PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
O PINHACRE DAS COVAS
Encafuado no meio das Covas, situado lá para os lados da Ponta, junto à Rocha do Vime, o lugar do Pinhacre das Covas era, como aquele em que se encastoava, um dos mais diversificados da Fajã Grande, porquanto nele existiam os quase todos os tipos de propriedade em que o amplo terreno da Fajã Grande, no século passado, estava coberto ou subdividido. De facto ali, como nas Covas existiam terras de mato, terras da rocha, pastagens e uma ou outra terra de cultivo, estas paredes meias com a Ribeira das Casas e com o Vale do Linho. Mas a grande especificidade das Covas era o facto de parte de a quase totalidade da sua área ocupar uma parte da rocha, até ao cimo, prolongando-se quase até às relvas do mato. Tratava-se, no entanto, de uma área quase inculta, alguma só composta por gigantescas vergas de pedra, revestidas de musgo, pelo que grande parte da mesma era terreno de ninguém, uma vez que aí a rocha era muito íngreme e não possuía nenhuma vereda ou caminho de acesso.
A outra pequena parte da área do Pinhacre das Covas assemelhava-se a uma enorme ribanceira ali caída há centenas de anos e situava-se em terreno plano, integrando uma pequena parte da ampla fajã desde a Ribeira Grande até ao Risco. Junto à rocha ficavam as terras de mato, pobres e perigosas, onde floresciam apenas incensos e faias. O chão era pejado de fetos, cana roca e erva-santa. Não existiam árvores de fruto, pelo que dali se extraía apenas lenha e comida para o gado. Os fetos eram ceifados e postos a secar a fim de serem utilizados como cama para o gado nos palheiros. A cana roca, dadas as dificuldades em carreá-la era cortada e ficava por ali a apodrecer, sem utilidade nenhuma.
O Pinhacre ficava encastoado nas Covas que, por sua vez configurava a norte com o lugar do Vime e com a Rocha do mesmo nome, a oeste com o Vale do Linho e o Rego do Burro, a sul com a Ribeira das Casas, enquanto a leste era protegido pela rocha, até lá ao alto onde existiam as relvas da Caldeirinha e do Bracéu. O lugar era atravessado de sul a norte por um dos mais antigos e importantes caminhos da freguesia que ligava a Fajã à Ponta, sendo quase todo ele no espaço do território das Covas constituído por uma lendária ladeira que descia da Ponta para a Fajã conhecida por Ladeira das Covas. Várias lendas existiam sobre a mesma com destaque para a da Mulher com Pés de Cabra. Foi também naqueles descampados que durante muitos meses se ouviram gritos agonizantes que, até serem desvendados, assustaram muitas pessoas da Fajã e da Ponta que por ali passavam.
O topónimo Covas, muito comum nos Açores, terá a ver naturalmente com o facto de por ali terem existido algumas covas ou de uma parte da morfologia do terreno formar uma espécie de cova gigante. Quanto a Pinhacre muito provavelmente será uma corruptela de pingo acre, o que poderia ser uma referência a que os pingos da chuva ou os respingos de água da Ribeira das Casas, trazidos pelo vento sueste fossem bastante incómodos.