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OS TRÊS CONSELHOS

Terça-feira, 30.05.17

Um rapaz muito pobre tinha casado, e para sustentar a sua família teve que ir arranjar trabalho. Procurou por vários sítios, mas apenas conseguiu ter de ir servir uns patrões que viviam muito distantes da sua casa. Como era um homem bom, sério e honesto e como confiava nos outros pediu ao amo que lhe guardasse o dinheiro que ia recebendo das soldadas. Ao fim de uns quatro anos já amealhara grande quantidade de moedas, que lhe chegariam para viver e como tinha saudades da mulher, decidiu voltar para casa. Ao comunicar a sua decisão ao patrão, este disse-lhe:

– Qual queres que te dê: três bons conselhos que te vão servir para toda a vida, ou o teu dinheiro?

O homem disse-lhe que queria o seu dinheiro.

O patrão respondeu:

– Mas olha que te podem assaltar pelo caminho e matarem-te para te roubar o dinheiro.

– Pois então, - disse o rapaz - venham de lá os conselhos e fique com o dinheiro.

Disse-lhe o patrão:

– O primeiro conselho que te dou é que nunca te metas por um atalho sinuoso, podendo andares por um caminho largo e bom, embora mais extenso.

– Cá me fica para meu governo. – Retorquiu o rapaz.

– O segundo, é que nunca pernoites em casa de homem velho casado com mulher nova.

- E o terceiro? – Indagou.

- O terceiro vem a ser: nunca te decidas pelas primeiras aparências.

O rapaz guardou na memória os três conselhos, que representavam todas as suas soldadas e, quando se ia embora, a dona da casa deu-lhe um bolo para o caminho, a fim de que o comesse se tivesse fome; mas disse-lhe que era melhor comê-lo em casa com a mulher, quando lá chegasse.

Partiu o homenzinho de casa do amo e, pouco depois, encontrou pelo caminho uns almocreves que levavam uns machos com fazendas para venderem numa feira. Foram juntamente, conversando e contando a sua vida uns aos outros. A certa altura um dos vendedores disse que pretendia cortar caminho por ali por uns atalhos ali existentes, porque assim pouparia mais de meia hora de caminho. O rapaz decidiu continuar pelo caminho mais longo, e quando ia chegando a um povoado, viu vir o vendedor todo esbaforido sem os machos. Tinham-no roubado e espancado.

Disse o moço:

– Já me valeu o primeiro conselho.

Seguiu o seu caminho, e chegou já de noite a uma venda, onde foi beber uma pinga, e onde tencionava pernoitar, mas quando viu o taverneiro já homem velho e a mulher ainda muito nova, pagou e foi andando sempre, Quando chegou à vila, ia lá um reboliço enorme: é que a Justiça andava em busca de um assassino que tinha fugido com a mulher do taverneiro que fora morto naquela noite. Disse o rapaz lá consigo:

– Bem empregado dinheiro que me levou o patrão por este e pelos outros conselhos.

E picou o passo, para ainda naquele dia chegar a casa. E lá chegou. Quando se ia aproximando da porta, viu dentro de casa um homem, sentado ao lume com a sua mulher! A sua primeira ideia foi a de ir matar ambos. Lembrou-se do conselho, e curtiu consigo a sua dor. Pouco depois entrou muito calmo pela porta dentro. A mulher veio abraçá-lo, e disse:

– Aqui está o meu irmão, que chegou hoje mesmo do Brasil. Que dia! E tu também ao fim de quatro anos regressaste a casa!

Abraçaram-se todos muito contentes. No dia seguinte tiveram uma visita. Era o patrão que lhe vinha entregar todo o dinheiro que ele ganhara durante os quatro anos em que ele o servira.

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A SENHORA DO PRANTO

Segunda-feira, 29.05.17

 

Conta-se que por volta do ano de mil quinhentos e vinte, um rapazinho andava a guardar as vacas no sítio da Lazeira, na freguesia de S. Pedro do Nordestinho, na ilha de S- Miguel, nuns terrenos muitos próximos do mar.

De repente, o pastorzinho teve uma visão deslumbrante - Nossa Senhora estava ali, à sua frente, vestida de branco, entre fina cortina de névoa, pairando dois ou três palmos acima do chão. Logo a criança ajoelhou e começou a rezar à Virgem, Mãe Deus, a oração que a sua mãe lhe ensinara:

- Avé Maria, Mãe de Deus, rogai por nós…

Ainda não terminara quando ouviu a voz da linda Senhora que lhe dizia:

- Vai à Vila e convida todos os que encontrares a virem amanhã a este local, onde se reunirão sete cruzes. Se no caminho te aparecer uma bicha de boca aberta, não temas, pois é o símbolo da peste que acometerá Ponta Delgada e se espalhará por toda a ilha. Nesse dia, quando aqui estiver muita gente e rebentar uma trovoada, cavem a terra e espalhem-na por cima das pessoas e não tenham medo. Quero também que neste local levantem uma ermida a Nossa Senhora do Pranto e, se tudo isto fizerem, não terão nem a peste nem os tremores de terra, pois eu intercederei por vós junto do meu Filho.

De imediato, desfez-se a visão e o pastor correu para a Vila do Nordeste a anunciar o que lhe tinha acontecido.

Reza a lenda que as pessoas acreditaram no rapaz e, no dia seguinte, sete cruzes ou romarias, vindas do Nordestinho, Nordeste, Maia, Fenais, Povoação, Achadinha e Achada Grande, ali se juntaram. A Senhora cumpriu as suas promessas e os populares começaram a construir a ermida.

Para ser mais fácil o acesso, decidiram construi-la à beira do caminho e no local juntaram pedra e outros materiais. Mas, para pasmo de todos, certa manhã tudo o que haviam trazido para beira do cainho desaparecera dali e fora colocado no pasto onde Nossa Senhora tinha aparecido ao pastor, não longe do mar. Os operários trouxeram tudo, de novo, para a beira do caminho mas no dia seguinte já estava todo o material no lugar indicado por Nossa Senhora.

Uma dessas noites, as pessoas, desconfiadas, vieram vigiar e viram que Nossa Senhora com uma caninha levava a pedra e o restante material a rolar para baixo.

Não tiveram mais dúvidas: A Senhora do Pranto queria a sua ermida junto ao mar, longe das casas, para que as promessas das pessoas exigissem sacrifício e assim tivessem mais valor. Ali se começou a construir as paredes da pequena ermida.

Mas o trabalho era demorado porque não havia água doce por perto. Uma velhinha fraca, mas crente, prometeu acarretar a água do povoado. Assim o fez, até ao dia em que sentiu que as forças a abandonavam. Ajoelhando perto das paredes da ermida, pediu à Senhora vida para ver a obra terminada.

Perante o pasmo dos mestres, brotou da parede da ermida, próximo do chão, água em abundância e dali jorrou até findar a construção. Mais tarde a água deixou de correr naquele lugar e foi brotar na rocha. Lá está a correr mansamente, agora resguardada por uma gruta construída por camponeses. A umas centenas de metros, no pocinho de onde a ermitoa acartava a água, numa das pedras, vê-se a marca do pé pequenino de Nossa Senhora, que ali pousou ao ir matar a sede.

A santa velhinha ainda viveu durante anos como ermitoa, guardando o templo em cujo chão se enterrou. Muitas pessoas dizem que já ouviram cantar os anjos docemente na ermida.

 

Fonte - FURTADO-BRUM, Ângela Açores: Lendas e outras histórias

 

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O LÁPIS

Domingo, 28.05.17

Quem começou primeiro foi a Esferográfica que, juntamente com os seus amiguinhos lápis de cor escreveram um belo texto com desenhos que depois coloriram.

“Era uma vez um país onde todos os meninos eram felizes. Não havia guerra, nem fome e todos os pais amavam os seus filhos. As árvores estavam sempre cheias de frutos e nos rios corria água muito limpinha. Os homens que governavam o país eram muito bondosos e ajudavam todos.”

Muitos outros lápis e esferográficas escreveram belos textos mas como não conseguiam escolher o mais bonito e melhor colorido foram chamar o Porta-lápis para decidir.

 

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PADRE JOSÉ GOMES

Sábado, 27.05.17

Em setembro de 1960 chegava à Fajã um novo pároco nomeado pelo então bispo de Angra, Dom Manuel Afonso Carvalho. Vinha substituir o antigo pároco, padre Manuel de Freitas Pimentel que durante quase quatro décadas paroquiou a mais ocidental paróquia açoriana e que se aposentava, fixando residência em Angra do Heroísmo. O novo pároco que até então exercera a sua atividade sacerdotal como cura de Santa Cruz foi recebido na freguesia com pompa e circunstância e com agrado de toda a população. José Gonçalves Gomes nasceu a 8 de setembro de 1926, na freguesia e concelho das Lajes, sendo filho de José Francisco Gomes, agricultor e de Luísa Gonçalves Gomes, doméstica, a qual juntamente com uma tia e uma irmã o acompanhou durante a sua estadia, por cinco anos, na Fajã Grande.

Em 2 de outubro de 1940, após terminar o ensino primário na sua terra natal, matriculou-se no Seminário de Angra do Heroísmo, onde completou os cursos de Filosofia e Teologia. Em 1 de Junho de 1952, foi ordenado presbítero na Sé Catedral de Angra e, no dia 22 do mês seguinte, celebrou a Missa Nova, na Matriz das Lajes.

Foi nomeado cura da Matriz de Santa Cruz das Flores, da qual era pároco o padre Maurício António de Freitas, tomando posse em março de 1953. Para além do serviço sacerdotal, o padre José Gomes também integrou o grupo de professores que, em 3 de Outubro de 1959, criou o Colégio ou Externato da Imaculada Conceição, hoje, Escola Padre Maurício António de Freitas.

Foi a 8 de outubro de 1960, foi nomeado pároco da freguesia de Fajã Grande das Flores, assumindo também o serviço sacerdotal do lugar da Ponta da Fajã. Aí se manteve até 10 de Junho de 1965, data em que foi colocado na paróquia da Fazenda das Lajes, na mesma ilha.

Em 27 de outubro de 1974, assumiu as funções de pároco da freguesia dos Biscoitos e das Quatro Ribeiras, da ouvidoria da Praia da Vitória, da ilha Terceira; e, em 11 de setembro de 1978, foi nomeado para a paróquia de São Bartolomeu. Também, durante cerca de seis anos, desempenhou com competência e dignidade as funções de Ouvidor de Angra do Heroísmo. Simultaneamente, em 5 de maio de 1984, passou a ser Pároco Consultor da Diocese. Durante seis anos, exerceu ainda o cargo de Presidente da Direção da irmandade de São Pedro ad vincula, que tem como objetivo ajudar os sacerdotes mais desprotegidos da diocese.

Em 27 de março de 1991, Dom Aurélio Granada Escudeiro, bispo de Angra nomeou-o Cónego do Cabido da Sé de Angra, como corolário da sua competência e da sua dedicação às atividades que profissionalmente exercera em prol da diocese. Finalmente em 30 de abril do mesmo ano, foi nomeado ainda Chanceler da Cúria Diocesana, abandonando o serviço pastoral, passando a trabalhar na Cúria de Angra, cidade onde fixou residência. Atualmente, com noventa e um anos de idade, vive numa casa de Saúde, na cidade de Angra.

Sobre ele alguém escreveu: Dedicado e trabalhador, cumpre com rigor as orientações da hierarquia, ao mesmo tempo que procura manter-se actualizado relativamente às inovações da Igreja Católica. Devido ao seu feitio delicado e simples, mantém sempre um excelente relacionamento de convívio e amizade com as populações das localidades por onde tem passado, o qual poderá, eventualmente, ter sido prejudicado em virtude do seu precário estado de saúde. Possuidor de uma forte personalidade, sustenta ao mesmo tempo, um fino trato social, que lhe permite um relacionamento fácil e amistoso.

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QUANDO O CARVALHO FAZIA SERVIÇO NA FAJÃ GRANDE

Sexta-feira, 26.05.17

A ilha das Flores era a única ilha dos Açores em que o velhinho Carvalho Araújo, que as visitava mensalmente, atracava em duas localidades: em Santa Cruz e nas Lajes. Como ambas as vilas estavam e ainda estão actualmente, viradas a leste, sempre que o mar estava bravo numa, ainda estava pior na outra, impedindo assim aquele paquete de fazer o serviço na ilha, o que se verificava, geralmente, mais do que uma vez por ano e, por vezes, até no verão.

Quando tal acontecia, em contrapartida, o mar na Fajã Grande, freguesia voltada a oeste e com um pequeno porto protegido por altas rochas, estava calmo, tranquilo e excelente para o serviço do paquete. O vento soprava fortíssimo de leste e era, com se dizia, “de cima da terra”. Nessas condições só era possível ao Carvalho fundear e fazer serviço na Fajã Grande, pese embora a grande oposição das populações de Santa Cruz e das Lajes, nomeadamente os comerciantes daquelas duas vilas. É que só havia duas estradas nas Flores: uma desde Santa Cruz até aos Terreiros e a outra que ligava as duas vilas, passando pela Caveira, Lomba e Fazenda. Dos Terreiros até ao porto da Fajã, os passageiros tinham que ir a pé, atravessando rochas e veredas, saltando ribeiras e grotões, percorrendo ladeiras, atalhos e calcorreando caminhos maus e estreitos. Apenas os doentes eram transportados a cavalo ou em carros de bois e, os casos mais graves, em macas transportadas a ombros. Além disso os passageiros ou os seus familiares e amigos tinham que transportar a própria bagagem às costas.

Mas os principais e grandes problemas eram o do gado, o da manteiga que a ilha produzia e que se havia de embarcar e, sobretudo, o da mercadoria que o navio trazia e que teria que ser descarregada no porto da Fajã e depois transportada para os Terreiros a fim de ser levada em camionetas para as vilas. Assim todos os sacos de farinha, de açúcar, de adubo, de cimento, caixotes de sabão e de bebidas, bidões de cal e de petróleo, grades com garrafas de cerveja e de pirolitos e muita outra carga que o navio trazia com destino à ilha, tudo era transportado para até aos Terreiros em carros de bois, o que acarretava um enorme aborrecimento e uma despesa acrescentada para os comerciantes a que as mercadorias se destinavam. Por tudo isto, toda a população das Flores detestava e barafustava quando o Carvalho ia fazer serviço para a Fajã Grande.

Ao contrário, este dia, na Fajã Grande, era de grande festa, contentamento e regozijo. Era rigorosamente, mais do que o tradicional “dia de São Vapor”, pois era uma verdadeira festa, a “Festa de S. Vapor”. Ninguém trabalhava nos campos nesse dia e toda a população se deslocava para Porto, uns para trabalhar na carga e descarga, outros para acarretar e arrumar a mercadoria e outros simplesmente para apreciar o espectáculo. É que todos os carros de bois que existiam na Fajã eram requisitados para transportar a carga até aos Terreiros. Como os meios eram reduzidíssimos e menos operacionais do que os das vilas, esta azáfama era muito demorada, prolongando-se por todo o dia, pela noite dentro e até de madrugada.

E era precisamente à noite, enquanto os homens paravam os carros carregados com os sacos de açúcar e outras mercadorias fora das suas casas, para uma frugal ceia, nós, os garotelhos de então, à socapa, fazíamos pequenos buraquitos nos sacos de açúcar, furando ligeiramente a serapilheira e deitávamo-nos debaixo dos carros de boca aberta e voltada para cima, com as mãos a fazer de funil, a encher a barriga de açúcar, vingando-nos da abstinência que dele tínhamos nas nossas casas durante todo o ano.

E creio que era esta a principal e mais importante razão porque eu e os ganapelhos da minha idade gostávamos tanto de que o Carvalho fizesse serviço na Fajã Grande, ao contrário dos comerciantes das Lajes e da Vila, que penalizados por tantas contrariedades, nem por sombras desconfiavam que, ainda por cima, lhe papávamos uma pequeníssima parte do açúcar que importavam de Lisboa.

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O OUTRO BRAÇO DO CIMO DA ASSOMADA (CAMINHO DA MISSA)

Quinta-feira, 25.05.17

No outro braço do Cimo da Assomada ou seja do lado do caminho da Missa, na altura o único acesso não apenas à Fajãzinha como às restantes freguesias do Concelho das Lajes e à própria vila, ficavam apenas duas casas: a da Senhora Estulana, viúva e com três filhos

A casa da Senhora Estolana era a última do Cimo da Assomada, do lado do Caminho da Missa, ou seja, do mesmo lado e um pouco antes da canada que dava simultaneamente para as terras e relvas do Pico e para a Vigia da Baleia, ou seja para o Pico da Vigia. Era uma casa muito branquinha, com as barras das portas e das janelas pintadas de azul, mas um pouco misteriosa e enigmática, uma vez que quer a Senhora Estolana depois de enviuvar, quer todos os seus filhos e filhas partiram para a América. Daí que a casa ficasse abandonada, isolada, deserta, descaída e envelhecida criando aquele ar tenebroso e de mistério, para quem, como eu, criança, por ali passava, até porque ficava um pouco distante das outras casas da freguesia.

Hoje vejo-a através de imagens da Internet, da mesma forma que era outrora, quando ainda era habitada pela senhora Estolana, branquinha, com as barras de um azul muito claro, mas anunciada de forma muito diferente, ou seja, como sendo um restaurante, denominado por “A Casa da Vigia”, com as indicações de que está localizado apenas a 2 km da Aldeia da Cuada e situada na Fajã Grande, freguesia considerada como “lugar ideal para tomar uns bons banhos no mar”, depois do qual se pode ir ao referido restaurante mimar as papilas gustativas. A “Casa da Vigia” é dirigida por uma senhora italiana e os ingredientes ali servidos, segundo consta das informações recolhidas no site, uns são cultivados e crescem numa horta biológica que existe mesmo ali ao lado da antiga casa da Senhora Estolana, enquanto outros são produtos locais, à excepção dos deliciosos vinhos tintos que são importados da Toscânia, Itália, dado que nem a Fajã Grande nem a ilha das Flores são produtoras do precioso líquido.

Destaque-se ainda para um pormenor interessante: o restaurante  “Casa da Vigia” possui no seu terraço uma biblioteca.

Na casa seguinte vivia o José Garcia, casado com a Senhora Ester e com dois filhos ainda residentes: o Júlio e a Avelina que casou com o João do Gil. Ambas estas famílias abandonaram a freguesia.

Mais abaixo a rua começava o seu braço central com o José Dias, na primeira casa do lado direito. Poucos anos lá viveu, este filho de Tio Manuel Luís, casado com uma filha da Senhora Estulana, com dois filhos, dado que cedo partiram para a América. A casa teve vários moradores até que a comprou o Augusto Mariano.

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JOSÉ MACHADO LOURENÇO

Quarta-feira, 24.05.17

José Machado Lourenço nasceu na freguesia das Cinco Ribeiras, concelho de Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, em 12 de agosto de 1908, tendo falecido em 14 de janeiro de 1984. Para além de sacerdote e missionário foi professor, etnógrafo, poeta e historiador. Depois de terminar o ensino primário na sua terra natal, partiu para Macau e estudou no Seminário de S. José, completando os cursos de Filosofia e Teologia. Depois de ordenado sacerdote, paroquiou nas «igrejas isentas» de Malaca e de Singapura da diocese de Macau. Foi secretário do Bispo D. José da Costa Nunes, em Macau e em Goa.

Depois de se aposentar em 1947, regressou definitivamente à ilha Terceira e à sua freguesia natal, passando a lecionar no Seminário Diocesano. Foi nomeado cónego da Sé, em 1956, e assistente do capelão americano da Base das Lajes.

Pio XII concedeu-lhe a dignidade de prelado doméstico, com o título de monsenhor em 1947 e o Presidente da República agraciou-o com a comenda de Santiago da Espada.

Integrou o grupo fundador do Instituto Açoriano de Cultura, em 1956, presidiu à sua direção, até 1978, e continuou como presidente da Assembleia Geral. Foi diretor da revista Atlântida, órgão deste instituto, desde 1957, quando começou a ser editada, até 1977. Foi ainda diretor do vespertino A União.

Deixou obra diversa, em poesia e em prosa, publicada em vários livros.

Obras principais: A Mãe do Amor: versos, Aleluias de Alma: sonetos, O Padroado Português do Oriente, Por Terras do Sagrado Ganges, Regras de Gramática da Língua Inglesa, O Romance de um Malaio, Vida Divina, Victória, Beato João Baptista Machado de Távora – mártir do Japão, Benedicite, Açorianos em Macau e Três Poetisas Angrenses.

 

Dados retirados do CCA – Cultura Açores

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VIDA COMUNITÁRIA (DIÁRIO DE TI’ANTONHO)

Terça-feira, 23.05.17

Aqui, na Fajã Grande, antigamente, as pessoas demonstravam um grande sentido de comunidade, pois ajudavam-se muito umas às outras, participando conjuntamente nos trabalhos agrícolas e até juntando-se para tudo o que fosse necessário, como para casar uma filha, receber um americano ou até para construir a própria casa. Eram muitas as atividades que se faziam comunitariamente.

Mas era sobretudo nos trabalhos e atividades agrícolas que as pessoas mais se ajudavam. No desfolhar e apanhar do milho, no encambulhá-lo e guardá-lo no estaleiro, nas sementeiras das batatas, no plantar as couves e as batas doces, no ceifar dos feitos ou cortar lenha, na matança do porco e em muitas outras atividades. Nas longas noites do inverno eram as mulheres que se juntavam para também se ajudarem umas às outras a cardar, a fiar, a fazer meia, ou até a debulhar o milho, a picar a cebola para as morcelas, etc.

Mas este sentido de ajuda e de comunidade que havia nesta freguesia ainda se fazia sentir em muitas outras atividades feitas conjuntamente, como a de debulhar na eira o pouco trigo que ainda existia, a moer o milho nos moinhos de mão, a amassar e cozer o pão no forno, ou a massa sovada para as festas do Espírito Santo e de Santo Amaro, a lavar a roupa nas ribeiras, a levar o gado ao mato, a limpar os caminhos, nas festas, ao tirar as derramas e, muito especialmente, no dia de fio. Este sim era um verdadeiro dia de vida comunitária.

Tudo isto fazia com que as pessoas fossem muito amigas umas das outras e se respeitassem umas às outras. Havia poucos roubos, os mais novos respeitavam os mais velhos e aceitavam, de bom grado, os seus conselhos. De notar que, à semelhança de todo o norte rural do continente português, todos tratavam os mais velhos por tio e tia, o que indicia uma quase relação familiar e de respeito e amizade.

Gosto pois que ainda hoje tratem os mais velhos desta maneira. Gosto que me tratem por Ti Antonho!

 

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A VELHA

Segunda-feira, 22.05.17

Conta-se que antigamente, não se sabe bem onde, vivia uma vez velhinha, muito velhinha, muito agastada com os anos e as canseiras, que andava sempre a pedir esmola, alegando, junto daqueles a quem se dirigia para mendigar, que não tinha ninguém, que era muito desgraçadinha, etc., etc.

Mas o povo dizia que a velha, afinal, tinha dinheiro. A suspeita chegou aos ouvidos de um ladrão que, certo dia, enquanto a velha foi à fonte, entrou-lhe em casa. Como a velha não demorasse, surpreendeu o ladrão e este, para que ela não o visse escondeu-se debaixo da cama.

A velha porém, ao entrar no quarto, viu-lhe um pé. Pensou em gritar e pedir ajuda, mas teve medo de que ele a matasse e por isso deixou a porta do quarto aberta e ajoelhando-se em frente de um crucifixo que tinha, pôs-se de mãos postas a rezar em alta voz:

- Ó meu Deus! Quando era nova namorava um rapaz muito bonito, Depois, meu Deus, casei com ele, e quando regressámos para casa ele tirou-me o véu! Que vergonha, meu Deus! Depois tirou-me o vestido, as saias, as botas… Ai! Ai! Ai! Que vergonha! Ai! Ai! Ai! Que vergonha! - E gritava cada vez mais alto.

Os vizinhos que ouviram aqueles gritos acudiram a ver o que era, e a velha assim que sentiu gente em casa, sem mudar de posição, gritava:

- Vão debaixo da cama que lá está o ladrão!

Os vizinhos foram a ver e lá estava o homem que levou uma grande tareia. Foi assim que a pobre velha se livrou de ser roubada e morta.

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MINHA MÃE E O “CASAMENTO DO MARUJO”

Domingo, 21.05.17

Há dias, andava eu a folhear uns números da Nova Série da Revista Lusitana e encontrei, no número sete da referida revista (1986), um artigo de Pedro da Silveira, intitulado “CATORZE TROVAS E UM CONTO RECOLHIDOS NA ILHA DAS FLORES”. Por se tratar de textos orais, no final de cada recolha, aquele investigador literário fajãgrandense indicava o nome da pessoa que lhe havia contado o Conto ou declamado a Trova. Surgiam, entre outros, os nomes de José Inácio da Ponta e o de Manuel Mariano da Fajãzinha, personagem típica daquela freguesia e que, durante anos e anos, praticamente sozinho, cantava missa e afins, em canto chão, na igreja paroquial.

Entre estas quinze preciosidades recolhidas, todas elas na Fajã Grande e Fajãzinha entre 1941 e 1951, realçou-me o “Casamento do Marujo”, não só pelo texto, do qual me lembrava algumas passagens, mas pela pessoa que lho recitara. Nada mais, nada menos do que Angelina Fagundes, ou seja, a minha mãe! A recolha daquela trova foi feita em Julho de 1942 e, segundo Pedro da Silveira, minha mãe tê-la-ia ouvido a uma sua antiga vizinha chamada Ana Fraga, ou seja, a popular “tia Fraga” que morava na Fontinha, na velhinha “Casa de Lá” ou “Casa do Tear” que meu avô arrematara, dado que após a morte daquela, segundo se dizia, “bondosíssima senhora”, a casa foi leiloada a favor da paróquia. Foi lá que os meus avós montaram um dos poucos teares existentes, na altura na Fajã, no qual foram tecendo, durante anos e anos, quase toda as minhas tias, sucedendo-se umas às outras, à medida que se iam esquivando para a América ou para o convento. Segundo o testemunho da minha progenitora, tia Fraga havia ouvido e decorado o “Casamento do Marujo” quando rapariga a uma mulher de S. Miguel, por volta de 1860-1865, altura em que se crê que algumas famílias de pedreiros de S. Miguel, nomeadamente de Vila Franca e Ponta Garça terão emigrado para as Flores, estabelecendo-se muitos deles, na Fajã Grande.

Reza assim a dita Trova: “O Casamento do Marujo”:

 

“No gozo da minha infância,

Ainda quase uma criança,

Das amadas fui querido.

Logo me ficou no sentido,

A mais bela e engraçada.

Lhe falei p’ra minha amada,

Nem o pai nem a mãe quis.

Ai de mim tão infeliz!

Com quinze anos de idade,

Fui então para a cidade,

E embarquei na “Salvaterra”,

Por ser boa nau de guerra.

Corri todos os Açores

Para ver se achava amores,

A minha satisfação.

Foi uma bela ocasião,

A filha de mestre Amaro,

Que o pai tinha por amparo,

E era uma bela costureira,

Dava pontos à frieira;

Aquilo era um gosto vê-la,

Mais linda do que uma estrela.

Tinha olhos bonitos,

Os meus ficaram aflitos.

Logo ao sair da missa,

Fez-me uma linda malícia;

Meu coração deu um ai,

Fui logo falar ao pai.

O pai ficou muito contente,

Foi dizer à sua gente

Quem casava com a filha.

Até da ponta ilha

Veio gente ao casamento,

Homens de grande talento,

O regedor e o cura,

Mais o filho do Ventura,

Com violas e rebecas,

Vinho em potes e canecas,

O dia do meu noivado

Deixou tudo admirado!”

 

Pedro da Silveira In Revista Lusitana (Nova Série) 1968, nº 7 pag.s 121 e 122.

 

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A ERMIDA DE NOSSA SENHORA DAS VITÓRIAS (LAGOA DAS FURNAS – SÃO MIGUEL)

Sábado, 20.05.17

Um dos mais belos e emblemáticos edifícios religiosos dos Açores é a Ermida de Nossa Senhora das Vitórias localizada junto à não menos emblemática Lagoa das Furnas, na ilha de São Miguel. A ermida, levantada ainda em vida de José do Canto, constitui uma pequena maravilha artística, em estilo neo-gótico, imitando as grandes catedrais europeias e é considerada como um dos mais ricos e originais templos do arquipélago, num cenário de uma beleza rara e estonteante. Consta que, assim como muitos outros templos da região, reflete e consubstancia a arte e o engenheiro dos célebres pedreiros de Vila Franca do Campo, alguns dos quais também se terão fixado na Fajã Grande, ao longo do século XIX.

Reza a história que esta ermida foi mandada construir pelo ilustre micaelense José do Canto, em consequência de um voto formulado por ocasião de uma doença grave de sua esposa. O seu testamento, escrito em 27 de Junho de 1862, reza assim: “Tendo feito, durante a maior gravidade da moléstia de minha esposa, em 1854, o voto de edificar uma pequena capela da invocação de Nossa Senhora das Vitórias, e não havendo realizado ainda o meu propósito por circunstâncias alheias à minha vontade, ordeno que se faça a dita edificação, no caso que ao tempo da minha morte não esteja feita, no sítio que havia escolhido, junto da Lagoa das Furnas, com aquela decência, e boa disposição em que eu, se vivo fora, a teria edificado          .”

A Ermida foi inaugurada solenemente no dia 15 de agosto de 1886, ainda em vida de José do Canto, referindo-se os jornais do tempo, a essa festa, em termos elogiosos. A imagem do altar-mor é feita de jaspe e os vitrais que circundam o templo e embelezam a capela-mor evocam passos da vida de Nossa Senhora desde o Nascimento à Assumpção. Acrescente-se que a Ermida de Nossa Senhora das Vitórias foi construída nas imediações da casa de veraneio de José do Canto, e é nela que se encontra sepultado com sua esposa.

O site Memória Portuguesa descreve assim a Ermida de Nossa Senhora das Vitórias:

A Capela de Nossa Senhora das Vitórias foi construída nas imediações da casa de veraneio de José do Canto, que nela se encontra sepultado com sua esposa. Foi erguida na margem sul da Lagoa das Furnas, em plano ligeiramente elevado e orientada para o espelho de água, com caminho de serventia marginal, tendo por pano de fundo o denso arvoredo da propriedade de que faz parte.

O plano foi confiado ao arquiteto André Breton, que em 1864 realizou os desenhos de arquitetura. A Ermida, cujo sistema construtivo é de cantaria basáltica bem aparelhada, em fiadas paralelas, de bom tufo local, teve execução de mestres micaelenses, sob a chefia do Mestre António de Sousa Redemoinho, de Vila Franca do Campo, e estava em fase inicial por meados da década de 1870. Em 1882, em vias de receber o remate piramidal da torre, aproximava-se da conclusão. O programa de Breton, influenciado diretamente pela Igreja do Seminário de Angers, por indicação expressa do encomendante, define-se um espaço cruciforme (…) A toda a altura dos alçados interiores, meias colunas adossadas, de capitel esculpido e soco quadrado, com correspondência exterior de contrafortes, delimitam panos de parede e servem de suporte à organização de arcos de volta perfeita, com dupla função de arcos torais, onde repousam as abóbadas de berço. Nervuradas também nas coberturas extremas do braço da cruz, têm variante arestada no cruzeiro. À distância de 4 metros do pavimento, rasgam-se 13 janelas, em arcada redonda (…) O frontispício da Ermida, a que se chega por escadaria de dois breves lanços de quatro degraus cada um, com seu patamar intermédio, conforma-se ao corpo saliente da torre sineira. (…) Contrasta com esta imagem de elevação goticista a inspiração românica dominante nas estruturas do programa e na composição decorativa da arquitetura. Por lembrança da mesma matriz parisiense e gosto de conhecida aceitação francesa, aquelas oficinas forneceram, igualmente, equipamentos e ornatos exigidos pela função litúrgica.

(…) Tornadas síntese de liberdade decorativa e ornamental, aquelas adaptações do programa da Ermida de Nossa Senhora das Vitórias resolvem-se, também, com a figuração de São José e o Menino, feita imitação tardogótica e, como as anteriores, da mesma oficina "Moisseron et L. André", mas que na estátua da Virgem tutelar teve versão romana da imagem parisiense. A capela ficou muitíssimo valorizada com riquíssimos vitrais. A imagem do altar-mor é feita de jaspe e os vitrais que circundam o templo evocam passos da vida de Nossa Senhora desde o Nascimento à Assumpção.

 

NB – Dados retirados da Internet

 

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A QUEDA DO CANDONGA

Sexta-feira, 19.05.17

Um dos maiores desastres ocorridos na Fajã Grande, na década de cinquenta do século passado, foi aquele em que o Candonga se envolveu e foi vítima.

Mestre José Candonga era um dos mais valentes e destemidos homens de quantos existiam na Fajã Grande, naqueles tempos. Era casado com a Anina Inácia, mulher muito humilde e trabalhadora, como se dizia na altura “não parava”. Como o marido, para além de esporadicamente ser acometido de doença mental, era baleeiro, pescador e, em tempos que não havia faina marítima, “dava dias para fora”, era ela que era o homem da casa, executando, com perfeição, todas os trabalhos de cultivo dos campos e tratamento do gado. Mas sempre que podia o Candonga ajudava pois para além de trabalhar as poucas terras que tinha, a sua principal e mais importante atividade era a de pescador e, sobretudo, de baleeiro. Nos meses em que a caça à baleia estava suspensa, não apenas demandava com frequência os melhores pesqueiros da Fajã como também, sempre que o mar o permitia, integrava a campanha de um ou outro dos poucos barcos de pesca que existiam na freguesia. A sua força e valentia, porém, não impediram de ser vítima de uma terrível doença mental que forçou a que fosse internado em hospital adequado. Como se isso não bastasse foi vítima de uma terrível queda na rocha a qual lhe trouxe algumas maleitas.

Como tinha poucas terras, nomeadamente terras de mato onde pudesse cortar lenha era forçado a ir fazê-lo para a rocha, para as zonas mais inóspitas e perigosas e que eram propriedade de ninguém.

Certa tarde dirigiu-se para a zona da Fonte Vermelha. Junto à fonte, na direção norte, havia uma vereda. Por aí seguiu o Candonga cuidando que por ali encontraria boa lenha. Andou uns bons metros e postou-se sobre uma enorme pedra ou verga. Ali havia lenha em abundância e era fácil, depois de cortada, atirá-la para uma zona mais baixa de onde fosse possível transportá-la para o caminho do mato. Azar dos azares! Ao atirar um pau que acabara de cortar, fê-lo de tal modo que ele próprio também caiu de uma altura com mais de 30 metros. A queda foi fatal até porque sobre pedras e rochas e o Candonga perdeu os sentidos. Como ninguém soubesse para onde tinha ido e como ninguém se apercebesse da tragédia o Candonga permaneceu ali até à noite, altura em que foi dado o alarme pela sua ausência. Mas como já era noite e não se sabia para onde tinha ido foi impossível procura-lo. O homem passou ali a noite, não se sabendo em que condições. Na manhã do dia seguinte começaram as buscas mas só ao fim da tarde, após alguém ouvir por ali alguns gemidos o Candonga foi encontrado. Mas não foi fácil retirá-lo daquele local ermo e abrupto. Para além de estar muito débil, o acesso ao local era muito difícil, assim como a descida da rocha, pelo que foi retirado em maca. Tinha muitas escoriações, alguns ossos quebrados e muitas feridas por todo o corpo. Além disso tinha sofrido muita fome e muito frio, sobretudo durante a noite.

Levado ao hospital de Santa Cruz recuperou e regressou a casa com saúde. Comentava-se que só um homem daquela têmpera e com a força e a valentia dele conseguiria resistir a tão grande queda e, sobretudo, à solidão e ao abandono de uma noite e de um dia num estado de tão grande debilidade e sofrimento.

Foi um dia de alvoroço em toda a freguesia.

 

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CANÇÃO MEIO TONTA

Quinta-feira, 18.05.17

 

(POEMA DE PEDRO DA SILVEIRA)

 

Este quase murmúrio

que se repete, insiste,

esta música antiga,

que tão débil, mal se ouve –

 

onde a escutei num tempo

que não sei bem se foi?

(E os retratos no álbum,

que ao seu soar sorriem?)

 

Dir-se-ia que morre

e morrendo revive

o vago som, sem corpo,

da música d’outrora.

 

(A caixa tem fendida

a tampa onde a pintura

figura uma menina.)

Dói-me esta pobre música.

 

IV - 1970

 

P da Silveira, Poemas Ausentes

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O ARCO-DA-VELHA DE TARDE

Segunda-feira, 15.05.17

“Arco-da-velha de tarde, de manhã mansidade.”

 

Na Fajã Grande o Arco-Íris era muito frequente e designava-se por Arco-da-Velha. Havia por ele um grande respeito, até um certo temor porquanto de misticismo e de belo ele continha. Acreditava-se, inclusivamente, que no dia em que ele aparecesse de pernas para o ar, isto é, invertido, seria o fim do Mundo. Também se considerava como uma espécie de aviso meteorológico que este adágio encerra: Quando o Arco-íris aparecia à tarde era sinal de que a manhã do dia seguinte seria de bom tempo. Na verdade o belo e colorido efeito do Arco-Íris podia ser observado sempre que existiam gotas de água suspensas no ar e a luz do sol estivesse a brilhar, mais alta do que o observador, a uma baixa altitude. Ligada ao Arco-da-Velha havia outros ditos, lendas e até expressões como esta: Isto são coisa dos do Arco-da-Velha com a qual se pretendia significar que o que aquilo que se referia eram assuntos ou coisas extraordinárias, incríveis, invulgares ou mirabolantes. Por isso este arco colorido, desenhado frequentemente no céu era não só mágico mas também benfazejo, uma vez que aparecendo à tarde era anunciador de bonança.

O adágio era pois utilizado apenas e exclusivamente no sentido real.

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O ESTREPE

Sábado, 13.05.17

Certo dia, era eu ainda muito miúdo, fui ao Outeiro Grande buscar dois gueixos. Os estouvados, talvez devido ao estapafúrdio tratamento que, habitualmente, lhes dava, ao chegarem ao cimo da ladeira do Covão, haviam de se desviar da canada, enfiando-se por entre umas canas e fetos que por ali abundavam. Travei-me de razões, com os malditos. Passa fora! Cacetada dali, pancadaria dacolá e lá os consegui tirar daquele descampado, sem que antes não tivesse arranjado uns valentes arranhões por todo o corpo. Aparentemente nada de grave e os bezerros lá foram conduzidos ao seu destino.

Alguns dias depois, ao brincar na sala da casa da minha avó, senti uma dor no braço esquerdo e queixei-me à tia S. José que, de imediato, solícita e gentil, veio passar os seus dedos macios e suaves, mais habituados a rendas e bordados do que às lides do campo, no local onde, supostamente, me doía. Do diagnóstico realizado, minha tia concluiu que eu tinha ali alguma coisa que não era carne nem osso, nem um simples godelhão. Reunido o conselho das tias presidido por minha avó, ala para a Fajãzinha, consultar o padre António, muito experiente em mazelas do género. Manifestei ferrenha e contumaz oposição. De nada me serviu e lá fomos, rumando à Fajãzinha.

Mas o reverendo nesse dia não estaria nos ajustes para grandes e eficientes diagnósticos medicinais talvez porque mais preocupado com as coisas divinas. Muito superficialmente viu, mirou, apalpou o local do meu braço, onde me queixava, concluiu que nada de anormal havia ali e mandou-nos embora. Nada. Não tinha nada e minhas tias regressaram satisfeitas e descansadinhas por quanto, na opinião delas, o veredicto do senhor padre da Fajãzinha era logo abaixo do de Deus.

Minha mãe é que não se contentou com a diagnose do prebendado e decidiu levar-me a casa da Senhora Mariquinhas do Carmo, pessoa muito experiente e imiscuída não apenas em doenças e achaques mas também na sua cura e que, também, exercia as funções de parteira na freguesia.

Lá fomos. Em tais ocasiões, a senhora Mariquinhas do Carmo transformava a sua cozinha em sala de urgência e a amassaria, por sinal junto à janela, muito iluminada e limpinha, em mesa de tratamentos e, até, de operações. Foi aí que me deitou e, observando-me meticulosamente, depressa concluiu que ali havia marosca… e da grossa. Era preciso actuar e urgentemente.

Chorei, gritei, berrei, esperneei e quase deitei a casa abaixo, enquanto a minha mãe me segurava e ela me abria um buraco no braço donde extraiu um enorme estrepe de cana. Mas horror dos horrores! Como a cana já estava humedecida e podre partiu-se ao sair, ficando ainda um bom pedaço do estrepe lá dentro. Então é que foi o bom e o bonito! Os meus berros e gritos de nada serviram, nem para alarmar os vizinhos que a casa dela ficava paredes-meias com o cemitério. Mas ao fim de muitos apertos, puxanços e espremidelas, juntamente com muito sangue e pus, lá saiu o resto do estrepe, enquanto ela desinfectava a ferida que abrira e a minha progenitora me enchia de abraços e carinhos para que não berrasse mais.

Minha mãe agradeceu à Senhora Mariquinhas do Carmo, prometendo que lhe havia enviar, como forma de pagamento, meia dúzia de ovos e voltamos para casa. Compadecida do meu sofrimento, minha mãe trouxe-me ao colo. Como estava grávida e bastante doente, à Praça, areópago institucionalizado da crítica, do mexerico e da má-língua, homens e mulheres criticaram-na severamente:

- Nesse estado e com esse malandro ao colo! Bem burra és!

Sem responder ou dizer palavra, minha mãe sentou-me em cima de um muro circundante e, abrindo o lenço da mão onde guardara os pedaços do enorme estrepe, mostrou-os a toda a gente, dizendo:

- Coitado do meu menino! Vejam o que ele tinha no seu bracinho!

Esta é uma das últimas lembranças que tenho da minha progenitora, que faleceu, algum tempo depois.

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O CANEIRO DAS FURNAS

Quinta-feira, 11.05.17

O Caneiro das Furnas, situado no lugar do mesmo nome, era uma profunda, estreita e sinuosa enseada, localizada na costa da Fajã Grande, paredes meias com o antigo Campo de Futebol das Furnas. Era pois uma reentrância de mar, aberta em direção a terra, limitada por dois promontórios, o do lado norte um pouco tosco e baixo, mas de impossível acesso, o do sul bastante mais alto e rochoso, com pequenas escarpas, algumas delas formando excelentes poisos de pesca. Estes rochedos e escolhos que ladeavam, de um lado e outro, aquela reentrância eram de basalto negro, fazendo parte integrante da extensa faixa de baixio que ladeava a costa fajãgrandense desde o Pesqueiro de Terra até à Poça das Salemas, davam ao Caneiro uma forma curvilínea, a qual fazia uma espécie de arco, ou seio, por onde penetrava a água do mar, até um pequeno rolo que se localizava entre o termo do Caneiro e o caminho que dava para o Areal.
Perto dali a mítica Furna das Mexideiras sobre a qual circulavam muitas estórias e lendas. Contava-se que um certo homem tentara entrar por ali dentro com uma lanterna mas ela apagou-se. O homem voltou a acendê-la, mas sempre que o fazia a lanterna apagava-se. Havia ali algo de misterioso, do outro mundo que impedia que a lanterna se mantivesse acesa. Outro homem que nela também entrara, de lá nunca mais saiu. Muitos homens que por ali haviam passado viam luz no seu interior e muitos chegaram a ouvir gritos aflitivos. Também havia quem acreditasse e jurasse a pés juntos, de que aquela furna era morada e esconderijo das Mexideiras. Estas eram uma espécie de monstros estranhos, com aspeto semelhante ao diabo, em forma de mulheres que ali permaneciam durante o dia e que, apenas durante a noite, saíam do esconderijo para perseguir e atacar os mortais. Quem passasse em frente à gruta, à noitinha, em dias de temporal, podia ouvir perfeitamente, os seus ruídos e barulhos, umas vezes gritos ruidosos e barulhentos outras gaitadas finas e alegres, muito esganiçadas a ecoarem nas paredes da furna. Muitas pessoas, porém, acreditavam que eram mesmo os gritos de festa e de regozijo ou então de dor e aflição das malditas. Os mais crentes ouviam-nos perfeitamente, pois cuidavam que elas andavam ali, à solta, a retoiçar, a rebolar, à espera da hora da saída, ou seja à meia-noite, porque só a partir dessa hora podiam sair do esconderijo e circular livremente fora da gruta. Também se dizia que aquela furna escondia um enorme tesouro, deixado ali por piratas que se haviam escondido de outros piratas e tinha morrido lá dentro, mas em respeito pelos falecidos ninguém poderia lá ir procurar o tesouro. Tudo isto dava aquele lugar e, consequentemente, ao Caneiro, um sentido mítico, um ar de mistério, um enigma quase assustador.
Com a forma de um z gigante, o Caneiro iniciava-se bem lá fora, numa zona de rebentação, a umas boas dezenas de metros, na direção oeste/leste, formando uma pequena curva. Aí era largo e profundo, embora sinuoso e de difícil acesso. Depois prolongava-se por terra dentro, afunilando-se, até, na parte final, formar um quase ângulo reto, prolongando-se já com uma menor profundeza na direção norte/sul, até morrer junto a uma minúscula praia. Nesta zona era povoado de pequenos laredos, alguns visíveis com a maré vaza. Como fronteiras naturais o Caneiro das Furnas tinha a norte o Respingadouro, a sul a Coalheira, a leste um pequeno rolo pertencente ao lugar das Furnas e a oeste, obviamente o mar.
Mas o Caneiro, quer na sua parte interior quer na exterior era um excelente lugar de pesca. Para os pescadores mais pequenos e menos experientes, a margem leste da pate final era o local ideal. Aí pescavam-se sargos, rateiros, peixes-reis, pequenos badejosuu e garapaus. As lapas, por vezes até usadas como isco, abundavam por ali. Os pescadores mais experientes e destemidos demandavam a parte exterior, a sul, onde havia excelentes locais adequadas à pesca e onde abundavam vejas, salemas, castanhetas, garoupas e rocazes. No termo do Caneiro, local povoado de rochas e pedregulhos, existiam muitas moreias negras. Engodando-as com tinta de polvo ou restos de peixe era fácil apanhá-las, prendendo-as pela cabeça com tenazes e lançando-as para terra.
Era também esta parte mais interior que, por vezes se transformava em piscina, procurada sobretudo pelos banhistas mais tímidos e envergonhados que não se queriam expor aos olhares dos mirones que proliferavam no Cais e no Porto Velho.
Todo este mítico e idílico lugar parece ter sido parcialmente destruído em 2007 com a construção das chamadas piscinas naturais da Fajã Grande, como noticiou o Forum Ilha das Flores, em 8 de setembro de 2007, por coincidência o dia mais emblemático e festivo da freguesia, o dia da Senhora da Saúde: Constituíram-se como das maiores "surpresas" da Época Balnear 2007 (já a correr para o seu final).
Obra com a chancela da Câmara Municipal das Lajes, as novas Piscinas Naturais da Fajã Grande situam-se perto do antigo Campo de Futebol, e resultaram na criação de mais um espaço de veraneio no Oeste florentino.

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PRINCIPAIS ACONTECIMENTOS OCORRIDOS NA FAJÃ GRANDE NO SEC XIX (2ª METADE)

Quarta-feira, 10.05.17

1860:

Uma das canoas ancoradas no porto da Fajã Grande inicia a caça à baleia e captura a primeira baleia na ilha das Flores, a qual deu 80 barris de azeite que foram vendidos para o Faial.

1861:

Construção da Casa do Espírito Santo de Baixo.

4 de abril é criada a paróquia de São José da Fajã Grande.

20 de Junho a Fajã Grande é desanexada das Fajãs e ereta em freguesia.

17 de setembro realizou-se o primeiro casamento na Fajã Grande: foi o de João de Freitas Mendonça, viúvo, de 46 anos, filho de Caetano José Mendonça e de Inácia Rosa, sendo a noiva Ana Emília do Coração de Jesus, de 34 anos filha de João Jacinto Rodrigues e de Catarina Maria.

1862:

Primeiro enterro realizado no cemitério da Fajã Grande: foi de uma criança da Cuada. O primeiro de um adulto foi de uma mulher casada, de trinta e sete anos e residente na rua da Fontinha.

1863:

73 Jovens do Concelho das Lajes estão recenseados para a inspecção. A maior parte foge. Alguns são da Fajã Grande.

Ultimo ataque de piratas pelo Alabama.

1866:

26 de Fevereiro deu à Costa no baixio o Patacho inglês Greffin.

1869:

3 de fevereiro naufragou, na Ponta, um lugre francês.

25 de dezembro naufragou nos baixios da Fajã Grande a barca francesa Republique carregada de açúcar e aguardente. O povo invadiu o navio e apoderou-se do que pode, nomeadamente de açúcar que até terá utilizado para temperar as couves.

1872:

9 de janeiro naufragou nos baixios da Fajã Grande o lugre francês Alixis. Morreram dez dos onze tripulantes.

1876:

D. João Maria do Amaral Pimente, Bispo de Angral visita as Flores. Na paróquia das Fajãs crismou 1650 pessoas.

Naufragou o navio Ocean carregado de madeira, sendo muita aproveitada pela população.

1886;

Construção da Casa do Espírito Santo de Cima.

1870:

Construção de moinhos de Tio Manuel Luís, na Ribeira das Casas.

1871:

Faleceu num desastre, nos Fanais, Francisco Inácio Serpa, natural e residente no lugar da Ponta.

1875:

Desembarcam na Fajã Grande 36 indivíduos vindos do Faial, Pico e Graciosa.

1876.

D. João Maria do amaral Pimentel realiza nova visita pastoral às Flores e à Fajã Grande.

1880:

O emigrante local José Luís da Silveira ofereceu 14 águias para completar obras na igreja paroquial.

1881:

Criação do hospital da Misericórdia de St Cruz.

1882:

1 de janeiro apareceu o casco de um navio abandonado

30 de novembro casaram os meus avós paternos: António Joaquim Fagundes e Maria de Jesus Fagundes.

1883:

Naufragou o patacho inglês Aristos.

1887:

18 de janeiro, no mato, no lugar do Poio faleceu um jovem de 18 anos, de nome José Cristiano Rodrigues Júnior filho único de José Cristiano Ramos e de Margarida Jacinta Rodrigues, residente na rua das Courelas.

1891:

Desembarcam na Fajã Grande 67 pessoas vindas de S. Miguel que viajaram no navio “Veja”.

O navio “Veja” era velho. Na Fajã Grande fizeram-lhe um poema.

Acidente no Cantinho: na noite de 19 para 20 de março caiu um homem ao mar no Cantinho. De manhã foi encontrado o cadáver e soube-se que era António Joaquim da Silveira, de 32 anos, sem profissão, solteiro, filho natural ou ilegítimo de Maria Emília da Glória.

1896:

  1. Francisco José Vieira e Brito visita as Flores e a Fajã Grande.

1898

Construção da igreja de Nossa Senhora do Carmo, na Ponta.

Foi nomeado o primeiro cura da Ponta, o padre José Leal da Silva Furtado.

1899:

José Inácio de Freitas cultiva vinha e faz vinho e aguardente na Fajã Grande.

Acidente de uma embarcação por fora da Retorta em que faleceu o único tripulante António Fraga Cardoso, tinha 65 anos, era solteiro, trabalhador agrícola. Era filho de João de Fraga Mancebo e de Maria de Jesus Cardoso

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PRINCIPAIS ACONTECIMENTOS OCORRIDOS NA FAJÃ GRANDE NO SEC XIX (1ª METADE)

Terça-feira, 09.05.17

1800:

Na noite de 7 para 8 de setembro, véspera da festa da Senhora da Saúde, um grande furacão atingiu a ilha das Flores, sobretudo a zona de St Cruz, mas também a costa oeste e a Fajã Grande foram atingidas.

O pirata Almeidinha começou a atacar as Flores para se reabastecer de carnes e produtos frescos, roubando-os à população.

Começou a cultivar-se milho. Até aí predominava o trigo.

Nesses tempos a Fajã Grande produzia laranjas, batatas, mel, limões, carnes salgadas, louças e panos de lã e de linho.

Criavam-se de ovelhas e existiam alguns teares.

Começou a criação de bovinos.

1802:

O padre João de Freitas Lourenço, recentemente ordenado, celebra missa nova na primitiva ermida de S. José

1812:

O Padre Camões publica os “Sete Pecados Mortais

Ordenação e missa nova do padre José Narciso Silveira filho de Bartolomeu Lourenço Fagundes e sua mulher.

1814:

Ordenação do padre Raulino José da Silveira, filho de Ana Joaquina da Silveira

1816:

Morre o tenente Bartolomeu Lourenço Fagundes.

1819:

18 de agosto. Grande desastre de uma embarcação na baixa do Fanal em Ponta Delgada onde faleceram as seguintes pessoas da Fajã Grande: o mestre, Leonardo José da Silveira de 26 anos e sua esposa, Maria de Jesus de 20 anos e alguns jovens, um de apenas dezassete anos, chamado José filho de João de Freitas, uma rapariga de nome Maria, de vinte anos filha de João António da Silveira. Faleceram ainda José António Galo de quarenta e três anos, Esperança de Freitas de cinquenta e oito e José de Fraga Henriques de quarenta. A embarcação regressava do Corvo, da festa da Senhora dos Milagres.

1821:

Morre a mulher do tenente António José de Freitas Henriques, filho do ajudante José António Lourenço e Maria de Jesus.

1830

Chega às Flores o 1º médico Dr James Mackay e que também era cônsul de Inglaterra nas Flores.

1835:

Ordenação do padre Manuel Joaquim de Freitas, filho de António José de Freitas Borreco e de sua mulher Ana Joaquina,

1838:

Primeira grande emigração clandestina das Flores para o Brasil. A Fajã Grande terá sofrido a primeira debandada populacional

1847:

Iniciou-se a construção da atual igreja paroquial.

No dia 9 de Junho caiu uma enorme derrocada na zona dos Fanais, que mais tarde deu o nome ao lugar “a Quebrada dos Fanais”. Seguiu-se um tsunami.

1849:

Terminaram as obras de construção da igreja paroquial de São José.

O padre António José de Freitas foi nomeado primeiro pároco da nova paróquia de São José da Fajã Grande.

1850:

1 de agosto foi benzida a igreja paroquial pelo ouvidor das Lajes, padre Francisco António da Silveira.

Um picoense vindo de Santa Luzia, produz vinho do Pico na Fajã Grande.

Início da emigração para a América, por troca com a anterior para o Brasil. Segunda grande debandada populacional da Fajã Grande

1853:

Morre o capitão António Lopes de Amorim, tendo casado várias vezes na Fajã Grande.

1855:

Primeiro pedido para elevar a Fajã Grande a paróquia.

Missa nova do padre José Joaquim Cardoso.

1856:

Duas canoas baleeiras, durante 4 anos permaneceram ancoradas na Fajã Grande.

1858:

O navio “Santa Cruz” faz escala nas Flores. Nele viaja o vigário das Fajãs José Maria Henriques Álvares.

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BANDARRA E O ALMOCREVE

Segunda-feira, 08.05.17

Uma das mais fascinantes estórias que a minha avó contava eram as do Sapateiro Bandara, cujas célebres profecias, escritas manualmente e guardadas religiosamente por ela numa das gavetas da cómoda da sala sabia de cor.
Contava ela que Gonçalo Anes de Bandarra nascera em Trancoso. Era um homem simples e pobre, sapateiro de profissão, mas também um profeta e autor de trovas que deram tal brado na sua época que a própria Inquisição o chamou à barra do seu tribunal, dito santo. Esteve preso e prestes a ser queimado.
Uma dessas estórias rezava assim:
Certa vez deu-se o caso ter parado em Trancoso um almocreve, (creio que ela não sabia o que era um almocreve, mas isso também não era importante) o qual vinha de uma longa jornada por terras de além no cumprimento de fretes e serviços. Exausto e cansado o homem entrou para pernoitar na muito nobre vila de Trancoso. De tanto caminhar trazia os pés numa lástima. Um par de botas desfeitas a necessitar de conserto e meia dúzia de grossas bolhas nos pés.
Sabendo da existência, na vila, de um competente sapateiro-Remendão, depressa se colocou à porta da oficina do dito e lhe entregou o serviço. Feito este, prontificou-se o almocreve a pagar o justo valor pela prestação da obra acabada, de qualidade e asseada. Porém, Bandarra, em vez de lhe cobrar sequer um vintém, profetizou nos versos seguintes o saldo da dívida:
“Irás e virás,
Na praça me acharás
Meio dentro e meio fora
E então me pagarás.”
E não aceitou nenhum dinheiro ou outra forma de pagamento do forasteiro.
Foi-se o almocreve satisfeito por ter poupado alguns cobres e a julgar desaparafusado do juízo aquele trouxa que lhe passara recibo através de um verso mal alinhado. Sim, não havia mais ninguém no mundo que se deitasse a imaginar o que aquele sapateiro predizia com a estranha lengalenga. Não era de crer, para quem tivesse o juízo perfeito, que ele voltasse a Trancoso e encontrasse de novo o sapateiro, na praça, meio dentro e meio fora. Que coisa mais esquisita!
Por isso mesmo, depois de ter ficado varado de pasmo, nunca mais o arrieiro tornou a pensar no assunto.
Aconteceu, porém, certa incumbência de ofício fazer com que o almocreve, anos volvidos, tornasse a passar em Trancoso. Ouviu tocar os sinos a finados e tratou de perguntar sobre quem tinha morrido na terra, pois sentia, pelo pesar de quem via, ser pessoa muito querida no lugar. Logo lhe disseram que se tinha finado o sapateiro, um tal Bandarra, honrado homem de saber, poeta e profeta.
Um baque no peito trouxe à memória do homem aqueles versos aquando do conserto das botas. Desatou então a correr até à praça, onde havia uma igreja. Ao assomar à porta do templo – que lhe disseram ser de São Pedro – encontrava-se o esquife onde estava depositado o corpo inerte e frio do sapateiro. Metade dentro da igreja e metade fora dela.
O almocreve prostrou-se de joelhos e fez o sinal da cruz. Tinha finalmente compreendido o vaticínio do Bandarra.

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O PORTO DA PRAINHA

Domingo, 07.05.17

O histórico e um dos mais emblemáticos edifícios da freguesia, situado no porto da Prainha, em São Caetano do Pico era a “Casa dos Botes de São Caetano”. Ali, durante décadas e décadas se arrumavam os botes utilizados pelos valorosos baleeiros daquela freguesia. Aconteceu, porém, que este antigo e histórico edifício foi “estranhamente” vendido a um particular que, a seu belo prazer, o transformou num empreendimento turístico, constituído por três ou quatro moradias, perdendo-se assim o mais representativo e verdadeiro testemunho da atividade baleeira em São Caetano. Como se isso não bastasse a “Rota Baleeira” do Pico, escandalosamente, não só esqueceu como até foi desviada de São Caetano, mais concretamente do histórico Porto da Prainha do Galeão, onde Garcia Gonçalves, um foragido do reino, com ajuda dos italianos de Génova e Vicenza que ali se haviam fixado, construiu o célebre Galeão, que ofereceu ao rei de Portugal D. João III, com penhora para saldar a sua dívida e assim reconquistar a sua liberdade e que deu nome ao lugar. Foi este porto, hoje abandonado e esquecido, que se revelou como alternativa viável, em dias de temporal, às lanchas que faziam a travessia do Canal Faial-Pico quando não podiam fazer serviço na Madalena ou no Porto do Calhau. A sua beleza e excentricidade levou a que os realizadores da série “Mau Tempo no Canal”, inspirada no livro de Nemésio com o mesmo nome, ali gravassem uma das mais empolgantes cenas: a fuga de Margarida num bote baleiro…

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O BALAIO

Sábado, 06.05.17

O balaio era um cesto de palha gigante em forma de alguidar, feito de palha e que era usado, na Fajã Grande, antigamente, para armazenar ou carregar mantimentos (milho na espiga ou em grão, trigo também em grão, tremoços, favas e até feijão quando este abundava. Dado o seu exagerado tamanho, o balaio não servia para transportar os produtos mas sim para os guardar, geralmente nas casas velhas. Mas o balaio não era muito vulgar na Fajã Grande e os que existiam revelavam sinais de alguma antiguidade, pelo que haviam sido herdados de antepassados. A partir das décadas de quarenta e cinquenta do século passado já ninguém os fabricava, dado que já não se produzia trigo, a não ser em pequenas quantidades, a fim de aproveitar a palha para o fabrico de chapéus, quer os de homem quer os de mulher.
Não é fácil descortinar a etimologia da palavra da palavra ‘balaio’ na Fajã Grande também usada com outro significado. Os dicionários referem-no apenas como substantivo masculino, significando um cesto de diversos tamanhos, formatos e materiais. O feminino na língua portuguesa é utilizado mas para significar um pequeno cesto, sem asas e com tampa, O balaio é muito usado na América do Sul, de onde talvez seja originário e onde é feito com materiais diversos, como palha, folhas de milho, de bananeiras, de palmeiras, de bambu, cipós, fibras de agave e taquara.
Nestas paragens do globo para além de ser usado para guardar cereais e outros alimentos, também serve para os transportar e guardar roupas.
Castilho refere-se a ele com a seguinte frase: não há balaio de palmilhadeira em que não as vejais.
Consta que existem várias palavras derivadas ou relacionadas com balaio. As mais comuns são abalaiado, balaieiro e balaiada, mas a maioria dos dicionários não a refere
O outro significado dado a balaio na Fajã Grande era ao úbere ou mojo da vaca quando esta dava cria e era de proporções exageradas…

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AMIGOS

Sexta-feira, 05.05.17

 

“Não há solidão mais triste do que um homem sem amigos. Sem eles o mundo é um deserto.”

 

Francis Bacon

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MEMÓRIA DE PEDRO DA SILVEIRA

Quinta-feira, 04.05.17

(TEXTO DE LUIZ FAGUNDES DUARTE)

 

Hoje apetece-me recordar Pedro da Silveira. Mas é-me difícil escrever sobre este poeta, crítico literário, tradutor, propagandista, bibliotecário, colaborador de jornais, consultor literário, investigador de pequenas e grandes coisas da história e da literatura, e sobretudo observador atento e apaixonado de tudo e todos, ele mesmo incluído – de todos produzindo comentários da mais pura, e muitas vezes regeneradora, má-língua...

É-me difícil escrever sobre este intelectual português, natural da Fajã Grande da ilha das FLORES (onde nasceu a 5 de Setembro de 1922), que depois de ter cirandado pelas ilhas das Flores, de São Miguel e Terceira foi ancorar a Lisboa em 1951, um cidadão sem pátria fixa, porque filho de todas as pátrias, um homem de quem provavelmente nunca teremos uma biografia viável: descontadas as recriações poéticas da sua história pessoal, que nos deixou no “Soneto de Identidade” (Poemas Ausentes, 1999), todos aqueles que conheceram Pedro Laureano de Mendonça da Silveira e com ele privaram recordá-lo-ão como “um tanto duro, como | Pedro é pedra; picante agudo assomo | de silva dos silvedos – não me dou!”, um homem de “Raiz flamenga, já se sabe” [pelo nome Silveira, herdeiro do flamengo quinhentista ‘Van der Hagen’]; “e um gomo, | no fruto, castelhano” [pelo Mendonça], e se calhar com antepassados alemães ou polacos, mas sobretudo, como genialmente se definiu, um “Ilhéu | da casca até ao cerne”, “sem ambição maior que o livre Espaço”...

É-me difícil escrever sobre este homem que militou no anarco-sindicalismo, foi apoiante activo das candidaturas de Norton de Matos e Arlindo Vicente, colaborador da “Seara Nova”, espiolhado pela PIDE, mas no fundo desenganado da política activa ainda que nem por isso dela desligado... É-me difícil escrever sobre este homem que conheci em permanente estado de vigília, e que em Portugal foi, já nos anos quarenta, o primeiro tradutor de Pablo Neruda...

É-me, enfim, difícil escrever sobre este poeta que, da última vez que o vi se auto-retratou como um “camarão cozido”, numa cruel alusão às suas costas curvadas pela doença, e que no dia 13 de Abril de 2003 partiu de Lisboa – para a sua derradeira viagem em demanda do “livre Espaço”...

Também será difícil escrever sobre a poesia, sua e traduzida de outros, que nos deixou publicada – de que se destacarão A Ilha e o Mundo (1952), Sinais do Oeste (1962), Corografias (1985), Mesa de Amigos, versões de poesia (1986 e 2002), Poemas Ausentes (1999), e Fui ao Mar Buscar Laranjas, volume inaugural da sua obra poética completa (1999); ou sobre os contos, os ensaios histórico-literários, as crónicas, as antologias literárias, as memórias ou as recolhas de literatura popular e tradicional, em que andava a trabalhar ultimamente e cujos originais esperamos que se não venham a perder...

E será difícil, dizia eu, porque, sendo um poeta profundamente açoriano, Pedro da Silveira é no mais um poeta português de excelência, que nunca fez concessões à facilidade e ao regionalismo folclórico – e que era senhor de uma arte poética e de um saber erudito que é muito raro encontrar-se, puros e produtivos, numa única pessoa. E porque, apesar da má-língua por que muitos o recordarão – não me ocorre, para definir o poeta e investigador Pedro da Silveira, melhor palavra do que esta que me queima os dedos: rigor.

 

Luiz Fagundes Duarte / 09 de Dez de 2013, Açoriano Oriental

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NO REGRESSO

Quarta-feira, 03.05.17

Em tempos idos alguns Barões na Galiza leonesa sublevaram-se contra o rei de Leão pelo que abandonaram o território daquele reino ibérico, tentando refugiar-se no Condado Portucalense, governado, então, por Afonso Henriques, na altura ainda príncipe. Quando soube da rebelião D. Afonso Henriques regressava do sul, pelo que ordenou a D. Paio de Farroncóbias, seu foreiro e por ser um dos seus homens da sua confiança, que se separasse da comitiva e que imediatamente se pusesse a caminho de Coimbra, enquanto ele seguiria pelo litoral, na direção do Porto e de Guimarães. Acompanhá-lo-iam a maioria das tropas, enquanto D. Paio, seguiria viagem apenas acompanhado por um pequeno grupo de homens armados. De Coimbra rumaria Viseu, seguindo de seguida para Trancoso.

Encaminhava-se, pois, D. Paio de Farroncóbias, com a sua mesnada, para Trancoso. Foram dias e noites longos e difíceis, por entre montes e vales, dormindo e alimentando-se com a ajuda das populações. Numa dessas noites, a comitiva bélica foi forçada a pernoitar em Lubisonda.

Entrou, pois, o fronteiro de D. Afonso Henriques em Lubisonda, de surpresa, sem que ninguém o esperasse. Mas assim que a comitiva de D. Paio ultrapassou a muralha que circundava a pequena vila beirã, começaram a sair de todas as portas dos humildes casebres de Lubisonda, homens, mulheres e crianças. De repente as ruas e praças da vila encheram-se de povo que, sabendo serem guerreiros do valoroso príncipe Afonso, os aclamavam e louvavam, orgulhando-se de acolher aqueles que lutavam ao lado do seu valoroso príncipe. Era ali, na pequena vila de Lubisonda que iriam pernoitar os heroicos guerreiros que haviam acompanhado o príncipe. Uns numas casas outros noutras…

Foi no pequeno palacete do alcaide da vila Pedro Fogaça que D. Paio de Farroncóbias, cansado de dura peleja e longa viagem, se albergou e onde pernoitou. Pêro Fogaça e os restantes habitantes da pequena vila não cabiam em si de contentamento. A alegria do comerciante, no entanto, ultrapassou em demasia a dos restantes lubisondenses e excedeu todas as limitações, quando soube que D. Paio de Farroncóbias escolhera, premeditadamente, o seu humilde palacete para pernoitar. Há muito que ali se contavam os feitos vitoriosos do famoso conquistador, flagelo dos infiéis, ilustre fronteiro do ditoso príncipe, as suas vitórias sobre os infiéis e as suas investidas, cada vez mais intensivas, para libertar o Condado Portucalense do jugo do monarca leonino e transformá-lo em reino independente. Mas fora agora, sobretudo agora, que a fama da vitória de Ourique se estendia por todo o condado e havia já chegado a Lubisonda.

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SABEDORIA DAS NAÇÕES

Segunda-feira, 01.05.17

(POEMA DE PEDRO DA SILVEIRA)

 

Meu padrinho, e era padre, dizia:

quem se deita com moços pequenos

acorda… (ao modo honesto – truncado).

 

Mas, lida em Pérez Escrich

e poesia desse estilo,

prima Policeninha

(já lá está coitadinha)

Chamava aquilo

                                   flores tristes.

 

De cada lado

seu recado.

 

5-VII

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