PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
O CILINDRO
Quando os empreiteiros que construíram o troço de estrada entre o Porto e a Ribeira Grande chegaram à Fajã, trouxeram apenas o material de apoio que a ilha não dispunha. O restante foi construído e fabricado por eles próprios, já depois de ali se terem fixado e iniciado as obras.
Foi o caso dos cilindros. Rasgado e alisado o trajecto por onde a estrada passaria era necessário colocar entre este e a camada de bagacina, uma outra de cascalho, obtido através de pedras partidas em pequenos pedaços. O cascalho, porém necessitava de ser bem prensado e comprimido a fim de que ficasse de tal maneira consolidado que a futura estrada não se desfizesse. Para tal eram necessários cilindros grandes, fortes e pesados.
O primeiro cilindro, de pedra e cimento. a ser construído, ali junto ao Matadouro, entre a Via d’Água e o Porto, era enorme e pesadíssimo. Só que o seu tamanho exagerado e o seu peso desmesurado, em vez de atingirem o desiderato para que havia sido construído, criaram um gravíssimo problema: é que o cilindro de tão pesado que era, nunca permitiu às limitadas forças motoras exentes na freguesia – uma camioneta e meia dúzia de juntas de bois atreladas umas atrás das outras – conseguissem movê-lo, um centímetro que fosse, do próprio lugar onde tinha sido construído. Perante tal e inultrapassável imbróglio, foi arquitectado um novo cilindro, mais pequeno e mais leve, enquanto aquele mamarracho ficou anos e anos ali parado, com a interessantíssima vantagem de apenas ter dado nome àquele local, que passou a chamar-se “o Cilindro”.
Há alguns dias telefonei a um amigo de infância e perguntei-lhe pelo cilindro, se ainda lá estava? Que não, que lhe tinham espetado umas velas de dinamite, desfazendo-o por completo e atirando os seus cacos para o mar, mesmo ali perto, na Baía d’Água! Estarreci de espanto e perguntei a mim mesmo: - “ Então não era de se guardar e conservar aquela relíquia e, talvez um dia quando se construísse ali uma rotunda, dado o local ficar num cruzamento de três caminhos (Porto, Furnas e Centro da Freguesia), se colocasse o dito cujo no meio da mesma a dar-lhe, para a posteridade, o nome de “Rotunda do Cilindro”?
Responda quem souber. Mas em minha opinião, o cilindro não merecia tão vil, abominável e energúmeno destino.