PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
NO REGRESSO
Em tempos idos alguns Barões na Galiza leonesa sublevaram-se contra o rei de Leão pelo que abandonaram o território daquele reino ibérico, tentando refugiar-se no Condado Portucalense, governado, então, por Afonso Henriques, na altura ainda príncipe. Quando soube da rebelião D. Afonso Henriques regressava do sul, pelo que ordenou a D. Paio de Farroncóbias, seu foreiro e por ser um dos seus homens da sua confiança, que se separasse da comitiva e que imediatamente se pusesse a caminho de Coimbra, enquanto ele seguiria pelo litoral, na direção do Porto e de Guimarães. Acompanhá-lo-iam a maioria das tropas, enquanto D. Paio, seguiria viagem apenas acompanhado por um pequeno grupo de homens armados. De Coimbra rumaria Viseu, seguindo de seguida para Trancoso.
Encaminhava-se, pois, D. Paio de Farroncóbias, com a sua mesnada, para Trancoso. Foram dias e noites longos e difíceis, por entre montes e vales, dormindo e alimentando-se com a ajuda das populações. Numa dessas noites, a comitiva bélica foi forçada a pernoitar em Lubisonda.
Entrou, pois, o fronteiro de D. Afonso Henriques em Lubisonda, de surpresa, sem que ninguém o esperasse. Mas assim que a comitiva de D. Paio ultrapassou a muralha que circundava a pequena vila beirã, começaram a sair de todas as portas dos humildes casebres de Lubisonda, homens, mulheres e crianças. De repente as ruas e praças da vila encheram-se de povo que, sabendo serem guerreiros do valoroso príncipe Afonso, os aclamavam e louvavam, orgulhando-se de acolher aqueles que lutavam ao lado do seu valoroso príncipe. Era ali, na pequena vila de Lubisonda que iriam pernoitar os heroicos guerreiros que haviam acompanhado o príncipe. Uns numas casas outros noutras…
Foi no pequeno palacete do alcaide da vila Pedro Fogaça que D. Paio de Farroncóbias, cansado de dura peleja e longa viagem, se albergou e onde pernoitou. Pêro Fogaça e os restantes habitantes da pequena vila não cabiam em si de contentamento. A alegria do comerciante, no entanto, ultrapassou em demasia a dos restantes lubisondenses e excedeu todas as limitações, quando soube que D. Paio de Farroncóbias escolhera, premeditadamente, o seu humilde palacete para pernoitar. Há muito que ali se contavam os feitos vitoriosos do famoso conquistador, flagelo dos infiéis, ilustre fronteiro do ditoso príncipe, as suas vitórias sobre os infiéis e as suas investidas, cada vez mais intensivas, para libertar o Condado Portucalense do jugo do monarca leonino e transformá-lo em reino independente. Mas fora agora, sobretudo agora, que a fama da vitória de Ourique se estendia por todo o condado e havia já chegado a Lubisonda.