PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
QUATRO MOTIVOS DA FAJÃ GRANDE – III
(À maneira de Cesário Verde, propositadamente)
A agitação dos dias de baleia!
Marinheiros correndo para o porto.
Iguala o Universo um grão de areia
e o Nada é um doutor de olhar absorto.
A bomba que rebenta na vigia
sacode o ar num sobressalto de asas.
A vida igual de sempre dir-se-ia
outra na lida habitual das casas.
Mas à agitação se segue logo
uma ansiedade vã sobre a paisagem:
em cada coração crepita um fogo
à espera apenas de uma leve aragem.
Depois qualquer sinal no horizonte
parece um barco – e uma baleia morta?
Um binóculo espreita ali de fronte
e um vulto de mulher assume à porta.
Inquieto, alguém pergunta: - Que é? Que foi?
Um corção lento cruza a dúbia praça;
reflecte a placidez do olhar do boi
a morna placidez da tarde baça.
Mas não há uma vela pelo mar!
As horas passam, moles, arrastadas…
A noite vem… Os botes sem chegar!
E um choro enche as casas desoladas.
Pedro da Silveira in Treze Poemas da Ilha das Flores