto.

 

Mar.

Mar para todos os lados.

E as ganhoas piando

dentro do nevoeiro.

 

A ilha ficou para lá do horizonte

com uma lágrima quente de saudade.

 

Depois…

 

Nas horas longas da vigia

Antonho Cristove subiu aos mastros.

Trancou baleias em todos os mares

 - nas águas frias do Ártico,

no mar quente do Pacífico.

 

E lembra aquele raituel

que um dia virou a canoa

e matou um rapaz do Corvo.

 

(Sangue da baleia,

sangue do marinheiro morto

tingindo o mar.

 

Lágrimas de marinheiros

juntam-se ao mar.)

 

Antonho Cristove

tripulante de todos os veleiros

correu todos os oceanos,

conheceu os portos todos,

soube a fúria dos tufões

e as calmarias do Golfo.

 

… e ficaram marcadas no corpo

raivas de capitães americanos,

de capitães açorianos,

de capitães de Cabo Verde…

 

A ilha sempre dentro em si

e a esperança de voltar.

 

Uma fuga em cada porto

e outra barca em que embarcar…

Mulheres de toda-a-gente

nas quatro margens da Terra…

 

Companheiros de aventura,

há tanto tempo os perdeu:

águas do mar os levaram,

terra da terra os cobriu.

 

Ti Antonho Cristove conta a sua vida

e os seus olhos descurados

olham ainda p’ra o mar

num jeito de quem navega

 

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AS SETE ESPADAS DE DORES DE MARIA SANTÍSSIMA

Sábado, 15.04.17

Segundo uma crença popular religiosa, em revelações a Santa Brígida, a Virgem Maria, mãe de Jesus prometeu conceder Sete Graças a quem rezar, todos os dias, Sete Ave-Marias em honra das suas Dores e Lágrimas. Por sua vez o poeta brasileiro Joaquim Batista de Sena, nascido no dia 21 de maio de 1912, em Fazenda Velha, do termo de Bananeiras, escreveu o poema em epígrafe claramente inspirado no romance de Pérez Escrich, notadamente na passagem que o poeta e escritor espanhol relata o encontro da Sagrada Família com Dimas, o bom ladrão, nos desertos das Judeia. Na Fajã Grande as pessoas mais antigas também haviam tido como herança esta crença, rezando nestes dias de semana santa orações adequadas. Aqui o reproduzo o poema de Joaquim Batista de Sena:

 

Inspirai-me ó Virgem Pia
Mãe de Deus, mãe amorosa
Para em poema versar
A coroa dolorosa
E ver se colho uma lágrima
Da pessoa impiedosa.

Quem subir o pensamento
Vai do Gólgota observando
Jesus pregado na cruz
A sua vida ultimando
Maria ao pé do lenho
Seus tormentos contemplando.

Os tormentos de Jesus
São os mesmos de Maria
Quando furavam seu filho
O seu coração feria
Ele sofria no corpo
Ela na alma sofria.

E não foi só no Calvário
Aquelas lágrimas sentidas
Mas toda a sua existência
Foi de dores comovidas
Era uma sobre a outra
Como ondas embravecidas.

A primeira dor foi quando
Jesus Cristo foi à pia
Que o velho Simeão
Tomou ele de Maria
E com a profetisa Ana
Declarou-lhe a profecia:

- Senhora, esse vosso filho,
Disse o velho Simeão
Será para vós motivo
De lágrimas, dor e paixão
E por ele, sete espadas
Transpassam o teu coração.
(...)

A segunda dor foi quando
Veio um anjo lhe avisar
Que fugisse para o Egito
E deixasse o seu lugar
Que Herodes o perseguia
Para o menino matar.

(...)

 

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SOFRIMENTO

Sexta-feira, 14.04.17

“Não existe triunfo sem perda, não há vitória sem sofrimento, não há liberdade sem sacrifício.”

(O Senhor dos Anéis)

J.R.R. Tolkien

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A FAJÃ GRANDE PERTENCEU AO CONCELHO DE SANTA CRUZ

Quinta-feira, 13.04.17

Em 1895, pelo decreto de 18 de Novembro foi extinto o Concelho das Lajes, pelo que a Fajã Grande, assim como as restantes freguesias deste concelho passaram a integrar o de Santa Cruz. Em tempos idos, antes da criação da freguesia da Fajã Grande, o lugar da Ponta pertencente à freguesia de Ponta Delgada também estivera na dependência daquele concelho.

Na verdade já em 1869, o celebérrimo Governador Santa Rita opinava que a ilha das Flores não comporta a existência de dous municipios, e que, no caso da ilha do Corvo, uma administração parochial é quanto basta àquelles povos. A profecia havia de cumprir-se, até porque, quatro anos depois, a própria Câmara de Santa Cruz propunha a extinção do Concelho das Lajes.

De facto, a extinção do Concelho a que sempre pertenceu a Fajã Grande aconteceu em 1895, pelo decreto de 18 de Novembro, publicado no Diário do Governo do dia seguinte, que suprimiu, entre outros, os concelhos de Lajes das Flores e do Corvo. Cuida-se que esta decisão terá sido influenciada pelo pedido que, na verdade, a Câmara Municipal de Santa Cruz, na época, sob a tutela de membros do partido regenerador, dirigiu ao Governo, visando a supressão do concelho vizinho.

Mas não durou muito o tempo em que os habitantes da Fajã Grande para tratar dos seus assuntos relacionados com a edilidade rumaram a Santa Cruz, uma vez que o poder político em Portugal mudou de partido e, a 13 de Janeiro de 1898, foram restaurados os concelhos anteriormente destituídos, incluindo o das Lajes das Flores. A Fajã Grande voltou a integrar o seu concelho de origem, pese embora conste que a população da Fajã Grande, manifestaram interesse em continuar a integrar o concelho de Santa Cruz, uma vez que a deslocação àquela vila, realizada pela subida da rocha e depois por um caminho existente no interior da vila, se tornava mais fácil do que o trajeto que tinham que percorrer para se deslocarem às Lajes, obstaculizado sobretudo pela travessia da Ribeira Grande, sem ponte e, por vezes, com um caudal intransponível.

Segundo o seu site oficial, em sessão de 17 de Março do mesmo ano, a Câmara Municipal de Lajes exarou um voto de louvor ao Ministro do Reino, pela restauração do seu Município, cuja autonomia era reclamada pelos povos em geral de todo o Concelho, e deliberou que o largo d'esta Villa chamado Largo do Município passasse a ser chamado Largo do Ex.mo Conselheiro José Luciano de Castro.

 

NB – Dados e citações retiradas do Site Oficial da CMLF

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SOL DE ABRIL

Quarta-feira, 12.04.17

“Sol de abril quem o vir abre a mão e deixa-o ir.”

 

Adágio muito utilizado, antigamente, na Fajã Grande, no sentido real e somente a querer significar que no mês de abril o sol ainda não aparecia em todo o seu esplendor e, além disso, era sol de pouca dura. O desaparecer do sol, em abril era tão rápido como o abrir ou fechar de uma mão.

Na verdade, abril, embora já em plena primavera, o sol era raro pois este ainda era um mês de inverno, ensombrado e de chuva, por vezes de mau tempo, por isso também se dizia em abril águas mil.

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A BALEAÇÃO DA CRIANÇADA

Terça-feira, 11.04.17

As crianças, geralmente, imitavam nas suas brincadeiras as atividades a que se dedicavam os adultos. Era assim com a pecuária, com a agricultura e, também com a baleação.

A brincadeira da baleação iniciava-se com a construção dos botes e da lancha feitos de cana mas que eram em tudo semelhantes aos dos adultos, aos da verdadeira baleação. As canas proliferavam por ali e eram apanhadas no Outeiro, junto à Cruz ou na ladeira do Fernando. Num ápice a frota estava pronta. Duas canas amarradas em ambas as extremidades com fios de espadana, três ou quatro canas mais pequenas mas com tamanhos diferentes e cortadas em bico nas extremidades eram encaixadas nas duas canas iniciais, a maior ao centro e as outras a decrescerem para a ponta e para a ré, dando-lhes forma de um bote. Selecionada a companha, o mestre aplicava na ré uma cana a fazer de esparrel enquanto o trancador desfiava uma espadana e, amarrando os fios uns nos outros, fazia um cordão ao qual amarrava o arpão, ou seja, uma outra cana de ponta bem afiada e presa, na parte posterior, à proa do bote. Os restantes encadeavam canas de um e outro lado do bote a simular os remos. A lancha, a que era dado o nome de “Leta” ou “Maria Palmira” ou “Santa Teresinha” era em tudo semelhante aos botes mas sem esparrel. Tinha uma lança em vez do arpão e era quadrada à ré, tendo como tripulação, se a miudagem fosse pouca, apenas um tripulante que fazia simultaneamente de mestre, maquinista e proeiro. Os que não tinham lugar nas embarcações, geralmente os mais pequenos ou os menos creditados na arte estavam condenados a fazer de baleias. Destes havia um que no início desempenhava o papel de vigia. Como ficava sem fazer nada, logo após o atirar do foguete transformava-se em baleia. O mar era a Rua Direita, junto ao chafariz de duas bicas, e o porto, onde a frota estava parada e donde partia logo que o foguete rebentasse, era o pátio da Casa de Espírito Santo de Cima.

Por sua vez as baleias percorriam a rua de cócoras, depois de encherem a boca com água nas bicas do chafariz. Logo que a primeira baleia se pusesse em pé, isto é, viesse à tona de água e bufasse o jato de água, o vigia encavalitado em cima do chafariz atirava o foguete, lançando para o ar uma pequena cana ou uma vara ou, por vezes, até um jacinto arrancado num quintal qualquer ali perto, acompanhado de um enorme e estrondoso “fsset pum, prá, prá, prá” se fosse cardume ou um simples “fsst pum” se fosse uma só baleia. De imediato toda a companha corria para os seus botes a gritar “Baleia à vista! Baleia à vista!”. Entravam nos botes, ocupavam os seus postes e lá seguiam atrelados à lancha ou a remar sozinhos para o alto mar, ou seja para o sítio onde estavam as baleias. Estas andando de cócoras, a simbolizar que estavam debaixo de água, com a boca cheia de água lá se iam levantando e bufando de vez em quando mas deviam fazê-lo com tal agilidade, rapidez e performance que dificultasse ao máximo a ação do trancador, evitando que este lhes acertasse. É que o trancador só podia atirar o arpão às baleias que estivessem em pé e a bufar. As regras no entanto exigiam que estas o fizessem frequentemente e corressem para o chafariz, voltando a encher a boca de água, logo que a esvaziassem.

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FLORÊNCIO TERRA

Segunda-feira, 10.04.17

Florêncio José Terra nasceu na Horta, em 18 de maio de 1858, tendo falecido na mesma cidade em 25 de novembro de 1941. Foi professor, jornalista e contista. Estudou no Liceu da Horta e depois partiu para Lisboa, matriculando-se na Escola Politécnica, mas a morte inesperada do pai obrigou-o a voltar à Horta. Foi professor no liceu desta cidade primeiro de Introdução à História Natural e depois de Matemática, e reitor interino-

Foi um dos fundadores do Grémio Litterário Fayalense e também Presidente da Câmara Municipal durante alguns escassos meses.

Como jornalista colaborou, assiduamente, com quase todas os periódicos do seu tempo. Começou como redator do semanário literário A Pátria e continuou em O Atlântico no Grémio Litterário, Telégrafo e Correio da Horta. Foi no diário O Açoriano e no semanário literário O Fayalense que mais se evidenciou, recorrendo, geralmente, ao uso de pseudónimos. Também colaborou em periódicos do continente.

Aos 23 anos publicou o primeiro conto, A Varinha, no Grémio Litterário mas, quando morreu, a sua obra estava dispersa por jornais e revistas dos Açores e do Continente. Entretanto, foram publicados Contos e Narrativas com prefácio de Osório Goulart, Natal Açoreano, Munhecas. Água de Verão e a antologia Às Lapas. Deixou também o romance O Enjeitado, o drama Luísa e a comédia Helena de Savignac.

Para Greaves, seu contemporâneo, «a actividade mental de Florêncio Terra inclina-se para o conto descritivo, ou emotivo: uma tragédia por tempestuosas noites nas costas dos Açores, com o céu baixo e o perigo constante; ou as cenas da vida campestre, com folguedos e risos de lábios vermelhos. Neste género tão delicado, Florêncio Terra é, indubitavelmente, o nosso primordial artista da pena».

Cultor do conto idílico e prosador fluente, Terra foi sempre destacado pelos críticos. Na vida do povo, do Faial e do Pico, encontrou temática para a sua obra ficcionista. Interessa lembrá-lo como individualidade de renome nas letras, digna de figurar na história da literatura portuguesa. Tentou o romance e o teatro, mas foi no conto que se impôs, como se pode verificar em Contos e Narrativas que contém as suas melhores produções. Segundo Rosa «Os seus contos, dentro dessa corrente, inspiram-se por norma em motivos campesinos, regionalistas. Perpassa neles o povo com a sua alma bondosa e simples, os seus costumes, a sua existência plena de alegria ou de sofrimento. Alguns constituem perfeitos quadros da vida aldeã, que deixam no espírito dos leitores uma viva sensação de paz campestre. Destaque, entre outros contos, para A debulha, Vida simples, Tão velha, Tua, tua, mas a casar e Margarida amor fiel. Em História de um pequeno trabalhador Florêncio Terra descreve um ambiente de trabalho e pobreza, de aflição e luto, um drama que nos emociona e confrange. Em Vingança sentimo-nos chocados pela atitude indiferente do egoísmo e da injustiça perante a angústia dos que padecem inocentemente».

Foi obreiro da Loja maçónica *Amor da Pátria.

Em Novembro de 1987, por ocasião do 47.º aniversário da sua morte, a Câmara Municipal da Horta homenageou-o descerrando uma fotografia sua no salão nobre dos paços do concelho e editando uma medalha comemorativa. Alguns anos antes, em 30 de Abril de 1958, aquela Câmara havia decidido atribuir o nome Jardim Florêncio Terra ao então denominado Jardim Público. A mesma Câmara criou um prémio literário com o seu nome. Luís M. Arruda

Dados retirados do CCA – Cultura Açores

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MOINHOS DE MÃO

Domingo, 09.04.17

Os antigos moinhos de mão açorianos, muito comuns nas Flores e mais concretamente na Fajã Grande eram feitos de pedra basáltica e constituídos por duas peças talhadas manualmente na própria pedra. Uma era mó, de forma redonda e com um olho ou buraco, no meio, sobre o eixo central por onde se deixava cair o grão de cereal que se pretendia moer. Esta mó, sob a forma de tampa gigante, tinha encastoado, próximo do bordo exterior, um manípulo de maneira, destinado a ser manipulado, imprimindo, assim, o movimento, mais ou menos rápido, à própria mó. A segunda peça, sobre a qual assentava a mó, era uma espécie de base fixa e, obviamente também redonda, com um rebordo ligeiramente mais alto do que a mó. A base sobre a qual rodava a mó, tinha uma pequena falha ou rebordo num dos lados, sob a forma duma pequenina rampa e através da qual a farinha, depois de moída saía. Uma terceira peça que não fazia parte da estrutura do moinho era a destinada a recolher a farinha, sendo que muitas vezes se usava um saco ou, simplesmente um pano.

Estes moinhos comuns em muitas casas, dado que a farinha que moíam ficava bastante grossa, na Fajã Grande eram usados geralmente para moer o milho quando ele ainda não estava bem amadurecido ou seco. Era com esta farinha que se faziam as chamadas papas grossas que comidas quentes com o leite, ou simplesmente frias e às talhadas eram saborosíssimas. Havia também quem, quando frias as comesse cobertas com o leite a ferver ou até fritas. Era sobretudo nos dias anteriores à apanha do milho que se recorria a este apetitoso manjar.

Moer no moinho de mão era tarefa das mulheres que, muitas vezes pediam ajuda às crianças, a fim de irem lentamente deitando o milho no buraco da mó, enquanto a mãe ou a irmã ou outra mulher ia rodando a mó, por vezes um pouco pesada.

Consta que no início do povoamento das ilhas, antes dos moinhos de água estes equipamentos domésticos terão sido de grande importância. Uma vez que ainda não existiam os moinhos de água ou de vento, era a eles que se recorria para moer os cereais, nomeadamente o trigo, muito utilizado nos primórdios do povoamento açoriano. Mesmo mais tarde, já com o funcionamento daqueles moinhos, as famílias mais pobres recorriam ao seu uso, obtendo, assim obter a farinha sem o encargo de pagar a maquia ao moleiro ou outos impostos.

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SALADA NOSSA DE CADA DIA

Sábado, 08.04.17

(TEXTO DE “DA NOVA NO MUNDO)

O que é que nos deu, enquanto seres humanos que gostam de ir a restaurantes, para desprezar ou ignorar a parte da carta que diz “saladas”? Bem sei que as nossas mães e avós sempre nos ensinaram que não é boa ideia comer saladas fora de casa, porque nunca sabemos se os vegetais e legumes são lavados com o brio que só elas teriam. Há também quem diga que é um desperdício de tempo, dinheiro e apetite ir a um restaurante para comer saladas.

Ora, eu estou no extremo oposto de tudo isto. Quem me conhece sabe que viveria bem se apenas pudesse comer saladas e – aqui me confesso – são a primeira coisa que procuro numa ementa (depois vêm as sobremesas, claro). Para vos mostrar que as saladas podem e devem ser uma opção viável, sobretudo no tempo mais quente, decidi fazer-vos o roteiro de uma semana a comer uma salada (fora de casa) por dia.

As segundas-feiras conseguem ser penosas, por isso nada melhor do que as saladas e a vista do Cais da Pedra para nos animar. O menu não tem muita variedade (umas quatro, no máximo), mas cada uma delas tem o seu encanto. Fresca, adocicada e leve, assim é a Salada de Morangos e Queijo de Cabra que, neste momento, é a minha favorita deste restaurante.

Já que estamos pela zona, por que não fazer check-in no DeliDelux? Antes de chegarmos ao balcão ou à esplanada, o mais certo é que nos percamos no meio dos corredores da mercearia gourmet. Bem sei que o espaço é mais conhecido pelo brunch, mas o que me dizem a uma Salada de Legumes Assados, com Ras el Hanout e Queijo Chèvre? Prometo que não vão ficar com fome.

Quem conhece o Noobai, ali no miradouro do Adamastor, sabe perfeitamente que é o sítio ideal para fugir da realidade – pelo menos durante a hora de almoço. O espaço convida a refeições leves e é ali que podem encontrar uma das melhores versões de um clássico – a Salada Grega. Esta tem dois pequenos twists: leva edamame e acompanha com um molho de framboesas que faz toda a diferença. É tudo uma questão de esperar que as obras de remodelação do café estejam terminadas, o que deve acontecer no início de Abril.

Chegamos a outro dos meus sítios favoritos, onde as saladas conseguem sempre surpreender. Isto porque, a cada estação temos uma carta diferente. Já ali tive a oportunidade de provar as combinações mais inesperadas, mas a mais recente é a Salada de Figos e Queijo da Ilha. Garanto que se torna ainda mais deliciosa se estiverem sentados no jardim interior.

Achavam que eu só tinha sugestões no centro da cidade? Para quem estiver pelos lados da LX Factory, vale muito a pena parar para almoçar ou jantar n’A Praça. O restaurante marca pontos só pela decoração, mas deixa-nos K.O. com a ementa. Há uns tempos introduziram uma lista bastante completa de saladas no menu, mas a minha sugestão continua a ser a Salada Caprese, cuja apresentação não deixa ninguém indiferente.

Sim, eu sei que já vos recomendei uma Salada Grega antes, mas uma viagem pela gastronomia da Grécia nunca fez mal a ninguém. Este restaurante fica bem escondido na Madragoa, mas faz-nos viajar a cada garfada. E nada melhor do que azeitonas gregas à séria na salada para o comprovar.

Chegou finalmente o último dia da semana e o nosso destino é a Pizzaria Luzzo. Prometemos que comíamos uma salada por dia durante uma semana e não é agora que vamos desistir. Não há muitas opções no menu, mas a Salada Luzza é – pelo menos para mim – a escolha nº1.

O que acharam deste pequeno roteiro? Há alguma salada que me recomendem?

 

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A LENDA DO ROLO

Sexta-feira, 07.04.17

Consta que antigamente, o extenso Rolo da Ribeira das Casas que se inicia no ilhéu do Constantino, junto ao Pesqueiro de Terra e termina no ilhéu do Cão, na Ponta, era totalmente coberto de areia. Uma extensa e belíssima praia que, se existisse hoje, seria um dos maiores gáudios não apenas de todos os habitantes da ilha das Flores mas também de quantos visitam esta ilha para férias.

Conta-se que nesses recuados, em que as memórias escritas eram raras ou inexistentes, um certo dia, um pescador que vinha da Ponta e passava por ali a fim de ir para apanha de lapas e caranguejos no Canto do Areal, ouviu um choro muito triste e estranho, vindo da areia. Curioso que era, mas muito anamudo parou e escutou melhor, convencendo-se de que o choro era verdadeiro e não fruto da sua imaginação. Decidiu, então, tomar o rumo do mar a fim de se inteirar do que seria aquilo. Seguindo o som que, à medida que o homem se aproximava se revelava mais nítido, como se fossem profundos soluços de um ser humano. Andou um pouco mais logo até que encontrou um ser estranho. O rosto, os braços e a parte superior do corpo eram de uma linda mulher, mas a parte inferior do corpo tinha uma estranha forma, pois assemelhava-se à parte posterior do corpo de peixe, coberto de escamas, com barbatanas e rabo semelhante aos dos peixes. Só poderia ser uma sereia que ali estava deitada a chorar, lamentando a sua triste sina. A tristeza daquele ser era tão sentida e tão grande que o homem não sabia se estava mais admirado por ter encontrado um ser tão estranho, se estava mais magoado com o sofrimento da sereia. Um pouco indeciso abeirou-se dela e perguntou-lhe:

 — O que se passa para estares aqui deitada e assim tão triste?

A sereia, então, explicou que tinha vindo até à praia mas que, no entanto, a maré tinha vazado sem se aperceber. Perante a estupefação do homem, chorando cada vez mais e com maior tristeza estampada no rosto, a sereia continuou o seu lamento:

- Agora com a maré baixa não consigo voltar ao mar. Vou morrer se não me levarem para o mar…

O pescador, embora um pouco hesitante, pegou-lhe ao colo dizendo:

- Levo-te, levo-te para o mar mas quero que me leves contigo…

O choro da sereia acalmou-se. Com um suave gesto de cabeça concordou e, pouco depois o pescador afundava-se com ela no meio das profundezas do oceano.

No dia seguinte, a família do pescador ao estranhar a demora do seu regresso, alarmada, avisou os vizinhos. Procuraram toda a orla costeira desde a Ponta até à Fajãzinha… Até uma embarcação partiu para a baía dos Fanais. Mas do homem nada…

Muitas pessoas porém, dias mais tarde, ao passar pelo Rolo, no local onde o homem encontrara a sereia, ouviam vozes estranhas e, como em eco, parecia-lhes a voz de um homem a pedir, em extrema agonia.

- Levem-me para terra! Levem-me para terra.

Mas verdade é que o corpo do pobre pescador nunca foi encontrado e dele nunca se soube mais nada.

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O SENHOR DOUTOR MENDONÇA

Quinta-feira, 06.04.17

Após a decisão da Camara Municipal das Lajes de, em 1935, criar na Fajã Grande o segundo centro médico em 1935, foi colocado como primeiro médico da freguesia o Doutor Caetano Luís de Mendonça. Aquele facultativo que cativou pela sua bondade e dedicação, toda a população da freguesia, ali viveu até1943, altura em que se transferiu para a ilha do Pico, fixando-se na vila da Madalena. Na Fajã Grande foi substituído, até 1948, pelo doutor Alfredo Malheiro Serpa. A partir de então a freguesia mais ocidental da Europa nunca mais teve médico residente.

Filho de António Luís de Mendonça e de Maria José de Freitas, o Senhor Doutor Mendonça, como era conhecido, nasceu em 14 de janeiro de 1901 na Fazenda das Lajes, junto da Grota do Telhal, na altura ainda um lugar pertencente à freguesia e ao concelho de Lajes das Flores. Depois de concluir a Instrução Primária, matriculou-se no Ensino Secundário no Liceu da Horta, em 1919, ensino esse que concluiu em Angra do Heroísmo, uma vez que na Horta não existia nesse tempo ensino complementar. Ingressou a seguir no Ensino Superior, concluiu o curso de medicina em Dezembro de 1930 na Universidade de Coimbra.

Depois de permanecer durante algum tempo na Fazenda das Lajes, onde tinha consultório, acabou por fixar residência na Fajã Grande. Aí permaneceu durante oito anos, onde para além da atividade de médico, colaborou na organização do futebol, em 1939, quer da freguesia, quer de ilha, tendo chegado a servir de dirigente e de árbitro, mostrando-se um entusiasta nos ensinamentos da modalidade. Colaborou também noutras atividades culturais, nomeadamente nos grupos de teatro que ali se realizaram.

Em 1943 transferiu a sua residência para a Madalena do Pico, onde, para além de Delegado de Saúde concelhio, exerceu mais e melhor a atividade médica. Aí trabalhou em consultório privado, no Hospital da Madalena e noutros consultórios públicos do concelho, e até no Hospital da Horta, onde chegava a deslocar-se para ver os seus doentes. Chegou a exercer as funções de diretor do Hospital da Madalena, numa altura de expansão evidente dos serviços de saúde.

Casou com Maria Adélia Ribeiro Victor, na altura colocada também na Fajã Grande como professora da Escola Feminina ali existente.

Boas memórias guardavam os habitantes da Fajã Grande que lidaram com este bondoso casal, sobretudo os doentes e as meninas da escola. O doutor Mendonça e a esposa eram pessoas simples humildes e bondosas. O Doutor Mendonça sempre viveu na sua profissão com dificuldades económicas, sobretudo durante um longo período do início da sua carreira de médico, procurando clientela que lhe garantisse serviço, mas trabalhando quase sempre gratuitamente para pobres e amigos. Além disso era humilde e simpático para todos os que dele careciam, nomeadamente para os que ele conviviam. Conversava com os pescadores e rurais com a mesma dignidade com que conversava com altas individualidades. Faleceu em 25 de agosto de 1976, depois de uma vida de dificuldades e de intenso trabalho profissional.

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O PÁTIO EM FRENTE À MINHA CASA

Quarta-feira, 05.04.17

A minha casa, ou seja a casa onde nasci, na Assomada, era pobre e muito pequenina, mas era a minha casa e eu gostava muito dela. Tinha poucas coisas, é verdade, mas tinha uma que eu adorava e que um dia me tiraram. A minha casa, em frente, do lado que dava para o caminho, tinha um pátio.

Era um pátio simples e humilde, mas grande e murado com pedras toscas que o separavam da rua, com a qual comunicava através de dois portões sempre abertos, um em frente à porta da sala e outro em frente à da cozinha.

O meu pátio era muito importante para mim porque era nele que eu brincava, era nele que eu me sentava a ver passar as pessoas, era nele que eu brincava e era nele que eu me escondia quando fazia jogos com os meus amigos de infância. Mas o meu pátio também era importante para a minha mãe porque era nele que ela punha a roupa a coarar, era nele que ela plantava sécias e cubres e o enchia de flores e também era a ele que ela assomava quando passava uma vizinha ou uma amiga e a chamava para lhe dar dois dedos de conversa. O meu pátio era importante para o meu pai, mas mesmo muito importante, porque era lá, na parte superior, junto à porta da cozinha que ele colocava molhos e carradas de lenha que trazia das terras para acender o lume e aquecer o forno e onde havia um enorme cepo, sobre o qual, com um machado, ele cortava e rachava toda aquela lenha e era nele que, à tardinha, fruindo duma bela sombra, se sentava a descansar das pesadas lides do campo. O meu pátio era muito importante para todos nós porque nele havia, em frente à janela da sala, uma enorme “japoneira”, sempre muito verde, a proporcionar-nos uma sombra muito fresquinha e que ainda antes da primavera chegar se enchia de flores vermelhas e que, quando se cansava delas, as atirava ao chão formando, ao seu redor, um tapete fofo, brilhante e colorido, mas logo se enchia de novas flores. O meu pátio era útil, necessário, belo e meu, mas… em frente dele não passavam automóveis.

E um dia, na minha rua, desenharam e construíram uma estrada, mesmo em frente à minha casa, para que começassem a passar automóveis por ali mas… destruíram completamente o meu pátio, arrancaram-lhe todas as flores, cortaram a “japoneira” e, pior do que isso, obrigaram a minha mãe a ir coarar a roupa para a Ribeira, o meu pai a colocar a lenha bem longe dali e eu a ir brincar para debaixo do estaleiro.

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SÃO CAETANO E O PICO REPRESENTADOS NO VIDIGUEIRA BRANCO – FEIRA DO VINHO E DO CANTE

Terça-feira, 04.04.17

Já está amplamente divulgada a Terceira Edição do “Vidigueira Branco – Feira do Vinho e do Cante”, organizada pela Câmara Municipal de Vidigueira. O evento que pretende promover os vinhos da sub-região vitivinícola de Vidigueira, o azeite, o cante alentejano e a gastronomia tradicional, vai decorrer nos dias 14, 15 e 16 de abril e nele participará a freguesia de São Caetano do Pico que integrará a comitiva representante da ilha montanha. 

Segundo a edilidade vidigueirense, o programa desta iniciativa vai integrar a Mostra de Pão e Doçaria Tradicional e o Festival Gastronómico de Migas, com exposição e venda de produtos agroalimentares, colóquios, ateliês, provas de vinho, espetáculos musicais e animação.

São objetivos deste evento contribuir para o fortalecimento da atratividade turística do concelho; promover a excelência produtiva do território no domínio da produção vitivinícola; divulgar os vinhos da sub-região vitivinícola, em especial os brancos e a casta Antão Vaz; dignificar o cante alentejano como fator de promoção da cultura alentejana e promover as tradições da gastronomia mediterrânica e das migas em particular.

A edilidade acredita que a excelência dos produtos do concelho da Vidigueira e o potencial de afirmação e reconhecimento que os setores do vinho e do azeite já alcançaram pode ser estendido a outros domínios produtivos. Pelo que é nesse sentido que este evento integra também uma Rota do Azeite e do Vinho, uma Mostra de Pão e Doçaria Tradicional e um Festival Gastronómico de Migas.

Do amplo programa, recheado de música e manjares destaca-se o desfile pela feira no dia 14, denominado dia do Cante, onde estarão presentes as Chamarrita do Pico. Um grupo de bailadores, cantores e tocadores, representantes dos vários grupos folclóricos da segunda maior ilha açoriana, desfilará pela feira juntamente com grupos corais, oficinas de canto, etc. Neste desfile o Grupo Folclórico da Casa do Povo de São Caetano também estará representado por um par de bailadores. Este grupo voltará a apresentar o que o Pico tem de mais tradicional e emblemático no que a bailos diz respeito, no dia seguinte, no Palco Galega, no coração daquela vila Alentejana.

Recorde-se que a Vidigueira que recebeu carta de foral de el-rei D. Manuel I em 1514, é sede do município com o mesmo nome, pertencente ao Distrito de Beja, região do Alentejo e sub-região do Baixo Alentejo, com cerca de 2 750 habitantes. Por sua vez o município possui uma área de 316,61 km², onde vivem, segundo o censos de 2011, 5 932 habitantes. O concelho que possui apenas quatro freguesias, Pedrógão, Selmes, Vidigueira, sede do concelho e Vila de Frades, é limitado a norte pelo município de Portel, a leste por Moura, a sueste por Serpa, a sul por Beja e a oeste por Cuba.

Os principais produtos da vila que se orgulha de ter sido berço de Vasco da Gama, são os vinhos, em especial os brancos e a casta Antão Vaz, e ainda o azeite.

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INTERCÂMBIO CULTURAL

Segunda-feira, 03.04.17

No passado dia 18 de março, no salão da sede da filarmónica, em Santa Bárbara teve lugar a segunda parte do I Intercâmbio Cultural entre a freguesia de São Caetano e a sua congénere das Ribeiras, através de duas das suas mais representativas agremiações culturais e musicais: a Sociedade Filarmónica União Ribeirense e o Grupo Folclórico da Casa do Povo de São Caetano.

Tratou-se de uma iniciativa se não inédita pelo menos muito pouco habitual na ilha do Pico, em que, para além das duas coletividades musicais também colaboraram, como convidados, o Grupo de Chamarritas da Casa do Povo de Ribeiras e o Grupo de Chamarritas de São João. Para além do espetáculo musical há que realçar o convívio e a amizade estabelecida entre os elementos de ambas as coletividades e entre estes e os participantes, convidados também eles, no final, a misturarem-se com os elementos do grupo folclórico, bailando a tradicional chamarrita, iniciativa que, a exemplo das antigas folgas, se prolongou pela noite dentro.

Depois das boas vindas por parte do presidente da coletividade local, Júlio Silveira, iniciou-se o espetáculo musical com a atuação da Filarmónica que sublimemente e com muito agrado e aplauso por parte do público, sob a batuta do jovem maestro Pedro Santos, apresentou o seguinte repertório: Suite Alentejana de Luís Freitas Branco, Primeira Suite para Banda de Jorge Salgueiro e, por fim, Humanos arranjo de Luís Cardoso. Para o maestro Pedro Santos este I Intercâmbio Cultural “Foi uma ideia que o nosso presidente Júlio Silveira teve, de forma a dinamizar a nossa atividade a nível cultural no período de inverno, onde as bandas filarmónicas fazem mais ensaio do que concertos e surgiu a necessidade de podermos tocar mais. A ideia de fazer um intercâmbio com outra entidade cultural foi uma forma de trocarmos experiências e ideias com um grupo que de outra forma, seria difícil de nos cruzarmos em atividade conjunta.’’

Por sua vez o Grupo Folclórico da Casa do Povo de São Caetano apresentou alguns dos mais emblemáticos bailos do seu vasto repertório: Pezinho, Juanita, Praia, Chichiu, Ladrão e, por fim, a Chamarita. Entre as atuações de ambas as coletividades o Grupo de Chamarritas das Ribeiras apresentou variados números: Tirana, Barquinha, Sapateia, Maria Tomásia e Chamarrita. Finalmente atuou o grupo de Chamarritas da Casas do Povo de São João.

Recorde-se que a primeira parte deste Intercâmbio Cultural teve lugar no dia 28 de Janeiro pretérito, no salão da Casa do Povo de São Caetano, sendo também nesse dia realizado um concerto musical pela referida Filarmónica, precedido da atuação do grupo folclórico, onde não faltou a chamarritra dançada conjuntamente por elementos de ambas as agremiações.

Hospitaleira e generosa, a população do lugar de Santa Bárbara, freguesia das Ribeiras, onde a União Ribeirense tem a sua sede, no final do sarau ofereceu um agradável e lauto beberete aos elementos do grupo visitante, retribuindo assim idêntico procedimento havido a quando da sua visita a São Caetano.

Noite mágica esta, em que duas populações embora distantes no espaço não se coibiram de se encontrarem, trocando experiências, convivendo, irmanando-se em verdadeira amizade, partilhando e apreciando aquilo que de melhor uma outra têm no que a valores e tradições musicais diz respeito. Iniciativa, segundo a presidente da Casa do Povo de São Caetano, Cecília Correia a todos os níveis louvável e que possivelmente se irá repetir num futuro próximo, pese embora não haja nenhuma espécie de apoio quer por parte das autarquias a que as freguesias pertencem quer de qualquer outra instituição. Na verdade, quer o transporte quer todas as outras despesas, nomeadamente a realizada com o lanche oferecido aos visitantes no final da noite, foram suportadas exclusivamente pelos participantes de ambas as agremiações.

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O CAMINHO DO MEIO, EM SÃO CAETANO DO PICO, ESCOLHIDO COMO UMA DAS 322 ALDEIAS (LUGARES) CANDIDATAS ÀS 7 MARAVILHAS DE PORTUGAL

Sábado, 01.04.17

O lugar do Caminho do Meio, pertencente à freguesia de São Caetano, na ilha do Pico está incluído na lista das aldeias candidatas às “7 Maravilhas de Portugal”. Recorde-se que, como defendeu acerrimamente o poeta e escritor açoriano Pedro da Silveira, nos Açores não existem propriamente aldeias como acontece no território continental, uma vez que no arquipélago as povoações rurais com um aglomerado populacional de categoria inferior à vila, embora podendo dispor de autonomia administrativa e de economia de subsistência são denominadas simplesmente por freguesias ou, no caso das partes de um povoamento destas, por lugares. Aldeia é também um lugar vivo, um espaço de comunidade, com uma vivência quotidiana de trabalho, de partilha, de identidade territorial e de memória coletiva, cada uma expressando à sua maneira a dinâmica das suas comunidades, e respondendo com resiliência aos desafios dos tempos.

Foram 23 os lugares ou aldeias açorianas este ano incluídas como candidatas às 7 Maravilhas de Portugal e entre elas surge, surpreendentemente, o típico lugar das adegas na freguesia de São Caetano, da ilha do Pico, conhecido como Caminho do Meio.

Conforme foi divulgado na 29ª edição da BTL – Feira Internacional de Turismo, que se realizou nos dias 15 e 19 de março, no Parque das Nações em Lisboa e onde as ilhas açorianas estiveram amplamente representadas, este ano, nas 7 Maravilhas de Portugal escolhem-se as melhores aldeias do País. São 322 as candidatas, apuradas entre 446 apresentadas que estão divididas em sete categorias – Aldeias Monumento, Aldeias de Mar, Aldeias Ribeirinhas, Aldeias Rurais, Aldeias Remotas, Aldeias Autênticas e Aldeias em Área Protegidas.

De acordo com os dados revelados durante a referida feira, o maior número de candidaturas vem do centro de Portugal com 159 aldeias indigitadas. Depois do centro, a região com mais candidaturas apuradas é o Norte, com 79 aldeias. Segue-se o Alentejo, com 37; os Açores, com 23; o Algarve, com 16; e a Madeira, com 11.

Sabe-se ainda que a 7 de abril serão conhecidos os 49 pré-finalistas, votados por um painel de especialistas. A partir dessa data e depois da aprovação do conselho científico começa a promoção das candidaturas. Os portugueses podem começar a votar a partir de 3 de julho, por chamada telefónica. As grandes vencedoras que vão constituir o guia das 7 Maravilhas de Portugal – Aldeias conhecem-se a 3 de setembro.

Das 23 aldeias (lugares) açorianas que integram a lista completa, a maior fatia pertence à ilha de São Miguel. O Pico, infelizmente, surge em lugar de menor destaque com apenas duas candidaturas: Aguada, no lugar das Pontas Negras, freguesia das Ribeiras e Caminho do Meio, na freguesia de São Caetano.

Embora haja um longo caminho a percorrer e se preveja que seja muito difícil chegar à vitória final e entrar na lista das 7 Maravilhas de Portugal, no que a lugares ou aldeias diz respeito, já é um feito notável um simples e minúsculo lugar da sempre esquecida freguesia de São Caetano integrar o grupo das 322 candidatas nacionais. Preparem-se, pois, os Sãncaetanenses residentes na freguesia e os da diáspora para, a partir do dia 3 de julho, votar massivamente no Caminho do Meio, se este ficar entre as 49 pré-finalistas.

Recorde-se que o Caminho do Meio, em São Caetano do Pico, é um histórico e idílico lugar da mais jovem freguesia do Concelho da Madalena, onde predominam as típicas adegas construídas em pedra de lava negra, ladeadas por currais de vinha, à mistura com algumas habitações, muitas delas sazonais. O Caminho do Meio é sobretudo um lugar histórico, porquanto terá sido ali que teve lugar o povoado primitivo da atual freguesia, o qual com os rigores do tempo e os ataques da fúria do mar, foi forçado a se deslocar para uma região mais alta, nos socalcos da montanha. É também neste local que se situa o histórico Porto da Prainha do Galeão, onde Garcia Gonçalves, um foragido do reino, com ajuda dos italianos de Génova e Vicenza que ali se haviam fixado, construiu o célebre Galeão, que ofereceu ao rei de Portugal D. João III, com penhora para saldar a sua dívida e assim reconquistar a sua liberdade, facto que deu nome ao lugar. Foi também este porto, hoje quase abandonado e esquecido, que se revelou como alternativa viável, em dias de temporal, às lanchas que faziam a travessia do Canal Faial-Pico quando impedidas de fazer serviço na Madalena ou no Porto do Calhau. A sua beleza e excentricidade levou a que os realizadores da série “Mau Tempo no Canal”, inspirada no livro de Nemésio com o mesmo nome, ali gravassem uma das mais empolgantes cenas da mesma: a fuga de Margarida para São Jorge, num bote baleiro…

Todos estes e muitos outros são os verdadeiros motivos para que o lugar do Caminho do Meio em São Caetano guinde, agora, os píncaros da fama e tenha lugar de honra entre as 7 Maravilhas de Portugal 2017, o que, diga-se em abono de verdade, não será fácil. Mas o ser nomeado, no entanto, já deverá ser motivo de grande orgulho para as gentes não só de São Caetano mas do próprio concelho da Madalena.

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