PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
2018
A tosos os vitantes e leitores, Pico da Vigia 2 deseja uma ano novo muito feliz e próspero, com tudo de bom.
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TRÍADES
Tríades são conjuntos de ramificações de uma Sociedade Secreta que surgiu na China durante o século XVI e que se expandiu para outros países após 1842, quando a China perdeu a Guerra do Ópio para a Inglaterra. Mas as Tríades chinesas não são a mesma coisa que Máfia Chinesa, dado que são uma organização geográfica, étnica, cultural e estruturalmente única, sendo que apenas uma parcela de seus membros são ligados a criminalidade. Outras organizações chinesas, quer dentro da China quer em comunidades no exterior, geralmente tidas como máfia chinesa não são pertencentes as Tríades.
Com sede em Hong Kong, Macau, Taiwan e Singapura, a Sociedade Secreta chinesa tem bases no Sul e Sudeste asiático, tendo-se expandido para Estados Unidos, Canadá, Austrália, Europa, etc. Apesar de no Ocidente ser relativamente comum acreditar que as Tríades chinesas são a Máfia chinesa, isto é um mito. As tríades são organizações de características étnicas, linguísticas, culturais e regionais específicas, sendo que a sua atuação dentro da China continental é limitada desde o expurgo de Seitas em 1949. Na China continental existem outras organizações criminosas e secretas que diferem das tríades tanto pelas características como também pelo Modus Operandi e fonte de lucros.
As tríades chinesas englobam outras organizações criminosas menores para execução de serviços "sujos". Beneficiam-se com a adesão regular de cerca de 1,5 milhão na China continental e 2,5 milhões de membros no mundo inteiro. As Tríades por muitas décadas eram consideradas intocáveis pela lei em Hong Kong, porém, nos anos 70 uma série de medidas legais anticorrupção e anti-gangues começaram a minar as tríades hongkongonesas.
Atualmente, as tríades chinesas de Hong Kong e Macau têm como grande fonte de lucros os Crimes do Colarinho Branco, contrabando e fraudes em apostas de jogos. Outras tríades, como em Taiwan ainda mantém grande parcela de seu lucro no tráfico de heroína do Sudoeste Asiático. Embora, haja em menor escala fontes oriundas da extorsão, espionagem, assassinato, tráfico de armas e prostituição. As fações mais influentes da Tríade criam empresas e corporações legítimas como fachada de suas operações criminosas.
A influência destas sociedades espalhou-se por toda a China e o grande contingente começou a se ramificar em pequenos grupos, entre eles a “Sociedade das Três Harmonias”. Este grupo adotou um triângulo com emblema, geralmente acompanhado por imagens de espadas ou retratos de imagens decorativas de espadas ou retratos de Guan Yu, um dos mais temidos guerreiros da China Antiga.
Em 1949, quando o Partido Comunista Chinês tomou o poder na China continental, a lei tornou-se mais rigorosa e o cerco foi fechado em torno das organizações criminais. Com a pressão do governo, a tríades migraram para Hong Kong, que ainda era uma colônia da Inglaterra. Segundo dados do governo chinês, o número de integrantes da máfia chinesa em 1950 era estimado em 300.000 membros apenas em Hong Kong.
Um ano depois, nove grupos dividiam o poder na cidade: Rung, Tung, Chuen, Wo Hop To, 14K, Luen, Shing, Sun Yee On e Wo Shing Wo. Cada uma dessas organizações contava com base de atividades própria e sistema de hierarquia social. Após os tumultos gerados pela máfia chinesa em 1956, o governo e a polícia de Hong Kong apresentaram um plano ainda mais rigoroso de punição e repressão aos foras da lei, diminuindo sua atividade.
Entre as práticas ilícitas das Tríades Chinesas está a exploração da prostituição. Estes grupos traficam mulheres do Sudeste da Ásia, da América do Sul e do Leste Europeu para a Europa Ocidental. Outras atividades que praticam são a movimentação de drogas ilícitas, contrabando de cigarros, de munições, organização de sequestros, homicídios, roubos, e jogos de azar.
Dados retirados da Wikipédia (A Enciclopédia Livre).
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PEZINHO DA VILA (APÓCRIFO)
Minha sogra é uma aia,
Mora num lindo castelo
Já lhe dei um bom presente
Que agora virou libelo.
Antes a tivesse esquecido
Ou só lhe dado um vestido.
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O GUILHERME, O HOMEM DOS SETE OFÍCIOS
O Guilherme morava na Fontinha, numa casa que ficava em frente à Fonte Velha e paredes-meias com a dos meus avós, de quem era também sobrinho. O seu pai era o Augusto Pimentel, mais conhecido pelo “Arionó” e a sua mãe a Mariana “Batelameira”, nascida do terceiro casamento do meu bisavô materno. Por isso e para além de primo, tratava o Guilherme por vizinho, uma vez que me habituei, desde sempre, a chamar vizinhos aos vizinhos dos meus avós. Além disso, o Guilherme tinha um coração bom e generoso, era um prócer de atitudes prestáveis e solidárias, o que de facto o tornava amigo de todos. Não se lhe conheciam inimigos e ninguém lhe desejava mal ou infortúnio. Deu-me um enorme prazer, uma alegria desmesurada e uma comoção transcendente, passados quase quarenta anos, ver o Guilherme, já de cabelos brancos e alquebrado pelo passar dos anos mas sempre com ar jovial e galhofeiro, num programa recentemente transmitido pela RTP Açores, no exercício de uma das várias actividades que sempre desenvolveu e em que era exímio executante – na manufactura de utensílios de vimes: cestas, cestos e cabazes e afins. Na realidade e para além de se dedicar à actividade de cesteiro o Guilherme ainda exercia outras actividades, não sendo menos eficiente e hábil na execução das mesmas. É que o Guilherme, para além de cesteiro, era agricultor, criador de gado, caiador, tocador de trombone, pescador e admoestador de cães. Um verdadeiro homem de sete ofícios!
Desde pequeno que o Guilherme ajudava o pai na agricultura, lavrando os campos ou simplesmente andando à frente do gado, levando os animais aos prados, ceifava molhos de erva nas lagoas das Águas e da Figueira e acarretava-os aos ombros com desenvoltura e com eles alimentava o gado. O Guilherme carregava às costas pesados cestos de batatas e de inhames, lavrava, sachava, mondava, desbastava, quebrava espiga, rachava lenha e a empilhava-a ordenadamente no cepo ou debaixo do lar da cozinha. Subia a Rocha com desenvoltura e carregava os pesados molhos de lenha do Cabeço da Rocha e do Pocestinho. Levava as vacas a pastar, alimentava-as à manjedoura, atrelava-lhes o corsão ou o arado, ordenhava-as, tirava-lhes o esterco e despejava a urina da poça. Era também o Guilherme quem cultivava e apanhava os vimes com que ele próprio fazia cestos, as cestas e os cabazes, numa palavra era ele que produzia a matéria-prima para obter os produtos finais de cestaria que executava com enorme competência. O Guilherme também tocava trombone na filarmónica “Senhora da Saúde, sendo talvez um dos mais antigos músicos daquela filarmónica, ainda residente na Fajã. O Guilherme era um bom caiador de casas, dava dias para fora e era a seu cargo que estava o caiar da igreja antes da festa da Senhora da Saúde, sendo que era ele o único caiador capaz de o fazer sem colocação de andaimes, subindo e descendo pela sineira, saltando da torre para a cruz e da cruz para a torre, deslocando-se à vontade sobre as cimalhas, chegando mesmo a desafiar os que pela rua andavam, com um à vontade extraordinário. Desde pequeno que se afeiçoou também pelo mar. Aprendeu a nadar no Porto Velho com a ajuda e mestria do pai que também o iniciou nas lides da pesca, tornando-se um exímio pescador. Fartura de peixe em casa era fruto da perícia piscatória do Guilherme. E não é que para o entronizar como o “verdadeiro homem dos sete ofícios” da Fajã Grande, o Guilherme foi um verdadeiro criador de cães dos quais se tornou também um perspicaz e astuto “admoestador”.
Guilherme ou o homem dos sete ofícios. Faleceu hoje, paz à sua alma.
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BOXING DAY
Segunda Wikipédia, a enciclopédia livre, o Boxing Day é um feriado celebrado no dia seguinte ao dia de Natal que nasceu no Reino Unido, mas já é celebrado em alguns países, nomeadamente nos que fizeram parte do Império Britânico.
No calendário litúrgico do cristianismo ocidental, Boxing Day é o segundo dia de Christmast e é dedicado a Santo Estêvao, primeiro mártir do Cristianismo. Em alguns países europeus, nomeadamente a Alemanha, a Polônia, a Bélgica, a Holanda e os países nórdicos, o 26 de dezembro é celebrado como segundo dia de Natal.
Existem teorias concorrentes para as origens do termo, nenhum dos quais é definitivo. O Oxford English Dictionary dá os primeiros atestados da Grã-Bretanha na década de 1830, definindo-o como "o primeiro dia de semana após o dia de Natal, observado como um feriado no qual os pós-homens, recados-meninos e servos de vários gêneros esperam receber uma caixa de natal ".
O termo "caixa de Natal" remonta ao século 17 e, entre outras coisas, significava um presente ou gratificação dado no Natal. Na Grã-Bretanha, geralmente confinado a gratificações concedidas àqueles que deveriam ter uma vaga reivindicação sobre o doador por serviços prestados. Na Grã-Bretanha, era costume que os comerciantes coletassem "caixas de Natal" de dinheiro ou presentes no primeiro dia de semana após o Natal, graças a um bom serviço ao longo do ano. Na África do Sul os lubrificantes e os coletores de lixo, que normalmente tinham pouca ou nenhuma interação com aqueles que serviam, estavam acostumados a bater-lhes às portas pedindo uma "caixa de Natal", geralmente uma pequena doação em dinheiro. A tradição europeia, que há muito incluiu o fornecimento de dinheiro e outros presentes para aqueles que estavam carentes parece vir desde a Idade Média, mas a origem exata é desconhecida. Também se cuida que isto tenha a ver com a Caixa de Almas colocada em áreas de culto para coletar doações para os pobres. Além disso, pode vir de um costume da era cristã / cristã primitiva, em que as caixas metálicas colocadas fora das igrejas foram usadas para colecionar ofertas especiais ligadas à Festa de Santo Estêvão, que na Igreja Ocidental cai no mesmo dia.
Atualmente na Inglaterra este termo está associado ao desporto rei, uma vez que todos os anos, neste dia se realiza uma grande jornada de futebol, este ano com este cenário motivador porque recheada de atrativos: o Manchester City já soma 17 triunfos consecutivos na liga inglesa, assumindo uma liderança de 13 pontos de vantagem para o grande rival, o United, que tropeçou na última jornada, frente ao Leicester. O atual defensor do título, o Chelsea está a três pontos do vice-líder e o objetivo mais concreto é a luta pelo segundo lugar. Para o duelo contra o Brighton, o time vai poder contar com o regresso do espanhol Álvaro Morata. Outro atrativo do "Boxing Day",deste ano, é a partida que abre a jornada, entre Tottenham e Southampton. Os spurs estão no quinto lugar a um ponto do Liverpool.
Dados retirados da Wikipédia a Enciclopédia livre
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FRASCOS DE XAROPE A SERVIREM DE BIBERÕES E LEITE AQUECIDO EM CIMA DE CANDEEIROS A PETRÓLEO
Muito tiveram que inventar os nossos antepassados! Não apenas no seu dia à dia mas também e sobretudo nos momentos ou ocasiões mais importantes e significativas da sua vida, como eram aquelas em que nascíamos e íamos crescendo, no meio de enormes dificuldades, com excessivas carências, limitadas condições e pouquíssimos meios de conforto e bem estar. Fixemo-nos num pormenor aparentemente muito simples: o dos nossos biberões. Nos tempos em que nos criámos, na década de quarenta, não havia plásticos ou afins e, consequentemente, não existiam biberões com a forma, a qualidade, a performance e a excelência dos actuais. Aliás nem sequer nenhuns biberões de outra coisa qualquer havia e se os houvesse não era possível comprá-los por parte da maioria das famílias da Fajã Grande. Assim, aos nossos progenitores só se proporcionava uma alternativa, a de inventar. Havia que inventar não apenas os biberões mas tudo o resto necessário ao nascimento e ao subsequente crescimento duma criança. Para o nascimento inventou-se a velha do Corvo, que daquela pequenina ilha trazia os meninos numa cestinha. Mas inventar ou arranjar biberões não era assim tão fácil como criar a figura mítica duma velha vinda do Corvo. É que os recipientes de vidro também eram raros e a maioria desadequados, não apenas na forma mas também no tamanho. Imagine-se o que seria dar de mamar a uma simples e inocente criancinha numa garrafa de litro, uma vez que estas eram praticamente as únicas então existentes, resultantes da venda de vinho, aguardente ou licores por parte dos comerciantes. As de cerveja e laranjada eram cilíndricas e muito escorregadias e as de pirolito tinham uma bola no gargalo que impedia a saída do leite.
Sendo assim e perante tais dificuldades e limitações, havia que procurar frascos mais adequados para biberões, noutras paragens, recorrendo-se frequentemente aos frascos de medicamentos, geralmente os dos xaropes, dado que estes eram mais pequenos, ligeiramente achatados e, obviamente, mais adequados a que as frágeis mãozinhas os agarrassem, dado que as mães não tinham muito tempo para os ir segurando durante a mamada. Era pegar e mamar. Assim, recorria-se geralmente aos frascos de xarope Benzodiacol, usados contra a tosse e, por isso existentes em maior quantidade e mais adequados por duas razões: primeiro porque o gargalo onde se enroscava a tampa tinha muitas voltas, sendo assim mais fácil prender a “mamadeira” e, por outro lado, eram bastante espalmados permitindo, assim, ao fedelho segurá-los melhor, enquanto bebia o delicioso, agradável e reconfortante leitinho.
Quanto ao leite, normalmente era fervido num caldeirão próprio, bastante mais pequeno do que os caldeirões de cozinhar. Mas não era possível estar a fervê-lo ou aquecê-lo ao lume sempre que a criancinha tivesse fome. Custava muito acender o lume com garranchos verdes e, ainda por cima, só para aquecer um pingo de leite… Micro-ondas?!... Nem na imaginação ou em sonhos… Daí recorrer-se a algo acessível e fácil mas nem sempre eficiente e eficaz, ou seja, por vezes não se alcançava o objectivo deseja, sendo, nesse caso, “pior a emenda do que o soneto”. Para aquecê-lo colocava-se o leite num pequeno caneco de alumínio e este em cima do fogão de vidro de um candeeiro a petróleo, daqueles que tinham um rendilhado ou uma espécie de flor na parte superior do vidro chaminé. Uma pequena distracção e estava, neste caso em vez do caldo, o leite derramado, com a agravante de sujar e besuntar não apenas o caneco mas também o candeeiro e, muito especialmente o fogão da luz que ficava num estado de sujidade impressionante e que só poderia ser limpo depois de arrefecer.
Tantas eram consumições! Tantas eram as arrelias. Talvez por isso mesmo deixávamos de mamar nos biberões bastante cedo e nos habituávamos a beber o leitinho pelas tigelas de loiça, por canecos de alumínio ou até pelas tampas das latas em que se ordenhavam as vacas. E nem um pingo se derramava!
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CONTO DE NATAL
(CONTO TRADICIONAL EUROPEU)
Leocádia, contra vontade do pai, construiu um pequeno presépio num canto da esconsa sala do velho castelo. Tudo muito simples, como lhe ensinara o ermitão Justino: o Menino, a Virgem Mãe e São José. Umas pedras rústicas, cobertas de limos esverdeados, formavam a gruta. Leocádia sabia que havia mais figuras a representar o nascimento de Jesus, mas não as tinha e, mesmo que as tivesse não as podia ali colocar, contrariando a vontade do progenitor.
Mesmo assim, permanecia numa enorme angústia. Se o pai descobrisse aquelas imagens, seria o fim de tudo. De repente teve uma ideia. E se colocasse em frente ao presépio algumas árvores? Para além de encobrirem o seu querido presépio, enfeitariam o berço do Menino e fazer-lhe-iam companhia na noite mágica em que nascesse, uma vez que esse privilégio estava interdito aos anjos e aos pastores. Sem que os guardas se apercebessem, saiu do castelo e correu à floresta que o rodeava onde abundavam muitas árvores. Num ápice cortou três: uma tamareira, uma oliveira e um pinheiro. Ao regressar colocou as três pequenas árvores ao redor do presépio, tão pequenas que nem a parte mais alta de gruta cobriam.
À meia-noite fez-se um enorme relâmpago. Estranhando tal acontecimento, todo o castelo se pôs em alvoroço. O rei também se levantou. Ao passar em frente ao presépio de Leocádia, deparou-se com três enormes árvores. Para admiração de todos duas sorriam e uma chorava. De facto, as três árvores ao verem Jesus nascer, quiseram oferecer-lhe um presente. A oliveira foi a primeira a oferecer, dando ao menino Jesus uma bela cesta de azeitonas. A tamareira, logo a seguir, ofereceu-lhe um açafate com as suas doces tâmaras. Ambas se alegravam e sorriam de contentamento por terem oferecido ao Menino belos presentes. Mas o pinheiro como não tinha nenhum fruto para lhe oferecer chorava de tristeza.
Nessa altura o céu voltou a clarear. Todas as estrelas do céu, vendo a tristeza do pinheiro, que nada tinha para dar ao menino Jesus, aproximaram-se da terra, desceram sobre o castelo e pousaram sobre os ramos do pinheiro, iluminando. e adornando tudo ao seu redor e oferecendo ao Menino Jesus a mais bela luz que jamais se vira sobre a face da terra.
O rei caiu de joelhos diante do presépio e da filha. Pouco tempo depois batizou-se e, no Natal seguinte mandou construir um belo presépio, onde colocou um grande pinheiro, à espera de que, na noite mágica, no momento em que o menino nascesse. Mas a estrelas não mais voltaram a cair sobre o castelo, nem sobre os ramos do pinheiro. No entanto, o rei mandou colocar estrelas reluzentes e brilhantes e ordenou que, a partir de então, em todas as casas do seu reino e do mundo mandou colocar um pinheiro e que nele se pendurassem muitas luzes que fizessem lembrar as estrelas que naquela noite haviam descido do céu sobre o seu castelo.
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FELIZ NATAL
A todos os visitantes e leitores do Pico da Vigia 2, senceros votos de um Natal muito Feliz e um ano Novo muito próspero.
Assim que: neste Natal o amor e a esperança aqueçam seus corações e o Ano Novo traga grandes realizações e muita felicidade. Que não faltem a boa comida e os ricos presentes, mas principalmente que haja saúde, alegria e bons sentimentos para compartilhar. E que cada um de vocês celebre estas festas junto da família ou daqueles que mais ama. Feliz Natal e um próspero Ano Novo para todos!
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O SINO DA MINHA ALDEIA
(POEMA DE FERNANDO PESSOA)
O sino da minha aldeia,
Dolente na tarde calma,
Cada tua badalada
Soa dentro de minha alma.
E é tão lento o teu soar,
Tão como triste da vida,
Que já a primeira pancada
Tem o som de repetida.
Por mais que me tanjas perto
Quando passo, sempre errante,
És para mim como um sonho.
Soas-me na alma distante.
A cada pancada tua,
Vibrante no céu aberto,
Sinto mais longe o passado,
Sinto a saudade mais perto.
Fernando Pessoa
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NATAL DE OUTROS TEMPOS
(TEXTO DE MAMUEL AZEVEDO)
É bom lembrar para que não esqueça… Preparado por novenas na igreja, o Natal, também, se ia preparando em cada casa. Na minha, lembro-me de minha mãe armar o presépio com as figuras que passavam de ano para ano (ovelhinhas, pastores, casas, reis magos, Jesus, N. Senhora e S. José), com as leivas que íamos buscar bem perto (hoje, é preciso ir para “cascos de rolha”) que o resto era reservado à criatividade da autora. Meu pai já trouxera do mato azevinho com que era enfeitada a casa naquele período. E quão bela ficava!
Mais perto do dia, meu pai trazia um galho de pinheiro, tão grande que dava para fazer a árvore de Natal, que era enfeitada com postais da América e com caixinhas embrulhadas em pratas, que nós íamos alisando, depois de comer os deliciosos chocolates que elas embrulhavam. Com estes e outros enfeites, a árvore ficava bem bonita!
Ao lado da árvore, o “altarinho”. Caixotes e caixotinhos cobertos com uma toalha branca, de renda e, lá em cima, o Menino. Obviamente, o altar era enfeitado com solitários pequeninos com camélias brancas duma árvore do nosso jardim. Laranjas e tangerinas, bem como pratos de trigo postos de molho pela Senhora da Conceição, para que estivesse viçoso naquela época.
Muitas vezes, havia um “de molho”, o que obrigava alguém a não participar nalgumas manifestações. É claro que aparecia sempre um brinquedo, debaixo do travesseiro (alguns nem isso!), mais uns figos passados, comprados na loja do sr. Correia, que os tirava de uma seira. Mas, a festa não estava, totalmente, feita: faltavam os ranchos, que podiam chegar, a qualquer hora, na época natalícia que ia até os reis. Depois de cantarem eram brindados: além dos figos passados, alfarrobas e bolachas feitas lá em casa, tudo acompanhado de uns “calzinhos” de licor, aguardente ou anis.
Refeições melhoradas nos dias festivos. E por aqui nos ficávamos que o outro viria no ano seguinte.
Também, festa na igreja. Precedida de solene novena, tudo convergia para a noite de Natal. Até ao Gloria era Advento. Ainda me lembro do cântico que a capela cantava, no início da celebração: “Sem pátria, sem teto,/ Opressos do mal./ Nós somos qual ave,/ Sem ninho no vale!” Depois, vinha o espetáculo. Na altura do Gloria – quiçá o momento mais importante – fazia-se festa: Tocavam as campainhas e os sinos e só não havia outras manifestações porque não havia eletricidade. Corrida a cortina, os circunstantes deparavam-se com um trono, muito bem enfeitado e iluminado, com “anjinhos” (crianças da catequese) e, lá em cima, o Menino Jesus. No fim da missa, todos se cumprimentavam, desejando as boas festas tradicionais.
No dia, missa cantada e, de tarde, procissão para as crianças que primavam por levar as suas ofertas que, depois eram arrematadas, revertendo o seu produto para a catequese. As ofertas eram constituídas por fruta da época: laranjas e tangerinas mas, também, outras coisas.
E a festa continuava, com os ranchos a passar pelas casas, sobretudo nos dias festivos: primeiro do ano e dia de reis.
Manuel Azebedo in FB
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ERA UMA VEZ UM REI
(FÁBULA ÁRABE)
Era uma vez um rei muito rico. Tinha tudo, dinheiro, poder, conforto, centenas de súditos. Mas, ainda assim não era feliz.
Um dia, cruzou-se com um de seus criados, que assobiava alegremente enquanto esfregava o chão com uma vassoura. Observando-o, rei ficou intrigado. Como é que ele, um soberano supremo do reino, tão rico e tão poderoso, podia andar tão cabisbaixo enquanto um humilde servente que lavava o chão parecia desfrutar de tanto prazer? Por isso perguntou-lhe:
– “Por que estás tão feliz?”
– “Majestade, - retorquiu o criado - sou apenas um serviçal. Não necessito muito. Tenho um teto para abrigar minha família e comida quente para aquecer nossas barrigas”.
O rei não conseguia entender. Chamou então um dos seus conselheiros, aquele em quem mais confiava.
– “Majestade, creio que o servente não faça parte do Clube 99.
– “Clube 99?! O que é isso?”
– “Majestade, para compreender o que é o Clube 99, ordene Vossa Alteza que seja deixado um saco com 99 moedas de ouro na porta da casa desse seu criado”.
E assim foi feito.
Quando o pobre criado encontrou o saco de moedas à sua porta, ficou radiante. Não podia acreditar em tamanha sorte. Nem em sonhos tinha visto tanto dinheiro. Louco de contentamento esparramou as moedas na mesa e começou a contá-las.
- “…96, 97, 98… 99.”
Achou estranho serem 99. Achou que quem ali as deixara talvez tivessem tirado uma.
- Provavelmente eram 100 – pensou. Mas, por mais que procurasse, não encontrou a que faltava. Eram 99 mesmo.
De repente, por algum motivo, aquela moeda que faltava ganhou uma súbita importância para o criado. Com apenas mais uma moeda de ouro, uma só, ele completaria 100. Um número redondo! Uma fortuna de verdade.
Ficou então obcecado por completar seu recente patrimônio com a moeda que faltava. Por isso decidiu que faria tudo o que fosse preciso para conseguir mais uma moeda de ouro. Trabalharia dia e noite. Afinal, estava muito perto de ter uma fortuna de 100 moedas de ouro. E, daquele dia em diante, a vida do criado mudou por completo. Passava o tempo todo pensando em como ganhar uma moeda de ouro. Estava sempre cansado e resmungando pelos cantos. Tinha pouca paciência com a família que não entendia o que era preciso para conseguir a centésima moeda de ouro. Até parou de cantarolar enquanto varria o chão.
O rei, percebendo essa mudança súbita de comportamento, chamou o seu conselheiro.
– “Majestade, agora o servente faz, oficialmente, parte do Clube 99.”
E continuou:
– “O Clube 99 é formado por pessoas que têm o suficiente para serem felizes, mas mesmo assim não estão satisfeitas. Querem sempre mais e mais. Estão constantemente correndo atrás da moeda que lhes falta. Vivem repetindo que se tiverem apenas essa última e pequena coisa que lhes falta, aí sim poderiam ser felizes de verdade”.
E concluiu:
“Majestade, na realidade é preciso muito pouco para ser feliz. Porém, no momento em que ganhamos algo maior ou melhor, imediatamente surge a sensação de que poderíamos ter mais”. “Passamos a acreditar que, com um pouco mais, haveria de fato, uma grande mudança. E ficamos em busca de um pouco mais. Só um pouco mais. É assim que perdemos o sono, a alegria, a paz interior e machucamos as pessoas que estão a nossa volta. Esse pouco mais é o preço do nosso desejo.”
FÁBULA ÁRABE.
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A MULHER ADIVINHONA
Conta-se que antigamente havia uma que diziam que tinha o poder de falar com seres de outro mundo. Essa senhora sentava-se à porta e, quando as pessoas passavam por ali e paravam, ela contava-lhes o que quando os seus netos fossem velhos muita coisa neste mundo havia de mudar. Nesses tempos futuros seriam as mulheres a andar atrás dos homens, havia de haver tantos carros no ar como poeira no chão.
Quando dizia isto ainda não tinha visto nenhum automóvel e muitos sapatos sem calcanhar, saias pela meia perna e com apenas um palmo de tamanho. As pessoas haviam de casar num dia e separar-se no outro. Havia de haver caixas a falar nos cantos das casas, caixinhas mexeriqueiras nos ouvidos e muita luz sem vir das velas. As pessoas riam-se quando ela dizia isto, chamando-a de maluca e chamavam-lhe a “adivinhona”.
Bem lhe perguntava quem lhe dizia isto mas a mulher nunca explicava.
(Estória muito antiga, com algumas alterações noutras regiões)
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NOITE DE NATAL NA CUADA
Segundo o site da RTP Açores a referida estação televisiva já está a gravar o programa de “Natal nas Flores”, que será transmitido na noite de Natal. As gravações começaram no passado dia 9 de Dezembro, na “Aldeia da Cuada”, (antigo lugar pertencente à freguesia da Fajã Grande) na ilha das Flores, sabendo-se que o programa vai preencher a noite de Natal na emissão da RTP-Açores, na noite do dia vinte e quatro e será apresentado pelo jornalista Vasco Pernes, e tem como objetivo mostrar a música e as tradições de natal da maior ilha do grupo ocidental açoriano. Os cidadãos estrangeiros residentes na ilha foram igualmente convidados a participar nas gravações.
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MADRUGADA DE DEZASSEIS DE DEZEMBRO
Era o dia dezasseis de dezembro. A noite estava escura e fria. Era o primeiro dia de Novenas de Natal. Na véspera, por mandato expresso da minha irmã mais velha, havíamo-nos deitado muito cedo. A ordem até foi cumprida com a alegria. Deitar cedo para nos podermos levantar de madrugada e ir à igreja. Na verdade era nessa manhã que começavam as novenas do Natal. Não podíamos nem queríamos faltar
Ainda o velho exemplar da Ansónia Clok de Nova Iorque, encastoado numa peanha, na parede da sala, não tinha dado as cinco da madrugada e já minha irmã nos abanava, sucessivamente, em violentas tentativas de nos afastar dos braços de Morfeu. Sonolentos, virávamo-nos para o outro lado, mas ela insistia. Por fim acordávamos esbaforidos com a persistente convicção de que ouvíamos o repicar dos sinos na torre da igreja. Na cama ao lado, meu pai ainda dormia. Levantar-se-ia depois de nós, mas com outro destino. Ceifar e carregar um molho de erva à lagoa das Covas. Vestíamo-nos à pressa, passávamos pela cara um pingo de água que ficara da véspera no lava mãos da cozinha e partíamos em correria esbaforida. A noite continuava escura e, agora, mais fria. Das encostas do Pico da Vigia e do Outeiro desciam sibilos de vento que se diluíam sobre os telhados das velhas casas da Assomada, perdendo-se na imensidade escura da noite. Das janelas semicerradas de uma ou outra casa saía uma luz trémula, baça e insegura.
Na torre da igreja, os sinos continuavam a badalar, sobrepondo-se aos sibilos angustiantes do vento e ao bramido roufenho do mar. Ao chegar à Praça cruzamo-nos com as tias que vinham da Fontinha. Seguimos juntos, pela Rua Direita, até à igreja. Como que misteriosamente, de todas as ruas e da maioria das casas saiam vultos negros. Como nós, também enrolados em agasalhos. Os homens em grossos casacões, de gola virada ao redor do pescoço, com bonés a proteger a cabeça e as mulheres cobertas com xailes de lã, apertados com as mãos sob o queixo e a tapar-lhes o cocuruto. Alguns seguiam em pequenos ranchos, transportando lanternas de vidro tisnado e luz amarelada, baça e trémula. Outros seguiam só, guiando-se no escuro, amparados a bordões, às paredes ou aos muros dos pátios. O silêncio escuro da noite era apenas entrecortado pelo contínuo silvar do vento e pelo bater emaranhado das passadas nas pedras da calçada.
Finalmente chegámos ao adro e entrámos no templo quase às escuras. Apenas a lâmpada do Santíssimo e, no altar-mor, algumas velas acesas. Mas já estava repleto de vultos negros, de tossidelas, de rouquidões, de arrastar de cadeiras, de bichanar de orações e de cheiro a velas a arder. De repente, meu tio Chico, o sacristão, de opa vermelha, saindo da sacristia tocou, veementemente, uma enorme campainha. Toda a gente se levantou e, de imediato, fez-se um enorme silêncio. O pároco saiu de seguida, todo de branco, envergando, na cabeça, o barrete negro das três quinas. Fazendo uma enorme genuflexão diante do altar-mor, tirou o barrete e entoou:
- Deus in adjuto-o-rium meum intende.
- Um grupo de mulheres desafinadamente respondeu de imediato:
- Domine, ad adjuvandum me festina.
O pároco continuava:
- Gló-ó-ria patre…
***
Começavam, assim as tão desejadas e maravilhosas novenas de Natal, na igreja de São José, da Fajã Grande. Para além do seu conteúdo religioso orientado no sentido de anunciar preparar os fiéis para a celebração de tão majestoso acontecimento cristão, as Novenas do Natal tinham uma característica interessantíssima: eram sempre celebradas de madrugada, muito antes do romper do dia ou do despontar da aurora. Esse ancestral hábito dava-lhes um sentido especial, um significado transcendente, fazendo com que fossem amplamente desejadas por todos. Na verdade em cada uma das manhãs dos nove dias que antecediam o dia 25 de dezembro, alta madrugada, as crianças e os mais novos acordados pelos adultos, levantavam-se muito cedo. Passavam um pingo de água pela cara, que não se devia sair para o frio da madrugada com o rosto quente da cama, vestiam umas roupas selecionadas de véspera e, bem agasalhados porque o frio era muito. De lanterna de petróleo na mão encaminhavam-se para a igreja, acompanhados pelo alegre repicar dos sinos. As ruas enchiam-se de pequenas e trémulas luzinhas e de vultos apressados. O templo, num de repente, enchia-se de gente e iluminava-se com as titubeantes luzes emanadas das frouxas lanternas de candeeiros tisnados, com o pavio muito baixo a formar uma espécie de penumbra e a exalar um mefítico cheiro a petróleo mas como que a simbolizarem que a verdadeira luz havia de chegar em breve.
Entre preces, cânticos e orações ali ficámos uma boa meia hora à espera que os rituais, os cânticos, o sermão e as orações, liturgicamente, apresentados pelo pároco se esgotassem. Depois era o regresso a casa ainda a noite estava escura.
Nesse dia as vacas iriam para perto, por isso, minha irmã, autorizou-nos a voltar para a cama. Ela também interessada nisso… Nem que fosse mais uma pequenina nesga de tempo.
Mas o que todos mais esperávamos era o canto final, o mágico e deslumbrante, verdadeiro precursor da grande festa que dias depois havia de vir:
“Quando virá senhor o dia,
Em que apareça o Salvador,
E se efectue a profecia:
- Nasceu no mundo o Redentor?
Aquele dia prometido,
Da antiga fé dos nossos pais,
Dia em que o mal será banido,
Mudando em risos nossos ais.”
Quando virá senhor o dia,
Da suspirada redenção,
Encha-se o mundo de alegria,
De Deus se faça a encarnação.
***
Nesse dia coube-me ir levar as vacas, ordenhadas por meus irmãos mais velhos, à Pedra d’Água. Ao subir a ladeira do Covão ainda parecia ecoarem os cânticos que pouco antes ouvira na igreja.
Regressei pela Bandeja e pela Fontinha. Às nove horas em ponto estava na escola.
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CLASSE E DISTINÇÃO
Nascido em 1946, é natural duma das mais emblemáticas freguesias de São Miguel, a Fajã de Baixo, a “capital do ananás”. Entrou para o Seminário Menor de Ponta Delgada em 1958 e, dois anos depois, passou a frequentar o de Angra, onde permaneceu seis anos e onde fez grande parte da sua formação académica, revelando-se um aluno muito estudioso, aplicado, educado, de distinto porte, amigo de todos, com um comportamento exemplar, revelando já, na altura, um acentuado gosto e uma notória apetência pelo debate e pela reflexão e sobretudo pela Filosofia, nomeadamente pela Lógica e Metafísica. Depois de abandonar os estudos em Angra, regressou a Ponta Delgada, iniciando o seu percurso no mundo do trabalho, numa Companhia de Seguros. Chamado para o serviço militar, após a recruta foi enviado para Guiné, como oficial do exército, onde permaneceu dois anos. Em 1970 regressa aos Açores e ao mundo laboral, trabalhando no Banco Português do Atlântico, como Gestor de Conta e, mais tarde, como Gerente. Paralelamente regressou aos estudos, licenciando-se-me em Organização e Gestão de Empresas. Foi, como aluno, fundador da Universidade dos Açores, onde, mais tarde, obteve Bacharelato em Administração e Contabilidade. Em 1997 iniciou-se no ensino como professor, primeiro num Estabelecimento Prisional, depois na Escola Profissional das Capelas e, mais tarde, na Escola Profissional da Câmara de Comércio de Ponta Delgada. Ultimamente abraçou o mundo da política, a nível autárquico, exercendo, entre 2005 a 2010, o cargo de Presidente da Junta de Freguesia da Fajã de Baixo. Foi Chefe de Agrupamento de Escuteiros daquela freguesia e Chefe de Núcleo de Escuteiros da Ilha Terceira. Actualmente é secretário da Confraria do Ananás de São Miguel, de que foi co-fundador. Confessa-se cristão convicto e faz parte de vários movimentos e obras da paróquia, tendo, também, integrado a Direcção da Casa do Gaiato, sendo o actual reitor do Movimento dos Cursilhos de Cristandade. O seu lema é: “Não há nada que mais aprecio, que a paz interior. Dou valor à liberdade total que começa dentro de cada um de nós.”
Repleto de uma pujança e fulgor invulgares, foi o primeiro e grande responsável pelo encontro que a alcunhou como «uma verdadeira peregrinação de ex-alunos do Seminário de Angra das décadas de 50 e 60 do século passado a esta “Santa Casa Mimosa de Deus”». Não será exagerado dizer que, sem ele, não teria havido Encontro. É verdade que se rodeou de excelentes colaboradores, mas isso não lhe tira o mérito. Idealizou o Encontro com desvelo, arquitectou-o com afeição, concebeu-o com enlevo, preparou-o ao pormenor e organizou-o com competência, dedicação e trabalho. Como se isto não bastasse, aureolou a sua presença com uma enorme dose de alegria, um inédito carregamento de jovialidade, um inquestionável e permanente bombardeamento de boa disposição e encantamento. Tudo funcionou excepcionalmente bem, tudo correu de forma agradável e inebriante. Sem nunca se aborrecer ou sequer molestar, cativou todos e envolveu os presentes de tal forma que, no final, um sonho, um desejo, um grito uníssono, uma vontade unânime se repercutia nos corações de todos: Valeu a pena! Queremos voltar a encontrarmo-nos!
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CINCO A ZERO
Foi numa tarde de maio da década de cinquenta do século passado. O Atlético Clube da Fajã Grande estava em grande forma e no auge da sua curta carreira futebolística. Domingo após domingo, muitas vezes até em dias de semana, à tardinha, um punhado de jogadores que constituíam o plantel não se coibia de treinar. O clube havia surgido no final da década de quarenta, resultante duma fusão entre os dois clubes existentes, inicialmente, na Fajã: o Sport e o Salgueiros. Nesses tempos os jogos realizavam-se no antigo campo do Estaleiro, para os lados do Porto, numa altura em que surgiu o melhor jogador de sempre da Fajã Grande e um dos melhores da ilha, o Nestor.
O Atlético já realizara alguns jogos, no novo campo das Furnas e já se deslocara a Santa Cruz e às Lajes, mas com resultados pouco positivos. Apenas uma vitória frente ao União de Santa Cruz. De resto empates e derrotas
Nestes tempos jogavam no Atlético excelentes jogadores: Abílio (Guarda-redes), João do Gil, Lucindo Fagundes, Elviro, Edmundo Pereira, Teodósio, Albino, Álvaro de João Carlos, David do Raulino, Roberto do Cristóvão, Ângelo João Augusto, Mário do Raulino, Luís Cardoso, Manuel Cardoso (Matateu), Álvaro do Raulino, José Borges, António Nascimento, José Augusto, Ângelo Câmara, José de Lima, Albano, Manuel Blica, José António Marcela, João Luís, António Lourenço, José Augusto e Luís Matareco, entre outros. O treinador era o José Fagundes.
Nessa gloriosa tarde de maio, a vila das Lajes deslocava à Fajã uma nova equipa pertencente à Rádio Naval. Esta equipa surgiu pouco depois de ser instalada naquela vila uma estação de Rádio Naval, em agosto de 1951. Era uma equipa fortíssima constituída não só por jogadores naturais da ilha que, anteriormente, haviam jogado noutros clubes, mas também por marinheiros vindos do continente para trabalhar naquela estação, entre os quais o célebre Virgílio Fraga, um verdadeiro craque, com um currículo notável, pois antes de se deslocar paras Flores, jogara no Tirsense, na altura a militar na 2ª divisão nacional, zona norte e João Rodrigues que jogara no Fayal Sport Clube da Associação de Futebol da Horta. Outros nomes sonantes da Rádio Naval eram Tomás, Roque Sousa, António Raimundo, Mateus Azevedo, Mendes, Lenine, Teixeira, António Freitas, Santana, Manuel Martins e Manuel Moniz.
Mas o Atlético não se atemorizou. José Fagundes preparara bem a equipa para o embate. Equipando com camisola azul e calção branco, alinharam, na baliza Abílio, na defesa os jovens Edmundo Pereira, Lucindo Fagundes e o experiente Álvaro de João Carlos. Como médios o treinador lançou Albino e o veterano Teodósio, jogando com os interiores Ângelo Câmara e Albano. Nos extremos colocou o David do Raulino à esquerda e o Ângelo de João Augusto, à direita, com o Manuel Cardoso, apelidado de Matateu, a avançado centro. O campo encheu-se de gente, na generalidade apoiantes do Atlético, vindos da Fajã e da Ponta.
A partida iniciou-se com uma acentuada supremacia da equipa visitante. Mas o Abílio estava em grande forma e fez um bom punhado de defesas o que conferiu grande confiança às hostes fajagrandenses que o público apoiava calorosamente. O Atlético veio para a frente e ameaçou a baliza dos lajenses. Um penalty bem assinalado, concretizado pelo Manuel Cardoso (Matateu) deu ao Atlético um avanço no marcador. O público aplaudiu e os jogadores empolgaram-se ainda mais. Antes do intervalo o Atlético aumentou a vantagem. Um canto da esquerda, apontado pelo David do Raulino e Lucindo Fagundes a saltar em primeiro na área adversária, a cabecear e a fazer o segundo para a equipa da casa.
O Radio Naval regressou na segunda parte revoltado e disposto a virar o resultado fosse de que forma fosse, cometendo muitas faltas. Um livre apontado exemplarmente por Teodósio e três a zero. Os ânimos começaram a aquecer, com muitas interrupções, agressões e faltas duríssimas. Dois jogadores forasteiros foram expulsos, conseguindo o Atlético manter a calma, marcando mais dois tentos, por Manuel Cardoso e Albano.
A equipa das Lajes, apesar de revoltada, abandonou o campo reconhecendo a superioridade do Atlético, cujos jogadores eram aplaudidos e levados em ombros, após a invasão de campo, no fim do jogo, por parte de muitos espetadores que assim celebravam, efusivamente, o maior dia de glória do Atlético Clube da Fajã Grande.
Os jogadores, ao cair da noite, foram recebidos por muitos adeptos na loja da Senhora Dias. Entre cervejas, laranjadas e pirolitos o treinador, José Fagundes, cantava efusivamente:
O Atlético trabalha como eu quero,
Agora já não falham cinco a zero.
Ó Maria Rita, não te faças tola,
Toma lá sete e cnico p’ra comprar uma cebola
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A OVELHINHA DA TIA JOANA E O PASTOR GABRIEL
Tia Joana era muito pobre. Vivia apenas do que cultivava numa pequena courela junto de casa e de uma ovelhinha que, para além do leite e da lã, lhe dava uma ou outra cria que a velhinha ia vendendo, obtendo assim algum dinheiro para pagar o açúcar, o café, o sabão, o petróleo e outras pequenas despesas que fazia.
Mas com o passar dos anos Tia Joana foi envelhecendo e perdendo as forças, já não sendo capaz de cuidar da sua pobre ovelhinha. Assim pediu que, num dia de fio, lha levassem para o mato e a lançassem no Rochão do Junco, juntamente com muitas outras ovelhas que por ali pastavam vadiamente. Mas aqueles descampados eram cheios valados, grotões e buracos escavados no solo e, além disso, a ovelha da Tia Joana era muito frágil e delicada. Numa noite escura descuidou-se e caiu no Caldeirão da Ribeira da Junça. A pobrezinha ficou com o seu doce e macio corpinho todo esfarrapado e ferido. Mas pior, como o grotão era muito profundo de lá não conseguia sair sozinha. Apenas berrava e gemia. Foi o pastor Gabriel que por ali andava a pastorear o gado dos pais que ouviu os gemidos da pobre ovelhinha e foi em seu socorro. Amarrando uma corda num dos cedros que ladeavam o Caldeirão, desceu por lá abaixo, pegou na ovelhinha, trouxe-a nos braços, colocou-a sobre ramos secos e tratou-a com muito cuidado e desvelo. A pobrezinha melhorou, embora ficasse sempre a mancar de uma das suas perninhas.
Conta ainda a estória, que a tia Joana nunca soube do que sucedera à sua ovelhinha, pois falecera no dia seguinte. Foi o pastor Gabriel que ficou com ela, mas por pouco tempo, pois a pobre ovelhinha ter-se-á perdido definitivamente naqueles descampados, no meio das ovelhas e dos carneiros bravos e nunca mais o pastor Gabriel a encontrou.
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O CABRITO
Antigamente, contava-se que um dia à meia-noite, (não havia luar e a noite estava muito escura) um homem que vinha da Ponta e descia a ladeira das Covas ouviu um cabrito a berrar. Cuidando que era uma cria perdido, tentou seguir na direção dos berros, conseguindo encontrar e apanhar um pequeno cabrito. Pensou que ele não tinha dono e estaria ali perdido, pegou nele e pô-lo às costas, com a intenção de o levar para casa a fim de o criar. Mas ao continuar a descer a ladeira começou a sentir que o cabrito, à medida que descia, ia ficando cada vez mais pesado e parecia crescer. Embora muito admirado, o homem continuou a descer a ladeira e, pouco depois, o cabrito tornou-se tão pesado, tão pesado que o homem já nem podia com ele. Parecia um monstro, pelo que o atirou para um silvado.
Quando o animal caiu no chão o homem pode ver que o cabrito tinha a cara e os dentes iguais ao de seu pai, falecido há muitos anos.
Consta que o homem nunca mais passou sozinho na ladeira das Covas, onde também, segundo se contava, aparecia uma mulher com mãos e pés de cabra.
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MAIS FURACÕES E TEMPESTADES PARA OS AÇORES
Mais furacões e mais tempestades nos Açores é o que prevê o Programa Regional para as Alterações Climáticas.
Os Açores, pela sua condição arquipelágica, apresentam um conjunto de caraterísticas que os tornam mais vulneráveis às alterações climáticas. Sobretudo pela concentração de infra-estruturas e pela localização de aglomerados populacionais nas zonas costeiras, o que faz com que estejam mais susceptíveis a sofrer os efeitos de situações extremas como consequência dos fenómenos naturais do aquecimento global.
A médio e longo prazo há uma tendência clara de aumento de temperatura nos Açores e também um ligeiro aumento de precipitação. No Inverno haverá uma tendência para aumento de precipitação, enquanto no Verão haverá menos precipitação. Quanto à temperatura “é mais linear” embora haja uma tendência para um aumento de temperatura entre 2070 e 2099, onde haverá também uma tendência para a subida do nível médio do mar em cerca de um metro, mais furacões e mais tempestades.
O cenário foi apresentado pelos responsáveis pela elaboração do Programa Regional para as Alterações Climáticas dos Açores (PRAC), onde se explicam algumas das vulnerabilidades a que poderão estar sujeitos os Açores e algumas medidas para as minimizar.
Em relação à agricultura e florestas, o PRAC aponta que poderá haver vulnerabilidades ao nível da redução de área semeada em caso de seca, apontando o tabaco, as frutícolas e a beterraba como as culturas mais afectadas com as alterações climáticas, referindo também que o incenso será a espécie invasora com mais alterações. Neste sentido, a medida a adoptar será a monitorização da lagarta da pastagem, ao mesmo tempo que se deverá reavaliar as necessidades de armazenamento de água e técnicas que aumentem a capacidade de retenção de água no solo.
Em relação às pescas, as alterações climáticas poderão trazer vulnerabilidades ao nível da abundância de recursos, havendo a possibilidade de variabilidade interanual da abundância de recursos, e também havendo a destruição de estruturas com a possibilidade de aumento de furacões, tempestades e subida do nível do mar. Para estas vulnerabilidades, são apresentadas como medidas preventivas a utilização de ferramentas de deteção remota para a identificação de áreas de ocorrência de peixe.
Ao nível das vulnerabilidades para os serviços, pessoas e bens, o PRAC avaliou a possibilidade de ocorrência de ciclones, precipitação extrema, movimentos de terra e cheias. Como medidas para mitigar estas vulnerabilidades, o PRAC apresenta o reforço do uso do solo, a delimitação de áreas de risco e a utilização de sistemas de protecção e drenagem e recuperação de permeabilidade do solo, ao mesmo tempo que se deve apostar na sensibilização pública sobre os riscos.
A localização geográfica e climática da nossa Região também permite que possa ser um laboratório para a implementação de políticas ambientalmente limpas e a concretização de medidas de combate aos efeitos das alterações climáticas.
In jornal «Correio dos Açores».
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IMACULADA
(Padre LUIS DE FRAGA)
Se o anjo Te saudou de «gratia plena»
E Te chamou bendita entre as mulheres;
Se digna foste para receberes
Em teu seio de cândida açucena;
Quem faz tremer o Inferno, quando acena,
Quem reparte a existência pelos seres;
Se nesses braços Te foi dado teres
Deus em criança e pequena;
Se te dirão bendita as gerações;
Se o Pai te deu um trono de Rainha
E o Amor te aceita por esposa amada;
Se a Ti se elevam mãos e corações;
Se esmagaste a infernal Serpe daninha
- Foi por seres de sempre a Imaculada.
Valério Florense (pseudónimo literário do Padre José Luís de Fraga) in Caminhos 1966
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ILHA DAS FLORES
( In Momondo)
Ao aterrar em Santa Cruz é possível viajar também por via marítima, no verão, mas a viagem é longa e só os adeptos de navios costumam optar por tal solução – somos brindados à chegada pela humidade tépida que empresta à ilha um ambiente semi-tropical e a torna a mais húmida e verdejante deste arquipélago, famosa por cascatas que nunca secam ao longo do ano e pela vegetação luxuriante que terá estado na origem da sua toponímia.
“A chuva é uma presença familiar, mas torna-se um gosto adquirido, e raramente de forma verdadeiramente intrusiva, pelo menos no verão. Primeiro estranha-se, depois entranha-se. Literalmente…”
Conhecer verdadeiramente a Ilha das Flores obriga a botas de trekking e um bom casaco impermeável. A chuva é uma presença familiar, mas torna-se um gosto adquirido, e raramente de forma verdadeiramente intrusiva, pelo menos no verão. Primeiro estranha-se, depois entranha-se. Literalmente, neste caso! Estamos na ilha mais selvagem, pela orografia acidentada, pelo clima agreste e, consequentemente, pela reduzida (e em decréscimo acentuado) demografia. São menos de 4000 almas que se distribuem por dois concelhos – Lajes das Flores e Santa Cruz das Flores – os principais polos urbanos, que conta com uma área total de 141km2. É por isso a natureza que impera e é por ela que nos teremos de embrenhar para conhecer este território!
As muitas cascatas definem a paisagem da Ilha das Flores nos Açores ©António Luís Campos
As cascatas são o maior ex-libris da Ilha das Flores! Pela elevada precipitação que ocorre na ilha, o manancial que alimenta as lagoas e ribeiras nunca se esgota. Sendo uma ilha bastante alta para a dimensão (o pico mais elevado é Morro Alto com 914m de altitude), as pendentes são fortes. Em nenhum local esse facto é mais poderoso que na costa oeste, no conjunto de pequenas ribeiras que escorrem encosta abaixo, com uma surpreendente urgência, confluindo da Lagoa das Patas, também conhecido como Poço da Alagoinha, um dos postais mais emblemático dos Açores! Para aqui chegar, só a pé. O carro (ou bicicleta, uma sugestão fortemente recomendada para os mais atléticos) fica na beira da estrada. Um curto e pedregoso trilho, sempre a subir, leva-nos através da floresta até às margens da pequena lagoa. Num dia bom, sem vento nem chuva, o espelho é perfeito e facilmente nos julgamos perdidos no paraíso. Mas esta é apenas uma das múltiplas lagoas, maioritariamente espalhadas pela zona alta da ilha. Os nomes são elucidativos e denotam a génese vulcânica dos Açores, crateras de antigos vulcões que, após as erupções que moldaram a ilha, se encheram de água: Caldeira Funda, Rasa, Branca, Seca e por ai em diante… Para as visitar, duas opções: percorrer simplesmente, e devagar, a estrada que atravessa a ilha pela zona mais alta. Ou, uma vez mais, trilhar alguns dos muitos percursos pedestres de pequena rota (PR) homologados que cruzam a Ilha das Flores e nos permitem conhecer recantos de outra forma inacessíveis. Por todos estes motivos o trekking é, a par do canyoning, uma das atividades de exteriores mais populares aqui, atraindo adeptos de ambas as modalidades de origens bem longínquas.
Canyoning é uma das atividades mais populares na Ilha das Flores nos Açores António Luís Campos
No lado oeste da Ilha das Flores, pela estrada que serpenteia pela encosta abaixo, há um monumento natural que se destaca na paisagem, emoldurado na primavera e verão por milhares de hortênsias em flor: a Rocha dos Bordões! A formação geológica, com dezenas de linhas verticais de origem vulcânica, parece desenhada na falésia! Continuando a descer, tomamos rumo em direção à Fajã Grande, onde a estrada acaba. Mas não sem antes fazer um pequeno desvio, para visitar a Cuada. Uma vez mais, entramos numa viagem no tempo, para trás e para a frente. Passamos a explicar: a Cuada transformou-se numa unidade hoteleira a céu aberto, talvez o mais bem sucedido exemplo de turismo de aldeia em Portugal. Abandonada em meados do século passado pelas sucessivas vagas de emigração que assolaram os Açores, foi lentamente sendo adquirida e recuperada por Teotónia e Carlos Silva, um casal visionário que se recusou a aceitar o fado a que parecia destinada. Casa a casa, a aldeia ressuscitou, e são hoje os turistas que aqui se alojam que lhe trazem de novo vida.
A Aldeia da Cuada na Ilha das Flores é possivelmente o mais bem sucedido exemplo de turismo de aldeia em Portugal ©António Luís Campos
Mas o destino desta jornada é mesmo a Fajã Grande: a localidade mais ocidental da Europa! Ao chegar, instalamo-nos confortavelmente no bar Maresia, afundados num dos sofás vintage a quem a idade não parece fazer mossa, a poucos metros do oceano, que marulha suavemente. Aqui o bom gosto musical casa–se em harmonia com a tranquilidade que a vista proporciona. O entardecer toca a perfeição! E ali, a poucas centenas de metros, o Ilhéu de Monchique ergue-se, orgulhoso, como o último território europeu antes do vazio que só terminará do outro lado do Atlântico, na costa norte-americana.
O máximo expoente da hospitalidade dos Açorianos: as Sopas do Espírito Santo, oferecidas em Maio a quem quiser aparecer António Luís Campos
Mais abrigada das tempestades que vêm do mar aberto, a costa leste da Ilha das Flores abriga a maioria das localidades. Aqui a tradição baleeira ainda se sente, seja no museu, instalado da antiga fábrica, seja pelas conversas que, num banco de jardim ou ao balcão de uma tasca, vão surgindo inesperadamente. São cada vez menos as personagens desta história centenária capazes de a relatar na primeira pessoa. A última baleia foi caçada nos Açores em 1987, e por isso só os mais jovens baleeiros são ainda hoje vivos. Mas o entusiasmo patente no brilho do seu olhar não engana e é com paixão que contam (e que ouvimos) as aventuras e desventuras desta perigosa atividade que se vai perdendo nas brumas do tempo e que, no momento presente, temos o privilégio de escutar pela última vez…
Texto Retirado do Site “Momondo”
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BARRA OU PAU ROUBADO
O jogo da Barra ou do Pau Roubado era muito comum entre a criançada. Os participantes eram divididos em dois grupos com o mesmo número de crianças, grupos, geralmente escolhidos por dois líderes. Depois delimitava-se o campo, numa rua ou no pátio da Casa do Espírito Santo de Cima ou no adro e, em cada lado, e ao meio era colocado um pau. O jogo consistia em cada grupo tentar agarrar primeiro o pau sem ser tocado por qualquer jogador adversário. Quem não conseguisse fugir ao adversário e ser agarrado, ficava preso no local onde fora tocado e parado como uma estátua, até conseguir que um companheiro da sua equipe o libertasse, tocando-o. Vencia o grupo que tiver menos participantes presos ou quem agarrar, isso era, roubar, mais vezes o pau.
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ALI - O FEITICEIRO DO CORVO
Em tempos que já lá vão, vivia na Ilha do Corvo uma mulher que conhecia as artes da feitiçaria. As pessoas tinham medo dela mas procuravam-na quando estavam aflitas. Pediam-lhe remédios para os doentes, cura para os males de amor, mezinhas para proteger os homens que saíam à pesca. No entanto, nunca a visitavam só para fazer companhia e não a deixavam participar nas festas da ilha. Assim, a pobre mulher passava a maior parte dos dias muito triste e sozinha.
A sua única alegria era o filho. Cuidava dele com desvelo e cobria-o de carinhos. Quando o rapaz cresceu decidiu ensinar-lhe os segredos da sua profissão. Nas noites de lua cheia ia com ele apanhar ervas, pedrinhas, algas e conchas, pequenos animalejos. Depois faziam misturas num grande caldeirão. Mas o feitiço só ficava pronto se fervesse sete dias sem parar. Enquanto o liquido borbulhava, ela dizia palavras incompreensíveis. A lengalenga terminava sempre da mesma maneira:
Restimore... Lagartão... Alípio, hás-de vingar a tua mãe...
Certo dia a ilha do Corvo foi atacada por piratas mouros. Os pescadores deram o alerta e toda a gente fugiu a esconder-se. Ninguém se deu ao trabalho de prevenir a feiticeira e o filho.
Os intrusos encontraram a cabana onde viviam mãe e filho mas não puderam fazer-lhes mal porque os poderes mágicos eram muito fortes. Ela puxou uma nuvem do céu e ficou invisível no centro da bruma. Antes de desaparecer, ordenou ao filho:
-Vai para bordo! O teu destino é longe daqui.
Os piratas raptaram Alípio. Ou melhor, julgaram raptá-lo porque o rapaz seguiu-os de boa vontade. Queria obedecer à mãe e o mar fascinava-o. Durante alguns anos andou embarcado.
Os companheiros chamavam-lhe apenas Ali, nome comum entre os mouros. Não tardou que assumisse o comando de um navio.
Logo que pôde decidir que rotas haviam de tomar, mandou largar vela em direcção à isua ilha, o Corvo. Ia satisfazer o pedido da mãe. Saltou em terra disposto a cometer as maiores barbaridades.
Morta de medo, a população procurou refúgio nos morros, onde nenhum estrangeiro se atreveria a penetrar. Ali perseguiu-os, rindo à gargalhada, pois conhecia todos os recantos desde criança. Quando atingiu o Caldeirão, deteve-se. Matar aquela gente parecia-lhe fraca vingança. Desejava atormentar os habitantes da ilha de geração em geração!
De súbito, ocorreu-lhe uma ideia melhor. Usou os poderes mágicos que a mãe lhe transmitira para enfeitiçar o vento. Deste modo, sempre que os moinhos girassem, o seu riso havia de se espalhar pelas encostas provocando arrepios de pavor. Contente consigo mesmo, soltou gargalhadas loucas e partiu para não mais voltar.
Mas ainda hoje o, povo se arrepia com os ruídos estranhos que bailam nas noites de grandes tempestades. Cuidam que são as gargalhadas de Ali, o feiticeiro.
( Conto Tradicinal - Ilha do Corvo Açores)
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A LENDA DO MENINO DO CORO E A SINEIRA DA SÉ DE ANGRA
No tesouro do museu da igreja da Sé de Angra do Heroismom existe uma exótica imagem de Santo António de Lisboa, em que este se encontra vestido como um menino do coro representação pouco habitual.
Conta a lenda que em tempos idos um mestre de capela daquela Sé estava muito preocupado pois não conseguia a harmonia entre os seus cantores e a festa seria para dali a poucos dias. Furioso, ameaçou bater num aluno se este não começasse a entoar as músicas na forma correcta. Apavorada, a criança fugiu pela catedral até que, à procura de um lugar para se esconder, se encaminhou para as torres sineiras da igreja.
Mesmo ali não se sentiu seguro, e à procura de um melhor lugar para se esconder, começou a subir a íngreme escada em caracol que levava aos sinos e aos pináculos das torres. Quando lá chegou pôs-se à escuta e, provavelmente confundindo o barulho do vento com o barulho de passos, julgou ter ouvido o mestre da capela no seu encalço. Não pensando nas consequências, atirou-se do alto de uma das torres.
A criança foi salva por um vento divino que a sustentou no ar, usando uma opa da função do coro como se fosse um para-quedas. Levado pelo vento, o menino voou por três ruas até ser depositado no telhado do Convento de Nossa Senhora da Esperança onde foi acolhido pelas freiras com grande espanto.
Para comemorar esta ação divina e o salvamento do filho, o pai da criança mandou então fazer a mencionada imagem de Santo António vestido de menino de coro, que durante muitos anos esteve exposta antes de dar entrada no tesouro da Sé Catedral dos Açores. Conta ainda a lenda que o menino de cantor de coro passou a ser na sua vida de adulto.
Angela Furtado Brum, Lendas Açorianas.
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O LAVRADOR DA ARADA
Numa das últimas aulas do ano letivo, o Dr Edmundo de Oliveira, professor de Música, com o objectivo de nos sensibilizar para a pesquisa e defesa do património cultural açoriano, no que à música dizia respeito, encomendou à turma um pequenino trabalho para férias: – cada um de devia procurar uma música popular da sua freguesia ou da sua ilha, registar a letra e a música e aprendê-la. Havia de cantá-la nas primeiras aulas, no início do ano lectivo seguinte.
Arrepiei-me. Na realidade a música não era o meu forte. Mas lá fui para férias sensibilizado para executar a tarefa.
Ora, na Fajã Grande, os foliões do Espírito Santo, cantavam, entre outras, uma música cuja letra era muito conhecida e apreciada: O Lavrador da Arada. Ouvira-a, muitas vezes. Como meu pai, em tempos fora folião do Senhor Espírito Santo, cantava-a muitas vezes. Eu, habitado a ouvi-la já conseguia traulitá-la. O pior era arranjar a música. Tanto procurei, tanto labutei e tanto coscuvilhei que fui dar com ela num livro antigo que havia nos arrumos da igreja paroquial. Todo contente por ver que havia de sair airosamente daquele imbróglio e fazer um figurão na aula do Dr Edmundo, arranjei uma folha de papel com pautas e zás! Numa tarde passei a música e a letra para a pauta com a clave de sol, muito bem desenhada. Regressei ao Seminário e lá me encaminhei para a aula de música, todo contente, cuidando que, pela primeira vez, havia de fazer boa figura e ter um êxito musical de se lhe tirar o chapéu. Chegou a minha vez, entreguei a partitura ao mestre e comecei, com a outra cópia da partitura, a cantar, cuidando eu, de acordo com as notas que ali estavam escritas: “O la-vra-do-or d’a-a-a-ra-da, aien-com-trou-ou um-um po-o-bre-zin-in-nho eo po-bre-zin-in-nho lhe di-i-sse, ó, le-va-me no-o teu-eu car-rin-in-nho…”
Olhei para o Dr Edmundo e ele ria perdidamente. Quando terminei, com um suave e doce sorriso, disse-me:
- Até cantaste muito bem, sim senhor! Mas a música que cantaste não é a que esta aqui!
Foi risota geral, um gozo acentuado e eu, cheio de vergonha e vermelho que nem um pero!
O Dr Edmundo, vendo a minha atrapalhação e o meu desalento elogiou mais uma vez o meu desempenho musical, explicando que nos Açores, algumas canções, embora tendo a mesma letra, nalgumas ilhas, eram cantadas com música diferente.
Mas durante muito tempo, no Seminário, para me arreliar, pelos corredores e recreios não se cantava outra coisa, senão “Lavrador da Arada.”, (à moda das Flores – diziam).